Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

o projeto do comedor – um refeitório social – surge em resposta aos eventos climáticos extremos que devastaram inúmeras cidades do sul do brasil em maio de 2024 e à necessidade de melhorar as condições dos abrigos emergenciais que acolheram pessoas desabrigadas durante esse período.

construído na escola estadual ana neri, na cidade de porto alegre, o projeto começa com uma intervenção temporária no edifício do auditório – uma pequena construção de madeira, característica da arquitetura escolar da região. neste espaço foram instaladas divisórias leves – cortinas suspensas por cabos de aço – capazes de delimitar áreas específicas para cada família e adaptar o uso do pavilhão, proporcionando maior privacidade e habitabilidade ao abrigo.

em uma segunda etapa da intervenção, com o regresso das aulas na escola, foi necessário construir um refeitório para os moradores temporários – uma nova construção – que funcionasse de forma independente ao fluxo dos alunos.

a arquitetura proposta consiste, portanto, em uma grande cobertura e uma mesa linear que ocupam um setor vazio do lote da escola.

a escolha da construção em madeira faz parte de uma investigação que, de alguma forma, permeia os projetos desenvolvidos pelo escritório. uma forma de demonstrar possibilidades de utilização de uma matéria-prima de baixo custo e de fácil obtenção que leva em consideração a existência de mão de obra local com experiência e significativo conhecimento prático do material.

dessa forma, a proposta explora a madeira como técnica construtiva ágil e econômica com a escolha de componentes mais acessíveis, como madeira roliça de eucalipto para as colunas e vigas principais e uma estrutura de ripas finas para sustentar a cobertura.

com o objetivo de unificar a intervenção e as diferentes peças de madeira, a pintura verde unifica a proposta, destacando a cobertura no conjunto construído da escola. a tinta impregnante de proteção da madeira ajuda a preservar o material e a cobrir pequenas imperfeições mantendo os veios visíveis. a estrutura verde dialoga com as telhas de policarbonato branco gerando um ambiente iluminado por uma luz difusa.

o projeto inicialmente concebido para servir de refeitório para as famílias, com o tempo, tornou-se um espaço de lazer para os estudantes, um espaço coletivo e comunitário.

assim, a intervenção provocou uma série de interações e usos surpreendentes. um espaço lúdico, que é utilizado como um lugar de jogos para crianças, e até mesmo como ferramenta de aprendizagem, onde as aulas são ministradas ao ar livre.

o projeto representa uma experiência de desenho e construção em um curto período de tempo. uma singela contribuição – entre tanto a ser feito – como resposta a esta imensa e impensável tragédia.
.

porto alegre, rs
2024

Implantação do projeto: Equador
Desenvolvimento do projeto: Equador

Infraestrutura comunitária hídrica para melhorar e fortalecer a rede hídrica existente. Sistema de espaços para interação social, valorização, cuidado ambiental e transmissão de conhecimento sobre a proteção da água. Espaços de abrigo, estações meteorológicas para monitoramento ambiental, espaços de encontro.

La Chimba está localizada no território ancestral da tribo Kayambi, no norte do Equador, perto do vulcão Cayambe. Em um dos ecossistemas mais importantes do Equador, chamado “Paramo”, que possui uma grande biodiversidade e as fontes de água mais importantes do território.

La Chimba, com mais de cem anos de resistência histórica através da autogestão e da auto-organização, protege o território e os seus recursos hídricos de várias ameaças. Fortalecer a sua infraestrutura, reforçando o seu caráter social, é essencial para a sua subsistência e crescimento futuro.

A infraestrutura hídrica comunitária cria espaços para monitorar, cuidar e educar sobre o território do páramo, que fornece fontes de água para a vida. Dessa forma, a comunidade valoriza o trabalho realizado no passado e fortalece os processos para manter o sistema no futuro.

Proposta arquitetónica responsável com o local e as pessoas da comunidade, que são as que constroem os edifícios para uso coletivo em dias de construção participativa chamados «Mingas» (mutirao), que incentivam o trabalho local e a troca de conhecimentos. A intenção é criar espaços de acesso, encontro e abrigo através de técnicas locais presentes nas construções da comunidade e terraços que, pela sua conformação como muros de contenção em encostas, se integram na paisagem natural, para criar uma intervenção respeitosa com o ecossistema do páramo.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Instituto de Arquitetos do Brasil do Tocantins (IAB/TO), com patrocínio da Prefeitura de Palmas, apresenta os parques urbanos lineares da cidade de Palmas: Cesamar, dos Povos Indígenas e dos Pioneiros, este em fase de idealização.
Os habitantes de Palmas entendem que seus parques urbanos são ambientes naturais em meio ao urbano “acomodado”, e que garantem a qualidade de vida e ambiental no processo evolutivo da cidade, adaptando-a ao atual cenário de urgência climática.

O Projeto Urbanístico de Palmas

Resguardada a origem do Estado do Tocantins e sua capital ecológica, Palmas (ver painel 1), o projeto urbanístico de Palmas – idealizado pelos arquitetos Luís Fernado Cruvinel e Walfredo Antunes – foi impactado diretamente pelas características ambientais da região. Neste sentido, a preservação das massas de áreas verdes no entorno dos corpos hídricos que permeiam o urbano de Palmas, sempre foram tratadas como elementos prioritários de preservação e de uso sustentáveis de destinação pública.
O urbano, estruturado pelo cruzamento de duas vias arteriais, Av. Teotônio Segurado, no sentido norte-sul; e, a Av. JK, no sentido leste-oeste. No cruzamento delas, a Praça dos Girassóis, a quarta maior praça do mundo, onde se estabeleceram as sedes dos três poderes do Estado.
A partir desse ponto, o projeto previa seu crescimento gradual, num espaço planejado de aproximadamente 15km x 7km. No entanto, sua ocupação motivou ocupações periféricas, tanto ao norte, quanto ao sul do projeto da cidade, ampliando sua malha urbana para os atuais 25km x 8km.
Todavia, quer no planejado, quer no espontâneo, a preservação do ambiente natural, e a manutenção da biodiversidade ecológica iniciais são respeitadas na implementação da cidade e seus elementos, referendando o legado ecológico da ocupação do território de Palmas.

Parque Cesamar

O primeiro parque urbano de Palmas. Seu projeto urbanístico de autoria do GrupoQuatro, teve seu paisagismo implantado pelo então Presidente da Agência de Desenvolvimento do Tocantins (AD Tocantins), o Arq. Aílton Lélis.
A exemplo de outros parques urbanos, é o ponto de encontro dos palmenses para caminhada em trilhas, e possui equipamentos de lazer e de esporte para diversas faixas etárias. Em especial, o local oferta uma piscina pública no córrego Brejo Comprido.

Parque dos Povos Indígenas e Parque dos Pioneiros

Nas outras áreas da cidade, temos ao norte, o Parque dos Povos Indígenas e, ao sul, a proposta de instalação do Parque dos Pioneiros, ambos estabelecidos em áreas inicialmente reservadas no projeto de Palmas, e que buscam ofertar mais serviço ambiental e de lazer para as famílias residentes no seu entorno, a exemplo do Parque Cesamar. Para mais detalhes da estrutura ofertada nestes parques, observar os painéis 1 e 2.
Ressaltamos que a orla fluvial do Parque dos Pioneiros será objeto de concurso nacional.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Em uma escala como a da cidade de São Paulo, o enfrentamento das mudanças climáticas demanda a articulação de três fatores: soluções projetuais, planejamento urbano e políticas públicas. Este espaço busca demonstrar como a ação do poder público é diversa e enfrenta o desafio de equacionar diversas escalas, do lote ao município, além de mobilizar diversos atores sociais.

Em síntese, o espaço da Prefeitura é um convite a uma reunião em volta de uma mesa no qual o assunto gira em torno de São Paulo. Trata-se de um ambiente para que todos e todas possam ver nossa cidade, conhecê-la, e discutir sua feitura.

O ambiente é composto de um prisma de lado 4 metros, altura de 1,3 metro e elevado a 2 metros do chão, o qual delimita o espaço; e de uma maquete central, de 1,5 por 2,1 metros, que funciona como ponto de encontro. Externamente, a exposição apresenta ao visitante uma linha do tempo intitulada “Parques Paulistanos: 200 anos de história”, na qual estão dispostas todos os anos correspondentes às inaugurações dos parques municipais, além de outras informações referentes à criação de órgãos públicos e eventos importantes para que políticas públicas se desenvolvessem. Internamente, as paredes do prisma são revestidas de telas que expõem um vídeo explicativo intitulado “São Paulo: um projeto de sustentabilidade”. Para localizar no território os planos e projetos da cidade, são projetados mapas sobre uma grande maquete topográfica. A profusão de imagens e pontos de vistas guiadas por um único áudio permite que o vídeo seja assistido mais de uma vez, variando o enfoque pretendido.

A exibição associa projetos de parques, políticas para retrofit, novos edifícios públicos sustentáveis e outras ações do poder público para demonstrar a complexidade de se intervir em uma capital de tantos superlativos. Para isso, são mencionados: Plano Diretor; Requalifica Centro; Subvenção Econômica; a nova frota de ônibus elétricos; Bonde SP; Bairro Conectado: terminal Sapopemba; Plano Hidroviário; Aquático SP; Parque Jardim da Luz; Parque Linear Córrego do Bispo; Parques da Borda da Cantareira; Plano Municipal da Mata Atlântica; Parque Apurá-Búfalos; Parque Natural Fazenda do Carmo; Parque Natural Cabeceiras do Aricanduva; Casa de Cultura Cidade Ademar; Parque Jardim do Éden; Parque Jardim Castelo; Parque Ribeirão Caulim; Sampa+Rural; Plano Municipal de Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável; Programa Operação Trabalho, da Prefeitura; e o Plano de Ação Climática.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O edifício Virginia foi inaugurado em 1951, projetado pelo arquiteto José Augusto Bellucci e engenheiro Luiz Maiorana.

O prédio foi encomendado pela família Matarazzo para servir de renda para Virginia Matarazzo Ippolito. Com 11 pavimentos, dois blocos de apartamentos e quatro lojas no térreo, foi um residencial de alto e médio padrão nas suas primeiras décadas.

Com o declínio econômico da região central na década de 1970 o prédio passou de residencial para comercial e aos poucos foi sendo abandonado, fechando as portas em 2019. Em 2020 foi adquirido pela Somauma, incorporadora focada em retrofit.

O novo projeto, desenvolvido pelo Metrópole Arq, partiu de uma leitura aprofundada do edifício existente, tendo como objetivo adaptá-lo ao novo contexto respeitando suas qualidades arquitetônicas. A fachada será restaurada mantendo suas características formais e de acabamentos. Os apartamentos foram redesenhados para atender às novas demandas de moradia da região, com unidades de 26 a 182 m² que se encaixam à modulação do edifício, preservando os pisos de taco, o acesso às varandas, os janelões, o pé direito alto, boa iluminação e ventilação natural. Todos os caixilhos e guarda-corpos foram substituídos, atendendo às novas configurações do espaço, desempenho termoacústico e normas de segurança.

As prumadas de circulação foram atualizadas para atender as normas de segurança. Todas as instalações hidráulicas e elétricas foram refeitas considerando as novas demandas do edifício.

O edifício conta com áreas comuns para academia, lavanderia e bicicletário. As lojas do térreo serão reabertas para a calçada e será criada uma galeria conectando as ruas Martins Fontes e Álvaro de Carvalho.

Na cobertura foi projetado um espaço comercial que permite uma vista surpreendente do entorno. Esse espaço recebe uma estrutura leve de laminada colada e um jardim com espécies nativas

Metrópole Arquitetos
Em duas décadas de existência, o Metrópole_arq é responsável por projetos que estão presentes na cena cultural do país, sendo eles públicos ou privados e de diferentes escalas. O escritório atua com ênfase em expografia e preservação de patrimônio cultural e seus atuais sócios, Anna Helena Villela, Silvio Oksman e Ana Paula Pontes, participam ativamente, em conjunto e/ou individualmente, de projetos desenvolvidos em museus e espaços culturais em todo o Brasil.

FICHA TÉCNICA:
LOCAL: São Paulo, Brasil.
ANO: 2025
EQUIPE METRÓPOLE ARQUITETOS:
Silvio Oksman, Lia Soares, Mariah Peruzzo, Camila Vasconcelos, Amanda Klajner, Eric Dick, Fabiana Costa, Micaela Kosmalski.
INCORPORAÇÃO E OBRA:
Somauma
GERENCIAMENTO:
Tools Engenharia
ESTRUTURAS EM MADEIRA:
Ita Construtora
PROJETO DE ILUMINAÇÃO:
Lux Projetos
ARQUITETURA DE INTERIORES
Belezas Imperfeitas
MODELAGEM BIM:
Estudio +1
SISTEMAS:
Adolfi, RRP Projetos e RGK
ESTRUTURAS:
Emplatec
CONSULTORIA DE CAIXILHOS:
Polar Ltda
BOMBEIROS:
Engeplot
VEDAÇÕES E DESEMPENHO:
Versalit
CONSULTORIA DE ACESSIBILIDADE:
Inovatech

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Formosa Hi-Fi é um bar de audição de música em alta fidelidade, localizado em uma galeria subterrânea que integra o conjunto do Viaduto do Chá, construído na década de 30 e hoje protegido pelos órgãos de preservação. O projeto, elaborado em parceria com o escritório Acústica e Sônica, teve como partido a integração entre acústica, arquitetura e patrimônio.

O espaço tem acesso por uma galeria subterrânea que atravessa a Rua Xavier de Toledo. Também tem abertura para a fonte dos suspiros, junto a escadaria que faz a passagem do Teatro Municipal para o Vale do Anhangabaú. Nesse local, o espaço do Formosa se amplia para fora, com uma perspectiva urbana extraordinária.

Todo o ambiente foi revestido com painéis de acústicos de madeira, que preservam as paredes originais de mármore e tem desenho inspirado no padrão das portas e janelas de serralheria existentes. Na área do bar e DJ, o mesmo painel recebe nichos iluminados para a exposição dos discos de vinil.
Para o forro foi pensado um plano iluminante. As luminárias estão conectadas a um sistema de automação que permite infinitas combinações de iluminação que podem ser sincronizadas com a música.

O bar e a área do DJ foram posicionados em fita, aproveitando um balcão existente, de frente para o salão, conservando seu espaço amplo. Atrás do painel de madeira há um corredor de serviços, onde estão geladeiras, estoques, equipamentos etc. As áreas de cozinha, bar e sanitários possuem piso elevado para evitar intervenções no piso existente. O único banheiro existente foi reformado e adaptado para receber um banheiro acessível em nível.

Todas as instalações elétricas, hidráulicas e de climatização foram atualizadas. As novas instalações passam aparentes pelo teto, mas são quase imperceptíveis pois passam acima do plano de luminárias.

Metrópole Arquitetos
Em duas décadas de existência, o Metrópole_arq é responsável por projetos que estão presentes na cena cultural do país, sendo eles públicos ou privados e de diferentes escalas. O escritório atua com ênfase em expografia e preservação de patrimônio cultural e seus atuais sócios, Anna Helena Villela, Silvio Oksman e Ana Paula Pontes, participam ativamente, em conjunto e/ou individualmente, de projetos desenvolvidos em museus e espaços culturais em todo o Brasil.

Acústica e Sônica
Acústica & Sônica, fundada em 1962, atua em áreas inter-relacionadas como acústica, controle de ruído, áudio e vídeo, iluminação cênica, tecnologia de palco e planejamento espacial. Desde 2001, mantém parceria permanente com a empresa norte-americana Akustiks (South Norwalk, CT), com projetos realizados nas Américas, Europa, África e Ásia. A equipe tem ampla experiência em edifícios históricos e culturais, com destaque para a Sala São Paulo, Sala Cecília Meireles, Teatros Municipais de São Paulo e Rio de Janeiro, Praça das Artes, Teatro Cultura Artística, Teatro Castro Alves, David Geffen Hall (Nova York), Teatro Amira de la Rosa (Colômbia) e o Convento do Carmo (Salvador), entre outros.

LOCAL:
São Paulo, 2025
PROJETO DE INTERVENÇÃO:
Acústica e Sônica e Metrópole Arq
EQUIPE METROPOLE ARQ:
Silvio Oksman, Anna Helena Villela,
Camila Vasconcelos, Lia Soares,
Eric Dick, Fabiana Costa.
EQUIPE ACÚSTICA E SÔNICA:
José Augusto Nepomuceno, Julio Gaspar e Julia Batista
GERENCIAMENTO E INSTALAÇÕES:
100 Engenharia, Tatiana Bianchi e Rosana Nakano
CONSTRUÇÂO: Lar Engenharia
AUTOMAÇÃO: Taboada Elétrica e Automação
LUMINOTÉCNICA: Lux Projetos
MOBILIÁRIO: Faher
FOTOGRAFIA: Dandara Bettino
ÁREA: 940 m²

Implantação do projeto: Austrália
Desenvolvimento do projeto: Austrália

Peter Stutchbury Architecture (PSA) é um coletivo de indivíduos únicos que praticam arquitetura com mente aberta e abordagem experimental. Eles possuem o talento que mantém os padrões de design, qualidade e entrega. Sua compreensão das tarefas da arquitetura, juntamente com suas habilidades para aprimorar o trabalho, contribuem unmistakavelmente para o resultado social e profissional dos projetos do escritório.

O trabalho da PSA é especializada e inventivamente responsivo ao contexto ambiental e físico, tanto na forma quanto na tecnologia. Buscando beleza e clareza, enquanto sempre mantêm a terra em mente, suas obras construídas situam-se de forma confortável e consciente em seu contexto — elas conectam.

A PSA é reconhecida na Austrália por sua abordagem inovadora em sustentabilidade e design na prática da arquitetura. O principal do escritório, Peter Stutchbury, atua de forma independente desde 1981, produzindo uma ampla variedade de trabalhos. Seus projetos têm sido publicados e aclamados internacionalmente. A obra da PSA está representada em edições do Atlas Mundial da Phaidon.

Desde 1995, o escritório conquistou 75 prêmios do Royal Australian Institute of Architects, incluindo 17 Prêmios Nacionais. Em 2003, a PSA tornou-se a primeira empresa a ganhar os dois principais prêmios de arquitetura do país, repetindo esse feito em 2005. Em 1999, venceram o National Metal Industries Award of Excellence e, em 2000 e 2008, o Australian Timber Award. Em 2001, o trabalho da PSA foi o principal contribuidor para que a Universidade de Newcastle ganhasse o Prime Minister’s National Environmental Banksia Award. Em 2006, a PSA foi vice-campeã do prêmio “Arquiteturas Inovadoras – Design e Sustentabilidade”, na Itália, e, em 2008, a firma venceu o International Living Steel Award na Rússia. A Peter Stutchbury Architecture exibiu seus trabalhos na Austrália, Alemanha, Luxemburgo, França, Nova Zelândia, África do Sul, Namíbia, EUA, Japão, Eslovênia e na Bienal de Arquitetura de Veneza, na Itália, em 2006 e 2008. A PSA é expositora anual na GA Gallery, em Tóquio.

Desde o início dos anos 90, o escritório venceu ou foi classificado em 21 competições nacionais e internacionais, enquanto produzia uma variedade de edificações em todas as disciplinas da arquitetura. Da pequena Israel House em Pittwater (Menção Honrosa Robin Boyd, 1995) ao significativo Edifício de Ciências da Vida da Universidade de Newcastle (Prêmio Sir John Sulman, 2001), seu trabalho mantém consistentemente um alto nível de reconhecimento em design. O escritório concluiu obras no exterior em Papua Nova Guiné, Vanuatu, Japão, Rússia, e possui um projeto em andamento em Taiwan.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Memorial Brumadinho é um espaço de memória e resistência, construído no local do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), para homenagear as 272 vítimas da maior tragédia humanitária do país. Resultado da mobilização histórica dos familiares, reunidos na Avabrum, o memorial nasceu do desejo de salvaguardar os segmentos corporais das vítimas e de ressignificar o território marcado pela lama, transformando-o em um lugar de reflexão, aprendizado e transformação. Aberto ao público em 2025, é gerido pela Fundação Memorial de Brumadinho, criada em 2023 para conduzir sua gestão e fomentar projetos de pesquisa e educação sobre memória, meio ambiente, direito, arquitetura e história.

O projeto, assinado pelo arquiteto Gustavo Penna e sua equipe da Gustavo Penna Arquitetos Associados (GPAA), propõe um percurso simbólico e sensível que parte de um pavilhão de entrada em concreto pigmentado com rejeito da mineração. Suas formas angulosas e fragmentadas remetem ao choque do rompimento, enquanto feixes de luz atravessam as frestas e, todos os anos no exato horário da tragédia, iluminam uma drusa de cristais em homenagem às “joias”, como os familiares chamam seus entes queridos.

A partir dali, a fenda, um corte de 230 metros no solo, conduz o visitante ao epicentro do desastre. As paredes exibem os nomes das vítimas, emergindo um a um ao longo do caminho. No ponto central, a escultura suspensa conhecida como “cabeça que chora” verte lágrimas sobre o concreto e leva a água, símbolo de memória e purificação, até o espelho d’água junto ao mirante. Ao redor, um bosque com 272 ipês-amarelos floresce como sinal de vida e continuidade.

Os espaços Memória e Testemunho, concebidos em diálogo com os familiares, guardam objetos pessoais, registros da tragédia e os segmentos corporais das vítimas, acolhidos com dignidade e profundo respeito. Para Carlos Antônio Leite Brandão, o memorial é uma “fortaleza da dor”, cujas frestas de luz rompem a penumbra e transformam o silêncio em presença. Já Milton Hatoum descreve o memorial como um gesto civilizador, capaz de “dar forma estética à tragédia” e de convocar as novas gerações a olhar criticamente para o passado com atenção ao futuro.

O Memorial Brumadinho assume a tarefa de manter viva a memória e de afirmar a dignidade das vítimas, recusando o esquecimento e reafirmando o direito à memória como fundamento da vida coletiva.

Implantação do projeto: China
Desenvolvimento do projeto: EUA

Sua Estufa é a Sua Sala de Estar é um dispositivo ambiental que amalgama as funções de estufa, cozinha externa e sala de estar. Ele especula sobre a capacidade de cultivar vegetais e compartilhar alimentos como um ato coletivo para combater extremos ambientais. Projetado para espaços urbanos abandonados e subutilizados, o pavilhão apresenta um conjunto de móveis móveis e operáveis que animam o entorno com racks de cultivo de vegetais, bancadas de cozinha e mesas dobráveis. Quando fechado, funciona como uma estufa que incentiva atividades de cultivo; quando aberto, transforma-se em uma sala de estar ao ar livre que promove novas formas de compartilhamento comunitário na vida urbana.
O pavilhão incorpora um microclima de cuidado que nutre tanto plantas quanto seres humanos. Promove um sistema de agricultura coletiva, no qual solos contaminados de terrenos agrícolas próximos são tratados in situ e armazenados em vasos portáteis projetados para cultivo comunitário e troca de produtos entre membros da comunidade. A água da chuva, coletada e filtrada por meio do reservatório metálico suspenso, circula no pavilhão para atividades de jardinagem e culinária. Graças a táticas espaciais que mitigam os desafios impostos pelo clima extremo em um contexto subtropical — como vãos estratégicos entre painéis que permitem o resfriamento passivo —, a estrutura proporciona um ambiente ideal para as plantas, oferecendo aos visitantes condições equilibradas de ventilação e sombreamento para coabitarem o espaço com plantas e outras espécies.

Office for Roundtable é um coletivo de prática de projeto e pesquisa liderado por Leyuan Li, atualmente sediado em Denver, Colorado, e Guangzhou, China. Seus projetos abrangem um amplo espectro de tipos e escalas na interseção entre o interior e o urbano, explorando espaços e eventos que facilitam o compartilhamento entre diversas comunidades para criar narrativas coletivas. Projetos construídos recentes foram destacados em PLOT, ArchDaily, Designboom, Architect’s Newspaper, Gooood e KoozArch, entre outros. Mais recentemente, o Office for Roundtable recebeu uma Menção Honrosa no AN’s Best of Practice Awards na categoria Architect (New Firm) – Southwest em 2025.
JXY Studio é um estúdio interdisciplinar de arquitetura e arte cofundado por Yue Xu e Jiaxun Xu. Nosso trabalho visa expandir os limites do projeto arquitetônico tradicional e explorar abordagens inovadoras para a construção do espaço e da narrativa por meio de uma gama mais ampla de mídias, envolvendo os campos do design, pesquisa e artes visuais, incorporando imagens, pintura, instalação, fotografia, imagem em movimento e outras formas multimídia. Combinando ampla experiência em criação digital, instalação espacial, reconceitualização artística do espaço e urbanismo inovador, cada projeto do estúdio está ancorado tanto em pesquisa lógica quanto em prática inventiva. Inspirados pela rica herança cultural de Lingnan e pela interseção das culturas oriental e ocidental, usamos essa perspectiva única para alimentar as explorações interdisciplinares de arquitetura e arte.

Implantação do projeto: EUA
Desenvolvimento do projeto: Áustria, Letônia, EUA

O clima futuro da nossa cidade ainda não é conhecido. Mas o clima sempre foi e será um companheiro permanente em nossas vidas.

O clima e a água são forças intrinsecamente conectadas que moldam nosso ambiente e influenciam a vida na Terra de maneiras profundas.

O Institute of Weather Modification examina o entrelaçamento da modificação do clima, da engenharia hidrológica e da resiliência urbana na Califórnia. Como as sociedades buscaram manipular condições atmosféricas e hidrológicas—desde as práticas indígenas de manejo da terra até os experimentos de controle do clima do século XX? Que papel as infraestruturas da água—represas, reservatórios, usinas de dessalinização—desempenham quando emparelhadas com intervenções atmosféricas especulativas, como a semeadura de nuvens?

O trabalho em vídeo segue o Aqueduto de Los Angeles e suas extensões—reservatórios, estações de tratamento UV, fontes termais, lagos e estações de semeadura de nuvens—traçando as infraestruturas e paisagens que sustentam a metrópole, ao mesmo tempo que aponta para as controvérsias que as moldaram.
Em última análise, o projeto questiona o que significa construir cidades em diálogo com a própria atmosfera. Se a arquitetura há muito tempo se preocupa em nos abrigar dos elementos, como ela pode agora responder à sua intensificação e manipulação?

Studio Paradox

Atuando entre o documental e o imaginário, Julia Obleitner e Helvijs Savickis trabalham entre instalação, filme e arquitetura. Como fundadores do Studio Paradox, eles abordam condições políticas, ecológicas e urbanas contemporâneas através de uma lente multidisciplinar. Sua prática frequentemente engaja com infraestruturas ocultas ou de larga escala, examinando suas consequências ecológicas, seu papel na formação de trajetórias urbanas futuras e seu entrelaçamento com a memória

Implantação do projeto: Espanha, Itália, Brasil
Desenvolvimento do projeto: Espanha, Brasil

Este trabalho é um passeio a modo de colagem por várias cidades sem muitas semelhanças aparentes, mas conectadas por um mesmo olhar que destaca aspectos intimamente ligados ao meio ambiente, como a vegetação, sua relação com a água ou o clima. A abordagem não é técnica nem acadêmica, mas fenomenológica: diante de estímulos como o calor são propostas soluções poéticas, que as vezes olham para o passado em busca de respostas, tentando seduzir o espectador, convidando-o a esquecer preconceitos, desbloquear sua imaginação e conectar com seu bem-estar físico.

Esta linha de trabalho, que começou há anos em Madri foi desenvolvida em profundidade no Guia Fantástico de São Paulo, um falso guia turístico ilustrado publicado em 2015 que mistura realidade e ficção. Se o guia turístico é um relato para o consumo massivo da cidade contemporânea, este projeto parte dessa ideia e propõe normalizar um relato utópico, apresentando situações surpreendentes para o leitor como se fossem cotidianas, conectando cidades onde a autora tem morado, ligando problemas que parecem locais e são globais.

Os desenhos expostos funcionam como esboços para chamar a atenção sobre os eixos temáticos da Bienal. Para “Preservar as florestas e reflorestar as cidades”, tem que garantir as condições optimas para a sobrevivência das mamangavas, os sabiás, assim como outros polinizadores, o que passa por cuidar da vegetação existente. Embora a presença de água tenha sido decisiva para a fundação das cidades, no desenvolvimento destas temos esquecido da sua importância. Não podemos “Conviver com as águas” sem saber que existem, por isso se expõe um mapa de cada uma das cidades com seus cursos d’agua e infraestruturas desenvolvidas e depois soterradas e esquecidas. “Reformar mais e construir verde” implica preservar o patrimônio arquitetônico de predios populares com valor histórico como o neomudejar ou transformar pátios internos em jardins com água onde se refrescar no verão para “Garantir a justiça climática”. Mas também transformar o Minhocão ou o Puente de Vallecas. Ambos são exemplos muito similares de grandes infraestruturas pensadas para o carro na década dos 70 que atuam como fronteiras físicas, acentuam a desigualdade entre bairros e cujos problemas associados tem movilizado a vizinhança por anos. No projeto, em lugar de optar pela demolição total, se apresentam modificadas com o objetivo de ressignificá-las valorizando os enormes recursos materiais que foram investidos na sua construção, mas também sua potencia simbólica, como monumento ao passado adaptado as necessidades do futuro.

Os desenhos tem sido adaptados ao formato expositivo desta Bienal e farão parte da publicação São Paulo e outras cidades Fantásticas, editada por Lote42 e lançada no final de 2025.

Implantação do projeto: Índia
Desenvolvimento do projeto: Brasil, Portugal

Mumbai, localizada na ilha de Salsette no estado de Maharashtra, consolida-se como o maior e mais dinâmico canteiro de obras do planeta. A cidade enfrenta uma crise extrema de espaço urbano, com uma densidade populacional quase cinco vezes superior à de São Paulo – o que significa que Mumbai concentra muito mais pessoas em edificações significativamente mais baixas. Esta superconcentração cria um ambiente onde o espaço se tornou um recurso escasso, limitado e absurdamente caro.

A disputa por cada metro quadrado é tão acirrada que praticamente não existem mais lotes vagos. A propriedade de um apartamento nos bairros centrais transformou-se num sonho inatingível não apenas para a população de baixa renda, mas também para a classe média profissional. A paisagem urbana carece completamente de áreas verdes significativas e os vazios urbanos, essenciais para a respiração da cidade, foram totalmente eliminados.

Diante desta realidade distópica, duas propostas visionárias da tese “Espaços Colaterais: subsídios para imaginar os novos vazios de Mumbai”, desenvolvida na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto sob orientação dos professores Jorge Figueira e Teresa Cálix, oferecem soluções inovadoras.

1. Espaço Aéreo: Novos Territórios Urbanos Elevados

A proposta aproveita os 250 quilómetros de viadutos do metrô suspenso de Mumbai, particularmente a Linha 7 que atravessa diversas favelas na região de Mogra-Gundavali. Em contraste com a abordagem da Slum Rehabilitation Authority – que utiliza o capital imobiliário para habitação social de forma convencional -, o “Espaço Aéreo” propõe um experimento social radical ao ocupar os espaços non-aedificandi acima dos trilhos.

Trata-se de um edifício linear meândrico que abriga intencionalmente diferentes classes sociais numa mesma megaestrutura polivalente. A convivência acontece numa plataforma contínua e neutra, com todas as unidades garantidas como luminosas e arejadas, desafiando o padrão habitual de habitações sociais precárias. Esta ousada intervenção liberaria 23 hectares de terreno para a criação de parques, playgrounds e praças, transformando infraestrutura em arquitetura habitacional e convertendo espaços marginais em novas centralidades urbanas.

2. Arranha-céu de Ar: A Arquitetura do Imaterial

Esta proposta confronta a transformação dos vazios industriais de Parel em condomínios e shopping centers, apresentando instead uma verticalidade imaterial na forma de um microclima artificial. O projeto ecoa visionários como Buckminster Fuller e sua proposta de cúpula climatizada para Manhattan, criando aqui uma “nuvem” atmosférica permanente sobre as antigas fábricas.

O sistema combina figueiras monumentais com centenas de nebulizadores de alta pressão controlados por sensores que mantêm a temperatura constantemente em 21°C. A névoa adquire cores simbólicas conforme o calendário cultural indiano – açafrão no Dia da Independência, cores vibrantes durante o Holi. Percebido apenas pela névoa e copas das árvores, este “paralelepípedo de ar e umidade” serve como manifesto pela preservação dos vazios urbanos, oferecendo um espaço público refrigerado dedicado ao lazer, ao críquete e ao simples usufruto dos cidadãos.

Vazio S/A: Entre a Prática e a Pesquisa Urbana

O escritório Vazio S/A Arquitetura e Urbanismo opera na intersecção entre prática convencional e pesquisa crítica sobre os vazios urbanos. Adota uma postura propositiva que entende a informalidade, os vazios e as forças de mercado como potentes indutores de novos projetos urbanos. Além do trabalho tradicional com edificações, desenvolve experimentações através de concursos de ideias, publicações acadêmicas, parcerias com grupos sociais e intervenções urbanas efêmeras, sempre buscando novas relações entre a cultura contemporânea e a produção do espaço arquitetónico.

Implantação do projeto: Suíça
Desenvolvimento do projeto: Suíça

As intervenções de recomposição, iniciadas em 1994 e ainda em curso, referem-se às ruínas de abrigos para pessoas e animais construídos em pedra seca nos pastos alpinos de Sceru, Giumello, Quarnei, Luzzone e Piora, e nos Alpes do cantão do Ticino, a mais de 2000 metros de altitude na Suíça. As recomposições consistem concretamente no recolhimento das pedras dentro da parede perimetral das ruínas destes edifícios abandonados desde os anos 1950.

Hoje, a construção de novos edifícios nesses locais de alto valor em paisagem natural é permitida apenas para obras de interesse público, como infraestruturas hidrelétricas, estradas florestais, captações de água, abrigos contra avalanches, refúgios alpinos, etc. Os particulares podem fazer a manutenção dos edifícios existentes, respeitando sua função original. Apenas em casos raros é permitida a sua conversão em casas de férias.

Nas recomposições, a componente funcional e privada do edifício, cuja manutenção implicaria uma obra de reconstrução, é anulada através da criação de um volume compacto e sem espaços utilizáveis. Pelo contrário, o valor público do edifício, entendido como presença geométrica de referência na paisagem, é integralmente restaurado. Também o espaço circundante, uma vez limpo dos escombros, recupera o seu valor original.

As recomposições são realizadas numa base voluntária. Participam amigos, estudantes, familiares e colegas. A população local e os proprietários das ruínas recompostas apreciam o idealismo e a eficácia deste trabalho, que tem um impacto nas realidades a que estão afetivamente ligados.

