Implantação do projeto: Índia
Desenvolvimento do projeto: Brasil, Portugal
Mumbai, localizada na ilha de Salsette no estado de Maharashtra, consolida-se como o maior e mais dinâmico canteiro de obras do planeta. A cidade enfrenta uma crise extrema de espaço urbano, com uma densidade populacional quase cinco vezes superior à de São Paulo – o que significa que Mumbai concentra muito mais pessoas em edificações significativamente mais baixas. Esta superconcentração cria um ambiente onde o espaço se tornou um recurso escasso, limitado e absurdamente caro.
A disputa por cada metro quadrado é tão acirrada que praticamente não existem mais lotes vagos. A propriedade de um apartamento nos bairros centrais transformou-se num sonho inatingível não apenas para a população de baixa renda, mas também para a classe média profissional. A paisagem urbana carece completamente de áreas verdes significativas e os vazios urbanos, essenciais para a respiração da cidade, foram totalmente eliminados.
Diante desta realidade distópica, duas propostas visionárias da tese “Espaços Colaterais: subsídios para imaginar os novos vazios de Mumbai”, desenvolvida na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto sob orientação dos professores Jorge Figueira e Teresa Cálix, oferecem soluções inovadoras.
1. Espaço Aéreo: Novos Territórios Urbanos Elevados
A proposta aproveita os 250 quilómetros de viadutos do metrô suspenso de Mumbai, particularmente a Linha 7 que atravessa diversas favelas na região de Mogra-Gundavali. Em contraste com a abordagem da Slum Rehabilitation Authority – que utiliza o capital imobiliário para habitação social de forma convencional -, o “Espaço Aéreo” propõe um experimento social radical ao ocupar os espaços non-aedificandi acima dos trilhos.
Trata-se de um edifício linear meândrico que abriga intencionalmente diferentes classes sociais numa mesma megaestrutura polivalente. A convivência acontece numa plataforma contínua e neutra, com todas as unidades garantidas como luminosas e arejadas, desafiando o padrão habitual de habitações sociais precárias. Esta ousada intervenção liberaria 23 hectares de terreno para a criação de parques, playgrounds e praças, transformando infraestrutura em arquitetura habitacional e convertendo espaços marginais em novas centralidades urbanas.
2. Arranha-céu de Ar: A Arquitetura do Imaterial
Esta proposta confronta a transformação dos vazios industriais de Parel em condomínios e shopping centers, apresentando instead uma verticalidade imaterial na forma de um microclima artificial. O projeto ecoa visionários como Buckminster Fuller e sua proposta de cúpula climatizada para Manhattan, criando aqui uma “nuvem” atmosférica permanente sobre as antigas fábricas.
O sistema combina figueiras monumentais com centenas de nebulizadores de alta pressão controlados por sensores que mantêm a temperatura constantemente em 21°C. A névoa adquire cores simbólicas conforme o calendário cultural indiano – açafrão no Dia da Independência, cores vibrantes durante o Holi. Percebido apenas pela névoa e copas das árvores, este “paralelepípedo de ar e umidade” serve como manifesto pela preservação dos vazios urbanos, oferecendo um espaço público refrigerado dedicado ao lazer, ao críquete e ao simples usufruto dos cidadãos.
Vazio S/A: Entre a Prática e a Pesquisa Urbana
O escritório Vazio S/A Arquitetura e Urbanismo opera na intersecção entre prática convencional e pesquisa crítica sobre os vazios urbanos. Adota uma postura propositiva que entende a informalidade, os vazios e as forças de mercado como potentes indutores de novos projetos urbanos. Além do trabalho tradicional com edificações, desenvolve experimentações através de concursos de ideias, publicações acadêmicas, parcerias com grupos sociais e intervenções urbanas efêmeras, sempre buscando novas relações entre a cultura contemporânea e a produção do espaço arquitetónico.