13ª

Ministério do turismo, secretaria especial da cultura e belgo bekaert arames apresentam

Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno
(pesquisa realizada pela cocuradora Larissa Zarpelon)

Rua Leonel Martiniano 182, R. Leonel Martiniano, 265 - Chácara Maria Trindade, São Paulo - SP, 05275-065

Então, a luta mais bonita que que acompanhei do movimento no Dom Tomás, aqui no assentamento, foi a construção das casas. Até porque, no momento, a gente morávamos em barraco de lona preta, né, esquentava muito. E fizemos um trabalho com os estudantes da Usina e conseguimos desenvolver oito modelos de casa, que é as casas que moramos hoje. Foram três anos de trabalho de mutirão, sem remuneração, e conseguimos, é…, fazer várias casas, 65 casas, neste assentamento, né? E com a ajuda de todos, né? Separamos ajudante, separamos pedreiro, junto com os estudantes, trabalhamos todos juntos. Chegamos à conclusão de todas as casas, entregamos as chaves para todos os moradores. Ficaram muito bonita, inclusive, esse local que nós estamos foi construído também em coletivo com todos os moradores.

E, assim, vários plantios também. A produção também correu junto, né? Teve muita plantação. Plantamos uva em coletivo, plantamos ameixa rubimel em coletivo, fizemos apiário em coletivo e todos eles ainda continuam funcionando. 

Tem histórias bonitas, não é? As casas, por exemplo – pensa bem –, vem um grupo de estudante.

Tá bom, vamos, vamos fazer as casas? Vamos. Aí você senta numa roda de pessoas, é…, com bem mais estudo que você, que você é ali um agricultor ou tem noção um pouquinho de massa e, de repente, você vai fazer uma raiz quadrada, vai desenvolver um desenho, vai desenvolver a própria casa sua, não é?

Então, é muito gratificante, né? Você veja bem, chega um caminhão de concreto, todo mundo no caminhão de concreto. 

É, acabou o concreto. Enchemos aqui esse patamar, dois, três patamar… Aí, é o seguinte, vamos tomar banho. Pega a mangueira do caminhão, ô, dar banho, todo mundo tomando banho, né… E junto com os alunos, e se cria uma amizade muito legal, né, de você fala: “pô, mas você é arquiteto, meu”. Estou abraçado aqui com arquiteto, e ele aceitou meu palpite de falar: “eu quero o tijolo assim, eu quero essa casa redonda”, que é o que aconteceu. “Queremos essa casa aí redonda” e conseguimos fazer uma casa com o teto redondo, né? Sim, conseguimos, tijolo em tijolo, conseguimos sem precisar de armações de ferro, né, com o próprio grau da natureza. Acertamos lá ao grau. Aí, fizemos uma forma, e fizeram essa casa, e está aí. Eu tenho uma dela, tenho orgulho da minha casa, né? E das pessoas que me ajudaram, de uma faculdade, né, que, veja bem, a pessoa é criado lá no centro de São Paulo, nunca viu terra, nunca vi o chão, de repente dormir numa barraca junto com os moradores dali, né? É aranha, cobra… E tirando aquele medo da pessoa. Depois, o último dia que a pessoa foi embora com você, você fala: “tomara que eu te veja sempre”, não é o que eu penso do pessoal da Usina. Tomara que eu encontre eles sempre, sempre. Tomara que eu saiba que eles estão bem sempre, porque isso fizeram de coração. 

Então, eu… eu lembro assim que era uma Usina, você entendeu? Os estudantes era de uma usina. O nome da usina exato, eu não sei. É uma cooperativa, é uma cooperativa de arquitetura, de assistência de assistência técnica, né… Agora, aonde eles se formaram, e por qual universidade eu não, não sei.

[Essa terra era] do Ministério da Saúde, no causo, né, que era improdutivo, era totalmente improdutivo. Plantação de eucalipto, né? Era o que que nós encontramos. Foi mais plantação de eucalipto e terra degradada para os aí da agricultura convencional. 

Então, é, a gente só consegue conquistar uma terra se ela realmente estiver improdutiva, né? E perde ela pela mesma razão. Se você também não produzir com o passar do tempo no seu lote, você também acaba perdendo ela pro Estado de volta, pela mesma razão que ganhou – a lei é a mesma. 

Então, é meu nome é José Carlos Pereira Pires. É estou aqui na nessa fazenda há 20 anos. No momento tenho 54 anos.