Semear cinzas

Ana Lúcia Canetti

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A ação Semear cinzas (2024), idealizada pela artista Ana Lúcia Canetti, contou com a participação da fotógrafa Mariana Alves e integrou o evento Coordenadas […], realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília. O evento, que ocorre há 10 anos sob coordenação da professora Karina Dias, busca interromper, mesmo que brevemente, as relações rotineiras com a paisagem, reinventando vinculações com o espaço urbano por meio de ações coletivas.

Ana Lúcia Canetti é artista visual, ceramista e doutoranda em Artes Visuais na UnB. É licenciada em Artes Visuais pela Faculdade de Artes do Paraná (2007), mestre em Psicologia pela UFSC (2010), na linha de pesquisa “Relações éticas, estéticas e processos de criação”, e psicóloga formada pela UFPR (2004).

Para o trabalho, foram produzidas pela artista vinte peças em cerâmica. Algumas foram queimadas em alta temperatura e receberam esmaltação com cinzas; outras foram queimadas em baixa temperatura, nas técnicas de raku e raku nu, em que a fuligem da queima vegetal se inscreve nas peças, criando pontos e linhas.

Cada participante escolhia uma dessas peças e caminhava por uma área de monocultura de pinus, em Brasília/DF, semeando cinzas vegetais colhidas em diferentes regiões do Cerrado. Alguns as sopravam, outros as espalhavam com os dedos ou as lançavam ao alto. Antes da caminhada, recebiam instruções com as seguintes consignas:

Escolha uma semente feita de barro e fogo
Tente ler os recados deixados pela queima
O que é escrito pela fuligem nas fraturas da terra?
O que as cores dos vidrados anunciam?

Caminhe em grupo e semeie cinzas
Tente ler o que se anuncia e cai no solo
O que esses pequenos nevoeiros de poeira nos contam?

Estar no mundo é jardinar outras espécies
E também ser objeto de suas semeaduras
O que estamos semeando? Como estamos sendo jardinados?

Convido a semearmos o brilho de um fogo extinto,
Redistribuindo sentidos de vida no breu das paisagens,
Contornando repetições,
Tocando solos inférteis,
Espalhando centelhas que ainda possam nos acender.

O trabalho foi inspirado no livro O Semeador – Da natureza contemporânea, de Emanuele Coccia (2022). Para o autor, semear é uma forma de iluminação: uma “distribuição de luz astral no espaço terrestre”, feita por fragmentos de matéria que captam a luz solar na “carne mineral e cinza da terra” (p. 30). Coccia propõe uma analogia entre o semeador e o pintor: ambos manipulam luz ao tentar redesenhar o mundo. A paisagem, nesse contexto, é menos uma figura geológica e mais uma economia de luz. Semear e pintar tornam-se, assim, uma política da luz — “um ato de pôr o sol e sua força astral em outros lugares do cosmos” (p. 45).

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