13ª

Ministério do turismo, secretaria especial da cultura e belgo bekaert arames apresentam

Caminho de Peabiru
(pesquisa realizada pela cocuradora Viviane Sá)

R. Itambé do Mato Dentro, 470 - Jardim Guarani, São Paulo - SP, 02851-000

Cartografias de apagamentos: trilhas indígenas ancestrais (colagem de mapas)

Acabo de voltar da Biblioteca Mário de Andrade depois de assistir ao Antes do tempo existir, descrito como um processo cênico e cocriado por atores indígenas. Uma sequência de fragmentos da cultura indígena costurados aos fragmentos contemporâneos de uma cultura ocidental. Foi simbólico ver os artistas Denilson e Lilly Baniwa no palco de um teatro nesse ponto de travessia Peabiru. Antes do tempo existir, esse trecho da Rua da Consolação era um pedaço de uma rota indígena que saía da Sé, passava pelo Largo da Memória e subia a Consolação sentido rio Pinheiros. Ainda havia outra rota que alcançava o rio Tietê e ambas eram ramificações de uma travessia maior, que integrava os povos Guaranis do Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil e chegava até o litoral do estado, em São Vicente e Santos, passando pela cidade de São Paulo. Quando o tempo existiu, as rotas serviram para o aprisionamento e genocídio indígenas, ganharam nomes de Portugal e estruturaram as demais ruas do traçado urbano da cidade, e a memória desse caminho foi sendo soterrada e apagada. Os Guaranis Mbya eram povos nômades, caminhantes, se deslocavam como curso de rio que encaminha a água até que encontre o melhor lugar para desaguar. Gostavam do mar e eram presença massiva nos litorais sul e sudeste do país, nas serras de Mata Atlântica. Ailton Krenak muito bem nos disse que o tempo é especialista em criar ausências: o Peabiru virou descaminho e o povo Mbya, que era fluxo, tornou-se estático para não desaparecer.

Cartografias de apagamentos: caminho de Peabiru na cidade de São Paulo (colagem de mapas e estudos de traçado)

Quando você passar com pressa pelo terminal Bandeira ou pelas estações de metrô Anhangabaú e Mackenzie, pela Rua da Consolação ou quando ansiar em descer a serra, afim de ver o mar, pense na ancestralidade desses caminhos.