As recomposições devolvem um sentido às pastagens abandonadas. Representam o epílogo de uma civilização que sobreviveu no Ticino até ao advento da modernidade. Fatores como sustentabilidade, simplicidade, durabilidade, participação, idealismo, coerência e beleza garantem a qualidade das intervenções ao longo do tempo, mas acima de tudo consolidam a presença de valores positivos na sociedade.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Jardim de Sequeiro é um jardim temporário, redesenhado e replantado a cada ano. Irrigado apenas com a chuva, o jardim germina, cresce, floresce, produz sementes e se seca em poucos meses, sendo assim adaptado à sazonalidade do Cerrado.

Suas flores ocupam o vão central do Instituto Central de Ciências (ICC) – edifício icônico da arquitetura moderna brasileira, projeto de Oscar Niemeyer e João Filgueiras Lima (Lelé), de 1962. Estende-se pelos módulos sequenciais do edifício, com 730 metros de comprimento por 15 metros de largura. Com mais de 5.000 m² de área plantada sobre laje, o jardim vive sobre uma fina camada de terra, sem irrigação. Com o fim das chuvas, suas sementes são colhidas para serem utilizadas no próximo ciclo. O jardim faz uso de flores de ciclo curto, exóticas, e capins nativos do Cerrado em composição naturalista, inspirada nas formações campestres do Cerrado.

Surgido como integração entre projeto de extensão e gestão das áreas verdes da Universidade de Brasília, o Jardim de Sequeiro tem possibilitado economia e qualificação do espaço central da Universidade, ao mesmo tempo que tem promovido a articulação com atividades de ensino, pesquisa e inovação.

Como um jardim temporário e experimental, o Sequeiro pode ser redesenhado e aperfeiçoado a cada ano, possibilitando a ampliação contínua de seu escopo inicial e o desdobramento de seus temas em pesquisas e oficinas diversas, a partir de interações com diferentes campos disciplinares e vivências acadêmicas.

O Jardim de Sequeiro já teve 5 ciclos completos entre 2020 e 2025. Neste período 142 voluntários e bolsistas participaram diretamente do projeto, compondo as equipes que se renovam a cada ano. Foram oferecidas 118 oficinas temáticas (fotografia, aquarela, arranjos florais, coleta de sementes, abelhas nativas, tintura em tecido, visitas guiadas e muitas outras), com apoio de professores da UnB, de outras instituições de ensino e da comunidade em geral. Neste percurso, têm sido fundamentais as pesquisas científicas e o plantio colaborativo de jardins com a ESALQ/USP, a UNESP/Bauru, assim como o que ocorreu entre 2022 e 24 no Instituto Inhotim/MG.

O projeto foi premiado na V Bienal Latino-Americana de Arquitetura Paisagística em 2022. Mais recentemente, foi escolhido pelo Plano Coletivo para integrar, junto a outras referências, seu projeto intitulado (RE)INVENÇÃO, na 19ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza.

Jardim de Sequeiro, 2020 -, é um projeto idealizado e coordenado pelo Dr. Júlio Barêa Pastore, professor de paisagismo da Faculdade de Agronomia e Veterinária da Universidade de Brasília. O projeto é realizado em parceria com a Prefeitura da UnB, responsável pela gestão das áreas verdes da Universidade. São participantes do projeto servidores da PRC, alunos bolsistas, voluntários e público externo.

Mais informações: Instagram: jardimdesequeiro@gmail.com; Youtube: jardimdesequeiro E-mail: jardimdesequeirpo@gmail.com

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Ilê Asé Odé Ibualamo, Unidade Territorial Tradicional de matriz Yorubá, e seus espaços de vivências coletivas foram materialmente destruídos em 15 de Dezembro de 2022. A vida verde e o curso hídrico carregados de histórias também sucumbiram no processo de canalização do Córrego Cadaval para implantação de via pública, dando lugar ao frio e cinzento asfalto que lhe tirou o respiro, sufocou aterra e silenciou as águas. O Ilê Asé Odé Ibualamo representava a grande árvore de sustentação daquele meio urbano periférico, como um grande Baobá com suas memórias, seus saberes e fazeres transladados de África para cá.

O projeto surge a partir do movimento de luta da Frente Ilê Odé, idealizada por Odecidarewá Zana de Odé, que reuniu arquitetos, urbanistas, docentes, pesquisadores e lideranças periféricas para compor um estudo que deu origem a este projeto que integra a sabedoria tradicional e suas tecnologias em resposta à violência sofrida. A proposta opera como ferramenta de luta e ressignificação da memória do Ilê, mas também de uma urbanidade ancestral. Propomos uma nova leitura de cidade a partir da crítica à metodologias higienistas de exclusão da territorialidade negra, que guiaram o desenvolvimento da metrópole paulistana. O conjunto de equipamentos baseado na cultura dos Povos Tradicionais de Matriz Africana é prática de re-existência e reencantamento da vida, que ressignifica e cicatriza uma grande ferida aberta na cidade. Um resgate possível para um futuro que também deve ser ancestral.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Consórcio Regenera Dilúvio –  Profill Engenharia e Ambiente, Consult Engenharia e Avaliações e Pezco Economics

A Operação Urbana Consorciada Regenera Dilúvio busca integrar desenvolvimento urbano, sustentabilidade ambiental e infraestrutura, considerando os impactos dos eventos climáticos recentes em Porto Alegre. Trata-se de um plano com horizonte de 25 anos e que teve como centro a implantação de um parque linear nas margens do Arroio Dilúvio, afluente do Guaíba, em Porto Alegre/RS.

A elaboração do projeto responde à demanda da Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (SMAMUS) de Porto Alegre, que acompanha e contribui com os estudos. O trabalho foi desenvolvido por consórcio formado pelas empresas Profill Engenharia e Ambiente, Consult Engenharia e Avaliações e Pezco Economics, com coordenação geral do arquiteto e urbanista Marcelo Ignatios e coordenação do projeto urbanístico do arquiteto e urbanista Marlon Rubio Longo.

A estruturação da OUC foi explorada por múltiplas frentes de trabalho, abrangendo estudos urbanísticos, ambientais, de mobilidade urbana, econômicos, sociais e demográficos, jurídicos e um plano de comunicação do processo, para discussão pública. O projeto endereça soluções para as questões de drenagem e saneamento, com a distribuição de áreas verdes e o encaminhamento da água pluvial, melhoria da mobilidade em múltiplas escalas, além de novos equipamentos, urbanização de assentamentos precários e produção de habitação de interesse social.

O parque linear foi estruturado como um corredor ambiental urbano, integrado a um sistema de áreas verdes e infraestruturas de drenagem, de maneira a promover a recomposição da arborização das margens, o incentivo aos usos nas quadras lindeiras e a conexão entre praças e fragmentos de vegetação pré-existentes. A implantação desses dispositivos é territorialmente abrangente, de maneira a distribuir a reservação e ampliar a infiltração no solo, combinando infraestruturas tradicionais (redes cinzas), com soluções baseadas na natureza (redes verdes e azuis).

A OUC Regenera Dilúvio prevê a possibilidade de um adensamento distribuído no território que, em um cenário otimista, alcançaria em 25 anos cerca de 60 mil moradores adicionais em empreendimentos verticais novos. O crescimento e a atração de novos empregos são potencializados pelas melhorias de infraestrutura e ambientais para a área, em parte financiadas pela comercialização de Certificados de Potencial Adicional de Construção. Com expectativas de arrecadação de R$ 1,46 bilhão em valores atuais, os títulos correspondem a cerca de 4 milhões de m² de novas áreas construídas, obtidas por meio do adensamento de 65 ha de terrenos.

Além do programa de investimentos previstos, que soma cerca de R$ 1,76 bilhão até 2050 e conta com outras fontes de recursos, foram previstas estratégias de incentivo para criação e fortalecimento das centralidades no território, consolidando um novo eixo de concentração do adensamento e desenvolvimento urbano de Porto Alegre.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O FICA faz parte da Associação pela Propriedade Comunitária que atua, desde 2015, pelo acesso à moradia digna para famílias de baixa renda, adquirindo e gerindo imóveis em áreas bem localizadas, através da oferta do Serviço de Moradia Social.

Desde 2023, o Programa Morar Primeiro do FICA oferece moradia para 60 pessoas que estavam em situação de rua, através de uma parceria com o Padre Júlio Lancellotti. O programa é baseado na metodologia internacional Housing First, que defende que a casa é o primeiro passo (e mais essencial) para a reinserção social de pessoas em situações de extrema vulnerabilidade.

Trouxemos para a Bienal o programa desenvolvido para a população mais vulnerável aos impactos da crise climática: pessoas em situação de rua – as que menos contribuem para as mudanças do clima e as que mais sofrem seus efeitos, por não terem abrigo para se proteger e por apresentarem condições socioeconômicas e de saúde extremamente fragilizadas. O programa Morar Primeiro é uma resposta contundente ao cruzamento entre crise climática e habitacional e garante moradia segura, apoio para acessar renda e trabalho, direito à cidade, e melhora de condições de saúde, educação e cidadania.

Para viabilizar o programa, o FICA adquiriu casas e apartamentos vazios e subutilizados, próximos das áreas em que as famílias atendidas pelo programa viviam. O FICA realiza as gestões predial, condominial e social, e as famílias recebem atendimento psicossocial contínuo e personalizado. Nossa equipe multidisciplinar conta com assistentes sociais, psicólogas, advogadas, arquitetas e urbanistas, e uma rede de parceiros de diversas áreas e especialidades.

Nossa instalação é uma planta de um apartamento tipo do Morar Primeiro em escala 1:1. Ao adentrar esse espaço, os visitantes da Bienal têm acesso a dados sobre o impacto do programa Morar Primeiro e sobre o Serviço de Moradia Social do FICA. Na parte externa da planta, apresentamos dados sobre a crise habitacional no Brasil e em São Paulo. A instalação é complementada com a projeção, em uma das paredes da Oca, de uma foto do baixo do viaduto ocupado pelas famílias, antes da mudança para as unidades do Morar Primeiro.

Implantação do projeto: EUA
Desenvolvimento do projeto: EUA

OPEN-GROUND é uma proposta para uma arquitetura de lazer público ao ar livre destinada a climas quentes, úmidos, tóxicos e propensos a inundações. Inspirado pelas quadras esportivas cobertas típicas de Houston, o projeto implanta uma cobertura espessa, um solo oco e chaminés térmicas para sombrear e resfriar esse ambiente difícil, criando ao mesmo tempo um espaço para encontros da comunidade.

A estrutura espacial da cobertura é preenchida de forma não compacta com material de isolamento reciclado, funcionando como uma barreira térmica para retardar o ganho de calor nas quadras abaixo. No subsolo, uma série de câmaras tubulares funciona como detenção de águas pluviais, filtro de toxicidade e sistema de captação de água. Conectando a cobertura e os reservatórios inferiores, uma série de estruturas de ventilação cilíndricas fornecem condutos para a movimentação do ar por empuxo. Essas chaminés térmicas criam um motor microclimático, usando diferenciais de temperatura, umidade e pressão para ventilar e resfriar o espaço ao ar livre.

Este centro de resfriamento não apenas amplia a capacidade de detenção de água on-site, mas também propõe como as infraestruturas climáticas podem funcionar para além do mero abrigo. OPEN-GROUND oferece o posicionamento político de que o papel da arquitetura no Antropoceno é hibridizar a relação entre a vida pública e os sistemas terrestres. A parte inferior do projeto, composta por tubos e condutos, vigas cruzadas e substratos do solo, imagina a arquitetura como parte de uma pilha planetária, mediando as geologias, hidrologias e atmosferas de um lugar para oferecer um novo espaço para reuniões sob o sol.

HOME-OFFICE é uma colaboração de pesquisa e design que explora a reciprocidade entre os tipos arquitetônicos, seus assemblies técnicos e o meio ambiente. HOME-OFFICE foi fundado por Brittany Utting e Daniel Jacobs em 2017 e tem sede em Houston, Texas. Brittany Utting é professora assistente de arquitetura na Universidade Rice, e Daniel Jacobs é professor assistente de instrução de arquitetura na Universidade de Houston.

Implantação do projeto: EUA
Desenvolvimento do projeto: EUA

As árvores são consideradas por urbanistas e designers uma infraestrutura verde eficaz para mitigar os impactos do calor extremo. No entanto, a distribuição urbana da copa das árvores está frequentemente correlacionada com classe e raça. Em Miami, por exemplo, estudos de scholars ambientais e de políticas públicas demonstraram que bairros mais pobres e racializados têm menos árvores do que os bairros affluenters. Apesar das iniciativas de florestamento urbano, dois problemas principais persistiram na última década. Primeiro, os municípios só podem plantar árvores em áreas de propriedade pública, o que pode ser limitante em escopo. Segundo, a falta de investimento na manutenção das árvores resulta em “desperdício verde” – mudas de árvores nem sempre sobrevivem aos primeiros 5 a 10 anos antes de amadurecerem o suficiente para fornecer copas efetivas. Nesses anos decisivos, o engajamento da comunidade é crucial para estabelecer sistemas de cuidado contínuo entre humanos e a vida vegetal.

Este projeto aborda o florestamento urbano tanto como um projeto ambiental quanto socioeconômico, no qual a arquitetura pode apoiar uma cultura de cuidado recíproco entre árvores e pessoas. Ele adapta as estruturas botânicas de “casas de sombra” (shade houses), onipresentes nas áreas agrícolas e horticultoras do Sul da Flórida, para o contexto urbano. As intervenções equipam espaços públicos e residuais com a sombra temporária necessária para apoiar a manutenção das árvores e articular engajamentos comunitários. O objetivo é fornecer uma estratégia arquitetônica para programas administrados pelo governo, como a distribuição de mudas, compostagem e educação botânica, acessíveis ao público a um baixo custo.

Desenvolvimento do projeto: Brasil

O projeto propõe uma estratégia de infraestrutura verde e Soluções Baseadas na Natureza (SbN) para o Morro da Formiga, no Rio de Janeiro, território caracterizado por ocupação informal em encostas íngremes, insuficiência de infraestrutura e alta vulnerabilidade a deslizamentos. A proposta parte de uma leitura delicada do lugar e do reconhecimento dos saberes e práticas ambientais desenvolvidos pela própria comunidade, entendidos como tecnologias socioambientais capazes de promover resiliência mesmo à margem do planejamento formal. O objetivo é qualificar espaços públicos e residuais, integrando ações de mitigação de riscos, valorização ambiental e fortalecimento das dinâmicas socioculturais já presentes.

A área de intervenção corresponde a um recorte de 34 mil m² sob linhas de transmissão elétrica, que constitui um eixo de conexão entre o tecido urbano, o morro e a Floresta da Tijuca. O desenho organiza faixas contínuas de espaços livres ao longo das encostas, configurando amortecedores ecológicos e sociais. Entre as intervenções previstas estão a requalificação do Rio da Cascata, com alargamento do leito e implantação de jardins filtrantes; a ampliação do programa comunitário Hortas Cariocas, com viveiro de mudas e áreas de apoio; e a implementação de sistemas agroflorestais, compostagem e soluções de drenagem verde. Essas ações são articuladas para dialogar com iniciativas já existentes, incorporando o conhecimento acumulado pelos moradores na gestão ambiental e ampliando seu alcance.

O projeto é estruturado em três diretrizes centrais: articular, conectando espaços fragmentados e aproximando a ocupação urbana de áreas livres; potencializar, ampliando e fortalecendo projetos socioambientais; e preservar, protegendo a vegetação nativa, corpos hídricos e saberes culturais. A estratégia prevê também a replicação das tipologias em áreas de maior risco geotécnico, incluindo a implantação de bacias de evapotranspiração para tratamento descentralizado de esgoto e a recomposição de encostas com vegetação adaptada. Ao reforçar o papel do Rio da Cascata como elemento estruturante, cria-se um sistema que integra infraestrutura ecológica, espaços de convivência e equipamentos comunitários, estabelecendo uma transição gradual entre a floresta e o tecido urbano.

Além de um conjunto de intervenções físicas, a proposta constitui um processo colaborativo que reconhece a comunidade como protagonista na transformação do território. A incorporação dos saberes locais, somada a soluções ambientais de alto desempenho, permite construir uma paisagem multifuncional e adaptativa, capaz de responder aos extremos climáticos e às desigualdades históricas, promovendo segurança, pertencimento e qualidade de vida.

Sobre a autora:
Larissa Scheuer é arquiteta e urbanista formada pela FAU-UFRJ e atua como arquiteta paisagista no escritório Embyá – Paisagismo Ecossistêmico. Com experiência nas áreas de arquitetura da paisagem e urbanismo, teve sua produção reconhecida em diferentes premiações nacionais, incluindo o Prêmio Arquitetas e Arquitetos do Amanhã, o 3º lugar no Grandjean de Montigny e a seleção como finalista do Prêmio Tomie Ohtake AkzoNobel.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A cidade de Foz do Iguaçu, emancipada em 1914, registra em seu tecido urbano cicatrizes da história do Brasil. A construção da usina de Itaipu marca o território, sendo sua ocupação em área, maior que a atual mancha urbana da cidade. O terreno a ser ocupado pelo Ecoparque faz parte deste processo de ocupação e ressignificação urbana. Processo contínuo, tortuoso, mas que se revela com uma visão de futuro extremamente necessária frente ao colapso ambiental que já enfrentamos como sociedade.

A construção da usina se inicia em 1974, em meio à ditadura militar. Como modo de minimizar o impacto ambiental, foram reservadas áreas na cidade com funções diversas. O atual terreno foi um antigo espaço de viveiros de mudas para reflorestamento ao redor da represa. Ainda que parece especulação, caso esta área não tivesse sido reservada para tal fim, provavelmente teia sido engolida pela dispersão da cidade, pois hoje, o perímetro do local já se encontra adensado. Aqui é revelado um tortuoso processo de reciclagem da história: sem Itaipu não haveria alagamento para a represa, sem represa não haveria a necessidade de viveiros de novas mudas, sem a necessidade de reflorestamento não haveria esta reserva vegetada urbana, que resulta agora em um novo parque para a cidade. Como afirmado por Eduardo Galeano a mais de 50 anos, “na história dos homens cada ato de destruição encontra sua resposta, cedo ou tarde, num ato de criação” (Galeano, 1978: p. 396).

André Prevedello é arquiteto e pesquisador. Diretor AP Arquitetos em 2010 (www.aparquitetos.com.br) com projetos e prêmios no Brasil, América do Sul e Europa. Graduado e Mestre pela Universidade Federal do Paraná, pós-graduado em artes híbridas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Desenvolve pesquisa de doutorado com bolsa de estudos pela Universidade Lusófona de Lisboa. É pesquisador SOS Climate Waterfront H2020-MSCA-RISE-2018, programa Horizon da União europeia 2022 com pesquisas desenvolvidas em Portugal, Grécia e Suécia. Professor de Teoria e História. Possui os prêmios IAB-PR 2021 e IAB-SC 2021, BUILD – Sustainable Building Awards England, Best Spatial Architecture Design Studio e Prêmio IAB MS 2023. Ainda o 1º lugar Eco Parque Itaipu, 1º lugar Requalificação Salão Nobre e Teatro UFCSPA, 1º lugar Câmara Municipal de Pelotas, 1° lugar Colinas Cooperativa Cascavel, 1° lugar Concurso Seminário Internacional de Projeto Salvador, 1° lugar Caixa Econômica – Soluções para habitações de baixo custo, entre outros. Trabalha constantemente em palestras, conferências, críticas e exposições.

Tais Mendes é geóloga formada pela Universidade Federal do Paraná. Gerente de projetos no escritório AP Arquitetos. Com experiência no gerenciamento de projetos de grande complexidade tendo atuado em projetos de hidrelétricas no Brasil, Perú e Guiana. Na AP Arquitetos foi responsável pela gestão de diversos projetos pelo Brasil como a Unidade Sesc Mogi das Cruzes, a nova sede do Batalhão da Polícia Militar de São Paulo, a unidade Balneário Sesc Mato Grosso do Sul, o Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFCSPA), a nova Câmara Municipal de Pelotas, entre outros.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil, México

Cidades Invisíveis, Pessoas Incríveis (cipesin.com) é um projeto de mídia participativa que utiliza recursos audiovisuais para dar voz e visibilidade a líderes comunitários da América Latina. Nas periferias urbanas, a precariedade habitacional e a ausência de infraestrutura básica seguem como grandes desafios, enfrentados diariamente por moradores que, muitas vezes, encontram em seus próprios líderes locais as soluções para questões coletivas. Suas iniciativas, embora transformadoras, permanecem invisíveis para além de seus territórios. O projeto busca justamente romper esse silêncio, documentando e difundindo histórias de mobilização e solidariedade que revelam a potência das comunidades excluídas.

A iniciativa nasceu como projeto piloto no pós-doutorado da professora da Universidade Federal do Amapá Bianca Moro de Carvalho, realizado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, com bolsa CAPES e supervisão da professora Dra. Angélica Benatti Alvim. Desde o início, contou com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), da Mackenzie e da Universidad Autónoma de Ciudad Juárez (México), resultando em documentários que retratam a vida de moradores em diferentes contextos latino-americanos. Atualmente, integra o projeto de pesquisa de mesmo nome na UNIFAP e ganhou uma plataforma própria, cipesin.com, que abriga os filmes produzidos e novas narrativas.

Já foram registradas histórias em sete cidades: Macapá e Santana (Amapá), Paraisópolis (São Paulo), Goiânia (Goiás), São Félix do Coribe (Bahia), Cidade do México e Ciudad Juárez. A autoria e captação dos documentários é resultado de uma direção compartilhada entre a coordenação do projeto e a colaboração voluntária de profissionais: o fotógrafo Guy Veloso filmou no Sertão da Bahia; Mariana Contreras-Saldaña registrou Ciudad Juárez; Selenne Galeana Cruz atuou na Cidade do México; Willian Santiago em Paraisópolis e Filemon Tiago em Goiânia. Essa rede fortalece o alcance e amplia a diversidade de olhares. Em todas as cidades, as trajetórias revelam líderes que enfrentam desigualdades sociais, falta de acesso à moradia, educação, saúde e representatividade política. Apesar das adversidades, demonstram enorme capacidade de mobilização, articulando práticas que vão desde oficinas culturais e alimentação comunitária até a reivindicação de políticas públicas.

A metodologia utilizada é a da mídia participativa, introduzida na UNIFAP em 2017 pelo cineasta Peter Lucas, professor da New York University e The New School, e autor do livro Viva a Favela: direitos humanos e inclusão visual no Brasil, dez anos de fotojornalismo. Sua proposta se baseia na produção audiovisual em conjunto com os próprios moradores, permitindo que narrem a realidade a partir de sua perspectiva. Essa prática democratiza a comunicação, reforça o protagonismo comunitário e transforma os documentários em ferramentas de inclusão social, reflexão crítica e promoção dos direitos humanos.

Os resultados já demonstram impacto: fortalecimento de redes acadêmicas internacionais, criação de espaços de debate sobre o direito à cidade e incentivo para que comunidades produzam seus próprios registros audiovisuais.

Cidades Invisíveis, Pessoas Incríveis é, portanto, mais que um projeto de pesquisa: é um movimento de escuta e reconhecimento das vozes silenciadas. Ao unir ensino, pesquisa e extensão, promove intercâmbios transnacionais e aproxima mundos distantes, contribuindo para a construção de sociedades mais justas, solidárias e resilientes.

Implantação do projeto: India
Desenvolvimento do projeto: India

Este projeto é uma intervenção num ecossistema urbano único — uma rede de tanques de pesca, criada e gerida por membros da comunidade de pescadores Koli, numa floresta de mangue do Rio Mithi, contra todas as adversidades.

Dharavi Koliwada, uma vila piscatória urbana dos Kolis, foi outrora um bairro vibrante e movimentado, rodeado pelo Estuário do Rio Mithi. Hoje, está totalmente envolto pela grande cidade. No entanto, o ecossistema estuarino continua a sobreviver num contexto urbano denso e cementificado, com vastas quantidades de poluição e resíduos a asfixiar o rio.

Os tanques representam uma iniciativa indígena de subsistência baseada na natureza, levada a cabo pela comunidade Koli.
Os seus esforços ilustram como as relações de interdependência entre o ser humano e a natureza são a chave para os esforços de conservação. O projeto participativo de base ação espera potenciar o conhecimento indígena da comunidade e restaurar uma ligação cada vez mais ténue com o seu ambiente aquático. O primeiro passo concreto do projeto é uma intervenção paisagística participativa no último espaço comum remanescente dentro do habitat que pretendem restaurar.

A comunidade contactou a urbz para ajudar a construir um programa e uma visão partilhados, de modo a orientar as ações coletivas necessárias para alcançar os seus objetivos de restauro. Juntos, delinearam uma visão e uma estratégia para facilitar o trabalho da comunidade, que já começou a reviver os tanques de aquicultura ancestrais. Após vários workshops, exposições e discussões de grupo focadas para envolver diversas partes interessadas da comunidade local, foi identificada uma lista de desafios.

O desafio premente é o acesso a estas paisagens. As famílias de pescadores precisam de acesso sem obstáculos para cuidar do seu habitat. Uma pequena faixa de terrenos comuns ao longo do rio, outrora utilizada para aceder aos tanques de pesca, sofreu de negligência administrativa, resultando em despejo ilegal e condições inseguras. Mulheres, idosos e crianças não podem visitar em segurança a margem do rio, onde outrora realizavam atividades de subsistência, culturais e recreativas. Até os pescadores arriscam ferimentos devido ao acúmulo de lodo e resíduos perigosos.

Uma vez garantido o acesso seguro, a comunidade pretende sensibilizar para a crescente poluição do Rio Mithi e a deterioração induzida pela urbanização. Propõem fazê-lo organizando passeios de barco para cidadãos preocupados, para destacar a biodiversidade urbana e motivá-los a agir para conservar a paisagem.

O projeto reconhece que os Kolis não só retiram o seu sustento destas águas, como também mantêm uma profunda relação espiritual com esta paisagem marinha anfíbia. Apoiando as suas práticas tradicionais e introduzindo inovações sustentáveis, o projeto visa criar um modelo de restauro ecológico urbano liderado por indígenas, que aborde tanto a degradação ambiental como o bem-estar da comunidade.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Em um planeta que confronta os seus limites perante eventos climáticos extremos, a arquitetura e o urbanismo são chamados a uma revisão profunda do seu papel. Mais do que refletir, é necessário elaborar propostas radicais e soluções concretas. É nesta fronteira que a cidade do Rio de Janeiro se inscreve como um laboratório vivo que forja os alicerces de um novo pacto entre urbano e natural — onde a cidadania se entrelaça com a preservação e a integração da natureza no tecido urbano.

A participação da cidade do Rio de Janeiro na 14ª Bienal é a celebração do diálogo entre o urbano e o natural, que resulta em soluções urbanas únicas e inclusivas, pavimentando o caminho para uma tradição urbana carioca contemporânea. A cidade apresenta um portfólio de intervenções que traduzem em realidade os eixos curatoriais da Bienal, demonstrando que é possível conciliar resiliência climática com justiça social. Em uma estratégia multifacetada, o Rio segue na missão de se reinstituir como cidade-floresta a partir de um reflorestamento urbano manifesto em diversas as escalas, da vitalidade das hortas comunitárias e quintais produtivos à grandiosidade dos parques urbanos e à reconexão com suas florestas.

Extensa, topograficamente dramática e socialmente plural, o Rio de Janeiro — uma cidade-mundo — encarna o dilema central do nosso século: orquestrar uma transição socioecológica justa em meio a complexidades incontornáveis. Sua complexidade, inerente a um centro urbano de relevância mundial, amplifica tensões e potencialidades, exigindo operações em múltiplas escalas — do macro ao micro — sob o imperativo de integrar justiça social, planejamento urbano e ação climática.

O Rio de Janeiro, portanto, não vem à Bienal apenas para exibir projetos, mas para compartilhar um modelo de gestão urbana que entende a cidade como um ecossistema integrado. Apresentamos um conjunto de respostas que nascem do chão urbano da cidade e também da terra úmida da floresta, na firme convicção de que a arquitetura que precisamos para o futuro já está sendo construída, hoje, nas encostas, nas várzeas e no asfalto da capital fluminense.

Implantação do projeto: China
Desenvolvimento do projeto: China

Construindo na Natureza
Escondido sob uma duna na Baía de Bohai, o Museu de Arte da Duna, projetado pela OPEN Architecture, retorna às formas primais e atemporais do espaço e responde diretamente ao seu local à beira-mar, dotado de um ecossistema delicado.

Quando foram convidados a projetar um edifício à beira-mar, os arquitetos da OPEN souberam imediatamente que esta era uma oportunidade rara. Eles estavam profundamente preocupados com os atos negligentes de destruição de dunas para empreendimentos imobiliários com vista para o mar, que frequentemente aconteciam na China naquela época, cientes de como as dunas são críticas para o meio ambiente.

A decisão de construir o museu dentro da duna foi, portanto, intencional. Graças à existência do museu, esta extensão de duna foi finalmente preservada, em vez de destruída para a especulação imobiliária. Após a conclusão da estrutura, a areia foi restaurada sobre a envoltória do edifício, e arbustos e árvores locais foram replantados. O museu foi inaugurado em outubro, e até o junho seguinte — apenas um inverno e uma primavera depois — a vegetação havia crescido completamente. Desde então, o museu “desapareceu” efetivamente em uma coexistência harmoniosa com a natureza.

Aqui, o ato consciente de construir torna-se proteção em vez de destruição, indicando uma mentalidade diferente nas práticas climáticas e no engajamento arquitetônico com a natureza.

Envolvidas pela areia, as galerias interconectadas e de formas orgânicas do museu inspiram-se em cavernas naturais. Uma série de espaços contíguos, semelhantes a células, abrigam galerias de diferentes tamanhos, um café e alguns espaços auxiliares. Aberturas enquadram a vista do céu e do mar em constante mudança, permitindo que os visitantes vivenciem a paisagem como parte da arquitetura.

As muitas claraboias do edifício, cada uma com orientação e tamanho diferentes, fornecem luz natural cuidadosamente calibrada ao longo do ano. Seu telhado coberto de areia reduz significativamente a carga térmica, enquanto um sistema de bomba de calor geotérmica de baixa energia e zero emissão substitui o ar-condicionado tradicional.
Sobre a OPEN:

A OPEN é um escritório de arquitetura que colabora entre diferentes disciplinas para praticar projetos arquitetônicos, urbanos, paisagísticos e de interiores. Também pesquisamos e desenvolvemos estratégias de design no contexto dos desafios sem precedentes que nossa geração e as futuras enfrentam.

A OPEN foi fundada por LI Hu e HUANG Wenjing na cidade de Nova York e estabeleceu seu escritório em Pequim em 2008. Alguns de seus principais projetos incluem: Sun Tower, Shanfeng Academy, Chapel of Sound, Shanghai Qingpu Pinghe International School, UCCA Dune Art Museum, Tank Shanghai, Pingshan Performing Arts Center, Tsinghua Ocean Center, Garden School/Beijing No.4 High School Fangshan Campus e Gehua Youth and Cultural Center.

Implantação do projeto: China
Desenvolvimento do projeto: China

A Natureza no Edifício
O Tank Shanghai Art Center está localizado às margens do Rio Huangpu, na área de West Bund, parte de um grande projeto de transformação da antiga zona industrial em uma vibrante comunidade à beira-rio.

O local específico do Tank Shanghai já foi parte de um aeroporto abandonado com tanques de combustível de aviação desativados, que passou por um longo e rigoroso processo de descontaminação antes da reurbanização.

Enquanto preservava cuidadosamente os tanques de óleo e os transformava em diferentes espaços artísticos, a OPEN “convidou” a natureza para transformar todo o local — outrora pavimentado em concreto e quase sem grama — em um parque urbano aberto a todos. O Centro de Artes está, então, perfeitamente integrado a essa floresta urbana e gramado recém-criados, sem revelar onde a arquitetura começa ou termina. É um centro de artes sem fronteiras — emblemático da visão desta instituição única para a arte contemporânea.
Central para o design é a fusão entre arquitetura e paisagem por meio de uma “Superfície-Z” em forma de Z — uma extensão paisagística de cinco hectares com árvores e gramíneas que conecta os cinco tanques e integra os diferentes elementos do local. A Superfície-Z traz benefícios estéticos e práticos para seu contexto à beira-rio, que desfruta de 115 metros de extensão de costa. A vegetação luxuriante cria uma área verde atraente e urgentemente necessária em uma cidade com apenas 17,56% de espaço verde, contribuindo para a restauração ecológica e o retorno da vida animal.

Ladeando o lado sul da praça, uma “Floresta Urbana” fornece sombra e vegetação tão desejadas pelos residentes urbanos. A leste, uma praça gramada oferece espaço aberto para lazer e eventos ao ar livre, funcionando também como área de apoio para grandes públicos durante festivais.

Programaticamente, as variadas configurações espaciais e o design flexível permitem que a instituição realize diversas exposições, performances e atividades comunitárias. Apesar dos desafios estruturais de adaptar os tanques, a renovação preserva muitas de suas características industriais originais, mantendo um diálogo entre o passado e o presente.
Em resumo, o Tank Shanghai transformou containers de combustível em containers de cultura e vida, conectando pessoas, arte e natureza. Ele se ergue como um equalizador social que atrai e generosamente acolhe pessoas de todos os caminhos da vida.

Sobre a OPEN:
A OPEN é um escritório de arquitetura que colabora entre diferentes disciplinas para praticar projetos arquitetônicos, urbanos, paisagísticos e de interiores. Também pesquisamos e desenvolvemos estratégias de design no contexto dos desafios sem precedentes que nossa geração e as futuras enfrentam.

A OPEN foi fundada por LI Hu e HUANG Wenjing na cidade de Nova York e estabeleceu seu escritório em Pequim em 2008. Alguns de seus principais projetos incluem: Sun Tower, Shanfeng Academy, Chapel of Sound, Shanghai Qingpu Pinghe International School, UCCA Dune Art Museum, Tank Shanghai, Pingshan Performing Arts Center, Tsinghua Ocean Center, Garden School/Beijing No.4 High School Fangshan Campus e Gehua Youth and Cultural Center.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Parque Orla Piratininga – POP representa um marco no urbanismo e na gestão ambiental no Brasil, configurando-se como um parque público urbano e, ao mesmo tempo, como um laboratório vivo de sustentabilidade. Sua concepção inovadora se fundamenta na adoção de Soluções baseadas na Natureza (SbN), estratégia que alia infraestrutura verde à restauração ecológica para auxiliar na recuperação da Lagoa de Piratininga.

Para isso, foram implantados três grandes sistemas de alagados construídos, capazes de filtrar naturalmente a água recebida das bacias urbanas do Rio Cafubá, do Rio Arrozal e do Rio Jacaré. Esses sistemas ocupam uma área de cerca de 35.000 m² distribuídos em dois quilômetros lineares ao longo da Lagoa, tratam as águas provenientes dos principais rios contribuintes, além do escoamento superficial e da drenagem dos bairros, reduzindo o aporte de sedimentos e poluentes no corpo hídrico e promovendo a recuperação gradual da qualidade ambiental da Lagoa.

