13ª

Ministério do turismo, secretaria especial da cultura e belgo bekaert arames apresentam

Largo Sete de Setembro/Fórum João Mendes Junior
(pesquisa realizada pela cocuradora Luciene Gomes)

Liberdade, São Paulo - SP

Fórum João Mendes Junior

São Paulo é uma cidade de contrastes (assim como o Brasil), de diferentes escalas, culturas e de uma diversidade de pessoas que não andam, mas correm pela cidade em um vai e vem quase desenfreado e que tentam viver, muitas delas apenas sobrevivendo. Parte dessas pessoas circula e perpassa pelo centro de São Paulo, para trabalhar, passear, protestar, morar…

E essa cidade que suporta tanto vai sendo construída e reconstruída com as camadas do tempo que vão se sobrepondo, histórias que vão se apagando dos livros e das memórias. 

Mas para mim não há dúvidas que em muitos momentos não temos sequer o direito a memória, já para além do tempo, outras camadas são construídas e sobrepostas a outras, sendo apagadas por quem interessa. 

Alguns desses apagamentos de fato deveriam ocupar a “caixinha” do esquecimento, outros devem ser resgatados, por mais que seja dolorido para tantas pessoas, a lembrança deve existir. 

Provavelmente o Largo Sete de Setembro se encaixa nesse segundo caso, mas antes vou localizá-lo na cidade de São Paulo. 

Ele fica na área central, no bairro da Liberdade, próximo ao Largo da Sé, ao Tribunal de Justiça, entremeado pela Praça João Mendes e o Fórum que leva o nome de João Mendes Junior (pai e filho). 

Ali, que antes de ser um espaço cercado por edifícios, ruas, avenidas e algum verde, foi um pelourinho, ou melhor, foi o “Largo do Pelourinho”. 

O termo “pelourinho” deu nome a uma coluna de madeira ou de pedra colocada em praça pública para castigar criminosos na Idade Média. No Brasil, o pelourinho foi instituído pelos portugueses como instrumento que penalizou incontáveis mulheres e homens capturados, aprisionados e trazidos em uma forçada travessia transatlântica do continente africano para este e tantos outros territórios. Essa era uma exigência colonial que tornava povoados em vilas.

E, sim, no Brasil isso estava previsto no Código Criminal do Império de 1830 e na “Lei da Morte” de 1835. 

E foi escrevendo este texto que percebi a (irônica) diferença nos significados do “Largo do Pelourinho”, que referencia a escravidão, e o atual nome, “Largo Sete de Setembro”, que diz respeito à história que ainda nos é contada, aquela que está nos livros, sobre a data ser a da “libertação” do Brasil de Portugal. 

O apagamento do pelourinho não foi apenas no nome do Largo, foi parte das alterações na configuração e na ocupação daquele espaço. 

Ali, onde já existiu a Capela de São Vicente Ferrer no século XVII e a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, construídas no mesmo local na década de 1830 e que abrigaram escravos fugidos e resgatados, que foi a sede do Movimento Abolicionista Popular dos Caifases, a tipografia do jornal abolicionista A Redenção e uma escola que recebia crianças nascidas após a Lei do Ventre Livre, foi construído o Fórum João Mendes Junior, projeto de Ramos de Azevedo na década de 1860.

Desde então, o Largo passou por outras mudanças, e passará por outras mais. 

Essa linha do tempo nos coloca diante de uma narrativa de mudanças no território, mas e “nós”? Somos parte pertencente a ele ou somos parte dos apagamentos?