Manaus Fluvial: ensaio para uma cidade alagada

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da USP

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Estudantes: Christian Almeida Campos do Nascimento, Clara Albertini de Queiroz e Felipe de Souza Noto

“A lei do rio não cessa nunca de impor-se sobre a vida dos homens. É o império da água. […] O rio diz para o homem o que ele deve fazer. E o homem segue a ordem do rio. Se não, sucumbe.”
Thiago de Mello

As cidades da Pan-Amazônia possuem uma relação visceral com as águas. Muitas têm seu cotidiano marcado pelo regime de cheias dos rios — casos emblemáticos como Anamã (AM) e Afuá (PA), apelidadas de “Veneza da Amazônia” e “Veneza Marajoara”.

Suas metrópoles, porém, à semelhança dos grandes centros brasileiros, no processo de modernização negaram essa relação primeira: igarapés foram sufocados e soterrados em nome do “desenvolvimento”.

Este ensaio propõe revisitar essa ruptura entre cidade e água, imaginando, em chave radical e utópica, o confronto da urbanidade com sua condição natural levada ao extremo: como as cidades amazônicas se adaptariam ao avanço das águas? Quais as consequências dessa transformação? Que estratégias de mitigação seriam possíveis diante de uma nova ordem imposta pela natureza?

O estudo de caso surge quase naturalmente: Manaus, metrópole de contrastes, que cresceu de costas para a floresta e para os rios. Os igarapés dos Remédios, das Naus e do Espírito Santo, na região central, foram soterrados pela modernização, mas retornam nos períodos de cheias severas, retomando leitos que lhes foram negados.

A narrativa parte do antigo Igarapé do Espírito Santo — hoje Avenida Eduardo Ribeiro —, que desemboca nas proximidades do Teatro Amazonas, ícone da Belle Époque tropical e epicentro de nossa especulação.

O Rio Negro é monitorado pelo Porto de Manaus, cuja régua registra oscilações anuais entre 9 e 12 metros. O nível médio situa-se em +22,5 m; em 2021, a maior cheia da história chegou a +30,02 m. Pesquisadores estimam que a cota +35,0 m, diante da intensificação climática, seja plausível em futuro próximo.

Radicalizamos: pensamos Manaus sob a cota +50,0 m — a “Manaus Fluvial”. Nesse cenário, a morfologia urbana reorganiza-se a partir de um léxico já conhecido das cidades ribeirinhas, como Afuá, Anamã ou a antiga cidade flutuante manauara. Saberes construtivos tradicionais — passarelas, estivas, ruas suspensas e plataformas — tornam-se matriz de novas espacialidades urbanas, costurando permanência e deslocamento em meio às águas.

Dada a complexidade da metrópole, o exercício se concentra em três situações irradiadas a partir do Teatro Amazonas: (a) o Edifício Cidade de Manaus; (b) o Casario da Rua 10 de Julho; (c) o próprio Teatro Amazonas. Três escalas, três modos de pensar a adaptação da pré-existência urbana à nova condição. Trabalhamos com duas cotas: +47,5 m, como novo nível “normal”, e +50,0 m, como cheia extrema e nível de projeto.

Utopia ou distopia? Talvez ambas: distópica, por tomar um evento extremo como indutor; utópica, por ver o rio não como obstáculo, mas como princípio ordenador da vida urbana. Ao aceitar a água como condição e não como ameaça, abre-se um campo fértil para imaginar outras espacialidades, novas formas de convivência e permanência.

A “Manaus Fluvial” aqui vislumbrada não é projeto, mas especulação: um convite a pensar o urbano em sua relação primeira com o meio, resgatando memórias silenciadas e antecipando futuros possíveis.

Participe da programação de debates, oficinas e atividades associadas!

HOJE (27.09):

10h30 às 20h30 – Fórum SP Meeting

16h – Lançamento do livro Habitação Coletiva: BR/NL

NOS PRÓXIMOS DIAS (28.09 a 03.10)

28.09 – Fórum SP Meeting

28.09 – oficinas Primeiro Tempo e CLIMATIVA: Plano de Ação Climática para cidades brasileiras

28.09 – 4º Festival da Jóia no Parque da Jóia e atividade Território do Rio Bixiga refloresta canudos na Horta Denuzia

29.09 a 03.10 – oficina Embodied landscapes

30.09 e 02.10 – Mini-oficinas de Biomateriais no Lab Vivo

30.09 – Visita guiada da Ação Pantanal

01.10 – conferência Meios de produção com Jane Hall

01.10 e 02.10 – sessão 4 e sessão 5 da mostra Cinema, arquitetura e sociedade na cinemateca

01.10 – oficina Entre lâminas e vãos: modelos de projetos em MLC

01.10 – oficina Gramáticas da Natureza – arquiteturas do ínfimo no Lab Vivo

02.10 – filme A Força da Forma – viga lenticular fletida em madeira no IABsp

02.10 – Quintas Ameríndias na Oca. Amazônias das Margens aos Extremos: Labya-Yala da FAU-USP

02.10 – mesas Preservar a biodiversidade na cidade + Árvores e Justiça Térmica

03.10 – mesas Políticas de moradia para a população em situação de rua e a experiência do Fundo FICA + Inovando a Regularização de Moradias Populares + Equipamentos culturais em edifícios históricos adaptados

03.10 – Oficina de Concepção de Estruturas de Madeira com FIBRA no IABsp

03.10 – Visita ao Parque Morro Grande

PARTICIPE! É TUDO GRATUITO!

E tem muito mais até 19 de outubro!

(Atividades e projetos ainda estão em processo de inclusão; em breve o site estará completo)

NOTA DE PESAR

Em profundo pesar, o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IABsp) lamenta o falecimento do arquiteto e paisagista Kongjian Yu, uma referência global em urbanismo ecológico, e dos membros de sua equipe que o acompanhavam, tragicamente vitimados durante a gravação de um documentário. O instituto destaca a honra de tê-lo tido como participante na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, onde sua visão transformadora fortaleceu o diálogo entre desafios globais e realidades locais. O IABsp ressalta que a contribuição de Yu, que transcende fronteiras, permanecerá como inspiração para gerações e expressa suas condolências à China, aos familiares de todos os falecidos, amigos e a todos os impactados por seu gênio e dedicação. Leia a nota completa aqui.