Desenvolvimento do projeto: Brasil
O projeto propõe uma estratégia de infraestrutura verde e Soluções Baseadas na Natureza (SbN) para o Morro da Formiga, no Rio de Janeiro, território caracterizado por ocupação informal em encostas íngremes, insuficiência de infraestrutura e alta vulnerabilidade a deslizamentos. A proposta parte de uma leitura delicada do lugar e do reconhecimento dos saberes e práticas ambientais desenvolvidos pela própria comunidade, entendidos como tecnologias socioambientais capazes de promover resiliência mesmo à margem do planejamento formal. O objetivo é qualificar espaços públicos e residuais, integrando ações de mitigação de riscos, valorização ambiental e fortalecimento das dinâmicas socioculturais já presentes.
A área de intervenção corresponde a um recorte de 34 mil m² sob linhas de transmissão elétrica, que constitui um eixo de conexão entre o tecido urbano, o morro e a Floresta da Tijuca. O desenho organiza faixas contínuas de espaços livres ao longo das encostas, configurando amortecedores ecológicos e sociais. Entre as intervenções previstas estão a requalificação do Rio da Cascata, com alargamento do leito e implantação de jardins filtrantes; a ampliação do programa comunitário Hortas Cariocas, com viveiro de mudas e áreas de apoio; e a implementação de sistemas agroflorestais, compostagem e soluções de drenagem verde. Essas ações são articuladas para dialogar com iniciativas já existentes, incorporando o conhecimento acumulado pelos moradores na gestão ambiental e ampliando seu alcance.
O projeto é estruturado em três diretrizes centrais: articular, conectando espaços fragmentados e aproximando a ocupação urbana de áreas livres; potencializar, ampliando e fortalecendo projetos socioambientais; e preservar, protegendo a vegetação nativa, corpos hídricos e saberes culturais. A estratégia prevê também a replicação das tipologias em áreas de maior risco geotécnico, incluindo a implantação de bacias de evapotranspiração para tratamento descentralizado de esgoto e a recomposição de encostas com vegetação adaptada. Ao reforçar o papel do Rio da Cascata como elemento estruturante, cria-se um sistema que integra infraestrutura ecológica, espaços de convivência e equipamentos comunitários, estabelecendo uma transição gradual entre a floresta e o tecido urbano.
Além de um conjunto de intervenções físicas, a proposta constitui um processo colaborativo que reconhece a comunidade como protagonista na transformação do território. A incorporação dos saberes locais, somada a soluções ambientais de alto desempenho, permite construir uma paisagem multifuncional e adaptativa, capaz de responder aos extremos climáticos e às desigualdades históricas, promovendo segurança, pertencimento e qualidade de vida.
Sobre a autora:
Larissa Scheuer é arquiteta e urbanista formada pela FAU-UFRJ e atua como arquiteta paisagista no escritório Embyá – Paisagismo Ecossistêmico. Com experiência nas áreas de arquitetura da paisagem e urbanismo, teve sua produção reconhecida em diferentes premiações nacionais, incluindo o Prêmio Arquitetas e Arquitetos do Amanhã, o 3º lugar no Grandjean de Montigny e a seleção como finalista do Prêmio Tomie Ohtake AkzoNobel.