Associada a essa solução, há ainda a recuperação de conectores de Mata Atlântica em áreas úmidas do entorno, que reforçam a conectividade ecológica, ampliam os habitats para a fauna local e fortalecem os serviços ecossistêmicos prestados à população.
Além da restauração ambiental, o parque também foi concebido como um espaço de integração social e cultural. O Centro Ecocultural, um equipamento voltado para a educação ambiental e atividades culturais, buscando sensibilizar a população para a importância da preservação.

O Parque inclui ainda ciclovias, píeres para pesca e contemplação, áreas de lazer e centros esportivos, constituindo uma infraestrutura multifuncional que promove saúde, mobilidade, turismo e qualidade de vida.

Com o objetivo de retratar o funcionamento dos sistemas de alagados construídos e os demais tipos de SbN aplicados no Parque Orla Piratininga Alfredo Sirkis, o espaço de exposição contará com: estação de audiovisual, onde serão apresentados os documentários e vídeos sobre Parque Orla Piratininga e Renaturalização da Bacia do Rio Jacaré; óculos de realidade virtual, propondo uma imersão no POP. Será, também, demonstrado como funcionam os alagados construídos através de uma maquete autoexplicativa.

Implantação do projeto: Gana
Desenvolvimento do projeto: Áustria, Gana

Ensaio de Retornos Verdes é uma instalação em vídeo de dois canais que reflete sobre a transformação do Antigo Aeroporto de Tamale, no norte de Gana — uma pista desativada construída na década de 1920 — em uma paisagem viva e um terreno urbano compartilhado. Outrora uma faixa selada de infraestrutura colonial, a pista de 1,4 quilômetro de comprimento e 40 metros de largura agora se encontra dentro do tecido urbano em rápida expansão de Tamale. Sua escala incomum e superfície asfáltica rígida a marcam como um local de potencial latente: um espaço aberto “diferente”, suspenso entre a memória, a infraestrutura e a imaginação do futuro.

Ensaio de Retornos Verdes captura a natureza aberta e processual do projeto, trabalhando com a incerteza e a fragilidade em vez de oferecer soluções fixas. O ato de “desselar” suavemente busca reverter os padrões de extração, enclausuramento e superaquecimento que definem tantos ambientes urbanos atuais.

A instalação se desdobra por meio de duas perspectivas. O primeiro vídeo apresenta a proposta de design especulativa do [A]FA, que envisiona a ativação gradual da pista e sua transformação em terreno vivo. Essa mudança imaginada transforma o asfalto inerte em uma paisagem dinâmica para a reunião e a coabitação multiespécie. O segundo documenta uma intervenção direta realizada em maio de 2025: o transplante de árvores maduras da Savana de uma floresta próxima para a superfície do aeródromo. Este gesto frágil e radical — mover a vida de um solo para outro — transforma a infraestrutura selada em espaço vivo, perturbando as fronteiras entre arquitetura, paisagem e ecologia.

O transplante foi realizado com expertise local e internacional em colaboração com a Comissão Florestal de Gana. As árvores foram preparadas durante a estação chuvosa, escavadas no final da estação seca e transportadas pela cidade apesar dos obstáculos logísticos. Uma vez replantadas, exigiram irrigação, cuidados e proteção contra tempestades. Sua sobrevivência — árvores de pé, vivas e adaptando-se — forma agora a espinha dorsal ecológica para a futura transformação do local.

Ao combinar visão e implementação, especulação e trabalho, Ensaio de Retornos Verdes se desdobra como um ensaio, e não uma declaração final. Ele encena um ato radical de aterramento e esverdeamento, apontando para uma resiliência enraizada não no controle, mas no cuidado, na imaginação e na prática coletiva. Situada dentro da urgência de repensar as superfícies seladas e superaquecidas que dominam as cidades em todo o mundo, a instalação é simultaneamente um documento e uma proposição: um convite para considerar como a arquitetura pode servir como um ensaio ecológico, devolvendo a vida ao solo urbano e reimaginando futuros compartilhados.

Implantação do projeto: México
Desenvolvimento do projeto: México

Este projeto é um lavadouro público projetado com o propósito de enfrentar a crise hídrica que a comunidade de La Huerta de San Agustín tem sofrido nos últimos anos. Buscou-se projetar um espaço digno, ampliando a área de trabalho atualmente disponível e respeitando a água proveniente de um manancial natural que corre nas proximidades.

Os alunos tiveram que elaborar um diagnóstico colaborativo no qual puderam compreender as necessidades e exigências da comunidade por meio de uma série de atividades interativas, que os levaram a um programa arquitetônico. Este programa inclui o próprio lavadouro com um parque infantil anexo, onde as crianças podem ficar sob o olhar atento de suas mães; junto a isso, há uma área para estender a roupa e uma área de descanso multiuso que oferece uma vista para a área de captação de água da chuva nas redondezas.

Após vários meses de trabalho, os alunos apresentaram seus projetos à comunidade, que votou em seu design preferido. O projeto vencedor teve como inspiração as vitórias-régias, biofiltros naturais, para a estrutura, dada a relação do projeto com a água e o ambiente natural ao redor. Cada espaço é desenvolvido sob sua própria estrutura individual de madeira, apoiada por uma coluna central onde o telhado age como um funil que recolhe a água e a leva para uma cisterna. Essa água é então usada pelas pessoas para lavar suas roupas e, em seguida, é direcionada para um biofiltro que a limpa, permitindo que seja reutilizada. Cada material foi escolhido levando em consideração a disponibilidade, a facilidade de construção, o impacto ambiental e o orçamento, que depende de doações feitas por pessoas que querem apoiar a causa. Este projeto em andamento representa os esforços de inúmeras pessoas, desde os professores, os alunos até a própria comunidade, mostrando como seus esforços combinados podem levar a algo que vai ainda mais longe do que eles mesmos.

Implantação do projeto: Alemanha
Desenvolvimento do projeto: Reino Unido

Em um cenário de crescentes desafios climáticos e desigualdades urbanas, a TreesAI surge como uma resposta inovadora, com o objetivo de revalorizar a natureza urbana não apenas como um componente estético, mas como uma infraestrutura crítica e investível para cidades mais resilientes e justas. Nossa ferramenta, o Location-Based Scoring (LBS), oferece uma abordagem prática e baseada em dados para enfrentar as complexidades do ambiente construído e as questões ambientais que impactam as cidades.

A TreesAI, nascida no contexto inovador da Dark Matter Labs, não é um software tradicional. Ela é um sistema dinâmico de ferramentas e métodos quanti e qualitativos, desenvolvido para atender às necessidades específicas de parceiros envolvidos na construção de cidades mais sustentáveis. A principal essência do sistema é a capacidade de integrar tecnologias inovadoras com dados relevantes, posicionando árvores e ecossistemas urbanos como ativos de infraestrutura nos quais se pode investir.

A proposta da TreesAI vai além da visão tradicional do investimento em natureza. Em vez de se restringir à compensação de carbono, a TreesAI foca nos inúmeros co-benefícios que a natureza oferece às cidades. Esses benefícios incluem regulação térmica, gestão de águas pluviais, melhoria da qualidade do ar, além de contribuir com a saúde pública e o bem-estar social. Ao focar nesses múltiplos valores, a TreesAI propõe repensar o valor da natureza no planejamento urbano, criando modelos de financiamento que reconheçam o impacto de longo prazo das soluções baseadas na natureza.

Essa abordagem transforma ativos naturais em investimentos tangíveis, gerando uma nova economia cívica que prioriza a saúde do planeta e de seus habitantes. Um exemplo prático dessa abordagem inovadora foi o projeto piloto do Location-Based Scoring (LBS), realizado em Stuttgart, na Alemanha, em 2023. Nesse projeto, desenvolvemos uma ferramenta para fornecer uma compreensão profunda e de alta resolução das áreas de risco climático georreferenciadas.

O LBS permite que usuários, desde planejadores urbanos a membros da comunidade, explorem o perfil de localização de suas cidades, identificando com precisão os riscos e as vulnerabilidades climáticas. A ferramenta se adapta às especificidades de cada território, oferecendo uma visão granular e acionável para os gestores urbanos e formuladores de políticas. Com capacidades de ajuste contextual, o LBS transforma dados complexos em mapas e pontuações intuitivas, facilitando a tomada de decisões informadas sobre onde e como implementar soluções baseadas na natureza, como o plantio de árvores e o gerenciamento de inundações urbanas.

A visualização dos dados do LBS ajuda a simplificar a análise de informações críticas. Essa visualização permite que planejadores urbanos vejam de forma clara onde os riscos climáticos são mais elevados e onde as soluções baseadas na natureza, como o plantio de árvores, podem ter o maior impacto. Ao utilizar dados em tempo real e permitir uma análise contextual, o LBS oferece uma abordagem prática para mitigar os riscos climáticos, criando uma infraestrutura verde mais eficiente e adaptável.

A integração do LBS com outros sistemas e métodos desenvolvidos pela Dark Matter Labs cria uma plataforma robusta para os parceiros da TreesAI, permitindo que eles monitorem, planejem e invistam na infraestrutura verde de maneira mais eficaz. A proposta da TreesAI vai além do simples uso de dados — ela propõe uma revolução na maneira como as cidades abordam o uso de recursos naturais, reconhecendo-os como ativos que podem gerar benefícios de longo prazo, tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente.

Esse é um convite para repensar o valor da natureza no planejamento urbano, especialmente para cidades como São Paulo, onde os desafios climáticos e as desigualdades urbanas são amplamente sentidos. Através de ferramentas como o LBS e o Resilience Compass, a TreesAI busca transformar a forma como os gestores urbanos pensam sobre a infraestrutura verde, oferecendo um modelo de financiamento mais justo e eficiente para o futuro sustentável das cidades.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A criação do novo campus do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no Ceará representa um marco na expansão da formação acadêmica militar de excelência no Brasil. Trata-se de um projeto estratégico da Força Aérea Brasileira, viabilizado pelo Acordo de Cooperação entre os ministérios da Defesa e da Educação. O campus será implantado na antiga Base Aérea de Fortaleza, local com valor histórico significativo, cuja origem remonta ao 6º Regimento de Aviação, de 1933, e ao projeto arquitetônico de Emilio Hinko, de 1941.

A proposta arquitetônica busca conciliar a preservação da memória com soluções contemporâneas. O plano diretor, elaborado pelo CEPE (Centro de Estudos e Projetos de Engenharia da Aeronáutica), prevê a requalificação do sítio histórico, aliando conservação patrimonial à inserção de novos volumes programáticos voltados ao ensino, à pesquisa e à vida acadêmica. O projeto promove a convivência entre o antigo e o novo, com uma setorização funcional pensada para eficiência, integração urbana e sustentabilidade.

A infraestrutura do campus contará com três prédios para cursos de engenharia, biblioteca, auditório, sede administrativa, cinco alojamentos estudantis, áreas de esporte e lazer, estacionamento, ciclovias, parque tecnológico e uma usina fotovoltaica, destacando o compromisso com a energia limpa. O sistema viário será reestruturado, com duplicação de vias e criação de novas ruas internas, promovendo fluidez e conexão com a malha urbana de Fortaleza.

A arquitetura adota princípios bioclimáticos, priorizando ventilação cruzada, iluminação natural, proteção solar e uso de materiais locais, como cobogós, favorecendo o conforto térmico e a identidade regional. Os edifícios incorporam práticas sustentáveis, reduzindo o consumo energético e aumentando a eficiência ambiental.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Implantado no campus Lagoa Seca da Unileão, em Juazeiro do Norte, o novo bloco multifuncional foi concebido como elemento estratégico para fortalecer a integração entre ensino, pesquisa, cultura e convivência. O edifício abriga a Biblioteca Central, um auditório com mil lugares, salas de aula, laboratórios da área da saúde e setores administrativos. Esses espaços são interligados por áreas livres e de estar que promovem o convívio e incentivam a permanência dos usuários.

A implantação valoriza o diálogo com o restante do campus e funciona também como passagem para o Hospital Veterinário. Um dos destaques do projeto é a grande arquibancada que conecta a praça de acesso ao foyer do auditório, tornando-se um espaço de encontro e contemplação, com vista privilegiada da Chapada do Araripe e aproveitamento da ventilação natural. Mais do que um elemento de transição topográfica, essa arquibancada tem função social e simbólica, consolidando-se como ponto de referência no campus.

A materialidade do edifício reforça sua conexão com o território. Sua estrutura em concreto armado garante robustez e racionalidade construtiva, enquanto as vedações em tijolo cerâmico maciço, produzido localmente, atuam tanto na climatização quanto na identidade do projeto. Nas fachadas leste e oeste, os tijolos vazados filtram a luz solar intensa, promovendo conforto térmico – fator essencial no clima semiárido da região.

O projeto incorpora jardins internos e externos com espécies nativas ou adaptadas, criando um microclima agradável por meio do resfriamento evaporativo. Esses jardins vão além do paisagismo, desempenhando papel funcional e ambiental, contribuindo para a sustentabilidade e o bem-estar dos usuários.

A organização espacial segue uma lógica racional. A modulação estrutural de 8 x 10 metros otimiza a execução, reduz custos e garante flexibilidade de uso ao longo do tempo, permitindo que o edifício se adapte a novas demandas e amplie sua vida útil. Entre os principais volumes, uma cobertura sombreada conecta os blocos e oferece um espaço protegido do sol, ampliando as áreas de convivência ao ar livre.

A volumetria do conjunto se destaca pelo contraste entre os blocos ortogonais e a forma elíptica do auditório. Essa escolha rompe a rigidez da composição e acrescenta dinamismo e identidade arquitetônica ao conjunto.

Mais do que um edifício acadêmico, o novo bloco multifuncional da Unileão é uma infraestrutura cultural, social e ambiental, profundamente enraizada no território e sensível às condições climáticas e culturais do local. Ao valorizar materiais regionais, integrar a paisagem e criar espaços de encontro, o projeto reflete a vocação do campus como espaço de conhecimento, pertencimento e bem-estar.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A ação Semear cinzas (2024), idealizada pela artista Ana Lúcia Canetti, contou com a participação da fotógrafa Mariana Alves e integrou o evento Coordenadas […], realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília. O evento, que ocorre há 10 anos sob coordenação da professora Karina Dias, busca interromper, mesmo que brevemente, as relações rotineiras com a paisagem, reinventando vinculações com o espaço urbano por meio de ações coletivas.

Ana Lúcia Canetti é artista visual, ceramista e doutoranda em Artes Visuais na UnB. É licenciada em Artes Visuais pela Faculdade de Artes do Paraná (2007), mestre em Psicologia pela UFSC (2010), na linha de pesquisa “Relações éticas, estéticas e processos de criação”, e psicóloga formada pela UFPR (2004).

Para o trabalho, foram produzidas pela artista vinte peças em cerâmica. Algumas foram queimadas em alta temperatura e receberam esmaltação com cinzas; outras foram queimadas em baixa temperatura, nas técnicas de raku e raku nu, em que a fuligem da queima vegetal se inscreve nas peças, criando pontos e linhas.

Cada participante escolhia uma dessas peças e caminhava por uma área de monocultura de pinus, em Brasília/DF, semeando cinzas vegetais colhidas em diferentes regiões do Cerrado. Alguns as sopravam, outros as espalhavam com os dedos ou as lançavam ao alto. Antes da caminhada, recebiam instruções com as seguintes consignas:

Escolha uma semente feita de barro e fogo
Tente ler os recados deixados pela queima
O que é escrito pela fuligem nas fraturas da terra?
O que as cores dos vidrados anunciam?

Caminhe em grupo e semeie cinzas
Tente ler o que se anuncia e cai no solo
O que esses pequenos nevoeiros de poeira nos contam?

Estar no mundo é jardinar outras espécies
E também ser objeto de suas semeaduras
O que estamos semeando? Como estamos sendo jardinados?

Convido a semearmos o brilho de um fogo extinto,
Redistribuindo sentidos de vida no breu das paisagens,
Contornando repetições,
Tocando solos inférteis,
Espalhando centelhas que ainda possam nos acender.

O trabalho foi inspirado no livro O Semeador – Da natureza contemporânea, de Emanuele Coccia (2022). Para o autor, semear é uma forma de iluminação: uma “distribuição de luz astral no espaço terrestre”, feita por fragmentos de matéria que captam a luz solar na “carne mineral e cinza da terra” (p. 30). Coccia propõe uma analogia entre o semeador e o pintor: ambos manipulam luz ao tentar redesenhar o mundo. A paisagem, nesse contexto, é menos uma figura geológica e mais uma economia de luz. Semear e pintar tornam-se, assim, uma política da luz — “um ato de pôr o sol e sua força astral em outros lugares do cosmos” (p. 45).

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Cobogó Alberobello é fruto da pesquisa contínua e independente de Raquel Finotti da Talpa design, que investiga o potencial do reaproveitamento de resíduos de diferentes origens. Neste projeto específico, o foco está nos resíduos da construção civil.

Cada módulo do projeto contém 62% de agregados reciclados, provenientes de materiais cuidadosamente separados, triturados e preparados para serem incorporados ao traço, transformando o que seria considerado rejeito em matéria-prima de valor. Essa dedicação garante que cada peça carregue não apenas uma função prática, mas também a narrativa de cuidado e atenção em cada etapa do processo.

A tonalidade naturalmente avermelhada do cobogó é resultado dos resíduos de telhas e tijolos, criando uma paleta orgânica que dispensa corantes artificiais e resgata a essência do barro. Ao incorporar esses fragmentos triturados ao traço, revela-se uma estética singular, que alia inovação, memória e sustentabilidade.

Além da estética, o Cobogó Alberobello desempenha funções arquitetônicas importantes: modula a entrada de luz, promove ventilação e adiciona textura aos espaços, proporcionando conforto e poesia visual. Sua geometria versátil permite múltiplas paginações, oferecendo liberdade compositiva e garantindo que cada montagem seja única, adaptando-se às necessidades e desejos de cada projeto.

O design do cobogó dialoga com a tradição brasileira, ao mesmo tempo em que evoca referências mediterrâneas, remetendo a cidades históricas e paisagens carregadas de memória. O resultado é uma peça que ultrapassa a função prática e transforma descarte urbano em poesia arquitetônica, reafirmando a capacidade de encontrar beleza, significado e sustentabilidade no que antes era apenas resíduo.

O Cobogó Alberobello sintetiza a busca por soluções arquitetônicas mais conscientes, mostrando que é possível unir criatividade, responsabilidade ambiental e sensibilidade estética em cada módulo produzido.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O interesse por novos materiais tem orientado a pesquisa e a prática do Estúdio RAIN, que desde 2019 se dedica à investigação da resina vegetal derivada do óleo de mamona.

Na fase inicial, o estúdio concentrou-se na experimentação do biomaterial, buscando expandir seu uso além da aplicação tradicional como verniz em camadas finas. O objetivo era possibilitar a moldagem de grandes volumes do material. Dessa etapa, resultaram filtros de luz em tom âmbar — a cor natural da resina. Posteriormente, a pureza do material foi desafiada pela introdução de ar durante o processo de catalisação do material. O aumento de bolhas conferiu à resina um aspecto esbranquiçado e translúcido, possibilitando o desenvolvimento de membranas espumadas de formas orgânicas, usadas como difusores de luz.

A série Rícino C apresenta um terceiro avanço nessa pesquisa. Nela, o polímero vegetal é combinado com agregados naturais para criar materiais compostos. Elementos orgânicos e minerais — como flores, frutas, raízes, algas, sementes e rochas — são incorporados à resina, resultando em superfícies com diferentes texturas, densidades e tonalidades, que podem ser aplicadas a distintas funções.

Em meio a essa pluralidade, a presença do grânulo é o fator unificador. Ele concentra a informação intrínseca do material, definindo suas características visuais e técnicas. O grânulo, porém, não existe de forma isolada: sua essência se manifesta no acúmulo — seja dispersando-se e colorindo a resina, seja sedimentando-se e conferindo dureza e opacidade.

Explorando as novas possibilidades, foi criada uma coleção de linhas ortogonais que evidenciam o caráter enigmático do material. Volumes robustos e silenciosos, quase monolíticos, se articulam entre si por meio de encaixes visíveis, revelando conexões. A série Rícino C expressa a natureza orgânica do polímero vegetal e sua capacidade de transformação, destacando a versatilidade e a beleza do material.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Toda cidade de se transforma. Na escala da casa, os filhos se tornam mais velhos e se mudam, liberando quartos que se transformam em escritórios; os pais envelhecem, abandonando casas para voltar a morar na companhia de filhos ou cuidadores. Pequenas mudanças no plano diretor fazem com que casas percam seu valor de imóvel para serem vistas apenas como terrenos – grandes demolições abrem caminho para novos moradores ou para o mercado de investimentos. No setor comercial, lojas de shopping rotacionam em alta velocidade para acompanhar tendências, enquanto escritórios de empresas fecham e abrem com a fluidez imaterial da bolsa de valores. Por trás de um mundo contemporâneo dito digital, ao qual se associam palavras imateriais como nevoeiros e líquidos, persiste um universo material que, por conveniência, esquecemos.

A vertigem de, todos os dias, entrar em contato com o que a cidade desfaz é uma experiência comum a poucos arquitetos. Diariamente, uma equipe percorre edifícios a serem demolidos ou transformados radicalmente em busca de elementos reutilizáveis

A Arquivo atua como casa temporária para elementos de arquitetura a partir da cessão temporária de um espaço no bairro de Ondina, em Salvador. Check-in, estoque, triagem, catalogação, recuperação e revenda acontecem na sede. Edifícios construídos a partir do arquivo são frequentemente um amálgama de partes de cidade, mas o contrário também acontece: a dissolução de um prédio em dezenas de pequenas reformas.

O trabalho conta as três etapas do processo de desmontar e construir a partir do que já existe no mundo.

Implantação do projeto: Argentina e Alemanha
Desenvolvimento do projeto: Argentina e Alemanha

Todos os anos, mais de 10 milhões de toneladas de conchas marinhas—principalmente de ostras, mariscos, vieiras e mexilhões—são descartadas como lixo. Este projeto explora como recursos de origem marinha, frequentemente negligenciados como subprodutos, podem servir como base para a experimentação material na arquitetura, design, artesanato e ciência. Ele destaca práticas inovadoras com materiais que redefinem a relação entre o ambiente construído e os ecossistemas que o sustentam.

Abrangendo múltiplas escalas—de edifícios e elementos construtivos a cadeias de valor de materiais—o projeto examina como o design pode fomentar novas interdependências entre materiais, construção e sistemas ecológicos.
No centro desta exploração está a pesquisa colaborativa da arquiteta ambiental Angie Dub e da designer experimental Heidi Jalkh, que estão transformando conchas descartadas em um material sustentável para o ambiente construído. Ao combinar conchas trituradas com biopolímeros à base de algas, elas produzem uma biocerâmica que não requer calor, composta inteiramente de biomassa marinha. Esta pesquisa baseada na prática repensa as cadeias de valor bioregiomais, explorando o potencial dos resíduos de alimentos marinhos em territórios urbanos como Buenos Aires e Berlim, onde as designers estão baseadas.

Através de protótipos, matérias-primas, componentes moldados e amostras de teste desenvolvidos durante a fase de pesquisa, o projeto fornece uma exploração aprofundada da transformação do material, de concha para ladrilho.

A CONQ apresenta um sistema de construção modular emergente, ilustrando o potencial de aplicação desta biocerâmica à base de concha e apontando para futuras trajetórias de pesquisa. Além disso, as amostras de materiais mostram as diversas cores e acabamentos que surgem naturalmente de diferentes espécies de conchas, demonstrando a variabilidade inerente do material e o equilíbrio do design entre desempenho mecânico e versatilidade estética.

O projeto ressalta a urgência da transição de práticas extrativistas de materiais para economias regenerativas e circulares. Em vez de ver matérias-primas como recursos inertes e extraíveis, ele propõe uma abordagem sistêmica e dinâmica, uma que reconhece as profundas interconexões entre materiais, edifícios e os ecossistemas que os sustentam.

Desenvolvimento do projeto: Reino Unido

O Fórum Climático (Climate Forum) é uma plataforma de pesquisa, currículo e intercâmbio que traz o foco urgente da emergência climática e ecológica para o centro do programa de Práticas Espaciais da Central Saint Martins College of Art and Design, University of the Arts London. Liderado por Catalina Mejía Moreno, Professora Sênior de Estudos Climáticos, em colaboração com alunos e professores dos cursos de Práticas Espaciais. Nos últimos quatro anos, o Fórum Climático tem trabalhado na construção de uma plataforma colaborativa, onde iniciativas pedagógicas, práticas espaciais e projetos que envolvem justiça socioecológica, racial e ambiental são destacados e compartilhados entre alunos e professores. Ao mesmo tempo, o Fórum Climático tem trabalhado para consolidar modos de pensamento crítico que se concentram em práticas de reparação, reciprocidade, parentesco e não extrativistas, sejam elas materiais, espaciais ou outras, ao mesmo tempo em que articula métodos para compreender melhor as estruturas sociais nas quais todos nós operamos e os espaços de ação em que práticas equitativas e solidárias podem surgir.

CLIMATE WHEEL: CLIMATE WHEEL: Como profissionais da área espacial, temos o dever de nos afastar das praticas que degradam a Terra e a sociedade. Ao reconhecer as mudanças climáticas como um sintoma de um problema mais amplo, entendemos que abordar a crise climática de forma holística significa ir além das “soluções” logísticas e tecnocráticas, como apenas ferramentas de constru9ao sustentável. Esta ‘roda climática’ nasce do projeto – ‘O que é e o que pode ser’ – projeto busca compreender as inúmeras maneiras pelas quais os profissionais da arquitetura e das áreas espaciais podem, em vez disso, escolher práticas que optan por afirmação da vida. ‘O que é e o que pode ser’ e um projeto em andamento no programa Praticas Espaciais (Central Saint Martins, UAL) que busca compreender como ‘o clima’ ou ‘questões climáticas’ estão sendo abordados nas aulas: através do conteúdo ministrado, do trabalho dos alunos e das práticas de ensino dos professores. A ‘roda climática’ baseia- se numa base de quadros de ação climática existentes que moldam os cursos, a profissão e o discurso mais amplos. Analisamos 11 estruturas que abrangem princípios institucionais, orientações do Royal Institute of British Architects (RIBA), grupos de ação da indústria, certificação empresarial e movimentos de justiça climática. As palavras usadas na roda emergem de suas terminologias.

Este projeto foi concebido e produzido em colaboração entro o Fórum Climático da Spatial Practices e o MA Architecture (CSM), e apoiado pelo Gerente de Ação Climática da UAL, e os cursos BA Arquitetura e MA Cidades do CSM.
‘O que é e o que pode ser’ – visite aqui: https://climate-forum.com/climate-audit-from-what-is-to-what-might-be

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Bianca Cuvello, arquiteta e urbanista formada pela Universidade Federal do Amazonas, natural de Manaus, compreende que o desenvolvimento urbano da capital amazonense está intrinsecamente condicionado ao meio natural, em especial à extensa bacia hidrográfica que caracteriza a região. No entanto, a urbanização acelerada tem intensificado o fenômeno da periferização, gerando desafios complexos relacionados à inclusão social e ao acesso à moradia digna. A segregação espacial, nesse contexto, empurra populações de baixa renda para áreas onde a infraestrutura é precária e insuficiente.

Diante desse cenário, a proposta de habitações anfíbias surge como alternativa capaz de mitigar tais problemas, promovendo uma integração mais equilibrada entre os moradores e as áreas de várzea e alagadiças. A arquitetura anfíbia, concebida para se implantar sobre as águas, busca aliar sustentabilidade e inovação tecnológica a soluções construtivas adaptadas ao entorno, combinando duas tipologias estruturais fundamentais: a palafítica e a flutuante.

Essa estratégia reafirma os limites e potencialidades impostos pelos condicionantes naturais da Amazônia, ao mesmo tempo em que possibilita a ocupação de espaços urbanos historicamente negligenciados e pouco adensados. Além disso, a proposta dialoga com as questões sociais e habitacionais da cidade a partir de diretrizes projetuais alinhadas aos 5 pontos para uma arquitetura na Amazônia (Cereto, 2024). Trata-se, portanto, do objetivo de refletir sobre soluções habitacionais que não apenas respondam às especificidades ambientais de Manaus, mas que também promovam a integração social das populações marginalizadas ao tecido urbano consolidado.

Assim, a tipologia de habitações anfíbias pretende assegurar funcionalidade e eficiência, incorporando equipamentos adequados e sistemas construtivos coerentes com as restrições econômicas locais, especialmente em um contexto marcado pela escassez de recursos.

E se a vegetação proliferasse em nossas cidades, transformando-as em verdadeiras florestas ricas em flora? Quais seriam os ecossistemas urbanos resultantes? The Green Dip, um projeto de pesquisa em andamento conduzido por The Why Factory na Universidade de Tecnologia de Delft, é um manifesto visual que especula sobre soluções de esverdeamento para cidades e imagina estratégias arquitetônicas para incorporar vegetação em edifícios.

O Green Dip envisions uma floresta urbana mundial — de Pequim a Singapura, Dubai, Moscou, Kinshasa, Paris, Nova York ou São Paulo. Ele sugere um banco de dados de espécies de plantas para designers incorporarem facilmente em seus edifícios e sonha com um software para auxiliar nesse processo.

O Green Dip adota uma perspectiva global, entendendo que diferentes climas proporcionam ambientes específicos para espécies nativas prosperarem. Ele apresenta um método para calcular benefícios ambientais e estimar os impactos planetários do esverdeamento em nossas cidades.

Em meio à emergência climática, The Green Dip é um manifesto para reintroduzir a natureza em nossos lares e transformar nossa relação com o meio ambiente. Ele demonstra que a agricultura, a silvicultura e a produção orgânica podem catalisar abordagens alternativas à urbanização.

O Green Dip é a primeira parte de uma trilogia de publicações focada na integração da natureza e da cidade. Será sucedido por BiodiverCity, que examinará a integração da fauna no ambiente construído, e Biotopia, dedicado a projetar inteiramente com a natureza.

Assim como todas as outras publicações anteriores de The Why Factory, The Green Dip é feito de trabalho estudantil — não científico. Este livro é o resultado de especulação de design com fins educacionais.

Estamos ficando sem tempo. Independentemente das preposições que escolhermos, é hora de projetar com, para e como a natureza.

Sobre os autores

Winy Maas
Winy Maas é o Diretor de The Why Factory e Sócio Fundador e Arquiteto Principal da MVRDV. Ele recebeu aclamação internacional por sua ampla gama de projetos de planejamento urbano e construção, em todas as tipologias e escalas. Na The Why Factory da TU Delft,
Maas desafia os limites dos padrões estabelecidos para produzir soluções que reimaginam como vivemos, trabalhamos e nos divertimos. Além de seu dedicado papel de liderança na MVRDV e professorado na TU Delft e em outros lugares, Maas é amplamente publicado, está ativamente engajado no avanço da profissão de design e integra inúmeros conselhos e júris.

“Eu defendo cidades mais densas, mais verdes, mais atraentes e habitáveis, com uma abordagem de design que se concentra em ideias inovadoras e sustentáveis ​​definidas pelo usuário para o ambiente construído, independentemente da tipologia ou escala.” – Maas

Javier Arpa Fernández
Javier Arpa Fernández é professor, pesquisador, autor e curador de arquitetura e urbanismo. Tendo concluído um Mestrado em Ciências em Arquitetura na Universidade de Tecnologia de Delft, Javier é especializado na disseminação da prática de arquitetura e urbanismo. Javier foi o Coordenador de Pesquisa e Educação de The Why Factory e o Curador de Programas Públicos da Faculdade de Arquitetura da TU Delft. Javier dá palestras públicas e participa de colóquios em todo o mundo. Javier foi professor na University of Pennsylvania, Crítico de Design na Harvard GSD, Professor Adjunto na Columbia GSAPP, Professor Visitante na ENSA-Belleville e na ENSA-Versailles. Foi Editor Adjunto da Domus Magazine e Editor Sênior do grupo de pesquisa a+t. É coautor da série “Density”, “Hybrids”, “Civilities”, “In Common” e “Strategy” da a+t, e do volume “The Public Chance”.
Foi curador da exposição Paris Habitat, sobre um século de habitação social em Paris, realizada em 2015 no Pavillon de l’Arsenal em Paris, e autor da monografia “Paris Habitat: One Hundred Years of City, One Hundred Years of Life”.

Adrien Ravon
Adrien Ravon é arquiteto e acadêmico. Em setembro de 2011, ele se juntou à The Why Factory na Faculdade de Arquitetura e Ambiente Construído da TU Delft. Ele participou de projetos de pesquisa e educação, foi responsável pela produção de ferramentas de design digital e colaborou ativamente na disseminação pública de ideias sobre a cidade do futuro. Ele coescreveu as publicações da Future Cities Series de The Why Factory: Barba, Life in a Fully Adaptable Environment (2015), Copy Paste, the Badass Copy Guide (2017), PoroCity, Opening up Solidity (2018), Le Grand Puzzle, Manifesta 13 Marseille (2020), (w)Ego, Dream Homes in Density (2022).
Colaborou com inúmeras instituições internacionais, incluindo ETH (Zurique), KTH (Estocolmo), GSAPP (Nova York), IAAC (Barcelona), Centre Pompidou (Paris), Dutch Design Week (Eindhoven), Manifesta 13 (Marselha) e Mori Art Museum (Tóquio).
Adrien trabalhou como arquiteto e consultor para empresas na Argentina, França e Holanda.

Gratuito

Inscrições

As inscrições devem ser feitas aqui.

A seleção será feita por ordem de inscrição.

As inscrições estarão abertas até o inicio da atividade, no local, desde que haja vagas disponíveis.

Implantação do projeto: China
Desenvolvimento do projeto: China

A Exposição de Arquitetura da China na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, Compartilhar · Co-crescer · Comensalidade: Projetando para um Planeta Superaquecido, marca uma rara aparição coletiva de trinta renomados arquitetos chineses. Cada participante traz uma nova obra moldada pelos ventos do lugar, pela memória da terra e pelas urgências do clima. Estes projetos não são declarações de forma ou exibições de assinatura pessoal, mas sim conversas silenciosas e significativas com rios, com montanhas, com bairros e com pessoas. Em conjunto.

A equipe curatorial — o Curador-Chefe Li Cundong e a Curadora Executiva Xiao Wei — resistiu deliberadamente a impor um único estilo ou narrativa. Em vez disso, eles permitem que surja um coro de vozes, entrelaçando tradições, inovações e visões para o futuro. Sua abordagem destaca a arquitetura não apenas como produção técnica, mas também como empatia cultural e responsabilidade ecológica.

A exposição está estruturada em cinco eixos: Ressonância Vernacular, que reinterpreta tradições locais como pátios, estruturas de madeira ou padrões de aldeia como sementes para futuros enraizados; Inovação Verde, onde a sustentabilidade não é ornamento, mas origem, integrando energia renovável, biomateriais e práticas circulares; Resiliência para o Futuro, propondo infraestruturas adaptáveis e espaços públicos capazes de resistir a inundações, secas e extremos; O Valor das Margens, onde a inovação surge em periferias, assentamentos informais e fronteiras ecológicas; e De Volta ao Equilíbrio, uma perspetiva prospectiva rumo ao Congresso Mundial de Arquitetos da UIA 2029 em Pequim.

