13ª

Ministério do turismo, secretaria especial da cultura e belgo bekaert arames apresentam

Pátio do Colégio
(pesquisa realizada pela cocuradora Viviane Sá)

Praça Pateo do Collegio, 2 - Centro Histórico de São Paulo, São Paulo - SP, 01016-040

A terra que você roubou (título)

“Pensam mesmo, até hoje, que foi ele o primeiro a ver nossa terra. Mas esse é um pensamento cheio de esquecimento! […]

Seus antepassados não descobriram essa terra, não! Chegaram como visitantes! Porém, logo depois de terem chegado, não pararam mais de devastá-la e de retalhar a sua imagem em pedaços, que começaram a repartir entre si. Alegaram que estava vazia para se apoderar dela, e a mesma mentira persiste até hoje. Esta terra nunca foi vazia no passado e não está vazia agora!”  

Davi Kopenawa, A Queda do Céu, palavras de um xamã yanomami

Em 2014, a população indígena da cidade de São Paulo ocupou o Pátio do Colégio em uma manifestação pela demarcação das terras nos territórios do extremo norte e extremo sul da capital. O termo “ocupar” é uma infeliz ironia para tratar do um lugar de onde seus antepassados foram expulsos. E por que retomar uma discussão de 2014? Porque a demarcação de terra está, novamente, ameaçada pela discussão do Marco Temporal. Se aprovado, essa população será, mais uma vez, expulsa de seus territórios. 

 

Manifesto

Por que ocupamos o Pátio do Colégio? 

Hoje nós indígenas guaranis de todas as aldeias de São Paulo ocupamos pacificamente o Pátio do Colégio, que é o local onde os brancos se fixaram pela primeira vez, e começaram a tomar posse das terras que eram do nosso povo.

Fizemos isso pensando que, em poucos dias, chega a data que chamam de “Dia do Índio”.

Nesse dia, porém, nos acostumamos a ser enganados, da mesma forma que nos enganaram quando chegaram dizendo que eram nossos amigos.

Em todo lugar onde vivem nossos parentes, os Governos promovem festas no 19 de abril, e tentam fazer a gente comemorar, quando não há motivo pra isso. Até bebida vários Governos compram pros nossos parentes, pra fazê-los esquecer.

Mas cansamos de ser enganados.

Ocupando pacificamente esse lugar simbólico, o Pátio do Colégio, não estamos nos vingando, nem estamos enganando vocês, como já fizeram conosco.

Queremos apenas surpreendê-los para anunciar que precisamos da demarcação das nossas terras. Dia do Índio, pra nós, será o dia que o Ministro José Eduardo Cardozo assinar o documento que garante a demarcação das nossas terras tradicionais.

Nossas terras não são mais aqui no Centro, não são no Pátio do Colégio, pois esse lugar já foi tomado de nós há muito tempo, e não vamos nunca pedir de volta. Elas são na margem da metrópole, onde ainda não foi destruído e sobrou um pouco das matas onde sempre habitamos.

Vivemos nas Terras Indígenas Jaraguá e Tenondé Porã, uma no Pico do Jaraguá e outra no Extremo Sul da Grande São Paulo.

Há muito tempo é lá que estamos para tentar viver em paz a nossa cultura, e muitos de vocês não sabem disso, mesmo estando tão perto de nós.

Amanhã, estaremos aqui em frente ao Pátio do Colégio, onde convidamos o Ministro Cardozo, para mostrar a ele e a todos vocês nossas danças e a força dos nossos cantos, e explicar por que estamos lutando.

Não vamos cansar até atingir nosso objetivo. Não temos outra escolha.

Com esse movimento anunciamos que a partir de amanhã iniciamos uma campanha para lutar pela demarcação dessas terras.

Venham nos apoiar e mostrar pro Ministro Cardozo que ele precisa garantir nossos direitos.

No dia 24 de abril, também iremos às ruas, saindo da Av. Paulista, do Vão Livre do Masp. Queremos que seja um ato para comemorar a assinatura das demarcações das nossas terras, mas, se isso não acontecer, será um ato para continuar lutando por elas. 

 

Saiba mais sobre a Comissão Guarani Yvyrupa: 

https://www.facebook.com/yvyrupa

http://www.yvyrupa.org.br

 

 

Oreyvy Peraa Va’ekue, Memória viva Guarani

 

Trecho da música:
Pemê’e jevy pemê’e jevy
Oreyvy pera’a va’e kue
Roiko’i haguã
Pera’a va kue roiko’i haguâ.

Tradução:
Devolva, devolva
A terra que você roubou
De nós
Para que possamos continuar a viver

 

Aguyjevete, Katu Mirim

 

Letra da música:
Creio que, pelo Brasil inteiro
Vai levantar, ou já levantou
Índios esclarecidos como eu
Que levantará sua voz
Em prol da sua raça
Nós reclamamos a injustiça, a calúnia, a pobreza, a fome
Que a civilização nos trouxe
Eles acham que eu devo abandonar isso aí
Que devo voltar para casa
Ficar quietinho, e deixar alheio o sofrimento dos meus irmãos
Vou falar, toda licença
Eu vim te apresentar
A verdadeira história que eles tentam camuflar
O Brasil tem genocídio, dor, massacre e escravidão
Mas isso não aparece na sua televisão
Com arma na mão, e cruz no pescoço
Mataram mais de mil parentes lá no Mato Grosso
Absurdo é dono da terra ter que lutar por demarcação
E os ratos chamam isso de grande revolução
Meu grito ecoará, arrebentará sua janela
Meu sangue é meu orgulho, não é sua aquarela
Tô fora que agora nossos povos se unirão
Então corre agora são vocês que fugirão
São vocês que fugirão
Maraca, cocares, tambores, turbantes
A Terra tremerá como nunca tremeu antes
Maraca, cocares, tambores, turbantes
A Terra tremerá como nunca tremeu antes
Maraca, cocares, tambores, turbantes
A Terra tremerá como nunca tremeu antes
Aldeia, quilombola, são fortes, são resistência
Mas se um desiste, enfraquece, tem consequência
Bolsonaro gritou “Fora quilombola e aldeia”
Ei, se racismo é crime, por que ele não tá na cadeia?
Racismo velado, nosso povo sendo massacrado
Racismo velado, nunca somos protagonizados
Racismo velado é bandeirante sendo exaltado
Racismo velado, chega de ficar calado
Chega de ficar calado
Meu povo vai ser exaltado
Racismo velado
Maraca, cocares, tambores, turbantes
A Terra tremerá como nunca tremeu antes
Maraca, cocares, tambores, turbantes
E a Terra tremerá como nunca tremeu antes
Minha vida vai ser a que eu fiz
Vai ser essa luta