Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil
A Maloca Útero Tupinambá é uma arquitetura viva, simbiótica e metamórfica. Sua forma consiste em um espaço central para o fogo, estruturado em apoio duplo radial, com duas “saias” trançadas lateralmente que ligam a cobertura ao chão, constituindo jardins internos que configuram espaços íntimos e externos que marcam seus acessos. Construída em parceria entre o Floresta Cidade – projeto de extensão, ensino e pesquisa da FAU UFRJ – e o Levanta Zabelê, Centro de Pesquisa e Inovação Ancestral dos Tupinambá de Olivença, no Sul da Bahia. O Zabelê é uma universidade indígena, protagonizada por mulheres, e tem como princípio a troca de saberes, a reconexão com a mãe Terra e a descolonização dos territórios.
Feita com o outro – humano ou não –, foi construída por muitas mãos, encantos, desenhos, rezas, magias, medidas, histórias e esforços. Uma arquitetura participativa que provoca metamorfose em quem a faz, desfazendo atitudes coloniais de projeto. Durante a construção, habitamos coletivamente, compartilhamos a mesma comida, banhamos nas mesmas águas e dividimos o mesmo território, em uma atitude de convívio transversal, algo quase impossível nas cidades. Essa experiência criou um afeto coletivo entre o grupo e o território, provocando uma profunda conexão com a natureza e um respeito mútuo, honrando os diferentes seres que habitam conosco e a troca de saberes entre todos os seres vivos.
A relação simbiótica com a paisagem se manifesta não apenas na continuidade visual entre os pilares e as árvores existentes, mas também na invenção de materiais. Movidos por um desejo de criação interespecífica, experimentamos, em parceria, a produção de telhas de micélio com as palhas de coqueiro do território. Improvisamos um laboratório de inovação ancestral e criamos tecidos a partir dessas palhas, que nutrimos juntamente com as raízes de fungos (micélio) em um ambiente escuro e úmido. À medida que o fungo coloniza a palha, produz um material impermeabilizante, testável como telha – reforçando a palha existente – ou como forro, inovando o acabamento. Os testes ainda não foram concluídos.
A Malaca Útero Tupinambá é um edifício-entidade que nasce, surpreende e acontece. Uma arquitetura viva que ganha autonomia no processo e nos surpreende com as histórias que surgem. A maloca abriga nossas energias em suas pilastras, as metamorfoses de cada um de nós no fogo do seu centro – que mais parece um coração pulsando – e aponta possíveis caminhos para o projeto contemporâneo no Brasil. Estamos aprendendo com os povos indígenas a desenhar e construir uma morada cósmica, inclusive com o aldeamento de salas na FAU UFRJ.
A arquitetura dessa morada cósmica pode ser sentida nesta maloca/cobertura/saia/processo que, ao contrário de isolar nossa experiência de habitar das galáxias, a conecta, prolongando o céu em um chão de estrelas repleto de experiências afetivas.