Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil
A Escola no Morro da Providência é o nome dado à escola localizada no primeiro morro de moradia informal do Brasil e surge como expansão da Casa Amarela, importante centro educacional e agente comunitário local. O projeto se dá pela relação entre dois espaços: A Escola + A Oficina-Escola. A primeira surge com o objetivo de ampliar as atividades educacionais e culturais já existentes na Casa Amarela com pedagogia e prática de reconhecimento da cultura afro-brasileira. O segundo, permite a experimentação construtiva a partir da produção do btc (bloco de terra compactada), possibilitando maior isolamento térmico, incluindo a assistência de moradores nesta produção, além de fundamental reconexão com a terra, após anos de extrativismo da pedreira local que destruiu grande parte do Morro.
A construção de 400m2 se dá em quatro níveis para múltiplas atividades educativas. No acesso ao térreo inferior, há um salão multiuso para atividades como dança afro e capoeira. No térreo, uma praça controlada e acessível ao público permite abertura para a rua ao mesmo tempo que se conecta ao prédio onde é possível acessar a sala dos educadores e dos kekerês (em yorubá, crianças de 3 a 7 anos de idade). A proposta privilegiou as áreas de serviço nas extremidades enquanto que as salas, divididas pelo centro do espaço, podem se expandir, permitindo a flexibilidade do encontro em grupo. No segundo nível, compartilham a mesma sala os erês (em yorubá, crianças de 8 a 13 anos de idade) e os somodês (em yorubá, jovens de 14 a 21 anos de idade) dividindo espaço com a sala das mulheres independentes da providência (MIP – grupo de mulheres que fazem parte do curso técnico promovido pela escola). Todos os espaços são flexíveis e possuem banheiro e depósito para materiais doados, conectados por uma varanda em todos os níveis. O acesso vertical se dá por uma escadaria circular que faz a ponte entre a praça, as salas e o terraço onde é possível contemplar o panorama da cidade. A construção da estrutura em concreto foi uma decisão pela similaridade com o que se faz no entorno, empregando trabalhadores locais e permitindo que os recursos fossem investidos nos próprios moradores do Morro. As paredes de bloco de terra, no entanto, foram escolhidas de forma a exercitar uma outra prática de construção – ainda desconhecida no entorno – mas que possui impacto pela possibilidade de introduzir uma forma construtiva menos extrativista e poluente. Foi a partir desta experimentação que foi possível empregar desenhos em alguns dos módulos, possibilitando um outro corpo à arquitetura por meio de narrativas que evocam o simbolismo de plantas locais e ervas medicinais através de impressões na terra.
A arquitetura, por meio de um sistema construtivo acessível, que permite a autoconstrução, a economia circular local e a autonomia de construtores e moradores, surge para restabelecer uma relação com o morro, a favela e seus residentes ao unir o território coletivo da escola com a plasticidade da terra.