13ª

Ministério do turismo, secretaria especial da cultura e belgo bekaert arames apresentam

Edifício Wilton Paes de Almeida
(pesquisa realizada pela cocuradora Luciene Gomes)

R. Antônio de Godói, 22 - Centro Histórico de São Paulo, São Paulo - SP, 01034-901

Quando a memória existe, há um monte de histórias e estórias dentro dela.

O ano de 2002 foi meu primeiro ano na faculdade de arquitetura e urbanismo, há vinte anos exatamente, e, claro, minha memória tem lacunas, então essa é a estória da história.

Uma visita que chamávamos de didática nos levou até São Paulo, dias de pouco sono e pouco descanso para um corpo que passava horas sentado em uma cadeira de rodas.

Foram meus primeiros olhares para uma São Paulo ainda desconhecida, formada por camadas visíveis e invisíveis, repleta de movimentos e sons que a arquitetura me trouxe.

Lembro-me quando fomos para a região central da cidade, que tantas vezes já tinha atravessado, mas em 2002 foi diferente, olhar para o Mercado da Cantareira já não era tão legal, mas aquele entorno, sim.

Reconheci no Edifício San Vito, a sua imponência para além da fama de “treme-treme”, olhei a paisagem impactada pela passagem do tempo refletida na sua degradação, aliás condição comum entre tantos outros edifícios da cidade.

O dia estava frio e cinza.

Imagino que também ficaria sensibilizada se tivesse tido essa oportunidade diante do Edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou diante do descaso de tantas pessoas.

Ainda hoje olho imagens dele e tento imaginar como foi o impacto da construção desse edifício modernista na década de 1960, cujo projeto, do arquiteto Roger Zmekhol, uniu o concreto com o metal para estruturarem o edifício de 24 andares tomado por fachadas envidraçadas ou por uma “pele de vidro”, seu apelido. 

Para além da minha imaginação, vem a certeza de que o Largo do Paissandu nunca mais foi o mesmo. 

Por anos, o Wilton Paes de Almeida foi ocupado por empresas privadas, até ser adquirido pelo setor público após o endividamento dos proprietários, e o seu processo de degradação foi inevitável, assim como seu abandono.

A pele de vidro ganhou cicatrizes, mas continuou resistindo e sendo ocupada por outras pessoas que fizeram daqueles andares seus lugares, ali foi lar para quem precisava de um. 

O cenário antes luxuoso foi Invisibilizado e passou a “pertencer” aos socialmente Invisibilizados, mulheres de todas as idades com seus filhos, netos e agregados, homens, crianças e estrangeiros. 

Seguiu-se assim por anos, e o que poderia ser ocupado dignamente, se houvesse seriedade quanto ao direito constitucional de moradia para todas as pessoas pelo Estado, foi ruindo até arder em chamas em 2018. 

Era evitável, mas para quê? Para quem?

O Wilton Paes de Almeida queimou, assim como os moradores que desapareceram com ele. E os outros tantos que choraram suas perdas seguiram, e seguem em tantos espaços, em muitos lugares…