Armadura da paisagem: infraestrutura verde nas encostas do Morro da Formiga

Larissa Scheuer

Desenvolvimento do projeto: Brasil

O projeto propõe uma estratégia de infraestrutura verde e Soluções Baseadas na Natureza (SbN) para o Morro da Formiga, no Rio de Janeiro, território caracterizado por ocupação informal em encostas íngremes, insuficiência de infraestrutura e alta vulnerabilidade a deslizamentos. A proposta parte de uma leitura delicada do lugar e do reconhecimento dos saberes e práticas ambientais desenvolvidos pela própria comunidade, entendidos como tecnologias socioambientais capazes de promover resiliência mesmo à margem do planejamento formal. O objetivo é qualificar espaços públicos e residuais, integrando ações de mitigação de riscos, valorização ambiental e fortalecimento das dinâmicas socioculturais já presentes.

A área de intervenção corresponde a um recorte de 34 mil m² sob linhas de transmissão elétrica, que constitui um eixo de conexão entre o tecido urbano, o morro e a Floresta da Tijuca. O desenho organiza faixas contínuas de espaços livres ao longo das encostas, configurando amortecedores ecológicos e sociais. Entre as intervenções previstas estão a requalificação do Rio da Cascata, com alargamento do leito e implantação de jardins filtrantes; a ampliação do programa comunitário Hortas Cariocas, com viveiro de mudas e áreas de apoio; e a implementação de sistemas agroflorestais, compostagem e soluções de drenagem verde. Essas ações são articuladas para dialogar com iniciativas já existentes, incorporando o conhecimento acumulado pelos moradores na gestão ambiental e ampliando seu alcance.

O projeto é estruturado em três diretrizes centrais: articular, conectando espaços fragmentados e aproximando a ocupação urbana de áreas livres; potencializar, ampliando e fortalecendo projetos socioambientais; e preservar, protegendo a vegetação nativa, corpos hídricos e saberes culturais. A estratégia prevê também a replicação das tipologias em áreas de maior risco geotécnico, incluindo a implantação de bacias de evapotranspiração para tratamento descentralizado de esgoto e a recomposição de encostas com vegetação adaptada. Ao reforçar o papel do Rio da Cascata como elemento estruturante, cria-se um sistema que integra infraestrutura ecológica, espaços de convivência e equipamentos comunitários, estabelecendo uma transição gradual entre a floresta e o tecido urbano.

Além de um conjunto de intervenções físicas, a proposta constitui um processo colaborativo que reconhece a comunidade como protagonista na transformação do território. A incorporação dos saberes locais, somada a soluções ambientais de alto desempenho, permite construir uma paisagem multifuncional e adaptativa, capaz de responder aos extremos climáticos e às desigualdades históricas, promovendo segurança, pertencimento e qualidade de vida.

Sobre a autora:
Larissa Scheuer é arquiteta e urbanista formada pela FAU-UFRJ e atua como arquiteta paisagista no escritório Embyá – Paisagismo Ecossistêmico. Com experiência nas áreas de arquitetura da paisagem e urbanismo, teve sua produção reconhecida em diferentes premiações nacionais, incluindo o Prêmio Arquitetas e Arquitetos do Amanhã, o 3º lugar no Grandjean de Montigny e a seleção como finalista do Prêmio Tomie Ohtake AkzoNobel.

Participe da programação de debates, oficinas e atividades associadas!

HOJE (10.10)

14h30 – mesa Periferia Sem Risco no contexto de mudanças climáticas

16h – mesa Conhecer para Transformar: Planos Comunitários de Redução de Risco e Adaptação Climática

18h30 – mesa Adaptação inclusiva: Soluções Baseadas na Natureza nas Periferias

9h – Oficina desenho: a arquitetura de Oscar Niemeyer no Parque Ibirapuera e o desafio climático

NOS PRÓXIMOS DIAS (11 a 14.10)

ATENÇÃO a mesa Palmas: Há 36 anos, a capital ecológica do Tocantins que seria realizada no dia 11.10 | 19h foi cancelada.

11.10 e 12.10 | 9h – oficina Inventa(rio) Fronteiras: Jogando por cidades multiespécies

11.10 | 10h – oficina Maleta pedagógica Elémenterre

11.10 | 11h – mesa Aprendendo a habitar o antropoceno: a crise da arquitetura

11.10 | 14h – mesa Architecture for Learning and Civic Use

11.10 | 15h – mesa Culture and Public Architecture

11.10 – 15h – oficina Maleta pedagógica Elémenterre

11.10 | 16h – mesa Reconnecting with Nature & Circular Design

11.10 | 17h – mesa Architecture of Belonging: Interpreting Heritage Through Place

12.10 | 10h – mesa Vivência: Refúgios Climáticos e Espaços Públicos Naturalizados, com Ecobairro

12.10 | 10h30 – mesa Infâncias e Clima: Justiça Climática em Territórios Vulneráveis

12.10 | 10h30 – Oficina de Birutas com o Coletivo Flutua 

12.10 | 15h – mesa Fazer muito com pouco: arquiteturas para um planeta em transição com Esteban Benavides do escritório Al Borde

12.10 | 16h30 – mesa Terra – construindo um futuro sustentável e democrático 

12.10 | 17h45 – mesa Presença francesa na Bienal e exibição do filme AJAP – Álbuns de Jovens Arquitetos e Paisagistas

13.10 – atividade Ação Pantanal no IABsp

14.10 | 10h – mesa Panorama Urgente! O espaço como ato de permanência

14.10 | 18h – Lançamento do Guia “Educação Baseada na Natureza”

PARTICIPE! É TUDO GRATUITO!

E tem muito mais até 19 de outubro!

NOTA DE PESAR

Em profundo pesar, o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IABsp) lamenta o falecimento do arquiteto e paisagista Kongjian Yu, uma referência global em urbanismo ecológico, e dos membros de sua equipe que o acompanhavam, tragicamente vitimados durante a gravação de um documentário. O instituto destaca a honra de tê-lo tido como participante na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, onde sua visão transformadora fortaleceu o diálogo entre desafios globais e realidades locais. O IABsp ressalta que a contribuição de Yu, que transcende fronteiras, permanecerá como inspiração para gerações e expressa suas condolências à China, aos familiares de todos os falecidos, amigos e a todos os impactados por seu gênio e dedicação. Leia a nota completa aqui.