Pesquisadores: Loyde Vieira De Abreu Harbich, Mariana Zuliani Theodoro de Lima, Sasquia Hizuru Obata, Anny Cardeli, Ariella Cristine Cabezas Piffer, Pérola Felipette Brocaneli, Andre Luiz Nery Figueiredo, José Alonso Pajuelo Bravo, Thiago Oliveira Leite, Taizy de Jesus Santos, Luan Fagner de Almeida Esteves, Júlia Tiemi Martins Goia
Resumo:
Para enfrentar os desafios da escassez hídrica, ações de extensão universitária desempenham um papel estratégico na promoção de soluções sustentáveis e na aproximação entre pesquisadores e comunidades em situação de vulnerabilidade. Em Portada de Manchay II — uma área urbanizada nos arredores de Lima, Peru — líderes locais buscaram apoio da Universidad Científica del Sur para elaborar um projeto de requalificação de espaços públicos com foco em sustentabilidade. Como diferencial, foram incorporados coletores atmosféricos de água de nevoeiro como solução alternativa para irrigação.
O objetivo central foi criar uma área verde funcional e resiliente, conectando o saber acadêmico às necessidades reais da população e contribuindo diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU como 1, 2, 6, 9, 11 e 13, 17.
A metodologia para esse experimento de mundo real envolve as etapas:
Etapa 1: Planejamento paisagístico e territorial participativo
Essa etapa consistiu em encontros participativos entre professores, alunos, lideranças comunitárias e demais interessados para mapear as necessidades de uso comum em Portada de Manchay II – incluindo hortas comunitárias, playground, espaços multiuso, sanitários, quadra esportiva, áreas de passeio e a preservação da Gruta do Santo. O programa de necessidades foi alinhado aos ODS 2 (Fome Zero), 3 (Saúde e Bem-Estar), 6 (Água Limpa e Saneamento), 11 (Cidades Sustentáveis), 13 (Ação Climática) e 15 (Vida Terrestre). Considerando as fortes declividades do terreno, propôs-se um sistema de rampas que conecta a quadra, os espaços multiuso, as hortas, a Gruta do Santo e o mirante, melhorando a circulação de pedestres. O principal desafio identificado foi a escassez hídrica local: embora as 60 famílias sejam abastecidas por caminhões-pipa, a irrigação das hortas e a manutenção das áreas verdes demandam soluções mais permanentes.
Etapa 2: Pesquisa aplicada sobre coletores de água de nevoeiro.
No escopo teórico, o protótipo baseado em nanotubos de carbono desenvolvido por Ouellet (2020) na Universidade Politécnica de Montreal revelou lacunas de estudo quanto ao impacto do clima, da poluição e do vento sobre os nanotubos, além de
sua tendência a absorver poluentes. Paralelamente, o Plano Metropolitano de Lima 2040 identificou que distritos como San Juan de Lurigancho, Lurigancho, Villa María del Triunfo e Lima Balneários del Sur sofrem déficit de água potável devido à falta de redes de distribuição e oferta insuficiente. Esses problemas são agravados pelo relatório da SUNASS, citado em El Peruano (2024), que aponta degradação dos rios Rímac, Chillón e Lurín por ocupações irregulares, contaminação industrial e expansão urbana desordenada em áreas distantes das estações de tratamento.
Etapa 3: Protótipos testados em campo
A fase de prototipagem consiste na construção de modelos experimentais, testando materiais hidrofílicos, estruturas aerodinâmicas e mecanismos de drenagem. Nessa etapa, técnicas como impressão 3D e simulações computacionais ajudam a visualizar e ajustar o desempenho do dispositivo. Essa etapa envolveu alunos do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da UCSur. Os protótipos desenvolvidos pelos alunos da FAU Mackenzie agora estão na fase de testes.
Etapa 4: Experimento de Mundo Real
A equipe observou que a malha original não retinha vapor em quantidade suficiente e a substituiu por uma Rashel de 35% para melhorar a eficiência de coleta. Em 5 de junho de 2025, durante uma visita técnica à Portada de Manchay II e arredores, verificou-se que a neblina se forma entre 750 e 900 metros de altitude, faixa incompatível com o local. Por isso, o protótipo foi instalado no quintal de um morador de Buena Vista de Manchay, a 850 metros de altitude e com umidade próxima a 100%, o que permitiu testar o dispositivo em condições reais e coletar dados de campo.
Sob coordenação do professor José Alonso Pajuelo Bravo, esses experimentos validaram o design e esclareceram as variáveis microclimáticas cruciais para a implementação de coletores de neblina em áreas periféricas. Em seguida, a equipe desenvolveu um segundo protótipo, e atualmente dois coletores estão em operação em Portada de Manchay II, fornecendo água para os biohortos de duas famílias.
Conclusões
Estudos sobre captação de água de neblina mostraram que coletores convencionais funcionam bem em condições de umidade, mas perdem eficiência na estação seca. Para solucionar isso, as professoras Pérola F. Brocaneli e Verioska V. Urquizo criaram um projeto paisagístico que utiliza uma “atrapaniebla” de baixo custo e complexidade. Já os alunos de iniciação científica da Mackenzie, orientados pela Prof. Loyde A. Harbich, iteraram novos protótipos com malha Rashel a 35%, impressão 3D e simulações computacionais—resultando em maior retenção de vapor.
Testes de campo entre 750 e 900 m de altitude, com umidade próxima a 100 %, e ensaios junto a moradores de Buena Vista de Manchay comprovaram coleta contínua de água. Um vídeo tutorial ensina a construção caseira dos coletores para abastecer biohortos e áreas verdes. O pedido de patente na Universidad Científica del Sur protege a tecnologia, e a autorização para instalar um protótipo in loco representa um marco na validação e futura expansão dessa solução sustentável.
Gratuito
Inscrições
As inscrições devem ser feitas pelo formulário que será disponibilizado em breve.
A seleção será feita por ordem de inscrição.
As inscrições estarão abertas até o inicio da atividade, no local, desde que haja vagas disponíveis.