Complementando estes, há cinco perspectivas adicionais: Edifícios Verdes, promovendo o equilíbrio ecológico através de estratégias de ciclo de vida de baixo carbono; Regeneração Urbana, reativando áreas urbanas adormecidas através de intervenções específicas que respeitam a história enquanto atendem necessidades contemporâneas; Arquitetura Paisagística, retecendo ecossistemas fragmentados e aumentando a resiliência climática; Revitalização Rural, transformando criativamente assentamentos tradicionais em novos paradigmas de crescimento endógeno; e Práticas Inovadoras, que rompem fronteiras disciplinares e exploram novas possibilidades na interseção entre tecnologia digital, biomimética e experimentação social.

Como uma das exposições centrais desta Bienal, a Exposição de Arquitetura da China é menos uma exibição de “feitos” e mais uma prática de responsabilidade compartilhada. Ela demonstra como a arquitetura pode permanecer humilde, mas transformadora — ancorada no lugar, atenta às pessoas e orientada para um futuro planetário mais equilibrado e sustentável.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Platina 220, edifício de uso misto no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, e o mais alto da cidade — com 172 metros de altura e 50 andares —, faz parte do Eixo Platina, uma proposta de urbanização com a criação de uma nova centralidade, concebida pela Porte Engenharia em conjunto com a Königsberger Vannucchi.

Localizado em frente ao Shopping Tatuapé, o edifício combina diversos usos: lojas no térreo, hotel e unidades residenciais no terço inferior, conjuntos comerciais na parte intermediária e lajes corporativas na parte superior. Esta diversidade visa atrair empresas para a região e reduzir os deslocamentos dos moradores para outras áreas da capital.

O Platina apresenta volumetria marcante, com elementos de fachada ventilada em porcelanato de tonalidade clara. O bloco prismático central, com terraços e janelas dispostas em posições variadas, cria um efeito de luz e sombra, configurando o edifício como um monolito esculpido na paisagem. Blocos laterais em tons mais escuros preservam a verticalidade e funcionam como contrafortes, destacando a percepção de sustentação do edifício.

A entrada principal é pela Rua Bom Sucesso, onde o prisma principal “pisa” no térreo. Na área envoltória da quadra, espaços para lojas criam duas áreas externas: calçadas perimetrais arborizadas no espaço público e áreas de lazer privativas acima das lojas para os usuários do edifício.

Para atingir o potencial construtivo e benefícios urbanos, foram utilizados todos os instrumentos do Novo Plano Diretor de São Paulo de 2014. O resultado é um edifício que busca requalificar a região, com uso misto, fachadas ativas e interação com a rua.

Implantação do projeto: Panamá
Desenvolvimento do projeto: Panamá

As cidades latino-americanas continuam a crescer em população e infraestrutura, tornando urgente o planejamento urbano sustentável. Compreender os efeitos das ilhas de calor e do microclima urbano é fundamental para formular políticas que promovam o uso eficiente de energia. No Panamá, o transporte é o maior consumidor de energia, e os edifícios também apresentam alto consumo devido ao uso intenso de ar-condicionado. A mitigação das ilhas de calor por meio do planejamento urbano reduz essa demanda, melhora a saúde pública e estimula a economia. Além disso, a criação de conforto térmico e ambiental favorece o tráfego de pedestres, incentiva o uso de transporte alternativo e público e diminui a dependência do automóvel, reduzindo as emissões de CO₂.

The Green Path Panamá é uma proposta urbana baseada em evidências científicas que busca transformar a mobilidade e adaptar o ambiente físico para promover deslocamentos a pé. O projeto conecta cinco bairros da Cidade do Panamá por meio de corredores verdes, restauração de rios e incentivo à mobilidade ativa. A avaliação urbana identificou problemas como grandes quarteirões e poucos cruzamentos conectados. A proposta visa restaurar essas áreas com espaços públicos integrados a um sistema de transporte multimodal, construindo uma cidade mais conectada, saudável e verde.

A iniciativa evita cerca de 564 tCO₂/ano com o plantio de 5.000 árvores, engaja 500 moradores na mobilidade ativa, gera 65.000 horas adicionais de atividade física por ano e retira aproximadamente 150 carros das ruas, promovendo uma cidade mais sustentável, inclusiva e resiliente.

Implantação do projeto: Angola
Desenvolvimento do projeto: Angola

Introdução

A cidade de Luanda, capital de Angola, carrega em si uma herança cultural e histórica que a posiciona como uma das principais referências urbanas do continente africano. Contudo, como em muitas outras cidades latino-americanas e africanas, o processo de expansão urbana e descentralização levou ao abandono progressivo do seu núcleo histórico. A Rua Rainha Ginga, outrora conhecida como Rua Salvador Correia e Avenida dos Restauradores, é um desses espaços que representam tanto a riqueza cultural de Luanda como os desafios da sua gestão contemporânea.

A Doladob, atelier de arquitetura, urbanismo e gestão de projetos, tem assumido um papel ativo no desenvolvimento e implementação de projetos de ativação e inovação socio-cultural. Com produções reconhecidas como Axi Luanda e Naxixi Street, a empresa consolidou-se como uma plataforma criativa e transformadora. A partir dessa experiência, surge a proposta de reabilitação e reativação da Rua Rainha Ginga, com especial foco na Praça da Samakaka, considerada o troço modelo da intervenção.

O objetivo central é transformar este eixo vital de Luanda num espaço que una identidade, inovação, sustentabilidade e inclusão. Pretende-se reverter a degradação urbana por meio de soluções arquitetônicas e urbanísticas que empoderem a comunidade local, melhorem a qualidade de vida dos residentes, trabalhadores e visitantes, e criem novas oportunidades econômicas, sociais e culturais.

Contexto histórico e social

A Rua Rainha Ginga é mais do que uma via de circulação. Ela é a artéria principal que, historicamente, conectou o centro administrativo da cidade à zona baixa comercial. Hoje, mesmo em estado de degradação, continua sendo um espaço de grande importância social, econômica e cultural.

No cotidiano, a rua acolhe kitandeiras, jornaleiros, engraxadores, comerciantes formais e informais, estudantes, empresários, funcionários públicos e moradores. É, portanto, um espaço plural, onde diferentes grupos sociais coexistem. Apesar dessa diversidade, a relação predominante entre eles tem sido apenas de caráter financeiro, o que limita a criação de uma identidade comum e a troca de conhecimento e experiências.

A degradação das infraestruturas, a fraca arborização e iluminação, a concentração de resíduos e o desordenamento rodoviário têm contribuído para a exclusão social e para a perda de vitalidade do espaço. Ainda assim, a segurança relativamente estável, a história rica, as praças públicas e a forte presença de jovens constituem fatores positivos que abrem margem para intervenções inovadoras.

Primeiros pilotos e testes

Antes de avançar para a grande escala, a Doladob implementou um subprojeto piloto na Rua Rainha Ginga. Essa primeira experiência consistiu na instalação de novas bancadas estilizadas para a venda de produtos locais e na reorganização de vendedores ambulantes.

Proposta de intervenção

Mobilidade e sustentabilidade

A intervenção pretende transformar a Rua Rainha Ginga num exemplo de mobilidade sustentável. A cidade precisa de mais movimento pedonal para estimular o comércio local, aumentar o convívio social e reduzir os impactos negativos do transporte rodoviário. O encerramento de determinadas ruas para pedonização é um passo fundamental nesse processo.

Conclusão

A reabilitação da Rua Rainha Ginga, com foco inicial na Praça da Samakaka, é mais do que um projeto arquitetônico ou urbanístico. Trata-se de um movimento de transformação social, cultural e econômica para Luanda.

Ao unir identidade histórica, inovação urbanística e sustentabilidade, o projeto pretende não apenas revitalizar o espaço físico, mas também gerar novas formas de interação social, inclusão econômica e valorização cultural.

É uma proposta que equilibra riscos e oportunidades, consciente da complexidade do território, mas firme na convicção de que cidades só podem prosperar quando seus espaços públicos são pensados para as pessoas e pela comunidade.

Investir na Rua Rainha Ginga é investir no futuro de Luanda: um futuro de mobilidade sustentável, integração social, criatividade cultural e desenvolvimento econômico.

Implantação do projeto: Itália
Desenvolvimento do projeto: Itália

Este trabalho examina a interseção entre design, regulamentação e carbono incorporado na reutilização adaptativa de edifícios modernistas em altura em Manhattan, com foco no recente aumento de conversões de escritórios para residências em meio ao crescimento das taxas de vacância e imperativos climáticos.

Em 2025, a taxa global de vacância de escritórios atingiu em média 16,8%, subindo na Europa e na América do Norte, mas diminuindo levemente na Ásia-Pacífico e na América do Sul. Nos EUA, prevê-se que quase 30 milhões de m² de espaço de escritórios se tornem obsoletos até 2030. Manhattan — que abriga mais de 42 milhões de m² de estoque de escritórios — registrou aumento na vacância de 8% para 12% desde a pandemia de COVID-19. Quase 70% de seus edifícios são anteriores a 1980 e enfrentam obsolescência funcional e de mercado, enquanto a cidade continua a sofrer com uma crônica escassez de habitação.

Desde a pandemia, as conversões de escritórios para residências se aceleraram globalmente. Nos EUA, em maio de 2025, o pipeline de conversões totaliza 7,5 milhões de m² de projetos planejados e em andamento em 44 grandes mercados metropolitanos — cerca de 1,9% do inventário nacional de escritórios. A remoção de estoque obsoleto por meio de conversões e demolições está superando novas conclusões, gradualmente reduzindo a vacância e avançando em direção a metas de sustentabilidade. Em Manhattan, 26 torres modernistas foram convertidas na última década, com mais 18 em andamento ou planejadas; até 2024, 1,2 milhão de m² de edifícios em altura construídos entre 1960 e 1990 — mais de 10% desse estoque — haviam sido transformados. Muitas torres do pós-guerra apresentam desafios recorrentes — plantas baixas profundas, janelas não operáveis, fachadas ineficientes — tornando a adaptação custosa e complexa, além de ser ainda mais limitada pela regulamentação local.

Desde 2020, a cidade de Nova York introduziu medidas para reduzir barreiras e incentivar conversões. Após as recomendações da Força-Tarefa de Reutilização Adaptativa de Escritórios (2023), o Departamento de Planejamento Urbano prepara reformas zoneamento como parte da iniciativa City of Yes for Housing Opportunity, combinadas com incentivos fiscais para unidades acessíveis, visando 82 mil novas moradias em 15 anos.

O caso de 180 Water Street — originalmente construído em 1971 e convertido em 2017 — oferece um exemplo marcante de quanto carbono pode ser poupado por meio da reutilização adaptativa. A estrutura original do edifício, considerando seus materiais e energia de construção, incorporava aproximadamente 59 Mt CO₂-eq, um total surpreendente, cerca de três vezes as emissões de uso de energia do Brasil em 2020. Em contraste, reutilizar essa estrutura demandou apenas 10% do carbono incorporado, proporcionando reduções significativas mesmo antes de considerar os benefícios ambientais de evitar demolições ou melhorar a eficiência operacional.

Essa economia de carbono não é exclusiva de um único edifício. Em todo o estoque modernista de escritórios em altura de Manhattan (construído entre 1960 e 1990), o carbono incorporado totaliza cerca de 14,8 Mt CO₂-eq — valor equivalente às emissões anuais de quase 10 milhões de carros.
Ao combinar análise quantitativa em escala urbana com estudo arquitetônico, esta pesquisa enquadra as conversões tanto como uma estratégia climática quanto como uma ferramenta de revitalização urbana, capaz de preservar energia incorporada, reduzir emissões e diversificar as funções dos distritos monofuncionais históricos de Manhattan.

Este trabalho foi desenvolvido por uma equipe interdisciplinar liderada por Elena Guidetti e Caterina Barioglio, ambas arquitetas e professoras assistentes do Departamento de Arquitetura e Design (DAD) do Politecnico di Torino, Itália. O grupo inclui Ilaria Tonti, pesquisadora de pós-doutorado no mesmo departamento; Maria Ferrara, professora assistente e pesquisadora do Departamento de Energia do Politecnico di Torino; Francesca Contrada, professora associada de arquitetura na École Nationale Supérieure d’Architecture Paris-Val de Seine (ENSAPVS), Paris; e Elena Majorana, designer gráfica e fundadora da ZenzeroCreative, Lausanne, Suíça.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Em meio à caatinga, a Casa Catimbau propõe uma arquitetura fragmentada, organizada ao redor do fogo, em diálogo com o tempo da terra e o modo de viver da moradora. Construída com taipa de pilão e madeira reaproveitada, materializa um pensamento fronteiriço, onde arquitetura e paisagem são continuidade.

Contexto

Localizada no município de Buíque, interior de Pernambuco, a casa se insere no Parque Nacional do Catimbau — a segunda maior unidade de conservação arqueológica do Brasil, e uma das áreas mais representativas da caatinga. O terreno, de topografia plana e solo arenoso, integra uma paisagem aberta, de vegetação rasteira e horizontes largos, marcada por formações rochosas e clima semiárido, com chuvas escassas e intensas.

Projeto

O projeto parte desse contexto para propor uma arquitetura em diálogo direto com o território. Composta por quatro blocos autônomos organizados ao redor de um pátio, a casa propõe uma forma de habitar descentralizada, que valoriza o estar ao ar livre. A taipa de pilão, feita com a terra local, dá forma às paredes. A madeira, proveniente do reaproveitamento de um antigo galpão da região, estrutura coberturas leves e ventiladas.

A Casa Catimbau responde às condições do sertão com soluções construtivas simples, eficazes e integradas ao território. A arquitetura atua como mediadora entre clima, solo e modos de viver — não para domesticar a paisagem, mas para coexistir com ela.

Conforto térmico passivo

A taipa de pilão garante isolamento térmico eficiente. O arranjo fragmentado dos blocos permite ventilação cruzada, enquanto as coberturas ventiladas facilitam o escape do ar quente acumulado.

Eficiência hídrica e reaproveitamento

A casa opera fora de redes públicas. Todo o ciclo da água é tratado localmente: vala de infiltração para a pia da cozinha; bacia de evapotranspiração para as bacias sanitárias; ciclo de bananeiras para pias e ralos. Esses sistemas ecológicos promovem o uso consciente da água, reciclam nutrientes e evitam a contaminação do solo.

Construção de baixo impacto e capacitação local

Além de empregar materiais de baixo carbono, a obra também ativou saberes. A técnica da taipa de pilão era desconhecida na região, o que motivou a realização de uma capacitação prática, promovendo a autonomia da mão de obra e fortalecendo a cultura construtiva do território.

Mais do que uma casa eficiente, a Casa Pátio é também espaço de aprendizado. Uma arquitetura que se constrói junto com o lugar, climática por origem, e não por tendência.

AzulPitanga

O AzulPitanga, fundado em 2018, surgiu da associação dos arquitetos André Moraes e Carolina Mapurunga, formados pela FAU UFPE. Atuante na área de projetos de arquitetura nas mais variadas escalas. Reconhecido pela inventividade, pela experimentação com técnicas construtivas tradicionais e pela produção de projetos contemporâneos de natureza autóctone. Ganhadores dos prêmios IAB 2021, 2023 e 2024.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Da Seca à Vida – Um Retrato da Regeneração
Por: Alexandre Furcolin Paisagismo

Em um mundo onde as grandes soluções parecem distantes, a transformação pode nascer em escalas acessíveis e profundamente enraizadas no cotidiano. É nesse contexto que surge o Sítio de Alexandre Furcolin, um território experimental que, ao longo de quatro décadas, se consolidou como laboratório vivo de biodiversidade, cultura e reconexão. Localizado em Joaquim Egídio, antiga zona cafeeira do interior paulista, o Sítio foi adquirido em um momento em que a região enfrentava o declínio da monocultura. A terra, marcada pelo esgotamento ecológico, carregava cicatrizes de pastagens degradadas e extensos talhões de eucalipto, comprometendo o ciclo hídrico e a fertilidade do solo.

O ponto de partida foi o olhar atento para as potências ocultas do território. Ainda nos anos 1990, iniciou-se um processo gradual de restauração: reorganização do solo, retenção da água e introdução de espécies nativas e frutíferas, primeiro em pequenas áreas, depois no viveiro que se tornaria coração do projeto. Esse espaço, inicialmente modesto, evoluiu para uma coleção botânica viva, alimentada por pesquisa e experimentação contínua. Ali se consolidou um repertório que ampliou a prática do paisagismo, deslocando-o da função meramente estética para assumir o papel de organismo vivo, expressão concreta de cuidado e reconexão.

Na década seguinte, o Sítio recebeu a sede do escritório de paisagismo, construída com madeira de reflorestamento, ventilação cruzada e reaproveitamento de materiais. Mais que edificação, a obra materializou um gesto: integrar espaço de trabalho, campo experimental e território regenerado em um único organismo vivo. A presença constante da equipe intensificou o vínculo entre prática e lugar, fazendo com que cada projeto fosse atravessado pela experiência direta de habitar um ecossistema em transformação.

Hoje, o Sítio se apresenta como centro de referência em paisagismo ecológico, restaurando ciclos hídricos, fortalecendo a biodiversidade, captando carbono, criando infraestrutura verde e produzindo conhecimento técnico e sensível sobre a relação entre sociedade e natureza. Um território que abriga mais de mil espécies vegetais, uma fauna em expansão e práticas que unem agroecologia, contemplação e inovação tecnológica. O diálogo entre a enxada, a prancheta e o computador estrutura a filosofia do espaço: a tecnologia não substitui a natureza, mas ajuda a garantir sua permanência.

O vídeo apresentado na Bienal condensa essa trajetória em imagens de contraste: uma terra dividida que revela dois futuros possíveis. De um lado, o silêncio árido de um território degradado; de outro, a vitalidade regenerada por mais de 30 anos de trabalho de Alexandre Furcolin e sua equipe. O processo é revelado como planejamento e manejo: reorganização do solo, retenção da água, implantação de vegetação e desenvolvimento de um ecossistema capaz de sustentar diversidade e responder aos extremos climáticos. Mais do que registro, o filme propõe uma reflexão crítica: qual paisagem escolhemos cultivar e habitar?

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

NHANDEREKO
Em tradução simples, Nhandereko ou Nhanderekó significa “modo de vida do povo Guarani ‘nhande’ significa “nossa” e ‘reko’ significa “vida”, de forma que Nhandereko representa “nossa vida”. Nhandereko representa onde a vida está e o relacionamento da vida com tudo que existe: os corpos, o espaço e o ambiente. Nhandereko está interligado com todo o território, que para o povo Guarani representa a vida, contemplando todos os seres vivos, florestas, rios, plantas e animais.

Manual da Arquitetura Guarani M’bya
Em 2021 foi documentada a construção do novo centro cultural e, através da memória, fotografias antigas e também de maquetes, a retomada do que seria a casa tradicional do povo Guarani-Mbya na aldeia Tenondé-Porã, em Parelheiros, SP. Junto com o construtor Joaquim Guarani, a liderança Jera Poty e voluntários, foi coletado material para a elaboração do Manual da Arquitetura Guarani M’bya. A Casa Guarani-Mbya é uma estrutura pequena e econômica, e explicita o Nhandereko ,“modo de vida” Guarani, de maneira verdadeira ao se colocar como o “essencialmente necessário”. Construída dentro da floresta, é construída também pela floresta, com a coleta de madeira e palha disponível no local e rapidamente montada como abrigo que se mescla ao entorno, esfumaçando os contornos daquilo que é manufatura “humana” e “natural”.Construída com madeira roliça, troncos de madeira disponíveis na mata, ela é coberta pela palha Jussara disponível nos territórios ainda preservados da Mata Atlântica paulista. A adaptação dos materiais e técnicas construtivas das casas tradicionais, seja ela Guarani ou de algum outro povo, do Xingu ao Alto Rio Negro, está diretamente conectada às transformações da floresta, muitas delas resultantes de ações humanas predatórias, e a escassez das espécies tradicionalmente usadas. Assim como muitos outros conhecimentos e técnicas indígenas, o saber da construção está intimamente ligado à saúde da floresta, evidenciando a relação simbiótica entre “natural e humano” e a interdependência vital entre eles.

Manual da Arquitetura Kamayurá.
No âmbito das oficinas-viagem “Modos de Habitar”, promovidas pela Plataforma Habita-cidade e pelo curso de Pós-graduação Habitação e Cidade, da Escola da Cidade, um grupo de professores e alunos passou três semanas junto ao Povo Kamayura, no Alto Xingu, no mês de Julho deste ano de 2019,na Aldeia Ypawy. Em uma parceria entre os mestres Kamayurá e o grupo da Escola da Cidade, se empreendeu um recenseamento da forma de se construir naquela sofisticada etnia xinguana. A partir de uma iniciativa de lideranças Kamayurá e através da arquiteta Clara Morgenroth e da diretora teatral Cibele Forjaz, foram organizados um curso preparatório do manual e a Oficina-viagem com a antropóloga Luísa Valentini e os arquitetos Anna Julia Dietzsch e Luis Octavio de Faria e Silva (mediador da Plataforma habita-cidade). Nomeada no âmbito da Escola da Cidade de “Modos de Habitar:Arquiteturas Tradicionais”, a empreitada resultou na pesquisa e produção do “Manual da Arquitetura Kamayurá” e o seu anexo “A Construção da ‘Ok Eté pelo Povo Kamayura”.

Manual da Arquitetura Yudja
O Manual da Arquitetura Yudja foi criado a partir do processo de revitalização da Akatxi, casa tradicional do povo Yudja, construída de forma comunitária em 2024, com a orientação dos anciãos, envolvendo jovens, mulheres e crianças em todas as etapas do processo. O documento busca registrar não apenas as técnicas construtivas – seleção das madeiras, preparo das palhas e métodos de amarração – mas também o conhecimento ecológico, as histórias e concepções simbólicas, associadas aos modos de transmissão oral da casa tradicional do povo Yudja. Trata-se, portanto, de um instrumento de fortalecimento da memória, da autonomia e da continuidade das práticas arquitetônicas ancestrais, inserindo-se em uma rede mais ampla de iniciativas que unem povos indígenas, arquitetxs, artistas e pesquisadoras na preservação e manutenção de saberes e territórios tradicionais.
O Manual da Arquitetura Yudja é um registro coletivo produzido pelo povo Yudja da Aldeia Tuba-Tuba (T.I.X – MT), uma realização da Associação Yarikayu, em parceria com a Associação Casa Floresta, o Instituto Socioambiental, Projeto Xingu [UNIFESP], Fundo Casa Socioambiental, FUNAI e ATIX (Associação Terra Indígena do Xingu).

Acesse o manual: https://www.casafloresta.org/manual-da-arquitetura-yudja

Implantação do projeto: Alemanha, Espanha, França, Portugal, República Tcheca e Suécia
Desenvolvimento do projeto: Alemanha, Espanha, França, Portugal, República Tcheca e Suécia

O Prêmio EUmies, fundado em 1988 em Barcelona, é reconhecido como um dos mais importantes e prestigiados prêmios de arquitetura do mundo. Ele é promovido pelo programa Europa Criativa e organizado pela Fundació Mies van der Rohe, celebrando
a excelência em obras arquitetônicas em toda a Europa.

O prêmio destaca a contribuição da arquitetura de qualidade para o desenvolvimento sustentável e o bem-estar dos cidadãos.

EUmies 2024
“A sociedade frequentemente subestima o impacto que uma arquitetura bem concebida pode ter em diversos níveis. Assim, promover o modo como opera a arquitetura é uma parte essencial da comunicação arquitetônica, ou seja, explicar as múltiplas formas que ela pode assumir e de que maneira o pensamento arquitetônico pode contribuir para a resolução de muitos problemas complexos. Isto é o que esta seleção expressa.”

Essa foi uma das reflexões feita pelos membros do júri do EUmies Awards 2024 a respeito do papel da arquitetura contemporânea no nosso mundo atual e que se manifesta por meio da seleção de obras apresentadas nesta exposição.

Após uma intensa viagem pela Europa e muitas horas de discussão, Frédéric Druot, Martin Braathen, Sala Makumbundu, Adriana Krnáčová, Hrvoje Njiric, Tinatin Gurgenidze e Pippo Ciorra selecionaram o grupo de 40 obras, entre as quais se destacam os finalistas e vencedores apresentados na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.

Vencedor: Pavilhão de Estudos no campus da Universidade Técnica de Braunschweig
(Braunschweig, Alemanha)
Gustav Düsing e Max Hackee

Vencedor Emergente: Biblioteca Gabriel García Márquez
(Barcelona, Espanha – 2015/2019-2022)
SUMA Arquitectura

Finalista Emergente: Praça e Posto de Turismo
(Piódão, Portugal – 2018/2020-2022)
Branco del Rio

Finalistas de Arquitetura:
Renovação do Convento de São Francisco
(Sainte-Lucie-de-Tallano, França)
Amelia Tavella Architectes

Hage
(Lund, Suécia)
Brendeland & Kristoffersen Architects e Price & Myers (engenharia civil e estrutural)

Escola Reggio
(Madri, Espanha)
Andres Jaque/Escritório para Inovação Política

Galeria de Arte Contemporânea Plato
(Ostrava, República Tcheca)
KWK Promes

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

TEMPO é uma prática de arquitetura multidisciplinar que busca a constante materialização do intangível em realidade, sediada em São Paulo e dirigida pelos arquitetos Luiz Sakata (Bauru, 1995 – FAU-USP/FAUP-Porto) e Augusto Longarine (Jundiaí, 1995 – FAU-USP/Politecnico di Milano).

RIBASMARÇAL é uma prática de arquitetura e urbanismo sediada em São Paulo e Baixada Santista. Orientada pela síntese entre o “saber” e o “fazer”, busca a coordenar todas as etapa do processo arquitetônico. Sob a direção do arquiteto Marcelo Ribas Marçal (Santos, 1997 – Universidade Presbiteriana Mackenzie), o escritório atua em diferentes escalas e contextos.

O Refúgio Biológico Bela Vista, em Foz do Iguaçu, é reconhecido como um Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e integra o corredor de biodiversidade do Rio Paraná, interligando importantes áreas de preservação como os Parques Nacionais do Iguaçu e de Ilha Grande. Fundado em 1984, atua no abrigo dos animais silvestres resgatados nas áreas do reservatório, no reflorestamento das matas ciliares e no protocolo de criação de animais silvestres, especialmente de espécies chave ameaçadas de extinção. O Refúgio abre-se à visitação pública tendo como foco a demonstração de ações de conservação da biodiversidade, desenvolvimento sustentável e promoção do conhecimento científico, recebendo anualmente cerca de 30 mil visitantes. A proposta de requalificação do Refúgio é fruto de um Concurso Público Nacional promovido pela Itaipu Binacional e realizado pelo IAB-PR, cujo projeto vale-se de estratégias de intervenção mínima, ressignificação de espaços e singeleza formal para a reorganização dos fluxos turísticos e operacionais do complexo, permitindo a ampliação de seu potencial de visitação e do bem estar dos animais.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Entre 2021 e 2023, uma equipe multidisciplinar liderada por arquitetos paisagistas elaborou três projetos de parques para a Zona Norte carioca: Parque Inhaúma (47.000 m²), Parque Costa Barros (28.350 m²) e Parque Pavuna (14.434 m²), este último construído e inaugurado em 2024. Situados em bairros marcados por baixos índices de desenvolvimento social, os projetos compartilham programas, conceitos e desafios orçamentários similares, concebidos em diálogo com as demandas da gestão municipal e lideranças comunitárias para se tornarem equipamentos públicos verdes e abertos, ancorando áreas de convivência, lazer e aprendizado.

No Parque Carioca Pavuna, uma escultura de 22 metros de altura evoca as raízes do manguezal, de onde jorram jatos d’água durante o dia e feixes de luz à noite. Adjacentes à área molhada, superfícies de areia reinterpretam os usos da paisagem litorânea, já tão querida pelos cariocas. No Parque Inhaúma, às margens do Rio Timbó, extensos jardins drenantes auxiliam na detenção e infiltração das águas para mitigar alagamentos em eventos climáticos extremos. No Parque Costa Barros, o programa esportivo se expande para espaços residuais do entorno imediato, transformando em borda porosa uma fronteira que hoje é intransponível.

Através dos pilares contemporâneos da Arquitetura da Paisagem, o equilíbrio entre preexistências abióticas, atenção à camada vegetal e programa versátil conferem aos três parques projetados uma identidade única. O resultado se alinha aos princípios da justiça climática ao promover a ampliação da oferta de espaços livres de qualidade, atuando na regeneração ambiental e resiliência urbana de territórios cariocas historicamente negligenciados pelo poder público.

Desenvolvimento do projeto: Brasil

Este painel apresenta um recorte do projeto internacional TF/TK – Traduzindo Ferro / Transformando Conhecimentos em Arquitetura, Projeto e Trabalho, iniciativa Brasil–Reino Unido dedicada a criar e consolidar o campo dos Estudos de Produção. Inspirado pelo pensamento crítico do arquiteto Sérgio Ferro, o projeto investiga as relações entre concepção e execução na arquitetura, questionando a separação histórica entre projeto e canteiro de obras e valorizando o trabalho e os saberes construtivos.

A mostra reúne três eixos principais: a trajetória do TF/TK e sua contribuição para a difusão internacional das ideias de Ferro; uma breve introdução das duas primeiras casas experimentais realizadas por ele no início dos anos 1960, que exploraram novas soluções construtivas e formas de produção no canteiro; e o modelo reduzido da Casa Bernardo Issler, produzido em 2025 no IAU-USP como prática pedagógica ligada aos Estudos de Produção.

No caso do modelo, o aspecto pedagógico ganha destaque: não foi concebido como simples representação formal da casa, mas como um instrumento de investigação e aprendizado coletivo. Ao reconstruir em escala reduzida a lógica construtiva original da Casa Bernardo Issler, os participantes foram levados a discutir as questões políticas envolvidas, as escolhas técnicas e materiais. Cada gesto de montagem se converteu em reflexão sobre projeto e trabalho, reaproximando a prática do ensino ao canteiro de obras.

Mais do que uma síntese formal, o modelo reduzido aqui exposto se transforma em um artefato pedagógico: um dispositivo de aprendizagem e de crítica, que convida a repensar a formação do arquiteto a partir do processo de construção. Incorporado como instrumento de uma pedagogia da produção, materializa conceitos, articula saberes, estimula o diálogo e aponta para outras possibilidades de ensino — menos hierárquicas, mais cooperativas e mais próximas da realidade material do fazer arquitetônico.

Agradecemos imensamente Sérgio Ferro e família e, Bernardo Issler e família pelos acervos disponibilizados; aos participantes das oficinas e cursos de difusão; aos técnicos do IAU-USP; e às instituições de apoio às pesquisas.

Implantação do projeto: Brasil, Suíça
Desenvolvimento do projeto: Brasil, Suíça

A poucos quilômetros da confluência do Rio Negro e do Amazonas, Manaus foi fundada em 1669 e permaneceu por muito tempo uma pequena cidade no meio da floresta amazônica até que, no final do século XIX, recebeu um impulso extraordinário graças à hevea brasiliensis, ou seringueira. O papel indispensável que a borracha assumiu na Revolução Industrial, a ponto de ganhar o apelido de “ouro branco”, transformou subitamente este local remoto na próspera e populosa “Paris dos Trópicos”, uma das primeiras cidades brasileiras a receber eletricidade e sede do famoso teatro Amazonas, cuja construção condensou a melhor artesania e a excelência manufatureira do Velho Mundo. Hoje, tendo superado a febre da borracha, Manaus ainda é um importante centro financeiro e cultural do Brasil, com o maior porto fluvial do sistema hidrográfico amazônico e um ativo porto pesqueiro. Esta economia florescente, que também se beneficia de uma próspera indústria do turismo, tem sido ameaçada pela terrível seca que recentemente assolou a região amazônica, além dos duros fenômenos de desmatamento e incêndios.

A WISH partiu para investigar o delicado equilíbrio desta “ilha” urbana no meio da Amazônia e refletir – através do projeto de habitação coletiva – sobre as possibilidades de continuar a habitar este ecossistema extraordinário à luz de uma renovada sensibilidade ambiental. Graças à excepcional contribuição do Nama (Núcleo Arquitetura Moderna na Amazônia), que há anos se dedica a compreender como as exigências arquitetônicas contemporâneas podem ser inseridas no complexo e delicado equilíbrio amazônico, quinze locais de projeto foram identificados – um para cada aluno – ajudando-nos a compreender e tocar nos pontos temáticos de viver na floresta tropical: exploramos técnicas construtivas locais, compreendemos o papel da sombra e da conexão com o solo na realidade amazônica, refletimos sobre a continuidade entre interior e exterior em relação às condições climáticas específicas deste lugar, trabalhamos na necessária “dutilidade” dos objetos arquitetônicos que têm de lidar com uma excursão sazonal do nível de água do Rio Negro que pode chegar a catorze metros.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A busca por terrenos disponíveis no emaranhado das cidades só faz revelar uma dinâmica que parece estar chegando a seu limite, seja em termos urbanos, seja em termos sociais, seja em termos econômicos. Não é mais possível expandir vias para carros, não é mais viável estender a malha e a infraestrutura urbana para além do que já há, não é mais aceitável gastar horas do dia se locomovendo. A irracionalidade do traçado dos lotes e a ausência de uso em áreas tão densas parece um absurdo, mas pode também ser uma oportunidade.

Assim, os antigos estacionamentos, de construções muito precárias, quase provisórias, tornam-se espaços possíveis. Estariam os estacionamentos perdendo força? Estariam cedendo espaços ao habitar na cidade? Ainda não é possível afirmar, mas talvez estejamos vivendo este momento de transição, de que novos valores de cidade estejam sendo construídos e materializados. Um novo imaginário de vida urbana que possa ser vislumbrado.

