Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil
Estudante: Victoria Emanuelle Belo da Silva
A produção de moradia popular na Amazônia frequentemente ignora as particularidades ambientais e culturais da região, adotando soluções padronizadas, frágeis e desconectadas do modo de vida ribeirinho. O projeto Casario surge como alternativa, propondo uma arquitetura que combina inovação técnica, identidade local e respeito ecológico, voltada à habitação digna e à regeneração do território.
A concepção se inspira no casario ribeirinho e nas palafitas, reinterpretando essas tipologias segundo critérios contemporâneos. Estruturas em madeira certificada associadas a pilares de concreto garantem resistência, durabilidade e ventilação natural. Estratégias passivas, como orientação solar, sombreamento entre volumes e coberturas ventiladas, promovem conforto térmico e eficiência energética sem depender de sistemas artificiais.
Implantado em Área Especial de Interesse Social (AEIS), na Avenida Brasil, em Manaus, o conjunto integra áreas verdes, equipamentos comunitários e espaços coletivos, fortalecendo convivência, pertencimento e redes de solidariedade. Blocos geminados de dois níveis recebem tipologias variadas, aproveitam a ventilação predominante e criam corredores de ar que funcionam como túneis de refrigeração, melhorando microclimas internos e externos.
No âmbito ambiental, a proposta atua na restauração de igarapés urbanos por meio de drenagem natural, wetlands artificiais e filtros biológicos, transformando áreas degradadas em corredores ecológicos que conectam o ambiente natural à cidade. Assim, habitar passa a significar também recuperar ecossistemas, respeitando os ciclos das águas e os modos de vida tradicionais.
A participação da comunidade é central. O uso da madeira regional permite autoconstrução assistida, mantém técnicas locais e fortalece vínculos com o território. Parcerias públicas, privadas e cooperativas habitacionais ampliam a viabilidade econômica e social, promovendo inclusão, autonomia e protagonismo local.
O Casario demonstra que habitação social, recuperação ambiental e valorização cultural podem coexistir. Ao harmonizar saberes vernaculares, soluções construtivas modernas e cuidados ecológicos, o projeto redefine a relação entre cidade, natureza e sociedade, oferecendo um modelo de urbanismo sensível e sustentável na Amazônia urbana.
Victoria Emanuelle Belo da Silva, natural de Manaus, desenvolve projetos que articulam preservação ambiental e inovação arquitetônica. Sua prática valoriza a recuperação de territórios degradados e a promoção de saberes locais, contribuindo para cidades amazônicas mais justas e sustentáveis.