Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil
Estudantes: Ana Beatriz Monteiro Furtado, Kayo Gabriel da Silva Sousa, Paulo Henrique Gonçalves Alves Pereira, Tomaz Neto Meneses Cavalcante Medeiros.
Orientação Roberto Alves de Lima Montenegro Filho
No Piauí dos povos originários, do encontro com ancestralidades africanas e com a aculturação portuguesa. Piauí dos rios, do calor e da cultura do barro. Da Esperança Garcia. Em Teresina, fundada em planície onde a cota de ocupação é próxima à dos cursos d’água, convive-se com a variação dos níveis dos dois rios, com chuvas excessivas em parte do ano, alternadas a períodos de seca. Clima de calores extremos, é a capital nacional com média de temperatura mais elevada, com previsão de aquecimento mais acentuado (Wong, et al., 2024), entre aglomerados humanos em risco com as mudanças climáticas: Como habitar esses territórios e lidar com a violência de eventos naturais potencializados? Ilhas como Kiribati já têm quase todo o território parcialmente submerso, enquanto cidades costeiras veem suas orlas ameaçadas.
Com sucessivas inundações entre o Poti e o Parnaíba, o sítio é uma planície úmida e brejosa, com lagoas e vegetação densa, geografia que minimiza impactos das cheias. Território de menor interesse à especulação imobiliária, é habitado por população tradicional ribeirinha, de menor poder aquisitivo, incluindo ex-quilombolas. Recebe pouco investimento público, exceto pelo projeto Lagoas do Norte, para preservação do solo, vegetação e lagoas, nem sempre de forma participativa (MATOS, 2017).
As enchentes são agravadas pela urbanização, com solo impermeabilizado e vegetação insuficiente (SILVEIRA e MONTEIRO, 2013), e com extremos climáticos. O terreno, entre o Rio Parnaíba e o Parque Lagoas do Norte, está em zona residencial. É suscetível a inundações, especialmente na parte voltada à lagoa. Tem frentes para o Parque e uma avenida estrutural, servindo como centralidade local.
A implantação Leste-Oeste potencializa o conforto térmico, evitando a incidência solar Oeste. O sistema construtivo em estrutura independente com bambu permite elevar as construções para enfrentar variações do nível d’água. Materiais leves minimizam custos, gastos energéticos e facilitam a logística, permitindo mutirões. O partido visa disseminar a cultura do bambu: cultivo fácil, que contribui para o tratamento de encostas e minimiza assoreamento.
A forma do edifício segue a solução “Bota e Chapéu” (Armando de Holanda), com grandes beirais para sombra e cobertura clara. Os fechamentos leves empregam taipa de mão, resgatando um saber-fazer tradicional de baixo impacto. A cobertura em abóbada escorada por bambu (tecnologia da Arquiteta Leiko Motomura) evita materiais de alto impacto. Bambu, madeiras e barro são elevados do solo e protegidos por fundação em concreto.
Propõe-se uma nova relação com a cidade e a natureza, onde lagoas e vegetação são vitais para conter a força das águas. Um caráter didático, de reeducação ambiental e resgate da relação com a água. A construção como capacitação, com ética social e ambiental, difusão de práticas e geração de renda. Programa afirmativo das culturas ribeirinhas, de povos originários e africanos ou venezuelanos com tradições suprimidas. Respeito.