Perante a esse contexto, pequenas ações que podem parecer inexpressivas quando olhadas dentro da escala do território, exercem um grande impacto quando vistas do ponto de vista do bairro e do edifício. Ao tomar simbólica e fisicamente o lugar de um antigo estacionamento de veículos, o Edifício Bem Viver General Jardim 415, construído na área central de São Paulo, desfruta de uma condição urbana já constituída, bem como potencializa os aspectos positivos de uma vida no centro de uma grande metrópole, combinando usos diversos com habitação, atrelados a uma infraestrutura existente.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O projeto Território-parque parte do enorme desafio de revigorar e criar soluções urbanas, arquitetônicas e paisagísticas para que a comunidade de Córrego do Feijão – principal impactada pelo rompimento da barragem em janeiro de 2019 – tenha condições de permanência e reconexão com o lugar de sua origem e história.
A expressão Território-parque anuncia o propósito de articular o espaço urbano à paisagem em que está inserido, de modo a fortalecer a relação das pessoas com a natureza. A estratégia de projeto se orienta por um vínculo socioambiental presente em cada solução adotada, com origem na valorização da água como elemento central para a vida neste território, e ênfase na universalização do saneamento básico que incorpore alternativas de abastecimento de água, implementação de coleta e tratamento integral de esgoto e destinação adequada dos resíduos sólidos.
Por um lado, as propostas apresentadas buscam atender aos valores, às expectativas e propósitos comunicados pela comunidade, cuja escuta se deu a partir de uma série de encontros promovidos pelo Instituto Kairós, que conduziu a integração socioambiental das ações planejadas. Adicionalmente, e com o intuito de ampliar e reconhecer essas ideias a partir de uma visão territorial sistêmica, o projeto contou com a reflexão de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais de áreas como arquitetura, urbanismo, sustentabilidade ambiental, biologia, saneamento, paisagismo, design, iluminação e comunicação e diversas especialidades da engenharia.
O projeto Território-parque é composto por quatro grandes áreas contíguas e integradas – área Central, Campo de Futebol, Parque Ecológico e área Simbólica -, que guardam suas particularidades e serão apresentadas de forma independente, conforme o planejamento de sua execução sequencial.
Os programas de arquitetura e paisagismo do Território-parque têm como base conceitual o uso e a exposição dos recursos hídricos por meio de corpos d’água, piscinas e canais de condução e irrigação.
A presença de água será constante nas diferentes áreas de intervenção. Elementos arquitetônicos e paisagísticos servirão como estruturas funcionais, aumentando o teor de umidade no ar do vilarejo e a disponibilidade de água para irrigação de jardins, usos recreativos e produtivos, contribuindo para o aumento da cobertura verde e a redução da emissão de partículas.
A água torna-se, ainda, um elemento primordial na ressignificação de Córrego do Feijão, ao constituir novos conjuntos paisagísticos e simbólicos.
O projeto Território-parque propõe a implementação de redes de coleta e tratamento de efluentes para toda a comunidade. As propostas para o saneamento apresentam soluções ambientalmente eficientes de baixo custo de implantação e de operação – exemplo das nascentes construídas e dos jardins filtrantes -, considerando atributos locais de topografia e valores paisagísticos, contribuindo para a saúde da população e para a preservação do meio ambiente.
A reconstrução dos espaços de moradia e convívio na comunidade, enquanto reparação integral, compõe a ressignificação do Córrego do Feijão, de forma complementar e integrada ao escopo da MACh Arquitetos. Novos usos ou aqueles usos existentes que precisaram ser realocados ou transformados (a exemplo do campo de futebol e da área simbólica), absorveram novos significados na reconstrução de vínculos sociais, culturais, econômicos, territoriais e simbólicos.
Junto à implantação do Projeto Território-parque estão em curso ações de fortalecimento das capacidades locais para a gestão dos novos equipamentos comunitários e fomento de pequenos empreendimentos econômicos, em um pensamento de Economia em Rede, assim como a destinação de imóveis para moradia social e usos complementares a economia local e a regularização fundiária de todo núcleo urbano do Córrego do Feijão.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

o território santa tereza corresponde a uma zona urbana predominantemente residencial com densidades variadas que se caracteriza pela topografia acidentada.

parte de seu território se destaca por uma vista privilegiada para o guaíba, o delta do jacuí e para a cidade, especialmente para a orla, o parque marinha do brasil e o centro histórico de porto alegre.

uma condição única de aproximação com a água e com a beleza natural da região.
como ocorre em inúmeras metrópoles, a topografia configura um limite natural para a expansão da ocupação urbana intensiva da cidade consolidada. no caso do morro santa tereza, a comunidade se desenvolveu em áreas de interface entre cidade formal e informal, apresentando setores com ocupações territoriais precárias e vulneráveis.

a fragilidade social e o desequilíbrio urbano, que atualmente marcam o território, demandam intervenções capazes de olhar para este contexto e buscar elementos de valorização do existente.

desta forma, como ponto principal do projeto está uma busca em atribuir visibilidade às comunidades, e revelar estes espaços públicos para o restante da cidade posicionado as pequenas intervenções de forma sutil, mas de modo que possam ser identificadas à distância, desde a orla do guaíba.

esforços no sentido de diminuir distâncias e transformar o formal e informal em uma só cidade.

essa premissa se traduz em uma estratégia de projeto: uma oportunidade de construir elementos marcantes e permanentes, afirmando uma identidade comum a esta rede de espaços públicos.

as áreas públicas e comunitárias definidas se destacam pelo potencial transformador da paisagem e enfatizam a importância dos espaços de centralidade e encontro.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Cultivar Cidades é uma narrativa especulativa amazônica que faz da imaginação uma ferramenta para projetar cidades, territórios e futuros. Concebida inicialmente como livro, a obra se apresenta agora em um painel expositivo. Essa composição materializa uma travessia pela bacia amazônica e convida o público a refletir sobre arquitetura e urbanismo a partir de um universo ficcional.

Acompanhamos o diário de Tawa, uma jovem ribeirinha do Rio Negro que, ao longo de quinze dias, percorre o rio Amazonas entre Manaós (atual Manaus) e Mairi (atual Belém). No mapa de sua viagem é possível ler trechos de seu diário, visitar cidades flutuantes, territórios regenerados e arquiteturas anfíbias que emergem após um colapso ambiental em 2030. Neste painel, o texto ocupa o centro: os trechos ficcionais aparecem destacados em branco, enquanto o texto em preto oferece a contextualização.

Este projeto nasce do desejo de construir cidades a partir de uma perspectiva espaço-temporal distinta dos modelos atuais. Embora a Amazônia abrigue a maior floresta tropical do mundo e 20% da água doce do planeta, 76% de seus 28 milhões de habitantes vivem em áreas urbanas com o menor acesso per capita à água potável do país. Essa contradição entre abundância e pobreza resulta de modelos urbanos exógenos alheios à realidade e saberes locais. Afinal, só preservamos aquilo que conhecemos, só construímos aquilo com o qual sonhamos.

É nesse ponto que entra a ficção como ferramenta arquitetônica. Ao construir o óbvio, a ficção abre um campo de ensaio para projetar futuros que escapam aos limites do presente. Propomos olhar para os saberes tradicionais da Amazônia como espelhos que nos permitem repensar nossa forma de existir, transformando o fim em recomeço.

Em vez de anunciar o esgotamento, apresenta-se aqui uma narrativa histórico-utópica em que a cidade ribeirinha e indígena assume o papel de protagonista, traçando caminhos que possibilitam conceber futuros diversos. Esse universo nos reconecta ao conhecimento ancestral enraizado nas múltiplas territorialidades amazônicas, convocando-o para a regeneração dos territórios e a construção de futuros coletivos.

Essa utopia nasce de um arcabouço teórico que articula pesquisas recentes sobre a Amazônia, entre elas as de Eduardo Góes Neves e as de Violeta Loureiro sobre a história da ocupação da região. Dialoga com a ecologia crítica de Danowski e Viveiros de Castro e com a obra de Ailton Krenak e Antonio Bispo, que resgatam cosmologias indígenas e quilombolas como chaves de futuro. Inspira-se também no pensamento ch’ixi de Silvia Rivera Cusicanqui, que ajuda a compreender coexistências e tensões em mundos plurais.

São igualmente narrativas que escutamos em conversas com pescadores, cozinheiras, amigos e parentes ao longo de viagens e cotidianidades. Nelas, a utopia não aparece como abstração distante, mas como prática concreta de imaginação e resistência, em que nós, amazônidas, assumimos a responsabilidade de pensar e projetar nosso futuro.
Esse projeto é desenvolvido pelo Lab Igarité, estúdio de investigação e criação situado entre arquitetura, arte e urbanismo.O Lab é uma iniciativa de Natalia e Isabella, arquitetas e pesquisadoras amazônicas. Com trajetórias entre Manaus e Belém, pensamos a cidade a partir das águas, margens e saberes locais. Buscamos cultivar narrativas urbanas e propor uma arquitetura investigativa, em que palavra e imaginação se tornam ferramentas para revelar camadas invisíveis, construir memórias compartilhadas e inventar modos mais sensíveis e justos de habitar.

Implantação do projeto: México
Desenvolvimento do projeto: México

TEMIS ergue-se como um círculo de terra e tempo, o primeiro edifício autoportante de impressão 3D em terra na América Latina. Construído na Cidade do México com uma CRANE WASP, sua forma circular nasce do movimento de um braço robótico que, em 360 graus, desenha um espaço social habitável e, ao mesmo tempo, um pavilhão experimental de encontro e reflexão coletiva. Sua fachada paramétrica leva a terra ao limite: linhas que se expandem além do perímetro base, criando um movimento que responde à luz e projeta sombras em constante transformação. Cada quadrante do edifício oferece uma experiência distinta, revelando o diálogo entre tecnologia digital e matéria ancestral.

No interior, a geometria converte-se em ritmo; os muros contrafortes, sólidos e esculturais, sustentam não apenas a volumetria, mas também a confiança diante da memória sísmica da cidade. Sobre este anel terroso repousa a coroa de madeira laminada, um círculo preciso que encerra o gesto construtivo, unindo calor e estabilidade. Ali, onde se encontram terra e madeira, tradição e futuro, revela-se a essência de TEMIS: uma arquitetura que não impõe, mas acompanha.

A fachada paramétrica de TEMIS é também um campo de experimentação. Sua formação surge de módulos e ondas que se interferem entre si, gerando padrões e frequências únicas que se revelam visualmente em cada trecho do edifício. Não se restringe ao círculo base: expande-se, projeta-se para fora e cria um ritmo ondulante, como se a matéria tivesse sido esculpida pela passagem do vento. Cada quadrante oferece uma experiência distinta. As linhas se estendem, se dobram, se curvam, produzindo um movimento que nunca é igual ao percorrer o edifício. A luz acompanha esse gesto: em certos momentos acentua as sombras profundas e, em outros, suaviza os muros até fazê-los vibrar com o entorno. Mais que uma fronteira, a fachada torna-se uma expressão cinética: um muro em permanente transformação, que guia o olhar e converte o percurso numa sequência de perspectivas sempre renovadas.

O desenvolvimento da mistura foi um dos maiores desafios do projeto. O material precisava alcançar um estado intermediário entre viscoso e plástico: suficientemente fluido para ser extrudado pela impressora, mas estável para sustentar o peso das camadas subsequentes. A formulação definitiva utilizou uma granulometria fina-média, incorporando fibras pequenas e areias para melhorar a graduação. Trabalhou-se com uma terra local arenosa, com argilas e siltes, que ofereceu a coesão necessária, sempre controlando o percentual de água: o excesso poderia comprometer a resistência e aumentar a retração.

Na fase inicial, foram testadas misturas com cal hidráulica, o que permitiu compreender o comportamento de um material estabilizado. Porém, a impressão final de TEMIS foi realizada apenas com terra, areias, fibras e redutores de água, sem adição de cimentantes. Antes da construção, elaboraram-se diversas amostras submetidas a ensaios de compressão em laboratório, alcançando uma resistência de 31 kg/cm², um valor notável para terra estabilizada. Esses ensaios possibilitaram ajustar proporções, controlar retrações e alcançar o equilíbrio entre plasticidade e resistência. A mistura final foi validada por engenheiros civis mediante modelos e simulações sísmicas, confirmando um comportamento estrutural confiável. Seu desempenho está diretamente ligado ao design geométrico e paramétrico de TEMIS, em que os muros curvos e contrafortes colaboram com o material para consolidar a estabilidade do conjunto.

Mais que um ponto de chegada, este processo representa um começo. TEMIS inaugura um caminho experimental em que cada avanço abre a possibilidade de melhorar resistências e desempenhos. A experiência demonstra que a construção com terra impressa em 3D não é um futuro hipotético, mas sim uma resposta presente e necessária diante dos desafios ambientais e sociais do nosso tempo.

Desenvolvimento do projeto: Colômbia, Brasil, EUA

As tecnologias emergentes têm o potencial de perturbar a natureza humana, a vida social e o mundo natural a um nível fundamental. Como “tecnologias profundas” a essência da natureza se reconfigura para fins humanos. O tríptico desta exposição apresenta interrogações fundamentais sobre a tecnologia profunda associada à invenção material, culturas materiais e substituição material como produto de agendas socioeconômicas, políticas e arquitetônicas modernistas globais interligadas no Trapézio Amazônico, onde convergem Brasil, Colômbia e Peru. Os desenhos em torno da palma tecida tradicional nativa da região, obtida ao longo de séculos, indicam as culturas materiais herdadas e os complexos processos sociotecnológicos que ocorreram desde meados do século XX no Trapézio Amazônico. Essas transformações substanciais na cultura material ao longo dos últimos cem anos não podem ser entendidas como um fenômeno isolado que levou a uma perda radical da cultura material da palha de palmeira por meio de soberanias materiais estrategicamente impostas. Em princípio, a democratização da impressão 3D de palmeiras nativas pode abrir caminhos para a recuperação da cultura material. O tríptico desta exibição aborda essa perspectiva discutindo produções materiais, perspectivas de valor e escalabilidade. O trabalho apresentado foi desenvolvido pela Dra. Maria Paz Gutierrez, Professora da Universidade da Califórnia, Berkeley, através de pesquisas materiais, tipológicas, e etnográficas com seis comunidades indígenas. A pesquisa da palmeira foi acompanhada com colaborações com o artista plástico Donald Gensler. A exibição apresenta a culminação desta pesquisa articulando interrogações sobre o futuro papel de inovações tecnológicas na construção desta região.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Um dos grandes impactos da crise ambiental é a extinção de espécies animais. Trabalhar para manter e preservar a fauna, em especial a que está ameaçada, é um dos principais desafios que se colocam na atualidade se quisermos seguir coexistindo com a natureza. É nesse sentido que se visualiza a relevância da atuação da ONG Aquasis – Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos – por agir na preservação de espécies animais do nordeste brasileiro ameaçadas de extinção, com foco na biodiversidade do Ceará.

Em atividade há mais de 30 anos, a ONG possui uma sede localizada na praia de Picos, em Icapuí, no litoral leste cearense. Em 2020, a partir da demanda da instituição por espaços para visitação e divulgação do conhecimento sobre a conservação ambiental na região, começamos a trabalhar no projeto do Centro de Visitantes Banco dos Cajuais. Com orçamento e cronograma limitados, em meio à pandemia da COVID-19, o desafio de pensar esse projeto acabou sendo algo que até hoje faz parte da nossa prática. Até agora, já foram construídos dois blocos: o primeiro (2020-2021) destinado a exposições, um pavilhão mais fechado; o segundo (2023-2024), mais aberto, para reunir grupos maiores e dar suporte de infraestrutura de banheiro para o complexo. Além dos blocos, os fluxos internos do terreno e o muro de acesso também foram repensados no projeto.

Outras estruturas para o conjunto ainda estão em desenvolvimento e com possibilidade de execução futura. Ou seja, este foi, e tem sido, um projeto pensado ao longo do tempo, e mais do que apresentar os espaços que vêm sendo projetados e construídos desde então, propomos apresentar esse projeto em três tempos.

O primeiro tempo – construção – parte da sua leitura por etapas. Assim, para além de uma composição de elementos isolados, o projeto é pensado como um sistema que, em suas fases, possui uma lógica pavilhonar composta de nichos que se adequam e adaptam às especificidades de cada momento e programa. O segundo tempo é o da luz, da qual tiramos partido como elemento compositivo: seja pela inversão entre os volumes brancos e claros que escondem pequenas aberturas durante o dia que somem à noite, dando lugar a pequenos feixes de luz artificial, seja pela posição estratégica de aberturas como o vazio quadrado no segundo edifício do conjunto, que permite a entrada de uma luz que marca a passagem do dia no espaço interno, ou mesmo nas empenas brancas que servem de anteparo para a sombra irregular da vegetação do entorno. Por fim, considerar o tempo na arquitetura é considerar sua dimensão de uso e apropriação. Assim, os espaços criados são imbuídos de amplitude e indeterminação, permitindo que as mais diversas atividades aconteçam. Acompanhar as apropriações desses espaços e aprender com elas faz com que o projeto adquira um caráter de incompletude, não finalizado na entrega da obra, mas continuando a existir e resistir, potencializando seus usos e apropriações, inclusive as mais imprevistas e improváveis.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O documentário Carpinteiros da Amazônia é fruto de uma pesquisa da Guá Arquitetura, dedicada a registrar e valorizar a carpintaria ribeirinha, um ofício ancestral que moldou por séculos a forma de morar das comunidades amazônicas.

A obra percorre ilhas e margens de rios, como Murutucu, Combu, Acará e do Marajó, revelando que a carpintaria não é apenas uma técnica construtiva, mas também uma manifestação cultural que expressa modos de vida, memórias familiares e vínculos profundos com a floresta e os rios.

O filme registra a forma de construir o habitar amazônico que carregam a marca singular de seus mestres, artesãos que transformam madeira em abrigo e identidade.
A narrativa é conduzida a partir das histórias de Mestres como Josa, Edson, Oseas, Edinaldo e Valdiley, que representam diferentes trajetórias dentro do ofício, seus pontos de vista se representam em traços autorais que se destacam entre si, como um traço de artista. Ao mesmo tempo, o documentário não evita os desafios que ameaçam essa herança: a substituição da madeira pela alvenaria, a exploração predatória das florestas, a ausência de políticas públicas de valorização e, sobretudo, o desinteresse crescente das novas gerações em seguir o ofício.

Mais do que uma obra de registro, o filme se coloca como um manifesto de resistência. Ele busca sensibilizar para a importância de manter viva uma prática que sintetiza conhecimentos técnicos e culturais, e que traduz uma relação equilibrada entre sociedade e natureza. O documentário mostra como os mestres compartilham saberes e reforçam a dimensão social da carpintaria, fortalecendo a autoestima e a relevância das comunidades.

O filme, portanto, não se limita a registrar o passado de uma tradição. Ele anuncia possibilidades de futuro. Ao dar visibilidade a mestres carpinteiros que continuam a construir com madeira e ao mostrar casas que se tornam referência estética para a comunidade local.
Carpinteiros da Amazônia é, assim, um manifesto pela floresta em pé, pela transmissão dos saberes e pela permanência de uma arquitetura profundamente humana, nascida do encontro entre rio, madeira e comunidades ribeirinhas.

Implantação do projeto: Espanha
Desenvolvimento do projeto: Espanha

A DAT Alierta está prestes a se tornar o novo distrito tecnológico de Aragão. Ocupando um território de 80 hectares na extremidade norte de Zaragoza, ele é concebido como um local onde a cidade e a natureza se interseccionam. Zaragoza é uma cidade rica em água, definida pelo Rio Ebro, o mais volumoso da Espanha. A bacia hidrográfica do rio traça um curso d’água através do território de leste a oeste: o canal de irrigação El Rabal ou Juslibol. Este elemento hídrico atua como o catalisador para três eixos estruturantes principais dentro do projeto.

Primeiro, o perímetro do canal define uma encosta voltada para o sul, que se beneficia da ampla luz solar no inverno, enquanto seu entorno fluvial e naturalizado proporciona frescor no verão e reduz a área coberta por superfícies duras. Essa configuração favorece o surgimento de um microclima e incorpora intencionalmente a biodiversidade como um agente transformador nos novos modelos urbanos referenciados em toda a região.

Em segundo lugar, a presença do canal, sua preservação e sua valorização sustentam a continuidade do curso d’água e a restauração do ciclo hidrológico, contribuindo para a renovação dos ecossistemas ribeirinhos tanto dentro quanto ao redor do local. Essa abordagem posiciona a DAT Alierta como uma evolução contemporânea da tipologia de parque tecnológico, adotando um modelo de urbanismo que não apenas respeita o patrimônio natural local, mas busca alcançar uma maior integração entre os sistemas construídos e ecológicos.

Finalmente, metade da área designada já foi construída e está em uso, enquanto a outra metade constitui, nos termos de Clément, uma forma de ‘terceira paisagem’, moldada por um planejamento urbano anterior que não levou em conta o curso d’água. Assim, o projeto avança com uma estratégia proativa de reutilização adaptativa, integrando o patrimônio hídrico do local e transformando um esquema urbano obsoleto e homogeneizante em uma cidade mais verde e resiliente, definida por infraestrutura azul e verde.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Maloca Útero Tupinambá é uma arquitetura viva, simbiótica e metamórfica. Sua forma consiste em um espaço central para o fogo, estruturado em apoio duplo radial, com duas “saias” trançadas lateralmente que ligam a cobertura ao chão, constituindo jardins internos que configuram espaços íntimos e externos que marcam seus acessos. Construída em parceria entre o Floresta Cidade – projeto de extensão, ensino e pesquisa da FAU UFRJ – e o Levanta Zabelê, Centro de Pesquisa e Inovação Ancestral dos Tupinambá de Olivença, no Sul da Bahia. O Zabelê é uma universidade indígena, protagonizada por mulheres, e tem como princípio a troca de saberes, a reconexão com a mãe Terra e a descolonização dos territórios.

Feita com o outro – humano ou não –, foi construída por muitas mãos, encantos, desenhos, rezas, magias, medidas, histórias e esforços. Uma arquitetura participativa que provoca metamorfose em quem a faz, desfazendo atitudes coloniais de projeto. Durante a construção, habitamos coletivamente, compartilhamos a mesma comida, banhamos nas mesmas águas e dividimos o mesmo território, em uma atitude de convívio transversal, algo quase impossível nas cidades. Essa experiência criou um afeto coletivo entre o grupo e o território, provocando uma profunda conexão com a natureza e um respeito mútuo, honrando os diferentes seres que habitam conosco e a troca de saberes entre todos os seres vivos.

A relação simbiótica com a paisagem se manifesta não apenas na continuidade visual entre os pilares e as árvores existentes, mas também na invenção de materiais. Movidos por um desejo de criação interespecífica, experimentamos, em parceria, a produção de telhas de micélio com as palhas de coqueiro do território. Improvisamos um laboratório de inovação ancestral e criamos tecidos a partir dessas palhas, que nutrimos juntamente com as raízes de fungos (micélio) em um ambiente escuro e úmido. À medida que o fungo coloniza a palha, produz um material impermeabilizante, testável como telha – reforçando a palha existente – ou como forro, inovando o acabamento. Os testes ainda não foram concluídos.

A Malaca Útero Tupinambá é um edifício-entidade que nasce, surpreende e acontece. Uma arquitetura viva que ganha autonomia no processo e nos surpreende com as histórias que surgem. A maloca abriga nossas energias em suas pilastras, as metamorfoses de cada um de nós no fogo do seu centro – que mais parece um coração pulsando – e aponta possíveis caminhos para o projeto contemporâneo no Brasil. Estamos aprendendo com os povos indígenas a desenhar e construir uma morada cósmica, inclusive com o aldeamento de salas na FAU UFRJ.

A arquitetura dessa morada cósmica pode ser sentida nesta maloca/cobertura/saia/processo que, ao contrário de isolar nossa experiência de habitar das galáxias, a conecta, prolongando o céu em um chão de estrelas repleto de experiências afetivas.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Tempo Arquitetos é uma prática de arquitetura multidisciplinar que busca a constante materialização do intangível em realidade , sediada em São Paulo e dirigida pelos arquitetos Luiz Sakata (Bauru, 1995 – FAU-USP/FAUP-Porto) e Augusto Longarine (Jundiaí, 1995 – FAU-USP/Politecnico di Milano). Acumulam juntos desde 2020 projetos premiados nacional e internacionalmente.

O novo Boulevard São Judas Tadeu, implantado em trecho linear de 106,5 metros da Alameda dos Guaiós, em São Paulo, Brasil, nasce do interesse coletivo de requalificação dos espaços públicos estratégicos entre o Santuário São Judas e o Instituto Meninos de São Judas – relevantes equipamentos de atração de público da zona sul da capital. Historicamente, tal trecho da Alameda constituiu-se como fachada de fundos das instituições religiosas lindeiras, com funcionalidade restritamente logística e uso intensivo como estacionamento. Portanto, pretendeu-se, como foco de requalificação desta área, a conexão do Santuário São Judas Tadeu à Capela São José, através da criação de espaços de transição e permanência de pedestres, dotados de acessibilidade universal, novos canteiros vegetados e mobiliário urbano. O desenho do novo Boulevard parte da manipulação da topografia original da Alameda dos Guaiós para a criação de três platôs programáticos – superior, intermediário e inferior – com previsão de arquibancadas, espaços para feiras, esplanada para missas campais, jardins de chuva para recomposição do microclima local, e a conexão com a galeria existente de serviços -loja, café, sanitários – que conecta a Avenida Jabaquara ao novo Boulevard.

Implantação do projeto: Índia
Desenvolvimento do projeto: Índia, Holanda

Cidade de 1.000 Tanques, Chennai – Estratégia urbana holística para combater enchentes, secas e poluição através de estratégias azuis-verdes.

Chennai corre o risco de ficar sem água na próxima década, considerando o aumento projetado da população e a depleção do lençol freático. O projeto Cidade de 1.000 Tanques, parte do programa Water as Leverage for Resilient Cities Asia, identifica as inter-relações entre as causas subjacentes de enchentes, escassez hídrica e poluição em Chennai e oferece uma solução holística para estes três problemas. Está desenvolvendo um Modelo de Balanço Hídrico em toda a cidade através da coleta de água da chuva, tratamento de águas residuais e poluição de escoamento com Soluções Baseadas na Natureza (SBN) descentralizadas, e pela recarga de ambos no aquífero subterrâneo. Isso evitará secas induzidas pelas mudanças climáticas através do aumento das reservas de águas subterrâneas e impedirá a intrusão salina decorrente da elevação do nível do mar.

Simultaneamente, mitigará riscos associados a enchentes de alta frequência, bem como à poluição por esgoto. Este projeto pretende resolver problemas do lado da oferta criando capacidades de retenção e fornecimento de água de 200-250 MLD (Milhões de Litros por Dia) nas duas primeiras fases (ante uma demanda urbana atual de 1.580 MLD).

O Piloto de Balanço Hídrico da Cidade de 1.000 Tanques na Little Flower Convent School for the Blind and Deaf é um projeto demonstrativo com capacidade transformadora que vislumbra uma Chennai abundante em água. Utilizando SBN, o projeto reparou a infraestrutura danificada, coleta água da chuva e trata águas residuais localmente para recarregar o aquífero, garantindo assim segurança hídrica local e resiliência climática para o Convento Little Flower, uma escola com 500 alunos com deficiências visuais e auditivas.

Este projeto demonstrativo replicável e escalável investiga os processos e etapas necessários para alcançar a mudança requerida e visa engajar departamentos governamentais, grupos de residentes, empresas e instituições; permitindo assim implementação em nível distrital, municipal e urbano.

O projeto é financiado pelo Governo da Holanda e cofinanciado pelo Goethe Institut e pelo Wipro Grants Program. Cidade de 1.000 Tanques é a primeira aliança colaborativa pela água de Chennai, liderada pela OOZE architects & urbanists com Madras Terrace, IIT Madras, Care Earth Trust, Eco Village International, Atma Water, IRCDUC, Uravugal Social Welfare Trust, Paperman Foundation, Rain Center, TU-Delft, HKV e outros.

A OOZE architects & urbanists foi fundada em 2003 por Eva Pfannes e Sylvain Hartenberg em Roterdã. São profissionais apaixonados que adoram trabalhar em ambientes complexos e em rápido desenvolvimento com clientes do setor público e cultural, focados nos benefícios para a sociedade e o meio natural. A OOZE especializa-se em pensamento sistêmico estratégico e holístico em escala urbana e de bairro, bem como no desenvolvimento de conceitos bancáveis que mitigam e adaptam-se aos impactos das mudanças climáticas.

www.ooze.eu.com
www.cityof1000tanks.org

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Arena de Handebol, também conhecida como Arena do Futuro, foi resultado de uma concorrência pública que tinha como premissa o desafio de transformar um dos edifícios dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro em quatro escolas municipais após o evento. A proposta vencedora, desenvolvida pelo consórcio Rio Projetos 2016, um grupo multidisciplinar de escritórios de arquitetura e engenharia – composto pelas empresas Lopes Santos & Ferreira Gomes Arquitetos, Oficina de Arquitetos, MBM Serviços de Engenharia e DW Engenharia – buscava estar em consonância com as premissas pré-definidas, buscando flexibilidade, mutabilidade e adaptabilidade, reforçando em sua solução, a consciência de seu compromisso futuro.

O projeto para a Arena Olímpica e Escolas Municipais se estabelece a partir de cinco metas principais: (1) Organização Metodológica Construtiva; (2) Definição dos Sistemas Estruturais Principais; (3) Planejamento e Definição dos Materiais, (4) Componentes e Conteúdo de ambos os edifícios; e por fim, (5) Processo de Reuso e Destino (Descarte).

O formato para jogos abrigou 12.000 espectadores com área total construída de 32.240m². Já os edifícios escolares, fruto do desmonte e reaproveitamento de elementos construtivos da Arena, ocupam cada um 6500m² e atualmente acolhem perto de 500 alunos do ensino fundamental municipal.

Apesar do planejamento realizado, entre 2017 e 2021, a Arena não foi desmontada conforme o previsto, nem seus componentes foram armazenados de maneira adequada devido às prioridades no planejamento do Município. No entanto, a partir de 2022, o legado olímpico ganhou novamente prioridade, e ao menos, 25% dos componentes totais da Arena Olímpica foram reutilizados na construção das quatro Escolas Municipais. Além disso, outros 50% foram recondicionados para reciclagem e reutilização em diversas áreas e instituições da cidade do Rio de Janeiro, como arquibancadas, cadeiras e componentes das grandes estruturas de aço. Outros 25% foram descartados.

Ainda que desenvolvido a partir de um projeto-modelo, cada uma das escolas teve sua implantação ajustada de acordo com as especificidades de cada sítio. Três destas escolas (GET José Mauro de Vasconcelos em Bangu, GET Emiliano Galdino em Santa Cruz e GET Nelcy Noronha em Campo Grande) foram implantadas em substituição a escolas municipais já existentes (escolas transitórias de argamassa armada projetadas pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, na década de 1980, sendo o GET Mestre Diego Braga em Rio das Pedras, a única escola completamente nova.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Galeria Yayoi Kusama abriga duas instalações da artista no Inhotim: “I am here but nothing” e “Aftermath of obliteration of eternity”. As obras são conhecidas por atrair uma grande quantidade de pessoas que, inevitavelmente, formam longas filas de espera. Dessa maneira, o projeto de arquitetura deve responder não só ao abrigo das obras de arte, mas à criação de um espaço protegido para o tempo de espera e para a preparação do público à experiência única proporcionada pelas instalações.
A solução proposta para a cobertura de sombreamento segue um princípio de utilização mínima de elementos estruturais, com uma sucessão de cabos de aço dispostos paralelamente, conectando o ponto mais alto próximo à crista do talude de corte do terreno ao ponto mais baixo, na extremidade oposta do platô. Essas linhas, com uma curvatura sutil, reconstroem metaforicamente o perfil original do terreno, na forma mais natural possível. O projeto procura reconhecer o terreno, que sofreu intervenção prévia para criação do platô e também os taludes que o envolvem, ajustando-se à topografia dada. A cobertura tensionada visa a ativar a espacialidade gerada pelo corte.
Em composição com uma tela metálica flexível é criada uma ampla superfície de suporte para o crescimento de uma vegetação trepadeira, a espécie Congea tomentosa, exótica e introduzida no Brasil na década de 60 por Burle Marx. A escolha desta planta deve-se a uma série de fatores: sua densidade, que favorece o sombreamento e certa retenção de água de chuvas; a ótima adaptação ao clima brasileiro, sem demandar cuidados especiais; e por seus evidentes atributos estéticos. A congeia atribuirá a noção de tempo e de transformação contínua ao projeto, alternando a coloração de sua inflorescência em tons de branco, rosa, lilás e cinza.
Sob a cobertura, o espaço abre-se horizontalmente para o jardim, por um lado, e eleva-se na direção da galeria, cujo desenho é definido por um plano vertical de chapas de aço patinável que atravessa toda a extensão entre os taludes laterais. Dessa maneira, a arquitetura não se caracteriza como um volume solto, mas sim como uma intervenção topográfica diretamente relacionada à configuração do terreno.
Ao longo das filas, cujo percurso é definido pelos diferentes materiais do piso – brita fina e lajotas de concreto – são criados pequenos largos com bancos de madeira, como um convite à permanência daqueles que visitam a galeria ou que estão apenas desfrutando da ambiência e da vista.
Visto por cima, como uma intervenção de cor na paisagem, o projeto conecta dois momentos da vegetação existente – a mata espontânea e o jardim planejado – e parece ocultar um mundo mágico a ser descoberto pelos visitantes do parque.

Implantação do projeto: Suíça
Desenvolvimento do projeto: Suíça, Brasil, Nicarágua

O Pavilhão Protótipo TRC LC3, construído por estudantes e pesquisadores da EPFL Fribourg, em colaboração com a FAUFBA, desde 2019, serve como prova de conceito para uma extensa pesquisa sobre o potencial estrutural, espacial, tectônico e social do TRC.

O desenvolvimento do Pavilhão Protótipo TRC LC3 investiga e adapta elementos estruturais selecionados desenvolvidos por João da Gama Filgueiras Lima (1932-2014) em ferro-cimento para concreto reforçado com têxtil (TRC) combinado com LC3 (Cimento de Calcário e Argila Calcinada) desde 2022. Esta fusão do conhecimento industrial brasileiro com pesquisas contemporâneas sobre reforço de fibras não corrosivas serve como conceito fundamental para o projeto, fabricação de moldes e fundição de novos elementos esbeltos em concreto reforçado com têxtil, formando a base conceitual do Pavilhão Protótipo TRC LC3. A construção do pavilhão é modular e projetada para fácil desmontagem, visando principalmente testar e demonstrar técnicas de construção inovadoras e sustentáveis.

O Pavilhão TRC LC3 é um passo inicial em direção a sistemas tectônicos adaptáveis, uma abordagem de construção modular que passará por mais desenvolvimentos nos próximos anos, levando a uma nova técnica de construção leve. Esta pesquisa prevê várias explorações e aplicações da construção TRC/LC3 em uma escala mais ampla.

O potencial completo do TRC LC3 como tecnologia para sustentabilidade social será avaliado por meio da análise de seus impactos estruturais, espaciais e sociais como sistema construtivo resiliente no contexto latino-americano, especialmente em áreas com vulnerabilidade social. Esta iniciativa capacitará comunidades locais a participar ativa e autonomamente na construção de suas próprias habitações sociais e instalações comunitárias, usando recursos locais e métodos de produção inovadores, sempre que julgarem necessário.

