Parque Pedra de Xangô

FFA Arquitetura e Urbanismo Ltda. Arq. e Urb. Floriano Freaza Amoedo

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Pedra de Xangô, formação rochosa com 27 m de diâmetro e 15 m de altura localizada na periferia de Salvador, Bahia/Brasil, possui um forte caráter mítico e histórico. Segundo relatos orais, negros escravizados, ao fugirem, passavam por sua fenda e desapareciam. Símbolo de resistência reconhecido como “Altar de Xangô”, a pedra é um monumento sagrado para religiões de matriz africana e foi tombada pelo município em 2017, após mobilização social. Inserida numa área de proteção ambiental, constitui-se num elemento central da APA Assis Valente e originou a criação do Parque da Pedra de Xangô, com 4,46 ha, primeiro do Brasil a receber o nome de um Orixá.

Elaborado em 2018 pela FFA Arquitetura e Urbanismo para Fundação Mário Leal Ferreira (Prefeitura Municipal de Salvador), através de um processo participativo envolvendo órgãos públicos, comunidades e terreiros do entorno, o projeto reafirma o simbolismo cultural e religioso do local, integrando natureza e espaço construído. Entre as ameaças identificadas estavam o impacto da Av. Assis Valente e a pressão de ocupação sobre a mata. Como resposta, propôs-se um desvio viário, criando uma zona de amortecimento e uma bacia de retenção associada às lendas locais, além de uma via de monitoramento ambiental para proteção da vegetação.

O partido urbanístico foi estruturado em três camadas: vivência (caminhos e espaços de convergência da cultura afro-brasileira), memória (suporte à memória afro, integrando pedra, água e vegetação) e intimidade (trilhas estreitas na mata, para experiências mais recolhidas). O programa incluiu um edifício de apoio com auditório, espaço para memorial das nações do candomblé e espaços administrativos e de manutenção, sendo articulado por uma parede de taipa de pilão que resgata técnicas tradicionais.

A implantação respeitou a topografia, ocupando área previamente desmatada, e fomentou uma simbiose entre o edificado e ambiente natural. O edifício apresenta cobertura verde ajardinada, ventilação cruzada, aproveitamento de água da chuva e energia solar. Os materiais utilizados — terra estabilizada, tijolo ecológico, madeira, pedra natural e aço corten — asseguram baixo impacto ambiental e alto desempenho termoacústico. O paisagismo destacou espécies sagradas, reforçando a integração com a natureza e o caráter religioso do parque.

Para a realização do projeto, em especial pela adoção de técnicas de bioconstrução numa obra pública, foi fundamental o apoio das equipes dirigente e técnica da Fundação Mário Leal Ferreira e uma consultoria especializada acadêmica. A intensa participação das comunidades de matriz africana garantiu a expressão do simbolismo da pedra, da terra crua e da vegetação enquanto moldura primordial. Inaugurado em maio de 2022, o Parque da Pedra de Xangô configura-se, assim, como um espaço emblemático de resistência cultural e integração ambiental, contribuindo para o enfrentamento das mudanças climáticas e para o fortalecimento da identidade afro-brasileira em Salvador.

Fique atento, três atividades acontecem antes da abertura da Bienal:

13/09 – atividade associada | oficina Terra em trama (foto ao lado);
15/09 – oficina Imaginando arquiteturas para um mundo quente – módulo 1 (inscrições até 13/09);
17/09 – dois filmes da 1ª sessão da Mostra Cinema, arquitetura e sociedade: Registros de um mundo quente.

(A programação ainda está em processo de inclusão no site; em breve ela estará completa)