O ginásio Arena do Morro e a trajetória social de Mãe Luiza

Mariana Vilela [pesquisa e concepção da exposição]

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil, Suíça

Mãe Luiza ocupa um lugar único na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, por sua localização geográfica e pelo lugar político e social que ocupa sua comunidade. Bairro criado por um processo de autoconstrução e densamente habitado, é ocupado em sua maioria por casas de alvenaria, organizadas por uma estrutura urbana bem definida: um eixo norte-sul forma a espinha dorsal do bairro pelas ruas João XXIII e Sabino Gentili; ruelas transversais cruzam o eixo principal e se encontram com um sistema viário paralelo, organizado pelas ruas Guanabara e Camaragibe. Ao final desta encontra-se o Farol de Mãe Luiza e o ginásio poliesportivo Arena do Morro, inaugurado em 2014.

O edifício é símbolo da realização de um projeto de desenvolvimento elaborado pela comunidade ao longo de sua trajetória por inclusão social e melhoria de suas condições espaciais, e estruturado nos anos 1980 com a chegada do padre italiano Sabino Gentili, que funda o Centro Socio Pastoral Nossa Senhora da Conceição [CSPSNC], entidade civil de caráter filantrópico, espaço de discussão da comunidade para responder aos muitos desafios que enfrentavam. Uma rede de apoiadores se forma em torno do CSPSNC, desenvolvendo atividades de educação e assistência a jovens e idosos.

Arquitetonicamente, é um edifício emblemático. Constituído de poucos elementos, configura-se como uma imensa cobertura branca, sustentada por pórticos que se apoiam sobre o solo único pavimentado. Um terceiro elemento completa o conjunto: uma envoltória sinuosa que se desenrola entre os outros, fazendo além da mediação entre eles, aquela entre o interior e exterior. Os elementos vazados de concreto que a compõem, mais do que um elemento construtivo, representam sua identidade; configuram os fechamentos internos e externos do projeto, e pode ser considerado a aplicação mais completa da forma herzogdemeuroniana de trabalhar.

Primeira obra de Herzog & de Meuron no Brasil, traz dois conceitos fundamentais na produção do escritório: a experimentação material por meio de ensaios com modelos e protótipos como parte do desenvolvimento do projeto, e a transformação de elementos construtivos tradicionais por meio de operações que, além de alterarem sua aparência física, sua forma de uso e aplicação, introduzem novos métodos de produção.

Ao longo dos anos tornou-se um centro comunitário que extrapola as atividades educativas e esportivas, abrigando os principais eventos coletivos, culturais e sociais do bairro, como lugar de debates e celebrações. A dimensão política da existência e trajetória de Mãe Luiza é notável em sua prática comunitária de participação e gestão popular. O alcance e a expansão de suas ações aponta um caminho possível para outras comunidades e representa um novo paradigma não só para o trabalho arquitetônico em áreas de vulnerabilidade urbana, social e ambiental, mas também para formas de gestão compartilhada, em prol da igualdade, inclusão e por formas de desenvolvimento urbano mais justos e inclusivos.

Fique atento, três atividades acontecem antes da abertura da Bienal:

13/09 – atividade associada | oficina Terra em trama (foto ao lado);
15/09 – oficina Imaginando arquiteturas para um mundo quente – módulo 1 (inscrições até 13/09);
17/09 – dois filmes da 1ª sessão da Mostra Cinema, arquitetura e sociedade: Registros de um mundo quente.

(A programação ainda está em processo de inclusão no site; em breve ela estará completa)