Consequentemente, o Pavilhão TRC LC3 serve como mensageiro para promover o TRC e o LC3 como materiais leves social e ambientalmente sustentáveis, transmitindo a ideia de industrialização viável tanto na América Central quanto na América Latina, adequada para aplicações em habitação social, desenvolvimento urbano e programas de reciclagem.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O plano urbano do Sistema de Parques Lineares do Rio Piracicaba, desenvolvido durante a revisão do Plano Diretor da cidade, busca estabelecer uma estratégia de intervenções — urbanas, ambientais, de mobilidade e turísticas — de caráter integrador e com elementos recorrentes, potencializando a conexão já consolidada entre a cidade e suas águas, respeitando sua ecologia, história e cultura, além de viabilizar um resultado de conjunto territorial coeso.
Com a implementação de um Plano Diretor para a orla do Rio Piracicaba, propõe-se um sistema de calçadas, ciclovias, transporte público e fluvial, articulando o conjunto de áreas verdes e de lazer existentes ou projetadas, além de um conjunto de diretrizes estratégicas como:
– Inserção de usos públicos (lazer, decks, esportes);
– Implantação de infraestrutura de apoio (sanitários, alimentação);
– Requalificação de equipamentos de grande porte (Engenho, Aquário, Teatro, Fábrica Boyes, Museus);
– Ativação de frentes comerciais (junto ao Lar dos Velhinhos e na Nova Av. Renato Wagner) e em de áreas com potencial para parcerias com a iniciativa privada.

Integram este conjunto, o Parque do Trabalhador, com nova articulação ao Parque João Herrmann Neto; a Rua do Porto, com calçadas generosas, restaurantes e vista desimpedida para as águas; o consolidado Beira-Rio; além das áreas da antiga Fábrica Boyes, do Museu da Água e, após a Ponte do Mirante, de dois novos parques: o Parque Renato Wagner e, na margem oposta do rio, uma área de futura incorporação, atualmente pertencente à Companhia City. A partir desse ponto, desenha-se uma integração entre os espaços públicos tradicionais e de reconhecido valor histórico: o Parque do Mirante, o Parque do Engenho Central e o Parque do Bosque. Propõe-se ainda a construção de uma terceira passarela de pedestres sobre o rio, desconectada do tráfego de veículos, garantindo a fluidez entre as duas margens.

Ao incorporar mais espaço de fruição junto à Av. Renato Wagner — via de baixa demanda, até então esquecida — foi possível, a partir do redesenho do viário e da retirada das espécies invasoras que obstruíam a relação com as águas, ativar um novo núcleo de lazer da cidade e promover a articulação com o campus da ESALQ–USP.
No escopo deste plano, foi também desenvolvido o projeto de requalificação, ainda não implementada, do Parque do Trabalhador, com perfil voltado prioritariamente às práticas esportivas, em contraste com outras áreas do sistema que possuem usos predominantes distintos:
Parque João Herrmann Neto, de caráter recreativo, voltado a caminhadas e corridas;
Trecho Beira-Rio e Rua do Porto, voltado ao turismo gastronômico e contato direto com o rio;
Parque do Engenho Central, com grandes equipamentos e festas tradicionais;
Parque do Mirante, com ênfase na contemplação da principal queda d’água do rio;
Segmento da Nova Av. Renato Wagner voltado à preservação da paisagem natural e lazer em meio à mata, aproximando entre cidade e natureza.

Implantação do projeto: México
Desenvolvimento do projeto: México

A urbanização representa um dos desafios mais significativos das próximas décadas, especialmente nos países em desenvolvimento, onde o crescimento descontrolado e a expansão insustentável ameaçam tanto o bem-estar social quanto o equilíbrio ambiental. O México, como um país latino-americano em desenvolvimento, enfrenta múltiplos desafios decorrentes desses processos, incluindo desigualdade social, insegurança e expansão urbana que frequentemente assume a forma de dispersão territorial e assentamentos vulneráveis.
Chiapas está entre as entidades mais desiguais, porém mais biodiversas, do país.
Sua capital, Tuxtla Gutiérrez, localiza-se em uma bacia montanhosa no sul do México, caracterizada por um clima tropical subúmido e um entorno natural único, delimitado pelo Rio Grijalva e pelo imponente Canyon do Sumidero. Apesar de sua beleza natural e importância como capital do estado, Tuxtla enfrenta graves desafios urbanos. O crescimento rápido e desorganizado, combinado com uma topografia complexa e persistentes lacunas sociais, deslocou comunidades vulneráveis para áreas com infraestrutura e oportunidades limitadas, intensificando a necessidade de um planejamento urbano mais inclusivo, resiliente e sustentável.
O Programa de Melhoramento Urbano (PMU) Tuxtla compreende um conjunto de estratégias concretas desenvolvidas por meio de uma série de projetos de várias escalas para contribuir com a reabilitação de bairros marginalizados. As intervenções, localizadas em diferentes partes da cidade, vão desde o centro de Tuxtla até a periferia, com o objetivo de regenerar o tecido social por meio de infraestrutura e equipamentos urbanos que promovam a conectividade e o desenvolvimento de ambientes seguros.
O projeto baseia-se na coleta de dados com o apoio da participação cidadã, bem como em breves pesquisas com diversos grupos locais convocados pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Territorial e Urbano (SEDATU) para examinar a insegurança, a violência de gênero, a criminalidade e as necessidades de cada localidade.
Assim, desenvolvemos cinco projetos — a Praça e Jardim 5 de Mayo, a Praça Principal, o Parque e Centro Comunitário El Aguaje, o Mercado 22 de Novembro e o Complexo Esportivo Patria Nueva — com o objetivo de melhorar as condições de vida nos bairros mais vulneráveis de Tuxtla por meio da reconexão social.

O Campus EUREF em Berlim é um “laboratório real para a transição energética” (autodescrição), um distrito empresarial que atualmente oferece cerca de 7.000 empregos. Está localizado diretamente na estação de S-Bahn de Schöneberg e não muito longe do entroncamento rodoviário de mesmo nome.

O desenvolvimento adicional da infraestrutura de transporte na área ao redor do Campus EUREF tem sido objeto de acalorado debate político por décadas. Com sua existência e a política de preferir soluções de mobilidade sustentável, o Campus EUREF desempenhou um papel decisivo para garantir que a autoestrada federal não fosse estendida por quilômetros adicionais para o norte. Ao mesmo tempo, as empresas locais receberam incentivos para eletrificar suas frotas de carros por meio da promoção decisiva da eletromobilidade no campus – quase 100% de todas as vagas de estacionamento nas garagens subterrâneas são capazes de carregar veículos. Simultaneamente, os preços elevados tornaram o estacionamento pouco atraente para os funcionários, independentemente de possuírem veículos elétricos ou motores de combustão.

O ponto decisivo para este desenvolvimento sustentável foi a consultoria científica do Research Campus Mobility2Grid (M2G) interdisciplinar, liderado pela TU Berlin (Universidade Técnica de Berlim) e pelo Berlin Social Science Center (WZB), juntamente com parceiros industriais como Siemens e Schneider Electric.

O proprietário da área, a EUREF AG, seguiu não apenas o conceito de mobilidade proposto pelo M2G, mas também instalou um microgrid com facilidades de carga bidirecional para carros elétricos, scooters e bicicletas, conforme proposto pelo M2G em 2014. A eletrificação de todas as vagas de estacionamento, ofertas de compartilhamento (sharing) e micromobilidade baseada em elétricos são os pilares do conceito. Menos de 10% das 7.000 pessoas que atualmente trabalham no campus se deslocam de carro para o trabalho.

Combinado com a produção de energia sustentável on-site, o Campus EUREF oferece um exemplo excepcional de setor coupling (acoplamento setorial) entre a transição dos transportes e da energia. Além disso, no Campus EUREF, apenas edifícios energeticamente eficientes são construídos, e grande parte do tecido antigo é reutilizado e renovado de forma climaticamente neutra. O design de interiores do antigo gasômetro é o exemplo emblemático.

Muitas empresas, especialmente jovens, e instituições de pesquisa dos campos de energia, proteção ambiental e mobilidade, que desenvolvem soluções ecologicamente e economicamente sustentáveis, estabeleceram-se aqui desde o início do desenvolvimento do local em 2008. O Campus EUREF já cumpria as metas de proteção climática de CO2 do governo alemão para 2045 desde 2014. Este amplamente visível antigo símbolo da era dos combustíveis fósseis é agora um marco da conversão sustentável de antigos locais industriais.

Isso permite tirar conclusões sobre a integração urbanística de novos ou existentes distritos (empresariais) em seu ambiente: a política de transportes e o planejamento urbano devem estar mais intimamente interligados; em vez de novos distritos em greenfields (áreas virgens), novos assentamentos devem ser precedidos por infraestruturas de transporte sustentáveis e não, como ainda é comum, sucedidos por elas.

Implantação do projeto: Chile
Desenvolvimento do projeto: Chile

A expansão urbana sem regulação efetiva e a crescente pressão sobre os ecossistemas costeiros intensificaram a fragmentação ecológica, a perda de biodiversidade e o aumento do risco socioambiental em várias cidades chilenas. Em resposta, a Lei 21.202 (2020) que estabelece a proteção legal das áreas úmidas urbanas surge como oportunidade para redefinir a relação cidade–natureza, tanto pelo desenho territorial quanto por uma governança integrada e multinível. O desafio central, contudo, está em traduzir marcos normativos, conhecimento científico e demandas sociais em políticas públicas espacialmente coerentes e aplicáveis. O caso do Sistema de Áreas Úmidas Rocuant–Andalién, na região metropolitana de Concepción, evidencia tais conflitos socioecológicos e a fragmentação institucional que limita seu enfrentamento.
No âmbito do Projeto GEF Áreas Úmidas Costeiras, do Ministério do Meio Ambiente e do PNUMA, este estudo propõe desenvolver um plano de ordenamento territorial e desenho urbano que integre conservação ecológica com necessidades urbanas, sociais e de governança. A proposta fundamenta-se em três eixos: (i) articular diagnósticos ambientais prévios com análise urbano–espacial do sistema; (ii) priorizar áreas de restauração como infraestrutura ecológica projetiva e interface cidade–natureza; (iii) empregar o desenho como ferramenta de mediação intersetorial entre Estado, comunidades, academia e setor privado.
A metodologia combina revisão documental, trabalho de campo, análise cartográfica projetiva e oficinas participativas com múltiplos atores institucionais e da sociedade civil. Como resultado, propõe-se a criação de um Sistema de Áreas de Borda (SAB), dispositivo territorial que estrutura decisões sobre restauração, proteção contra riscos e gestão do uso do solo, facilitando a coordenação entre escalas de planejamento e níveis de governo.
O produto final é um Plano Diretor de Ordenamento Territorial e Desenho Urbano que reconhece as áreas úmidas como infraestrutura ecológica crítica e, ao mesmo tempo, como catalisador de um modelo emergente de governança territorial. As visões construídas para quatro setores emblemáticos abordam conflitos urbano–ambientais específicos e oferecem soluções que combinam infraestrutura verde, espaço público e habitação adaptada ao contexto ecológico. Mais do que desenho (entendido como meio e não fim), o plano se consolida como um instrumento experimental de articulação institucional, capaz de mobilizar projetos, recursos e acordos entre múltiplos atores, fortalecendo uma governança mais resiliente em territórios urbanos marcados pela crise climática e ecológica. Como evidência prática, apresenta-se um inventário sistemático e detalhado das iniciativas, projetos e financiamentos derivados do plano diretor.

Implantação do projeto: Paquistão
Desenvolvimento do projeto: Paquistão, Gâmbia, Reino Unido

SHAPES é um projeto de pesquisa multianual que avalia a eficácia de adaptações estruturais para calor extremo no Paquistão, implementado em locais urbanos e rurais em Karachi e na província de Sindh.
O Paquistão enfrenta desafios significativos relacionados às mudanças climáticas, incluindo o aumento das temperaturas médias e ondas de calor mais frequentes e intensas, num contexto de rápida urbanização. Essas tendências já se traduzem em impactos na saúde: maiores taxas de doenças relacionadas ao calor (exaustão pelo calor e insolação), desidratação e estresse renal; exacerbações de doenças cardiovasculares e respiratórias, juntamente com prejuízos ao sono e à saúde mental. Mulheres grávidas, bebês, idosos e pessoas com condições crônicas enfrentam o maior risco, com o calor extremo vinculado a resultados adversos na gravidez.
Em assentamentos urbanos densos, tipologias comuns de construção oferecem sombreamento ou ventilação cruzada limitados, enquanto armazenam calor durante a noite. Em áreas rurais, estruturas de telado finas e serviços esparsos intensificam os picos diurnos e interrompem a recuperação. O fornecimento intermitente de energia e água, moradias superlotadas e a poluição do ar amplificam a exposição e limitam o acesso ao resfriamento eficaz.
O SHAPES concentra-se na eficácia potencial de várias medidas de baixo custo e alto impacto em escala de construção, incluindo sombreamento leve e de origem local (estruturas de bambu com tecido), argamassas à base de cal, tintas solar-refletivas, revestimentos de edificações, ventilação adicional, estruturas de sombra, plantio seletivo onde viável, e pequenas instalações de energia solar fotovoltaica para manter ventiladores e iluminação essenciais durante apagões da rede elétrica. Essas intervenções são entregues como parte de uma ação comunitária mais ampla liderada pela comunidade.
Essas intervenções estão sendo avaliadas como parte de dois ensaios controlados randomizados por clusters (um urbano, um rural) liderados pela Universidade Aga Khan em colaboração com a London School of Hygiene & Tropical Medicine e a Bartlett School of Architecture, UCL. Os ensaios avaliam a eficácia clínica com um desfecho primário de doença relacionada ao calor, e desfechos secundários, incluindo temperatura interna e conforto térmico, exposição pessoal e fisiologia, uso de serviços e resultados de saúde materna.
A pesquisa e coleta de dados incluem o uso de termografia por drone e medições de edificações baseadas em LiDAR, juntamente com modelagem térmica paramétrica e pesquisas rápidas de adequação domiciliar usando imagens, vídeo e questionários. Uma plataforma de dados personalizada foi desenvolvida para organizar e analisar informações de pesquisa de alto volume para habitações informais, apoiando propostas específicas para cada local e edificação que podem ser implantadas a baixo custo e permitindo a tomada de decisão liderada pela comunidade sobre onde e como instalar as intervenções. Medir em escalas de moradia e bairro possibilita identificar padrões locais de ilhas de calor e avaliar abordagens em escala de bairro para reduzir o acúmulo de calor urbano.
Joseph Augustin — Designer ambiental e arquiteto; Research Fellow Sênior e Lecturer, The Bartlett, UCL. Diretor fundador da Heat Island (Londres).
Christopher Burman — Tecnólogo urbano e pesquisador; Research Fellow Sênior e Lecturer, The Bartlett, UCL; Co-fundador da Heat Island (Londres)
Em colaboração com: Z.A. Bhutta; J.K. Das (Universidade Aga Khan); A. Bonell; A. Haines; S. Cousens (LSHTM)

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Casa Saracura faz parte de um conjunto de sobrados geminados construídos na década de 1940 no bairro do Bexiga, São Paulo. Em resistência à atual especulação imobiliária no bairro, a renovação do sobrado busca preservar a memória mantendo a fachada original e a configuração do pátio existente. Como partido de projeto, a estrutura original da casa é revelada, assim como, o muro de arrimo histórico, caraterístico da topografia existente do bairro, aparece como elemento visível a partir de diversos ambientes da casa.
O córrego Saracura, normalmente invisível aos olhos, passa bem atrás do terreno deixando o muro de arrimo constantemente úmido. Diante desta singular condição, a fonte entra como o principal elemento simbólico do projeto, evocando a memória do bairro. Um tanque e um caminho d’água foram propostos, captando as águas do Saracura, e trazendo as águas para dentro do pátio, à vista de todos.
Localizado em uma área central da cidade de São Paulo, os limites do Bexiga são imprecisos, mas podemos compreendê-lo como parte do distrito da Bela Vista, entre a Av. Paulista até a Praça da Bandeira (centro velho), e as avenidas 9 de Julho e 23 de Maio. Com a topografia acidentada, o Bexiga apresenta diversos cursos d´água canalizados, invisíveis aos olhos.
A nossa proposta para a 14ª Bienal de Arquitetura de São Paulo busca compreender o território do Bexiga a partir de seus aspectos físicos e geográficos. O ponto de partida é um vídeo em díptico: de um lado, a fonte é exibida continuamente; de outro, imagens da ocupação urbana sobre os córregos Saracura e Saracura Pequeno. Esses cursos d’água permanecem invisíveis, embora resquícios de sua existência se revelem na topografia, nos afloramentos, na vegetação e no desenho urbano.

Marina Canhadas (São Paulo, 1985), mestre pela FAUUSP, com especialização em “Geografia, Cidade e Arquitetura” pela Escola da Cidade, arquiteta e urbanista pela FAU Mackenzie, é fundadora do [entre escalas] e professora na Escola da Cidade e FAU Mackenzie.

Pedro Kok (São Paulo, 1984), arquiteto pela FAUUSP, é fotógrafo e videógrafo de arquitetura, estruturas urbanas e cidades.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Em breve

Implantação do projeto: Suíça
Desenvolvimento do projeto: Suíça

“Öpfelchüechli” (“Anéis de Maçã Fritos”) é um filme-ensaio de David Menzi que explora a transformação de terras agrícolas suíças em expansão suburbana e a paralela erosão da memória cultural. Central para o filme é a lembrança de um prato da cozinha de sua avó, intimamente ligado às macieiras que outrora rodeavam a casa da família em Volketswil, um subúrbio de Zurique. Como Menzi recorda, “Sempre que sinto o aroma do prato, tenho memórias muito vívidas de colher as maçãs nas terras agrícolas”. Através dessas memórias sensoriais, o filme conecta notas pessoais com questões mais amplas de mudança ambiental e cultural.
Usando imagens aéreas sobrepostas, filmagens encontradas no arquivo familiar e sequências que capturam a paisagem atual, Öpfelchüechli traça como a terra foi transformada em um aglomerado suburbano genérico de postos de gasolina, estacionamentos e desenvolvimentos industriais. O filme cria uma justaposição de diferentes mídias contemplativas que permitem aos espectadores perceber tanto as mudanças na paisagem quanto na memória cultural.
Öpfelchüechli funciona não apenas como uma metáfora para os traços de uma paisagem desaparecida, mas também como uma reflexão sobre o desaparecimento da biodiversidade causado pela expansão urbana. O filme convida o público a refletir sobre sua própria herança e os ambientes que habitam.
O filme foi inspirado e elaborado a partir de conversas sobre “Comida Urbana” com Günther Vogt na ETH Zürich em 2022.
David Menzi (ele/dele, n. 1992) passou um ano colaborando com profissionais além do campo da arquitetura em busca de ambições pós-disciplinares. Ele completou seus estudos de arquitetura em Zurique, Suíça, e Ahmedabad, Índia. Através de sua prática, encontros, Menzi explora questões de construção de lugar, construção narrativa, processos colaborativos e muito mais.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Precisamos nos reflorestar. Não há separação entre natureza e pessoas. Só existe natureza. A ecologia abrange tudo: humanos, animais, árvores, rios, peixes, chuva, vento e sol. A floresta é o todo, visível e invisível, um vasto organismo inteligente. Neste momento, os genes que compartilhamos com as árvores falam conosco, e podemos sentir sua grandeza. Trata-se de sentir a vida nos outros — em uma montanha, em um pássaro — e se envolver. A presença de outros seres não apenas compõem a paisagem, mas transforma tudo. Ou você ouve a voz de todos os seres que compartilham o planeta, ou declara guerra contra a vida.
A comunidade de Tumbira, antes dependente da extração ilegal de madeira, desmatava a floresta para sobreviver, em um ciclo de subsistência sem evolução. Com programas educacionais e o apoio da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em 2008, compreenderam que a floresta em pé era mais valiosa. Migraram para o ecoturismo e o turismo comunitário, atraindo visitantes do mundo todo. Essa transição trouxe progresso social: construção de escolas, casas, restaurante, sistema de energia solar e Wi-Fi. A FAS apoiou com conscientização, capacitação e investimentos em infraestrutura, fortalecendo a comunidade e seu vínculo com a floresta.
A pergunta que norteia o projeto é: “Como pensar uma arquitetura feita da floresta, para a floresta, que seja parte da floresta?” A resposta veio de dois conceitos fundamentais: o “ninho”, associado à proteção, acolhimento, tranquilidade e família; e o “caminho”, que simboliza a vivência coletiva, as trilhas e a integração humana com o ambiente.
Esses conceitos se traduziram em uma análise profunda do lugar, das pessoas e da cultura local, observando a interação entre vegetação e água nos igapós, os reflexos aquáticos, os labirintos das ilhas e os ninhos de japiins (Cacicus cela). A forma oval e a materialidade resultam dessa leitura, propondo uma inserção sensível e poética no ambiente. Galhos que recobrem as estruturas criam sombreamento natural em uma região de altas temperaturas, ultrapassando frequentemente os 30 °C.
Ao fim de sua vida útil, esses elementos podem retornar ao solo como matéria orgânica, reintegrando-se ao ciclo natural. O projeto também valoriza resíduos de madeira do manejo florestal em pequena escala, antes sem valor comercial, transformando-os em produtos que se alinham aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 1, 8, 12 e 13): erradicação da pobreza, trabalho decente e crescimento econômico, consumo e produção responsáveis, e ação climática.
Assim, a arquitetura proposta não apenas abriga, mas participa do ecossistema, refletindo a vida que pulsa na floresta e reforçando o papel humano como parte indissociável dela.

Implantação do projeto: Venezuela
Desenvolvimento do projeto: Venezuela

Diante do impacto humano que se evidencia e territorializa em grande parte das nossas sociedades, e que gerou a condição de emergência climática global, o projeto explora imaginários de transição, propondo cenários de habitabilidade que reconhecem a interdependência radical entre espécies e entidades; articulando práticas espaciais e narrativas climáticas para propor futuros resistentes e reparadores, por meio de ecossistemas mestiços, em territórios degradados pelo extrativismo, principalmente mineiro, na Orinoquia-Amazônia venezuelana.

A investigação gera, com base nas contradições do nosso presente, ecossistemas mestiços: modelos espaciais e climáticos híbridos que articulam formas ancestrais de habitar com estratégias de design especulativo e ecologia crítica. Através desta noção, coloca-se em tensão a fragmentação própria do extrativismo e propõem-se modos de ocupação territorial que promovem a coexistência de comunidades, espécies e materiais diversos, fomentando assim relações de cuidado e regeneração em paisagens degradadas.

No contexto planetário e suas diferentes crises, o projeto destaca a necessidade de compreender a dimensão cultural dessa situação e contribuir para superar as limitações da imaginação diante do presente e do futuro, por meio de ecotopias.

Ficha técnica:
Maximillian Nowotka.
Gabriel Visconti Stopello.
Michelle Isoldi Campinho (colaboradora).
Maria Betina Rincón (colaboradora)
Jennifer Carmona (colaboradora).

Contribuições de:
Ana María Durán Calisto, Carlos Segura, EcoCiencia (Fundação Ambiental), Emiliano Teran Mantovani (sociólogo), Helena Carpio (jornalista ambiental), Instituto del Bien Común (associação civil ambiental), Luis Felipe Gottopo (antropólogo), Luisa D’Angelo (bióloga), Nelifred Maurera Graterol (geógrafo), Ricardo Avella (arquiteto), SOSOrinoco (grupo de defesa), Wataniba (grupo socioambiental).

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

No Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, o programa Mais Favela, Menos Lixo demonstra que transformações podem nascer do esforço coletivo. Criado em 2022 diante da demanda da comunidade por melhorias no manejo do lixo, o projeto vem se edificando com a força de moradores, estudantes da Escola de Arquitetura da UFMG e parceiros locais, como o Projeto Itamar, a Igreja Metodista, a Cerâmica Santana e o Roots Ativa. A iniciativa articula saberes populares e técnicos para enfrentar o manejo precário dos resíduos sólidos. A iniciativa afirma a favela como potência, território de invenção, autonomia e liderança
As ações são desenvolvidas a partir de disciplinas de extensão que conectam os estudantes à realidade local. Com mais de 50 projetos realizados, as frentes de atuação incluem a criação de mobiliários urbanos, estratégias de divulgação, manejo de entulho e agricultura urbana. Uma das soluções mais notáveis é a instalação de mais de 800 ganchos personalizados para suspender os sacos de lixo até a coleta, uma medida que protege rios e matas da poluição e do assoreamento.
O projeto também requalifica espaços com hortas e pomares, promove compostagem e o reaproveitamento de materiais. Outras intervenções incluem a criação de jogos educativos sobre a gestão de resíduos da construção civil e a pintura do “Mapão do Serrão”, um mural informativo na Escola Municipal Professor Edson Pisani. Além, para fortalecer as relações comunitárias, são realizadas oficinas de cerâmica e sessões de cinema em locais antes utilizados para descarte de lixo e entulho.
O projeto já ultrapassou as fronteiras do bairro, levando suas práticas e experiências a eventos no Brasil e no exterior, consolidando-se como referência em autogestão comunitária e sustentabilidade. Com seis prêmios nacionais e internacionais, acumula reconhecimentos que reforçam sua relevância. Entre eles, o segundo lugar no Prêmio de Boas Práticas Urbanas do CAU-MG. Uma conquista de impacto para a comunidade e para a Escola Municipal Professor Edson Pisani, parceira central da iniciativa, foi sua contribuição para que a escola fosse eleita a melhor do mundo pelo voto popular e uma das três melhores na categoria Colaboração com a Comunidade pela T4 Education. Premiações, reportagens e apresentações acadêmicas, do Jornal Nacional a conferências no México, Copenhague e Montevidéu, ampliam a visibilidade das ações e evidenciam suas contribuições para o campo da arquitetura e do urbanismo e para o enfrentamento da crise do lixo. Agora, o projeto chega à Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, reafirmando que a cidade do futuro se constrói a partir da força das comunidades que a habitam.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Localizado na praia de Itapororoca, em Trancoso, Bahia, o projeto resgata elementos característicos das casas coloniais brasileiras onde grandes beirais e varandas que circundam a construção são espaços de transição, sombra e convívio. Essa lógica espacial também é encontrada em Brasília, onde os palácios governamentais, alguns de seus edifícios mais importantes, possuem generosas coberturas que estruturam a relação entre edifício e paisagem.

A Casa Itapororoca une essas características em uma construção rápida e leve com 80% de construção seca e com o mínimo possível de extração vegetal. Foi utilizada uma modulação ortogonal de 360cm x 360cm que define a “grelha” do sistema estrutural de madeira laminada colada (MLC) de Pinus. A modulação estrutural, por sua vez, orienta a compartimentação dos espaços internos. A Casa Itapororoca propõe um exercício de inserção cuidadosa em território costeiro sensível, cuja ocupação é regulamentada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Implantado em um terreno com declive de 3 metros e a 30 metros de distância de uma falésia, o projeto aproveita sua condição topográfica para articular o programa da casa em uma construção semienterrada, integrando-a ao perfil natural do lote. Dessa forma, a partir da cota de acesso a construção se apresenta com um único pavimento, enquanto na face voltada para o mar, ela revela seus dois níveis.

Tanto as áreas sociais quanto os dormitórios da casa são voltados para o sol nascente e a vista para o mar da Bahia, garantindo insolação adequada e ventilação natural constante.

Implantação do projeto: India
Desenvolvimento do projeto: India

Reconstruindo a Resiliência contra Enchentes: Saraswati Vidyalaya, Kelthan

A Saraswati Vidyalaya é uma escola governamental rural extremamente econômica, situada às margens do rio Tansa, que educa 180 alunos do 8º ao 10º ano na aldeia tribal de Kelthan, em Palghar, Maharashtra. Sofrendo com a fúria da natureza, a escola ficou parcialmente submersa nas enchentes de 2019, o que causou danos irreparáveis à sua infraestrutura, tornando-a perigosa para alunos e professores ocuparem o local.
A jornada de Reconstrução da Resiliência começou em 2020, quando os arquitetos, junto com uma ONG local, decidiram intervir por meio de um processo participativo com professores e alunos da escola. Propôs-se que a escola fosse construída em duas fases, garantindo as aulas regulares durante a construção e, ao mesmo tempo, facilitando a captação de recursos.
A escola redesenhada, planejada com extrema sensibilidade ao clima e ao contexto regional, incorpora estratégias solares passivas. Proposta no canto nordeste do terreno de 1 acre (cerca de 4.000 m²), a forma construída ajuda a maximizar o campo de jogos da escola. A escola é elevada sobre palafitas para oferecer a menor resistência possível às águas das enchentes. O primeiro andar da Fase 1 possui três salas de aula bem iluminadas e cross-ventiladas com telhado de iluminação zenital (North-light), junto com uma sala dos professores, um vestiário feminino e banheiros. Essas salas de aula avistam a colina Mandakini e os campos de arroz exuberantes, um deleite visual para os alunos. A cozinha comunitária fica no térreo, servindo refeições diárias aos alunos. O plano térreo elevado tece um espaço social multifuncional, hospedando atividades escolares, reuniões comunitárias, postos médicos e campanhas de conscientização.
Uma paleta de materiais de origem local ajudou a alcançar um custo de construção inacreditável de Rs. 1200 por pé quadrado (aproximadamente US$ 13.5 por pé quadrado), garantindo uma baixa pegada de carbono para a construção. Com uma estrutura de concreto, o corpo desta escola sustentável é construído com tijolos vermelhos cozidos localmente, assentados em ligação Rat-trap (que cria uma câmara de ar dentro da parede). Isso reduz a quantidade de tijolos, ao mesmo tempo que fornece isolamento térmico para as salas de aula. Jalis (treliças) de tijolo em locais estratégicos atuam como filtros visuais e também garantem a flow de brisa. A técnica de laje Filler-Slab foi usada no térreo, na qual discos de barro artesanais locais são inseridos em um padrão de teto livre, reduzindo a quantidade de concreto enquanto adiciona estética vernacular. O piso de pedra indiana reciclada, usando pedras de descarte obtidas gratuitamente de fornecedores locais, foi usado para assentar o térreo, em um padrão inspirado no meandro do rio Tansa. Painéis isolantes puff no telhado garantem que as salas de aula permaneçam termicamente confortáveis durante todo o ano. Painéis solares montados no telhado tornam a escola com balanço energético zero (net-zero), autossuficiente em suas necessidades de energia. A fachada da escola, imaginada como uma interface biofílica, tem vasos verdes como um elemento de design importante, mantidos pelos alunos da escola. O espaço aberto ao redor foi parcialmente usado pelos alunos para cultivar vegetais sazonais, usados nas refeições diárias. Os alunos, junto com seus pais agricultores, contribuíram para a construção através do shramdaan (doação de trabalho), com treinamento prático em técnicas alternativas ministrado pelos arquitetos, agregando habilidades aos locais.
A Saraswati Vidyalaya tornou-se agora um exemplo de como as escolas rurais podem ser repensadas e construídas de forma sensível, econômica e ainda assim esteticamente bela. A Fase 1 gerou um imenso impacto social, com um aumento no número de matrículas, encorajando os pais tribais em situação de vulnerabilidade a exercerem seu direito à educação. Um esforço para elevar e capacitar o local, através do local e com o local.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Arquitetura na Periferia atua desde 2013 com assessoria técnica junto a mulheres em comunidades periféricas, a partir de um método baseado no compartilhamento de saberes, na cooperação e no fortalecimento da autonomia. Reconhecendo o protagonismo das mulheres em seus territórios, a iniciativa contribui para que o planejamento e a produção do espaço sejam instrumentos de enfrentamento às desigualdades urbanas e aos efeitos da crise climática, cada vez mais intensos nas periferias. Em 2023, o projeto AnP BIO surgiu com o objetivo de aplicar os princípios norteadores da assessoria técnica da AnP na recuperação de espaços comunitários, utilizando técnicas de baixo impacto ambiental e soluções baseadas na natureza.
O projeto que compõe a exposição foi realizado no Centro Cultural da Ocupação Paulo Freire, em Belo Horizonte. A experiência reuniu mulheres em um ciclo formativo que articulou rodas de conversa e estudos sobre culturas construtivas não colonialistas de povos latino-americanos, africanos e indígenas, oficinas de cocriação, visitas de campo, oficinas mão na massa e mutirões abertos à comunidade. O grupo projetou coletivamente as melhorias necessárias e executou as intervenções com terra, bambu e reaproveitamento de materiais. Entre as transformações, destacam-se: reboco e pintura de terra na fachada, piso de terra nas salas, forro de bambu, banco de taipa de pilão na área de convivência externa, a reutilização de cerâmicas para o revestimento do banheiro e a construção de um telhado verde. As participantes também incorporaram os Adinkras às paredes, resgatando esses símbolos, originários da África Ocidental, como gesto de afirmação de identidades e resistência.
Mais do que a recuperação física do espaço, a experiência ressignificou o território e ampliou o imaginário coletivo sobre o que significa construir a partir da natureza e dos recursos disponíveis. Ao devolver às mulheres o poder de criar seus próprios espaços, o projeto gera uma rede de transmissão de saberes que se expande para além do canteiro, influenciando práticas cotidianas e futuros possíveis para a comunidade.
A arquitetura realizada com materiais naturais e técnicas milenares em territórios urbanos periféricos traz desafios importantes. Enfrentar o estigma que associa o uso da terra à precariedade e adaptar essas práticas a áreas densas, com lotes reduzidos e construções pré-existentes, exige inventividade. O método proposto pela AnP BIO, aberto e construído junto às moradoras, permite que esses limites se transformem em criatividade e experimentação coletiva, revelando o caráter transformador da prática.
Ao conectar arquitetura e ecologia política, a experiência mostra que transformar o espaço é também um ato de resistência e afirmação de direitos. A reforma do Centro Cultural Paulo Freire tornou o espaço mais acolhedor e resiliente e, sobretudo, apontou caminhos para enfrentar a emergência climática a partir da autogestão, do cuidado e da força coletiva das mulheres.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Conexão Água é um curta-documentário que parte da presença invisível do córrego Água Preta, soterrado sob camadas de concreto em São Paulo, para revelar como a água insiste em criar conexões – territoriais, ambientais e humanas – mesmo em contextos de apagamento. O filme atravessa diferentes cenas em que a água se torna protagonista: a nascente que resiste e alimenta um lago comunitário; a aula realizada numa viela, em que estudantes se deparam com um rio que corre oculto sob seus pés; a realidade cotidiana de moradores em situação de rua que, privados de teto, estão também privados de torneira.

Entre São Paulo e Buenos Aires, entre a escassez e a abundância, o documentário revela como a água expõe desigualdades, mas também abre possibilidades de encontro, cuidado e imaginação coletiva. A câmera acompanha experiências artísticas e ambientais do coletivo (se)cura humana, que desde 2015 atua em São Paulo com performances, instalações e intervenções urbanas voltadas para a visibilidade das águas soterradas, a criação de espaços comunitários e a reivindicação do direito à cidade e à natureza. Obras como Lago da Travessa, Torneira da Travessa e Parque Aquático Móvel estão presentes na Ocupação (se)cura, um território vivo na Travessa Roque Adóglio, bairro da Vila Anglo Brasileira, onde o filme ganha grande parte de sua força poética e política.

