Arquitetura na periferia

Carina Guedes, Chay Miguel, Dayane Felix, Laura Julia, Mariana Borel, Paula Peret

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Arquitetura na Periferia atua desde 2013 com assessoria técnica junto a mulheres em comunidades periféricas, a partir de um método baseado no compartilhamento de saberes, na cooperação e no fortalecimento da autonomia. Reconhecendo o protagonismo das mulheres em seus territórios, a iniciativa contribui para que o planejamento e a produção do espaço sejam instrumentos de enfrentamento às desigualdades urbanas e aos efeitos da crise climática, cada vez mais intensos nas periferias. Em 2023, o projeto AnP BIO surgiu com o objetivo de aplicar os princípios norteadores da assessoria técnica da AnP na recuperação de espaços comunitários, utilizando técnicas de baixo impacto ambiental e soluções baseadas na natureza.
O projeto que compõe a exposição foi realizado no Centro Cultural da Ocupação Paulo Freire, em Belo Horizonte. A experiência reuniu mulheres em um ciclo formativo que articulou rodas de conversa e estudos sobre culturas construtivas não colonialistas de povos latino-americanos, africanos e indígenas, oficinas de cocriação, visitas de campo, oficinas mão na massa e mutirões abertos à comunidade. O grupo projetou coletivamente as melhorias necessárias e executou as intervenções com terra, bambu e reaproveitamento de materiais. Entre as transformações, destacam-se: reboco e pintura de terra na fachada, piso de terra nas salas, forro de bambu, banco de taipa de pilão na área de convivência externa, a reutilização de cerâmicas para o revestimento do banheiro e a construção de um telhado verde. As participantes também incorporaram os Adinkras às paredes, resgatando esses símbolos, originários da África Ocidental, como gesto de afirmação de identidades e resistência.
Mais do que a recuperação física do espaço, a experiência ressignificou o território e ampliou o imaginário coletivo sobre o que significa construir a partir da natureza e dos recursos disponíveis. Ao devolver às mulheres o poder de criar seus próprios espaços, o projeto gera uma rede de transmissão de saberes que se expande para além do canteiro, influenciando práticas cotidianas e futuros possíveis para a comunidade.
A arquitetura realizada com materiais naturais e técnicas milenares em territórios urbanos periféricos traz desafios importantes. Enfrentar o estigma que associa o uso da terra à precariedade e adaptar essas práticas a áreas densas, com lotes reduzidos e construções pré-existentes, exige inventividade. O método proposto pela AnP BIO, aberto e construído junto às moradoras, permite que esses limites se transformem em criatividade e experimentação coletiva, revelando o caráter transformador da prática.
Ao conectar arquitetura e ecologia política, a experiência mostra que transformar o espaço é também um ato de resistência e afirmação de direitos. A reforma do Centro Cultural Paulo Freire tornou o espaço mais acolhedor e resiliente e, sobretudo, apontou caminhos para enfrentar a emergência climática a partir da autogestão, do cuidado e da força coletiva das mulheres.

Fique atento, três atividades acontecem antes da abertura da Bienal:

13/09 – atividade associada | oficina Terra em trama (foto ao lado);
15/09 – oficina Imaginando arquiteturas para um mundo quente – módulo 1 (inscrições até 13/09);
17/09 – dois filmes da 1ª sessão da Mostra Cinema, arquitetura e sociedade: Registros de um mundo quente.

(A programação ainda está em processo de inclusão no site; em breve ela estará completa)