Travessias – 13ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo

 

As travessias geralmente estão relacionadas a conexão: a ponte possibilita a transposição entre duas margens de um rio, a escada faz a ligação entre dois níveis, a rampa vence o desnível de forma acessível, os caminhos conectam territórios. 

Também podem ser entendidas como percurso, as migrações forçadas dos povos africanos sequestrados de seus países de origem, as fugas para os quilombos ou os deslocamentos do campo para a cidade. Travessia, portanto, é movimento que implica corpos e territórios e, se realizada coletivamente, o compartilhamento de experiências, de memórias e de identidade. Os territórios são marcados por desigualdades sociais, temporais e geográficas e, no caso brasileiro, foram conformados por disputas que envolvem o desejo de permanência e de movimento pelo território.

Nessa enorme colcha de retalhos de experiências coletivas, algumas narrativas são legitimadas à custa do apagamento de outras. Com a violação do direito à memória, à identidade e à imagem, o próprio corpo é documento, como sugere Beatriz Nascimento.  Corpos em constante movimento estão em busca de territorialização, de realização de desejos e sonhos, de sobrevivência, além da possibilidade de tornarem-se visíveis em suas particularidades. Por isso, assume-se a importância de trazer à tona reflexões sobre territórios e fronteiras, por meio de levantamentos coletivos de memórias apagadas, tais como recursos hídricos enterrados, edificações demolidas, práticas culturais e espirituais ameaçadas e identidades múltiplas violentadas.

As exposições – espalhadas entre os edifícios do Sesc-Paulista e do Centro Cultural São Paulo – constituem-se a partir de uma chamada aberta internacional, como também de convite a profissionais e coletivos para manifestarem suas pesquisas, inquietações e propostas. A partir de diversos suportes, são apresentadas tanto denúncias, manifestos ou provocações, quanto proposições de narrativas sobre os espaços, territórios, organizações e práticas demonstrando saberes e construções dos diversos grupos sociais para existir e resistir em um contexto de conflitos cotidianos. 

Assim, é proposta uma reflexão sobre os apagamentos, resistências e diversidades de vivências até os dias atuais a partir de uma costura entre projetos, trabalhos e performances que estimulam diálogos entre profissionais de diferentes regiões do Brasil e de outros continentes. 

Travessias convida visitantes a ocuparem os espaços expositivos e de diálogo de modo a deslocarem seus corpos para as práticas sociais da cidade: lugares onde a rua ganha uma dimensão mais coletiva e é ocupada por coletivos culturais, pelos bailes, os rolezinhos, a conversa na esquina, os botecos com mesas para a rua. Onde a realidade é moldada de diversas formas, improvisando lugares de cuidado e solidariedade entre vizinhanças e constituindo formas de se fazer política mais cooperativas, a partir de articulações entre lideranças locais. Trata-se de um convite ao movimento do olhar, do corpo e dos caminhos existentes, de forma a imaginar futuros ao enfatizar o reconhecimento de práticas e saberes coletivos, ancestrais, marginais, insurgentes e as suas contribuições para a arquitetura, para as cidades, para os modos de viver e de habitar.

Equipe curatorial