Conexão Água propõe uma fabulação crítica: e se reconhecêssemos rios e águas como sujeitos de direitos, capazes de reorganizar a vida coletiva e o desenho urbano? Nesse sentido, o curta documenta práticas comunitárias e se insere como gesto de arte-ativismo, tensionando as fronteiras entre cinema, performance, urbanismo e pedagogia ambiental.

Autores
Flavio Barollo é videoartista, performer e cofundador do coletivo (se)cura humana. Em sua filmografia estão as obras Cidades Utópicas em um Futuro Ancestral (2025); Conexão Água (2024), selecionado no Festival Suncine Barcelona; P.A.R.E.L.H.A – Um olhar sobre a realidade (2024); Deserto SP (2023); Vou contar uma história que nem sei como comece (2021); Liberdade Liberdade (2021); Tá Tudo Treta e a Poesia Rege (2020); Meu corpo, Minha Fronteira (2020); Brasil de Tijolo (2015); (se)cura humana, o filme (2015); Loberia (2015); Véio (2010), vencedor do Júri Popular no Festival de Cascavel; e O Sangue pelos Filhos (2009).

Wellington Tibério é músico, educador, geógrafo e cofundador do coletivo (se)cura humana. Doutorando na FFLCH-USP, atua como professor na rede escolar e em projetos comunitários, articulando práticas de ensino, arte e ecologia urbana. No (se)cura humana, desenvolve aulas-performance em territórios atravessados pela água, integrando conhecimento científico, saberes locais e experiência artística e ativista. É autor do ensaio ÁGUA E URBANISMO: AÇÕES ARTÍSTICAS PARA UMA CIDADE (IM)POSSÍVEL, publicado na revista Redobra da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Localizado no litoral de São Paulo, o estudo foi encomendado por um cliente que mantém um pequeno estaleiro na região, dedicado à reforma de barcos de pesca em madeira. A demanda era por uma cobertura ventilada capaz de abrigar pranchas de surfe e canoas fora de uso, ferramentas de paisagismo e servir, eventualmente, como espaço de apoio para encontros e reuniões informais.

O desenho se apoia no conhecimento técnico e na mão de obra local, que se encarrega não apenas da montagem da cobertura, mas da própria concepção e execução das peças em madeira. Boa parte do material utilizado é proveniente do estoque de madeira de reuso do próprio estaleiro, com destaque para elementos que já trazem consigo marcas de cortes anteriores, tempo e maresia.

A estrutura é formada por pórticos treliçados em madeira serrada, montados com técnicas similares às empregadas em cascos de embarcação. Estes pórticos se apoiam sobre sapatas de concreto, que em alguns pontos emergem do solo para garantir a estabilidade do conjunto. As treliças avançam para sustentar telhas metálicas galvanizadas, dispostas com espaçamento regular que permite a entrada de luz natural e favorece a ventilação cruzada, ao mesmo tempo em que assegura proteção contra chuvas.

O acabamento das peças é feito com óleo natural pigmentado, aplicado em camadas finas com pano e pincel, um método artesanal que contribui para a preservação da madeira em ambientes úmidos e salinos, sem criar barreiras impermeáveis ou comprometer a leitura de sua textura original.

A implantação respeita o piso já existente no terreno, reorganizando sua ocupação sem descaracterizá-lo. O projeto se articula como desdobramento direto da rotina de trabalho do contratante e sua família, integrando o conhecimento da carpintaria naval ao campo da arquitetura. Ao estabelecer essa ponte, a construção revela a potência de soluções simples e bem executadas, enraizadas no “saber-fazer” local e nas especificidades do território em que se insere.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Projeto para a fazenda Terra Nostra previa definir a localização da casa sede, assim como os edifícios de apoio para atividades de uma pequena produção de queijos em um terreno montanhoso. A 1530m de altitude, ao lado do Parque Nacional da Serra da Bocaina, a amplitude do horizonte e imensa.

Corre no limite do terreno, o rio Paraitinga, ainda cristalino, logo depois de nascer. Esse rio vai em direção a São Paulo e logo se junta ao Paraibuna, quando então passa a se chamar Paraíba do Sul. Acontece que na cidade de Guararema esse rio inverte sua rota e gira para o norte, uma espécie de caminho de volta: o Vale do Paraíba, que separa as cadeias montanhosas da Bocaina e da Mantiqueira e vai ao encontro do Rio de Janeiro.

Desse terreno se observa toda essa geografia, todo o vale e, ao fundo, a próxima montanha, a Mantiqueira. Diante dessa vastidão, decidimos nos ater a uma paisagem específica do lugar, onde acreditamos fazer sentido a construção de uma casa. No meio do capinzal inclinado há uma única arvore, nascida sobre uma rocha, que baliza o desenho da casa.

Pensou-se uma estrutura leve, elevada delicadamente sobre o solo, permitindo que o terreno mantenha seu curso natural e preservando uma leitura contínua do vale. Construída em madeira laminada colada (MLC), a estrutura se conecta ao terreno por meio de uma passarela estreita, posicionada precisamente ao lado da árvore e sua pedra. A presença material da árvore e da rocha introduz uma escala humana à imensidão da paisagem. É por meio desse contraste que o lugar se forma.

A estrutura é de geometria arqueada, referindo-se à esse elemento marcante da paisagem e às curvas de nível naturais do terreno, mas, também, torna-se uma forma inteligente para resistir aos esforços horizontais dos ventos na altitude com o mínimo de consumo de madeira e travamentos metálicos. A paisagem dá forma ao projeto e sua forma é sua estrutura.

Menos madeira significa, também, menos material para ser deslocado até o terreno de difícil acesso: toda a estrutura foi produzida em ambiente controlado de fábrica em colaboração com João Pini e equipe da ITA Engenharia em Madeira, que foram responsáveis pelo projeto estrutural, fabricação e subsequente montagem no local por uma equipe de carpinteiros especializados.

Procuramos captar a essência do lugar de implantação, ao mesmo tempo que introduzimos um evento de alta engenharia em madeira na paisagem rural. Como objeto visto à distância, qualifica-se como uma obra que testa os potenciais espaciais e construtivos da pré-fabricação em estruturas de madeira. Vista de perto, a casa ancora-se em uma pedra existente com o mínimo de interferência no terreno e reconhece na arquitetura local dos casebres de telhas cerâmica e madeira sua linguagem.

Desenvolvimento do projeto: Turquia

O título “Design for Disaster” é emprestado de um vídeo sobre os incêndios de Los Angeles. Já na década de 1960, incêndios florestais moldavam a cidade – então entendidos como exceções. Hoje o cenário se repete com regularidade alarmante. O desastre não mais aparece como interrupção, mas como um padrão cíclico inscrito na vida urbana. “Design for Disaster” aborda este duplo horizonte: a história da catástrofe e da reconstrução por um lado, e a questão da arquitetura em um estado permanente de emergência por outro.

Os terremotos de 2020 e 2023 na Turquia e na Síria revelaram um paradoxo. Milhões perderam suas casas – ainda assim, apenas após três anos é que abrigos de alumínio apareceram em escala. Ao mesmo tempo, distritos de arranha-céus surgiram em velocidade recorde – não para sobreviventes, mas como projetos imobiliários especulativos. O desastre assim se torna um motor do capital.

O modelo 1:20 apresentado na Bienal reflete esta contradição. Leves, resistentes ao fogo e a terremotos, estas casas prometem soluções rápidas, mas na prática permanecem tardias, temporárias e precárias. Paul Virilio chamou isso de política do acidente: “Com cada invenção, inventamos também seu acidente”. O abrigo é tanto um espaço de proteção quanto um símbolo de fragilidade – uma estrutura assombrada pela própria catástrofe que busca resistir.

A percepção de Virilio ressoa com a tese de Giorgio Agamben de que o estado de exceção tornou-se a regra. Na Turquia, isso é visível no deslocamento tardio: abrigos são fornecidos apenas quando a provisionalidade em si se torna permanente. A filosofia cultural de emergência de Peter Sloterdijk descreve sociedades como sistemas imunológicos vulneráveis. A arquitetura torna-se um aparato imunológico – mas a imunidade é distribuída de forma desigual: torres surgem, sobreviventes permanecem em campos. A teoria relacional do espaço de Martina Löw enfatiza que o espaço nunca é neutro, mas socialmente produzido. Estas casas não são abrigos neutros, mas cristalizações de geografias de crise.

Da Anatólia a Los Angeles, o padrão se repete: reconstrução acelerada aqui, socorro tardio ali. O desastre não é mais excepcional, mas – como escreveu Virilio – a face oculta do progresso.

“Design for Disaster” encena esta ambivalência. O modelo esquelético não é uma solução, mas uma questão: a resiliência pode ser projetada – ou estamos meramente construindo monumentos para o acidente?

Implantação do projeto: China
Desenvolvimento do projeto: China

“Uma revolução que não produz um novo espaço não realizou todo o seu potencial.” — Henri Lefebvre

O século XXI revelou os limites estruturais da urbanização impulsionada pelo crescimento. A expansão industrial e o desenvolvimento contínuo trouxeram degradação ambiental, escassez de habitação e desigualdade crescente. Esses desafios são sistêmicos, não temporários.

Future Urban Landscapes é um estúdio de design que examina essas condições através da lente da região periurbana de Wenzhou, China. As descobertas destacam como esses territórios — onde fábricas, armazéns, dormitórios e habitações informais se interseccionam — são simultaneamente altamente produtivos e socialmente segregados do ambiente local. Trabalhadores migrantes, parte da População Flutuante da China de 380 milhões, sustentam a indústria, mas permanecem excluídos de várias formas de habitação formal, serviços e vida cívica, conforme mediado pelo sistema Hukou.

O trabalho é central para essa condição. Ele estrutura tanto a economia local quanto as múltiplas comunidades que cuidam dessas paisagens. A periferia torna visível essa fissura, entre migrante e local, cidadão rural e urbano, onde habitações superlotadas e infraestrutura precária coexistem dentro de uma atividade econômica vital.

À medida que a migração continua a se intensificar nessas regiões nas próximas décadas, essas periferias de chegada só crescerão em importância. Esta exposição convida a uma reconsideração de seu papel — não como zonas negligenciadas de produção, mas como potenciais centros por direito próprio. Locais que podem ser projetados para inclusão, resiliência e novas formas de vida coletiva no futuro urbano da China.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil, Suíça

Mãe Luiza ocupa um lugar único na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, por sua localização geográfica e pelo lugar político e social que ocupa sua comunidade. Bairro criado por um processo de autoconstrução e densamente habitado, é ocupado em sua maioria por casas de alvenaria, organizadas por uma estrutura urbana bem definida: um eixo norte-sul forma a espinha dorsal do bairro pelas ruas João XXIII e Sabino Gentili; ruelas transversais cruzam o eixo principal e se encontram com um sistema viário paralelo, organizado pelas ruas Guanabara e Camaragibe. Ao final desta encontra-se o Farol de Mãe Luiza e o ginásio poliesportivo Arena do Morro, inaugurado em 2014.

O edifício é símbolo da realização de um projeto de desenvolvimento elaborado pela comunidade ao longo de sua trajetória por inclusão social e melhoria de suas condições espaciais, e estruturado nos anos 1980 com a chegada do padre italiano Sabino Gentili, que funda o Centro Socio Pastoral Nossa Senhora da Conceição [CSPSNC], entidade civil de caráter filantrópico, espaço de discussão da comunidade para responder aos muitos desafios que enfrentavam. Uma rede de apoiadores se forma em torno do CSPSNC, desenvolvendo atividades de educação e assistência a jovens e idosos.

Arquitetonicamente, é um edifício emblemático. Constituído de poucos elementos, configura-se como uma imensa cobertura branca, sustentada por pórticos que se apoiam sobre o solo único pavimentado. Um terceiro elemento completa o conjunto: uma envoltória sinuosa que se desenrola entre os outros, fazendo além da mediação entre eles, aquela entre o interior e exterior. Os elementos vazados de concreto que a compõem, mais do que um elemento construtivo, representam sua identidade; configuram os fechamentos internos e externos do projeto, e pode ser considerado a aplicação mais completa da forma herzogdemeuroniana de trabalhar.

Primeira obra de Herzog & de Meuron no Brasil, traz dois conceitos fundamentais na produção do escritório: a experimentação material por meio de ensaios com modelos e protótipos como parte do desenvolvimento do projeto, e a transformação de elementos construtivos tradicionais por meio de operações que, além de alterarem sua aparência física, sua forma de uso e aplicação, introduzem novos métodos de produção.

Ao longo dos anos tornou-se um centro comunitário que extrapola as atividades educativas e esportivas, abrigando os principais eventos coletivos, culturais e sociais do bairro, como lugar de debates e celebrações. A dimensão política da existência e trajetória de Mãe Luiza é notável em sua prática comunitária de participação e gestão popular. O alcance e a expansão de suas ações aponta um caminho possível para outras comunidades e representa um novo paradigma não só para o trabalho arquitetônico em áreas de vulnerabilidade urbana, social e ambiental, mas também para formas de gestão compartilhada, em prol da igualdade, inclusão e por formas de desenvolvimento urbano mais justos e inclusivos.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Em 2014, a nova diretoria do MASP deu início a uma série de intervenções com o objetivo de adequar as instalações ao aumento do número de visitantes e recuperar os princípios fundamentais da arquitetura do edifício sede. Um dos principais desafios foi adaptar o edifício às normas de segurança contra incêndio, respeitando sua materialidade e valor histórico.

A solução adotada garante uma rota de fuga protegida contra fogo e fumaça por até 120 minutos, atendendo às exigências do Corpo de Bombeiros. O projeto incluiu a compartimentação da escada entre o térreo e o segundo pavimento, por meio de um sistema de esquadrias de aço e vidro resistentes ao fogo; a separação entre o primeiro e o segundo pavimentos por uma aba vertical que impede a propagação de fumaça e chamas; a reversão do sistema de ar-condicionado para funcionar como exaustão de fumaça; e a abertura de caixilhos do tipo tombar nas duas fachadas principais para permitir a entrada de ar externo.

As ações de restauro da estrutura de concreto dos pórticos externos e da laje de cobertura do vão livre aprofundaram a discussão sobre o restauro do concreto aparente no edifício sede, iniciada anteriormente com a intervenção nas fachadas para a instalação dos módulos de tombar. Todas essas intervenções tiveram como premissa a preservação das características originais do concreto histórico — textura, cor e paginação das formas — e foram precedidas por testes que validaram as soluções adotadas. No caso dos pórticos, também foram realizados ensaios laboratoriais para avaliar a durabilidade e o nível de proteção conferido à estrutura de concreto com a aplicação da pintura.

O projeto arquitetônico da reforma e ampliação do novo edifício e de sua conexão subterrânea com o da sede do MASP, propôs a demolição parcial da estrutura existente e a construção de nova estrutura sob a Avenida Paulista, permitindo a integração funcional plena do conjunto, tanto técnica como de público. A construção aumentou a área do museu em mais de 7mil m², com andares de galerias, salas de aula, reserva técnica, laboratório de restauro, restaurante, loja e áreas de eventos, ampliando as atividades realizadas hoje e a capacidade de recepção de visitantes.

O edifício é um prisma retangular regular com o térreo transparente, de acesso público. Uma pele em metal perfurado unifica as fachadas e permite o controle de iluminação e temperatura exigido para a exibição de obras de arte. Os sistemas de climatização, iluminação e segurança empregam as mais avançadas tecnologias disponíveis para museus. Os materiais utilizados : concreto aparente, aço, vidro e pedra, e os sistemas industrializados, permitem a configuração de espaços adequados aos padrões museológicos contemporâneos e fazem referência às características do MASP, garantindo a integração do conjunto.

O acesso dos visitantes é possível tanto pela Rua Professor Otávio Mendes – onde estão localizados a bilheteria e a loja do museu – quanto pela Avenida Paulista, onde o público terá acesso aos serviços de um restaurante/café. O primeiro andar conta com uma área multifuncional para receber exposições e eventos, e um terraço com vista para o Edifício Lina Bo Bardi. Os espaços dedicados a exposições ocupam 5 andares com pé-direito de 5 metros. São áreas flexíveis, que podem ser adaptadas a cada projeto expositivo.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Escola no Morro da Providência é o nome dado à escola localizada no primeiro morro de moradia informal do Brasil e surge como expansão da Casa Amarela, importante centro educacional e agente comunitário local. O projeto se dá pela relação entre dois espaços: A Escola + A Oficina-Escola. A primeira surge com o objetivo de ampliar as atividades educacionais e culturais já existentes na Casa Amarela com pedagogia e prática de reconhecimento da cultura afro-brasileira. O segundo, permite a experimentação construtiva a partir da produção do btc (bloco de terra compactada), possibilitando maior isolamento térmico, incluindo a assistência de moradores nesta produção, além de fundamental reconexão com a terra, após anos de extrativismo da pedreira local que destruiu grande parte do Morro.

A construção de 400m2 se dá em quatro níveis para múltiplas atividades educativas. No acesso ao térreo inferior, há um salão multiuso para atividades como dança afro e capoeira. No térreo, uma praça controlada e acessível ao público permite abertura para a rua ao mesmo tempo que se conecta ao prédio onde é possível acessar a sala dos educadores e dos kekerês (em yorubá, crianças de 3 a 7 anos de idade). A proposta privilegiou as áreas de serviço nas extremidades enquanto que as salas, divididas pelo centro do espaço, podem se expandir, permitindo a flexibilidade do encontro em grupo. No segundo nível, compartilham a mesma sala os erês (em yorubá, crianças de 8 a 13 anos de idade) e os somodês (em yorubá, jovens de 14 a 21 anos de idade) dividindo espaço com a sala das mulheres independentes da providência (MIP – grupo de mulheres que fazem parte do curso técnico promovido pela escola). Todos os espaços são flexíveis e possuem banheiro e depósito para materiais doados, conectados por uma varanda em todos os níveis. O acesso vertical se dá por uma escadaria circular que faz a ponte entre a praça, as salas e o terraço onde é possível contemplar o panorama da cidade. A construção da estrutura em concreto foi uma decisão pela similaridade com o que se faz no entorno, empregando trabalhadores locais e permitindo que os recursos fossem investidos nos próprios moradores do Morro. As paredes de bloco de terra, no entanto, foram escolhidas de forma a exercitar uma outra prática de construção – ainda desconhecida no entorno – mas que possui impacto pela possibilidade de introduzir uma forma construtiva menos extrativista e poluente. Foi a partir desta experimentação que foi possível empregar desenhos em alguns dos módulos, possibilitando um outro corpo à arquitetura por meio de narrativas que evocam o simbolismo de plantas locais e ervas medicinais através de impressões na terra.

A arquitetura, por meio de um sistema construtivo acessível, que permite a autoconstrução, a economia circular local e a autonomia de construtores e moradores, surge para restabelecer uma relação com o morro, a favela e seus residentes ao unir o território coletivo da escola com a plasticidade da terra.

E se a vegetação proliferasse em nossas cidades, transformando-as em verdadeiras florestas ricas em flora? Quais seriam os ecossistemas urbanos resultantes? The Green Dip, um projeto de pesquisa em andamento conduzido por The Why Factory na Universidade de Tecnologia de Delft, é um manifesto visual que especula sobre soluções de esverdeamento para cidades e imagina estratégias arquitetônicas para incorporar vegetação em edifícios.

O Green Dip envisions uma floresta urbana mundial — de Pequim a Singapura, Dubai, Moscou, Kinshasa, Paris, Nova York ou São Paulo. Ele sugere um banco de dados de espécies de plantas para designers incorporarem facilmente em seus edifícios e sonha com um software para auxiliar nesse processo.

O Green Dip adota uma perspectiva global, entendendo que diferentes climas proporcionam ambientes específicos para espécies nativas prosperarem. Ele apresenta um método para calcular benefícios ambientais e estimar os impactos planetários do esverdeamento em nossas cidades.

Em meio à emergência climática, The Green Dip é um manifesto para reintroduzir a natureza em nossos lares e transformar nossa relação com o meio ambiente. Ele demonstra que a agricultura, a silvicultura e a produção orgânica podem catalisar abordagens alternativas à urbanização.

O Green Dip é a primeira parte de uma trilogia de publicações focada na integração da natureza e da cidade. Será sucedido por BiodiverCity, que examinará a integração da fauna no ambiente construído, e Biotopia, dedicado a projetar inteiramente com a natureza.

Assim como todas as outras publicações anteriores de The Why Factory, The Green Dip é feito de trabalho estudantil — não científico. Este livro é o resultado de especulação de design com fins educacionais.

Estamos ficando sem tempo. Independentemente das preposições que escolhermos, é hora de projetar com, para e como a natureza.

Sobre os autores

Winy Maas
Winy Maas é o Diretor de The Why Factory e Sócio Fundador e Arquiteto Principal da MVRDV. Ele recebeu aclamação internacional por sua ampla gama de projetos de planejamento urbano e construção, em todas as tipologias e escalas. Na The Why Factory da TU Delft,
Maas desafia os limites dos padrões estabelecidos para produzir soluções que reimaginam como vivemos, trabalhamos e nos divertimos. Além de seu dedicado papel de liderança na MVRDV e professorado na TU Delft e em outros lugares, Maas é amplamente publicado, está ativamente engajado no avanço da profissão de design e integra inúmeros conselhos e júris.

“Eu defendo cidades mais densas, mais verdes, mais atraentes e habitáveis, com uma abordagem de design que se concentra em ideias inovadoras e sustentáveis ​​definidas pelo usuário para o ambiente construído, independentemente da tipologia ou escala.” – Maas

Javier Arpa Fernández
Javier Arpa Fernández é professor, pesquisador, autor e curador de arquitetura e urbanismo. Tendo concluído um Mestrado em Ciências em Arquitetura na Universidade de Tecnologia de Delft, Javier é especializado na disseminação da prática de arquitetura e urbanismo. Javier foi o Coordenador de Pesquisa e Educação de The Why Factory e o Curador de Programas Públicos da Faculdade de Arquitetura da TU Delft. Javier dá palestras públicas e participa de colóquios em todo o mundo. Javier foi professor na University of Pennsylvania, Crítico de Design na Harvard GSD, Professor Adjunto na Columbia GSAPP, Professor Visitante na ENSA-Belleville e na ENSA-Versailles. Foi Editor Adjunto da Domus Magazine e Editor Sênior do grupo de pesquisa a+t. É coautor da série “Density”, “Hybrids”, “Civilities”, “In Common” e “Strategy” da a+t, e do volume “The Public Chance”.
Foi curador da exposição Paris Habitat, sobre um século de habitação social em Paris, realizada em 2015 no Pavillon de l’Arsenal em Paris, e autor da monografia “Paris Habitat: One Hundred Years of City, One Hundred Years of Life”.

Adrien Ravon
Adrien Ravon é arquiteto e acadêmico. Em setembro de 2011, ele se juntou à The Why Factory na Faculdade de Arquitetura e Ambiente Construído da TU Delft. Ele participou de projetos de pesquisa e educação, foi responsável pela produção de ferramentas de design digital e colaborou ativamente na disseminação pública de ideias sobre a cidade do futuro. Ele coescreveu as publicações da Future Cities Series de The Why Factory: Barba, Life in a Fully Adaptable Environment (2015), Copy Paste, the Badass Copy Guide (2017), PoroCity, Opening up Solidity (2018), Le Grand Puzzle, Manifesta 13 Marseille (2020), (w)Ego, Dream Homes in Density (2022).
Colaborou com inúmeras instituições internacionais, incluindo ETH (Zurique), KTH (Estocolmo), GSAPP (Nova York), IAAC (Barcelona), Centre Pompidou (Paris), Dutch Design Week (Eindhoven), Manifesta 13 (Marselha) e Mori Art Museum (Tóquio).
Adrien trabalhou como arquiteto e consultor para empresas na Argentina, França e Holanda.

Implantação do projeto: Espanha
Desenvolvimento do projeto: Espanha

Perante o avanço das alterações climáticas, as comunidades costeiras enfrentam uma encruzilhada: proteger o litoral de forma proativa tornou-se essencial para garantir vidas, património e ecossistemas. As soluções tradicionais, como diques ou quebra-mares, embora eficazes, implicam fortes impactos ambientais e sociais, restringindo usos comunitários e alterando a paisagem. Torna-se, assim, necessário explorar alternativas mais sustentáveis e integradas.

É neste quadro que surge o LIFE COSTAdapta, nas Canárias, território profundamente ligado ao mar. O projeto propõe soluções brandas e progressivas, menos agressivas que as defesas rígidas, reforçando mecanismos naturais de autoproteção costeira. Inspirado na imunoterapia médica, defende-se uma “imunoterapia costeira”: trabalhar com a natureza e potenciar a sua resiliência.

A proposta central é a criação de charcos de maré artificiais, recifes em betão ecológico com geometrias adaptativas, que funcionam como barreira contra a subida do nível do mar e como espaço social. Reduzem a energia das ondas, limitam a erosão e oferecem habitat a espécies marinhas. Com diferentes profundidades, permitem o banho, a educação ambiental e a investigação científica.

A equipa multidisciplinar prevê a construção de um protótipo em escala real na costa norte de Gran Canaria, em San Felipe, onde habitações estão em risco devido ao avanço do mar. O processo incluiu análises ambientais, estudos paisagísticos e participação cidadã, envolvendo moradores e surfistas para assegurar que a intervenção respeite os usos locais e a dinâmica das ondas.

O projeto valoriza também o papel cultural dos charcos de maré, presentes historicamente como pesqueiras, salinas e espaços de lazer. Hoje são símbolos de identidade coletiva e demonstram como pequenas intervenções podem coexistir em harmonia com a natureza. Ao reinterpretá-los, o LIFE COSTAdapta amplia a função da arquitetura para um ativismo ambiental e social.

Em síntese, o projeto procura provar que intervenções suaves podem ser eficazes e sustentáveis, criando um ecossistema híbrido que é ao mesmo tempo barreira, habitat, paisagem e espaço comunitário. Assim, contribui para um litoral resiliente, preparado para enfrentar os efeitos da crise climática.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Arquipélagos do Rio Mar investiga as mudanças ambientais na bacia do Rio Amazonas, no Brasil, com foco na documentação e análise dos arquipélagos fluviais ameaçados a desaperacer devido às alterações climáticas. A pesquisa busca compreender as dinâmicas dessas ilhas, olhando para seus processos e condições específicas como elementos fluidos em meio à floresta tropical. O trabalho organiza uma narrativa gráfica dividida em três escalas de análise, registrando suas transformações desde a dimensão regional até à local, a partir de dois estudos de caso extremos. Estes evidenciam a complexa relação entre os assentamentos humanos e as paisagens do Rio Amazonas, fundamentais como fonte de alimentação, transporte e subsistência.

A primeira abordagem propõe uma análise da “escala territorial”, localizando os arquipélagos no conjunto da paisagem amazônica por meio de mapas, relatórios e notícias. A segunda oferece uma leitura da “escala local”, abordando dois casos: o Arquipélago de Anavilhanas, ameaçado pela seca, e o de Marajó, sob risco de inundação pela elevação do nível do mar, através de cartografias aproximadas e um trabalho de campo. Por fim, a terceira abordagem apresenta a “escala empírica”, revelando as adaptações desenvolvidas por comunidades locais e documentando as indicações físicas das mudanças climáticas por meio de desenhos analíticos, imagens e entrevistas.

O resultado é a organização de um atlas de transformação, criando registros visuais e representações que evidenciam a interdependência entre comunidades e paisagens locais — e como suas dimensões sociopolíticas serão afetadas pelas mudanças climáticas. Dessa forma, tais cenários introduzem uma reflexão sobre a urgência da conservação e adaptação de estruturas sociais enraizadas nesses territórios, trazendo à tona noções de justiça climática, preservação e transição ecológica, e compreendendo esses elementos remanescentes na paisagem como vestígios de uma nova condição socio-climática extrema.

Esse trabalho foi possível através do financiamento da bolsa de pesquisa Penny White Research Fund pelo departamento de Landscape Architecture da Harvard Graduate School of Design.

Implantação do projeto: Argentina
Desenvolvimento do projeto: Argentina

MEMÓRIA
“Toda operação deve estar subordinada à finalidade de reintegrar e conservar o valor expressivo da obra, já que a tentativa de alcançá-lo é a libertação de sua verdadeira forma. Restauração como processo crítico e restauração como ato criativo estão, portanto, unidas por uma relação dialética, na qual a primeira define as condições que a outra deve adotar como suas premissas íntimas e próprias, e onde a ação crítica realiza a compreensão arquitetônica, que a ação criadora é chamada a prosseguir e integrar.” *
* Il restauro architettonico. R. Bonelli (1963)

O edifício data dos anos de 1920 e 1921, e representa um claro exemplo da arquitetura industrial da época e do modelo de desenvolvimento econômico e produtivo da região. Está localizado na zona portuária da cidade de Santa Fe, Argentina, uma área que atualmente representa o setor de maior crescimento e desenvolvimento da cidade, devido à obsolescência das infraestruturas ferroviárias e portuárias.

O projeto de requalificação parte da concepção do antigo moinho como um espaço sobre o qual se intervém de forma equilibrada, valorizando o edifício original e abrigando os novos usos programáticos destinados à atividade acadêmica das escolas que compõem o Liceu Municipal.

Assumindo a marca que define a métrica estrutural do edifício, a intervenção é concebida como uma sucessão de espaços flexíveis que se sobrepõem e avançam sobre o espaço da nave central, de acordo com as necessidades de cada área, gerando bandejas com pé-direito duplo, triplo e quádruplo, que potencializam a espacialidade existente, mantendo ao mesmo tempo a matriz da tipologia original.

A intervenção envolve a recuperação das alvenarias da envoltória, a restauração dos fechamentos externos e da estrutura metálica original, assumindo as marcas herdadas do passado, destacando a relação entre o antigo e o novo e evidenciando tanto o valor material quanto imaterial das coisas.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Localizado na Costa do Cacau, o Modular Bahia está inserido entre o rio e o mar, em meio a um coqueiral, próximo a uma importante reserva de mata tropical. A casa utiliza o Sistema Modular 5.5, que foi projetado tendo como principal foco atender às questões climáticas das regiões tropicais úmidas.

Diante das mudanças climáticas e do impacto da construção civil na emissão de carbono, o sistema foi desenvolvido para unir as vantagens de um produto industrializado ao uso de matéria-prima renovável. O sistema utiliza o glulam feito com madeira de reflorestamento, que é montado no local – o método de construção mais sustentável para edifícios de pequeno e médio porte.

A madeira tem excelente desempenho térmico, permitindo a sua utilização tanto em altas como em baixas temperaturas. O Modular 5.5 utiliza beirais grandes que protegem os ambientes tanto do sol e das chuvas fortes e tem um caixilho superior (entre as paredes e o telhado) muito eficiente para ventilação cruzada permanente. O sistema modular baseia-se em módulos para quartos, salas, cozinha, estúdio, lavanderia e varandas, que podem ser combinados em inúmeras configurações.

Destacam-se quatro pontos essenciais deste sistema:

1. módulos adaptáveis a diferentes situações topográficas, condições climáticas e condições de acesso e vista em cada local.
2. controle sobre prazos e custos: o modular não é um projeto de construção, é uma montagem;
3. minimização da produção de resíduos no local;
4. otimização de sistemas com a possibilidade de utilizar painéis solares, armazenamento de água de chuva para reutilização e tratamento de esgoto através de um biodigestor doméstico.

A casa se organiza em três pavilhões interligados por um deck de madeira. Dois deles são independentes, com quartos, sala de estar e cozinha; o terceiro é social, com uma grande cozinha, varanda e sala de estar. Os pavilhões independentes e elevados do solo se integram na vegetação e paisagens locais, conferindo ao complexo uma presença delicada, mantendo a aparência original do terreno.

O projeto também utiliza as varandas como espaços de estar sombreados. Os beirais largos da fachada frontal têm uma projeção de quase dois metros, o que garante aberturas amplas para os ambientes com luz solar controlada, além de otimizar a ventilação natural e permitir vistas para o exterior.

Construções anexas, como lavanderia e reservatório de água, adotam elementos da arquitetura tradicional com cores locais e paredes de tijolos perfurados, que proporcionam ventilação e sombreamento.

UNA barbara e valentim é um estúdio de arquitetura com sede em São Paulo, que nasceu da associação de Fernanda Barbara e Fabio Valentim em 2019. O estúdio dedica sua ação à arquitetura a projetos de escalas e programas diversos, como forma de valorização dos ambientes naturais e urbanos, assim como a qualificação dos espaços públicos e privados, desenhados para uma vida melhor, coletiva ou individual.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Margeado pela varanda pública do Edifício Copan — uma calçada suspensa no Centro Histórico de São Paulo —, o projeto da Nova Sede do Greenpeace Brasil se apresenta como uma vitrine da instituição para a maior cidade da América Latina.

A mudança para o centro de São Paulo — em um edifício histórico e simbólico — reflete a postura sustentável da organização. O novo endereço aproveita a abundância de infraestrutura urbana presente no centro ligada à mobilidade urbana e à acessibilidade de serviços. Tais atitudes colaboram para economia de recursos e melhor aproveitamento de tempo e energia daqueles envolvidos no ecossistema do Greenpeace.

Sua inserção privilegiada se alia à arquitetura para convidar os habitantes da metrópole ao usufruto de um espaço amplamente acessível, de materialidade peculiar e de relevância cultural ímpar. Mobiliários convidativos permitem uma apropriação ampla do avarandado, que se estende como continuidade da calçada. A partir dele, o programa é graduado em escala de privacidade: da Warehouse às salas Multiuso e Curinga até o Escritório Coletivo. Seus acessos e funcionamentos são independentes em relação ao restante do programa, podendo se abrir ao público sempre que necessário.

Os amplos ambientes, permeados por divisórias móveis — como cortinas e portas de correr — possibilitam múltiplas apropriações pela fácil reconfiguração. Essa flexibilidade permite a adaptação para usos ainda não previstos, aumentando, com isso, a vida útil do espaço. A organização dos fluxos em torno de um eixo infraestrutural central confere maior liberdade de apropriação, flexibilizando a integração entre ambientes de trabalho e reduzindo conflitos provocados por atividades simultâneas divergentes.

O espaço valoriza a história arquitetônica do local. Durante a obra, revelou-se uma imponente claraboia, até então ocultada pelo forro e tamponada por concreto. Os desenhos originais de Niemeyer confirmavam sua concepção, destinada a iluminar o ponto mais profundo do espaço, desprovido de janelas. Sua reabertura inundou o escritório de luz natural e orientou a disposição das mesas coletivas. Assim, a valorização histórica se harmoniza às demandas atuais, evidenciando uma arquitetura conscientemente silenciosa, voltada a intervenções infraestruturais que garantem a robustez para uma ocupação longeva e ambientalmente responsável.

A concepção do projeto foi conduzida por dois escritórios parceiros. O guaja.cc é um estúdio criativo interdisciplinar, originado de um dos primeiros espaços coworking do Brasil, que acumula mais de uma década de experiência em projeto, implementação, branding e gestão de espaços corporativos, culturais e A&B. A Facury é um escritório multidisciplinar que atua em duas frentes autônomas e complementares: arquitetura e gestão de processos. A partir da combinação dessas expertises, desenvolve projetos que alinham sensibilidade e rigor técnico, atentos à realidade do canteiro e às demandas dos clientes.

Implantação do projeto: Portugal
Desenvolvimento do projeto: Portugal

A proposta para substituir os blocos de habitação coletiva do Bairro D. Leonor (1951/1953) representa um ponto de viragem na forma de pensar e projetar habitação coletiva na cidade do Porto. A habitação é essencialmente «abrigar» enquanto possibilidade de função, mas não pode descuidar a sua dimensão de “obra” comunicacional aberta e universal. É preciso focar a arquitetura como uso e função e ao mesmo tempo compreender a sua representação gramatical enquanto conotação e topologia.

A construção do Novo Bairro D. Leonor (2015-2019) foi também uma oportunidade para aprofundar e validar metodologias participativas implementadas durante a operação de reabilitação na Ilha da Bela Vista(2013-2017).

Moradores, arquitetos e cientistas sociais numa estratégia de convergência colaborativa e apoiados num promotor decidido e estimulado foram a fórmula eficaz para levar esta operação a bom porto. Relembramos que a operação nasce de um concurso público para uma parceria público/privada para a construção de um bairro municipal em cedência de direitos de construção em terreno sobrante para uma das partes. É neste contexto particular que se organiza a operação no antigo Bairro D. Leonor. A equipa organizada em torno da comunidade e do promotor garantiram o direito ao lugar e a uma habitação digna para cada uma das famílias que resistiam contra a vontade política que lhes impunha um realojamento associado à deslocação.

Com esta nova operação foi possível garantir a todos os moradores e famílias o direito a uma habitação digna no mesmo lugar e na mesma comunidade. Foi possível desenhar as habitações tendo em conta as carências das famílias e as suas expectativas.

O modelo proposto contraria os modelos tipo morfológicos e os processos higienistas e burocráticos de realojamento, baseados em inquéritos e regulamentos racionais e burocráticos, aplicados pelas entidades públicas nos sectores da habitação. A única exceção está relacionada com as operações SAAL durante o processo revolucionário em curso nos anos de 1974 e 1975.

O programa desenvolvido e implementado foi amplamente discutido com a comunidade e com o promotor tendo em conta um programa mínimo de habitações definidas em regulamento pela entidade municipal. A natureza flexível do programa permitiu uma grande liberdade de concepção e de desenho colaborativo com esta comunidade. Daí resultou um novo bairro com um território ligante ao espaço da rua, com relações verticais e horizontais de grande interação visual e social. Os moradores foram alojados nas casas para si desenhadas e atribuídas em processo participativo, as infraestruturas públicas estão ao serviço da colectividade e da cidade, jardins, passeios, zonas de estacionamento livre, logradoiros abertos e bondosos para os moradores da rua. Com esta solução arquitetónica e urbana evitamos a segregação, a dualidade entre os de dentro e os de fora, a gentrificação negativa ou positiva.

Rodrigues, Fernando Matos; Fontes, António Cerejeira; Fontes, André Cerejeira – Revista “Supernova nº 3” – Bairro Dona Leonor Comunidade com Projeto Participante, pg. 49-51, Abril 2024

Implantação do projeto: Alemanha
Desenvolvimento do projeto: Alemanha

Firmitas, Utilitas e Venustas em Nossos Tempos
POR PHILIPP VON MATT, ARQUITETO

Firmitas:
É presunçoso, em um lugar como este, que testemunhou tanta destruição, obstrução e devastação, sonhar com o antigo credo vitruviano de Firmitas (solidez), Utilitas (utilidade) e Venustas (beleza), ou seja, exatamente o oposto do que aconteceu com esta cidade?

Com isso em mente, sonhamos com uma casa que servisse como um lugar natural para a arte e a vida e sua experiência simbiótica, muito no espírito de “O Museu de Arte com que Eu Sonho”, de Remy Zaugg. Os sonhos são mais fortes do que a destruição porque sobrevivem na memória vivida. Portanto, neste lugar, estamos manifestando uma casa para os nossos sonhos, um sonho vivido e um lugar para preservar os nossos sonhos.

Localizado no Muro de Berlim, na antiga Zona Leste, no ponto de tensão entre Oeste e Leste, encontramos um terreno no meio da vida. Cercado por edifícios pré-fabricados com moradores que pertenciam à cadre da RDA, Kreuzberg do outro lado do antigo muro com uma população majoritariamente turca, e bem entre duas casas ocupadas com residentes que se autodenominam antifascistas autônomos, nós, a artista Leiko Ikemura e eu, decidimos construir uma casa de artista.

A localização pedia um edifício resiliente e robusto que não apenas resistisse ao ambiente, mas também o desafiasse. Integrado a esse tecido social, concretizamos nosso universo em convivência com uma ampla variedade de círculos culturais que podem ser encontrados diariamente no supermercado próximo. Cadres políticos da Alemanha Oriental com boné de capitão em seus carrinhos de compras dividem o espaço com punks com cortes de cabelo moicano, e mulheres islâmicas de hijab e homens barbados convivem em uma diversidade populacional multicamadas.

É a base para as nossas atividades mundialmente e oferece inspiração, contemplação e segurança na agitada cidade de Berlim.

Utilitas
Oikonomos, a “regra da casa”, é o que agora chamamos de sustentabilidade, ou seja, implementar o que é economicamente necessário de forma ecologicamente correta. Nossa referência era alcançar isso não apenas dentro do reino do possível, mas de uma forma que inspirasse outros.

Para evitar custos e esforços desproporcionais, decidimos não construir um porão no lençol freático. A massa do edifício, feita de materiais de construção minerais e tijolo, é barata, durável, reciclável e armazena energia.

A temperatura ambiente é mantida aquecida no inverno por influências naturais, como a radiação solar, ou seja, energia solar passiva, e pelo uso ativo do sol por meio de coletores no telhado para aquecimento e apoio à água quente. No verão, o prédio se resfria pela massa de pedra da construção e fornece condições ideais para trabalhar em silêncio nos salões frescos.

Venustas
Todos os materiais utilizados são deixados em seu estado natural, permitindo que o material converse com o espaço e com as pessoas dentro dele. Madeira de lariço da Sibéria é usada nas janelas e molduras, preenchendo a atmosfera com calor.

Gesso, ou superfícies de reboco não tratadas, dão caráter aos cômodos, enquanto pisos e tetos de concreto criam uma sensação arcaica de espaço. Os visitantes são recepcionados em um salão de pedra acima do qual uma escada espiral de pedra se eleva elasticamente para cima.

O encontro entre o observador e a alma arquitetônica da casa cria a Venustas, a percepção da beleza, na mente e na memória.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

EDIFÍCIO COMO CONEXÃO – ESTRUTURA DE MADEIRA COMO EXPRESSÃO ARQUITETÔNICA

Atualmente, o IAU está instalado em uma edificação construída em 2008, constituída por dois edifícios. O primeiro, composto por três pavimentos, abriga as funções administrativas e as salas de pesquisa e de professores, além dos espaços de apoio (chamaremos de Bloco Administrativo); e um outro edifício térreo, que hoje abriga os 5 ateliês pedagógicos. Há ainda uma cobertura em estrutura metálica que conecta os dois edifícios, conhecida pelo apelido “postão”.

O projeto de Reforma e Ampliação prevê um conjunto de intervenções parciais nos edifícios existentes e a construção de uma nova edificação (Bloco Didático), que abrigará os ateliês de projeto, salas de aula, auditório e espaços de apoio.

No processo de elaboração do projeto, não esteve alheio a nós o fato de estarmos projetando espaços para uma Escola de Arquitetura. Assim, as escolhas projetuais, o desenvolvimento dos sistemas estruturais, a escolha dos materiais e de seu comportamento técnico fazem parte do discurso arquitetônico e estão expostos a fim de apresentar ao aluno uma experiência viva da construção. Sendo assim, vislumbra-se que o próprio edifício seja suporte para conceitos trabalhados nas salas de aula e nos ateliês. Ao longo do processo, foram realizadas apresentações aos alunos, professores e funcionários do IAU, e o debate com a comunidade também foi fonte de dados para as escolhas aqui presentes.

Para contemplar o programa do IAU, o conjunto passa a ter três edificações independentes, conectadas por passarelas e escadas. A ideia é que os edifícios existentes e a nova construção, embora formalmente e esteticamente distintos, formem um conjunto integrado e único, no qual os espaços entre eles ganham também programa e significado, como áreas de jardim, convivência ou contemplação.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

(RE)PROGRAMAR E (RE)CONSTRUIR AS TRAVESSIAS SOBRE OS RIOS DE SÃO PAULO

O projeto da Passarela Erika Sallum teve início a partir de uma proposta apresentada em 2014, atendendo ao chamamento da Prefeitura de São Paulo no âmbito do Perímetro Urbano Arco Tietê. Optamos por estudar as transposições urbanas sobre os rios e identificamos uma desigualdade marcante entre as margens, tanto social, econômica, quanto culturalmente. Essa situação é agravada pela escassez de pontes bem localizadas que priorizam veículos privados e negligenciam pedestres e ciclistas. Na época, das 62 travessias sobre os rios Pinheiros e Tietê, nenhuma era exclusiva para mobilidade ativa – um cenário preocupante em uma cidade onde um terço da população se desloca a pé.

Nossa proposta foi escolhida, dando origem à primeira ciclopassarela de São Paulo, conectando os bairros densos e populares de Butantã e Pinheiros. Desde o início, buscamos que as cabeceiras da ponte atuassem como elementos ativadores do espaço público, conectando transporte coletivo, calçadas e ciclovias. Priorizamos acessos seguros e confortáveis que incentivassem o uso cotidiano da travessia. A passarela foi concebida como um passeio amplo, agradável e contemplativo, oferecendo vistas privilegiadas da cidade, das montanhas e do Pico do Jaraguá.

A estrutura conta com um acesso central que se liga diretamente à ciclovia da Marginal Pinheiros, ampliando seu uso nos fins de semana e para atividades de lazer. Por estar em uma região de tráfego intenso, a montagem utilizou elementos pré-fabricados: uma treliça metálica principal e um tablado de concreto. Os arranques foram moldados in loco sobre os canteiros, enquanto os trechos sobre o rio e as avenidas foram divididos em nove partes metálicas, içadas durante a noite e posicionadas com precisão sobre pilares de concreto.

A rápida apropriação da passarela pela população demonstra o potencial transformador de infraestruturas urbanas bem planejadas. Mais do que uma travessia, ela se tornou um símbolo da importância do investimento público na mobilidade ativa e na qualificação dos espaços urbanos, promovendo modos de transporte mais sustentáveis e o fortalecimento da vida coletiva nas cidades.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

BASE DE PESQUISA CIENTÍFICA AMAZON FACE – Amazonas, Brasil

Localizada a 80 km de Manaus, esta base de pesquisa científica verticalmente idealizada adota conceitos de sustentabilidade passiva. As áreas de convívio, com diferentes alturas, minimizam o desmatamento e respeitam a floresta ao redor e proporcionam relações com a floresta em várias alturas.


Com estrutura pré-fabricada produzida em Manaus, a construção limpa irá gerar poucos resíduos. A mínima fundação permitiu que o impacto no solo e nas raízes das árvores fosse reduzido, preservando a integridade da floresta.

O alumínio escovado e polido reflete a vegetação, mimetizando a casa entre as árvores de forma sutil. A rotação do projeto permite uma alternância entre espaços internos e externos, promovendo a interação social e uma experiência única com a natureza.

AMAZON FACE RESEARCH STATION – Amazonas, Brazil

Located 80 km from Manaus, this vertically designed scientific base embraces passive sustainability concepts. The communal areas, with varying heights, minimize deforestation and respect the surrounding forest.

With a prefabricated structure produced in Manaus, the construction will be clean and generate minimal waste. The minimal foundation impacts the soil and tree roots, preserving the integrity of the untouched forest.

The brushed and polished aluminum reflects the vegetation, subtly blending the house among the trees. The rotation of the design allows for an alternation between internal and external spaces, fostering social interaction and a unique experience with nature.

Cliente/Client: AMAZON FACE Project (INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) + UNICAMP)
Escala/Scale: 825 m2
Ano: 2023 – now
Arquitetura/Architecture:
TROOST + PESSOA Architects – Laurent Troost, Victor Pessoa, Mitzi Sa Motta, Roney Holanda

Imagens/Images: FlywithMob

Status: Em desenvolvimento

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil, Itália

A obra é o resultado de um percurso projetual fortemente compartilhado entre clientes e arquitetos, destinado a criar um organismo arquitetônico capaz de encarnar o carisma franciscano, fundado na oração e na acolhida, e ao mesmo tempo responder aos desafios impostos pelo clima tropical de Salvador. O projeto nasce das regras que marcam a vida monástica — oração, trabalho, partilha — e relê a tipologia conventual clássica, tradicionalmente introvertida e organizada em torno de um único claustro, fragmentando o edificado e articulando o conjunto em cinco pátios verdes. Assim, cada edifício estabelece uma relação direta com o espaço aberto, aproveitando a ventilação natural gerada pelo vento que sopra constantemente do oceano.

Os corpos edificados, autônomos e funcionalmente distintos, são reunidos sob grandes coberturas que exercem uma dupla função simbólica e bioclimática. Elevadas em relação aos invólucros, favorecem o escoamento do ar quente e contribuem para o conforto dos ambientes. Brises-soleil, paredes permeáveis e painéis pivotantes abríveis permitem ventilação cruzada, reduzindo a necessidade de sistemas mecânicos de resfriamento.

A tectônica do material torna-se elemento central do projeto. As tramas de madeira se declinam ora como estrutura portante, ora como fechamento ou elemento bioclimático, conferindo caráter unitário ao conjunto e, ao mesmo tempo, diferenciando os edifícios. A madeira filtra, protege e estrutura o espaço, alternando transparências e opacidades conforme a função e a posição.

Cada edifício preserva uma identidade própria dentro de um organismo unitário. A igreja é concebida como uma grande treliça tridimensional que gera, na parede de fundo, uma cruz natural: símbolo e fulcro do espaço litúrgico. O refeitório, permeável e flexível, abre-se à comunidade e pode acolher também eventos coletivos. A biblioteca, suspensa sobre pilares de madeira e revestida em policarbonato translúcido, transforma-se à noite em uma lanterna luminosa. Os alojamentos, executados em concreto armado pré-fabricado e circundados por um exoesqueleto de madeira, abrigam as celas e garantem sombreamento e ventilação cruzada.

Todo o conjunto combina sobriedade construtiva, estratégias passivas e soluções low-tech com tecnologias contemporâneas, como painéis fotovoltaicos e reaproveitamento das águas pluviais, alcançando um elevado grau de autonomia energética. O resultado é uma arquitetura resiliente, enraizada no contexto, que não persegue a inovação como um fim em si, mas se alimenta de saberes sedimentados capazes de responder ao clima, aos recursos e aos ritmos da comunidade. Uma arquitetura que olha para o vernáculo, não para imitá-lo, mas para compreender sua lógica profunda e projetá-la no presente com escolhas projetuais conscientes.

Mixtura

Mixtura é um estúdio de arquitetura com sede em Roma, fundado pelos arquitetos Maria Grazia Prencipe e Cesare Querci. O estúdio explora o espaço contemporâneo em suas dimensões formais, sociais e estéticas, adotando uma abordagem baseada na compreensão das especificidades dos contextos em que atua.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Às vésperas de seu centenário, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) inicia uma nova etapa de expansão do espaço universitário, orientada por diretrizes e perspectivas de planejamento conectadas aos desafios da contemporaneidade ao planejar um novo campus em uma fazenda que se configura como um oásis verde para a cidade de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O Plano Diretor da Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo é pautado pelo princípio da intervenção mínima e uso consciente do território e de seus recursos, articulando-se ao redor do binômio urbanidade e sustentabilidade.

Este novo campus, proposto como uma plataforma inter e transdisciplinar para tratar dos grandes problemas contemporâneos, parte da leitura das estruturas físicas, ambientais, paisagísticas, históricas e culturais do território, reconhecendo e valorizando três paisagens notáveis: os remanescentes arbóreos de porte, as estruturas agropastoris articuladas aos cursos d’água e os remanescentes arquitetônicos de relevância histórico-cultural, posto tratar-se de uma fazenda com aproximadamente 100 anos de ocupação. Para responder à máxima preservação e ao mesmo tempo conformar uma estrutura inicial para dar suporte à atividade universitária, evita-se a urbanização convencional e se propõe um edifício linear elevado que articula e integra os fragmentos da fazenda em um desenho espacial de urbanidade condensada que articula arquitetura, infraestrutura e paisagem. Reconhecendo a complexidade multiescalar do território e dialogando com a interface urbano-rural na qual o lugar se insere, o Plano, mais do que definir usos, busca estabelecer condições favoráveis para uma ocupação futura ainda imprevisível. Em sua dimensão simbólica e prática, este projeto busca representar a materialização de um novo paradigma para os espaços de ensino, pesquisa e extensão: um campus aberto, verde e transdisciplinar, cuja ocupação ofereça suporte para práticas de coexistência e produção pautadas em uma reconciliação com a natureza. O Campus verde sustentável e avançado de Pedro Leopoldo, portanto, reafirma o papel da Universidade como agente transformador, iluminando novos modos de ocupação mais gentis, inclusivos, qualificados, articuladores e conscientes.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Construído em 1988 para abrigar as atividades do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA (PPG-AU), o Módulo Iansã da Faculdade de Arquitetura da UFBA (FAUFBA) seguiu o modelo das escolas de dois pavimentos em argamassa armada projetadas pelo arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé, para Salvador, no âmbito da Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC).

Além da característica estrutura de vigas e pilares em argamassa armada, possui esquadrias especiais e outros valores singulares.

No início da década de 2010, apresentou dificuldades mais agudas para realização de sua manutenção, ampliação e reforma, devido ao sistema construtivo fora da linha de produção, sofrendo um gradual esvaziamento.

Ações de manutenção e pesquisa sobre o edifício foram realizadas desde 2019, juto ao reconhecimento das fôrmas originais da FAEC realizado junto à DESAL, processo que contou com a mobilização do corpo técnico da FAUFBA e da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura da UFBA (SUMAI) e da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG/UFBA).

Junto às ações de manutenção, foram realizadas atividades de diagnóstico de danos e patologias, bem como estudo dos sistemas construtivos, através de projetos de pesquisa de professores e estudantes (grupos FABER e Projeto, Cidade e Memória).

O projeto objetivou a transformação do Módulo Iansã no Laboratório de Construção e Canteiro Experimental da Faculdade de Arquitetura da UFBA, espaço de experimentação com caráter multiusuário para atendimento das demandas da graduação e da pós-graduação.

Sua reutilização previu adaptações para instalação da marcenaria e serralheria da Escola, sendo viabilizado pela retomada da fabricação das peças em argamassa armada do sistema de cobertura do edifício pela DESAL, a partir da recuperação das fôrmas metálicas originais, encontradas após esforço conjunto de sua equipe técnica e de docentes da FAUFBA.

A intervenção substituiu vigas de cobertura, telhas e “sheds”, recuperando a capacidade de drenagem de águas pluviais do edifício, além de melhorar o fluxo de ar e ventilação através do aumento do número de “sheds” e remoção de divisórias. Outras intervenções espaciais e construtivas foram realizadas, visando recuperar elementos de argamassa armada com problemas, modernizar instalações em geral, bem como rearticular os espaços antes subdivididos em salas capazes de abrigar as atividades didáticas de experimentação construtiva.

A expectativa para o futuro é de que o laboratório de construção e canteiro experimental possam contribuir para o fortalecimento do ensino no campo da construção dentro do novo curso de arquitetura e urbanismo, sendo uma ponte para as interações extensionistas da FAUFBA e servindo como exemplo de recuperação e conservação da obra de João Filgueiras Lima, Lelé.

Projeto: Faculdade de Arquitetura da UFBA e SUMAI/UFBA
Novas peças em argamassa armada: DESAL – Salvador
Construção: PC Melhor
imagens 01 e 02- Paula Mussi, 03 – Sergio Ekerman

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Edifício Jorge Machado Moreira (JMM), projetado em 1957 e inaugurado em 1961 como sede da então Faculdade Nacional de Arquitetura, constitui um dos exemplares mais relevantes da arquitetura moderna brasileira, tendo sido premiado na IV Bienal Internacional de São Paulo no mesmo ano. Ao longo de sua história, o edifício passou por diversas transformações decorrentes das ocupações sucessivas e da falta de manutenção adequada, o que comprometeu tanto sua integridade arquitetônica quanto seu desempenho funcional. O incêndio de 2016, ocorrido no oitavo pavimento, intensificou esse processo de degradação, provocando danos estruturais e o isolamento de áreas significativas do prédio.

Diante desse quadro, a recuperação do JMM tem se dado de forma lenta e gradual, marcada por iniciativas que aliam resistência institucional e soluções de baixo custo. Um exemplo é a reocupação do 8º andar pela Escola de Belas Artes, após a interdição do ateliê Pamplonão, em ação colaborativa com a FAU. A proposta, entendida como projeto-piloto, baseia-se na reutilização de materiais existentes, na reversibilidade das intervenções e na busca por reforma de baixo custo.

Em abril de 2022, foi iniciado o processo de reforma do salão localizado no bloco B do edifício. O espaço, que ao longo de sua trajetória servira como sala de cerimônias e como sede do Museu Dom João VI, encontrava-se fechado há quase duas décadas, até ser destinado a receber a Biblioteca Integrada EBA–FAU–IPPUR, em consonância com o programa original de Jorge Machado Moreira, nunca integralmente executado.

A primeira vistoria evidenciou o estado de ruína, mas, ainda assim, a clareza setorial, a planta aberta e a modulação estrutural do projeto original sustentaram a decisão de reconvertê-lo em biblioteca. A intervenção, conduzida em contexto de severa restrição orçamentária, adotou critérios de austeridade, mantendo elementos existentes sempre que possível e reinterpretando outros em materiais mais acessíveis, como o uso de granitina no piso e policarbonato alveolar no forro.

O resultado preserva a simplicidade compositiva e o caráter moderno do salão, agora equipado para receber acervo, consulta e estudo. Em julho de 2024, pela primeira vez desde a inauguração do JMM, entrou em operação no local uma biblioteca plena, abrigando uma das maiores coleções da América Latina em Arquitetura, Urbanismo, Artes Plásticas e Design.

As ações recentes integram o Projeto FAU, que trata o próprio edifício como campo de investigação e prática, articulando conservação patrimonial, sustentabilidade e ensino. Nesse contexto, o Laboratório de Reuso, matéria do ciclo avançado da FAU UFRJ, desempenha o papel de explorar o reaproveitamento de materiais, a desmontagem e a adaptação de componentes como exercício pedagógico, dialogando com o Projeto FAU. Assim, o JMM não apenas recupera sua função institucional, mas se reafirma como instrumento didático, laboratório de arquitetura moderna e espaço de experimentação em sustentabilidade.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Como em uma coleção, em que objetos são selecionados e conservados, os fragmentos de uma construção existente – concreto, aço, alumínio, vidro – são preservados e reagregados. A forma ordenada é dissolvida para ser reelaborada a partir de seus escombros. Neste rearranjo, as frações de matérias colecionadas saltam daquilo que antes era apenas opacidade, tornando-se centelhas reveladas pela luz – por seus reflexos e por suas aberturas.

A coleção de fragmentos é acumulada em placas de concreto branco, e delimitam o jardim como um microcosmo. Dentro dele, um invólucro suspenso dos mesmos fragmentos conformam um lugar outro, onde encontram abrigo os espaços para escritório, galeria e suíte.

Uma escada, um pilar de madeira e uma obra de arte constituem os apoios da estrutura que suspende o invólucro em meio ao jardim. Lajes e vigas de madeira e aço conformam os pisos e funcionam como suporte para os elementos da fachada. O equilíbrio do conjunto é dado por um jogo preciso de pesos e trações irregularmente distribuídos. Sobre ele, dois planos horizontais conformam um pequeno pavilhão, que atravessa o limite virtual entre o novo e o existente.

Formas orgânicas dialogam com o caráter amorfo da luz, constituindo volumes diáfanos, que perfuram os pisos e organizam o espaço interno da nova proposta.

Transparentes e atmosféricos, esses corpos de luz trazem para dentro a presença do exterior, com todo o espectro oscilante de seus tons. De modo singular, parecem desorientar a percepção de interior e exterior, confundindo construído e não construído, e tornando latente a experiência de habitar um jardim. Um contraponto essencial para a casa ao lado – uma reforma de Ruy Ohtake dos anos 2000.

Implantação do projeto: Áustria
Desenvolvimento do projeto: Áustria

»O ambiente da Freie Mitte, com as relações extraordinárias entre pessoas, animais e plantas nesta área, assemelhava-se ao que acontece numa floresta, onde o respeito e a liberdade estão num equilíbrio delicado, e onde se cumprimentam as pessoas que se cruzam, mesmo sem conhecê-las.«

2012-2025
Durante os últimos 20 anos, o processo de sucessão natural transformou gradualmente os 30 hectares de terreno baldio da antiga estação de carga de »Nordbahnhof« numa sedutora paisagem pós-industrial, uma wilderness urbana com uma flora e fauna fascinantes, mesmo no centro da cidade. Com o tempo, as pessoas apaixonaram-se por essa fantástica »alteridade«, apropriando-se dela como seu espaço público não oficial — uma maravilhosa lacuna na cidade.

Em 2012, a cidade lançou um concurso internacional para preencher essa lacuna com meio milhão de metros quadrados de novos edifícios, principalmente habitações. A nossa proposta vencedora »descobre« a Freie Mitte, empurrando toda a massa construída para o perímetro da área, protegendo a wilderness, permitindo que ela continue a crescer e revitalizando o que já existe: um habitat público desafiador, com amplas oportunidades para pessoas, animais e plantas.

Nos anos seguintes ao concurso, a Freie Mitte funcionou como um espaço público projetivo para usos intermédios, um terreno de teste cru para novos formatos de cultura pública. A »Nordbahnhalle«, um antigo armazém industrial, tornou-se um centro sociocultural que acolhe exposições locais e internacionais, workshops, locais de trabalho e programas diversificados para residentes e visitantes. Em paralelo, uma grande equipa de promotores, responsáveis municipais, arquitetos, arquitetos paisagistas e ecologistas trabalhou no desenho dos edifícios em torno da Freie Mitte e na própria Freie Mitte.

Em 2021, os políticos da cidade inauguraram ceremonialmente a primeira parte da Freie Mitte. Após 20 anos de experimentação com recursos existentes no local, a Freie Mitte permite o regresso surpreendente do espaço público como uma promessa real, tal como originalmente idealizado pelos pioneiros do bairro. Pela primeira vez em Viena, um espaço como a Freie Mitte — com a sua ecologia transumana, o seu aspeto selvagem e a sua escala provocadora — é reconhecido como um espaço público urbano aceitável e até desejável.

À frente do seu tempo, a ideia original da Freie Mitte revelou-se cumprir os requisitos de um desenho urbano resiliente ao clima, promovendo o direito à alteridade na cidade. As realidades duras do nosso tempo transformam a alteridade da Freie Mitte num valor potencial, uma resposta possível a uma crise profunda. O facto de se lutar por uma forma mais humilde de interagir com a natureza — mesmo numa escala muito maior — ser ainda uma exceção, comprova a necessidade de projetos ambiciosos e visionários que abram caminho no desenvolvimento dos nossos futuros bairros e ambientes urbanos.

Plano de Desenvolvimento Urbano »Freie Mitte, Vielseitiger Rand«
Planeamento Urbano: StudioVlayStreeruwitz, Viena
Arquitetura Paisagista: Agence Ter, Paris/ Karlsruhe
Planeamento de Tráfego: Traffix, Viena
Cliente: Cidade de Viena, ÖBB-Immobilien (Agência Imobiliária dos Caminhos de Ferro Austríacos)

Desenho da Paisagem/ Implementação da Freie Mitte
Agence Ter em parceria com Land in Sicht

Projetos de Investigação »Mischung: Possible!« e »Mischung: Nordbahnhof«
Financiados por Klima+Energiefonds Österreich, em cooperação com TU Wien, Institut für Wohnbau (Christian Peer, Peter Fattinger) / Institut für Soziologie (Silvia Forlati), DI Andrea Mann, StudioVlayStreeruwitz, Architekturzentrum Wien, morgenjungs, Erste gemeinnützige Wohnungsgesellschaft

Fotografia da Freie Mitte
Davide Curatola Soprana

Desenhos Mágicos
Marta de las Heras Martinez

Design Gráfico da Revista
Beton.studio

Agradecimentos a todos os que nos forneceram informações valiosas, fontes e material, especialmente: Thomas Proksch, land in sicht, Agence Ter, Peter Rippl, Martin Riesing, Mara Reinsberger, Mirjam Mieschendahl, Angelika Fitz / AzW, Alexandra Madreiter / MA 21, IG Lebenswerter Nordbahnhof, GB*Stadtteilmanagment Nordbahnhof, Nordbahnhofviertel Service, Team Nordbahnhalle e todas as pessoas que fazem parte da Freie Mitte.

Implantação do projeto: Paraguai
Desenvolvimento do projeto: Paraguai

“Ser original consiste em voltar à origem.” Antonio Gaudí
Memória Técnica – Descritiva
O trecho em questão representa um caso singular na cidade de Assunção, devido à interseção gerada entre duas situações que atualmente favorecem a apropriação democrática do espaço público:

Alto fluxo de pedestres – Há grande circulação de pessoas a pé, pois a quadra abriga comércios e serviços que permanecem abertos durante grande parte do dia, todos os dias.
Presença de ciclovia – Localiza-se uma das vias troncais da rede de ciclovias da AMA (Área Metropolitana de Assunção).
A partir dessa condição, estabelecem-se critérios para o desenho de espaços públicos neste ponto da cidade, visando servir de referência para casos similares. Esses critérios abrangem conceitos viários, ambientais e de infraestrutura, para melhorar o espaço público em benefício de todos os usuários.
Considerando que a rua em questão conta com aprovação municipal para uso “exclusivo para trânsito de pedestres e ciclistas” (Res. 948/2023), o objetivo é atender às seguintes funções:

Integrar a ciclovia ao espaço para pedestres.
Mitigar a presença de águas pluviais.
Melhorar a qualidade ambiental com vegetação.
Garantir acessibilidade universal.
Garantir acesso a veículos de emergência.
Para alcançar esses objetivos, descrevem-se os elementos que compõem o espaço público: plataforma única, trecho/redutor de velocidade da ciclovia e sistema de infraestrutura verde urbana.

Plataforma Única
O objetivo principal é devolver às pessoas o espaço público, priorizando o pedestre para que exerça seus direitos de forma digna, inclusiva e segura.

Define-se um único nível contínuo e integrado de calçada e pista, unificando as esquinas com rampas de inclinação mínima de 20%. Essa superfície permite a passagem de veículos de emergência, pois não há obstáculos fixos que a impeçam.

A rua, que normalmente dedica 65% de sua largura ao tráfego de veículos e apenas 35% ao pedestre, passa a ser quase totalmente destinada ao uso das pessoas, incorporando:

Superfície podotátil (guias e alertas) e rampas de acessibilidade.
Sinalização informativa e de precaução nas esquinas.
Grelhas lineares para drenagem pluvial, substituindo sarjetas.
Espaços para uso dos frentistas.
Jardins drenantes para vegetação e controle de águas pluviais.
Berços para árvores.
Parquinhos infantis.
Bancos.
Lixeiras.
Estacionamento para bicicletas.
Estação de água.
Iluminação pública.
Reserva-se 12% para o traçado da ciclovia, cuja implantação se justifica a seguir.
Redutor de velocidade da ciclovia
Pela alta circulação e caráter de “praça” ou “jardim urbano” da quadra, os ciclistas devem reduzir a velocidade de cerca de 20 km/h para no máximo 10 km/h, podendo descer da bicicleta quando necessário.

Neste trecho da rua Alberto de Souza, a ciclovia muda de lado na pista: desde a rua Cruz del Chaco para o Oeste, fica no lado Norte; a partir da rua Defensores del Chaco, no lado Sul. Para reduzir a velocidade e suavizar a transição, propõe-se um traçado sinuoso, com sinalização prévia, que induz o ciclista a pedalar com cautela e disfarça a mudança de lado.

Essa sinuosidade rompe a direcionalidade e transforma o local em um “passagem natural”, onde a pressa cede espaço ao descanso, sem impedir a travessia.

Infraestrutura Verde Urbana – SUDS ASU1
(Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável)
Além de devolver o espaço ao pedestre, como propõe a “plataforma única”, busca-se devolver ao solo sua capacidade de harmonia com as pessoas. As estratégias incluem:

Redução da temperatura ambiente por meio da diminuição de superfícies asfaltadas ou cimentadas e aumento de áreas verdes ou menos reflexivas.
Superfícies altamente permeáveis, permitindo infiltração de água e desenvolvimento da vegetação.
Implantação de jardins drenantes distribuídos ao longo da quadra, cada um com cerca de 10 m², mediante remoção do asfalto e escavação de 1,50 m, preenchida com material pétreo para infiltração controlada, protegida por manta drenante e paredes cribadas (tipo poço de infiltração).

Implantação do projeto: México
Desenvolvimento do projeto: México

Dentro do Campus da Universidade Anáhuac Mayab, como parte do crescimento e atualização educacional e tecnológica, são criados o Laboratório de Inovação e a ampliação do prédio de salas de aula da Escola de Arquitetura e Design.

Esses espaços são criados como extensão da Divisão de Engenharia e Design, integrando-se às salas de aula existentes, que se transformarão em salas mais abertas e dinâmicas.

A extensão do Laboratório de Inovação é planejada paralelamente ao prédio existente, gerando uma nova fachada que dá continuidade ao percurso existente marcado pelas passarelas dos prédios do campus.

O projeto de ampliação segue esse mesmo princípio de prédios lineares orientados corretamente, onde se busca captar a luz uniforme do norte e bloquear e proteger-se da insolação do sul.

Um grande espaço gera e articula esta extensão. A extensão é este novo espaço aberto e amplo. Um espaço onde as atividades comuns e de estudo são realizadas livremente. Um sistema de co-work, co-study, co-learn, onde o espaço flui de maneira livre, as atividades se entrelaçam, as ações no espaço são sugeridas. São ações no espaço, que podem ser previstas, mas também podem ser propostas, ou permitir outras para produzir atividades diversas e inclusive diferentes exposições, eventos, celebrações. Um espaço dinâmico, inovador.

Este grande espaço é resolvido por meio do manejo da luz. Uma série de peças pré-fabricadas permitem a passagem da luz e geram uma escala e um tratamento rítmico ascendente. Assume a escala do prédio existente e se desdobra em direção ao jardim de acesso. Um gesto de continuidade com os prédios existentes do Campus, todas alusões à arquitetura pré-colombiana.

Na Ampliação da Escola de Arquitetura, é projetada sobre o prédio existente de dois pisos, criando o terceiro piso para as oficinas abertas e gerando um novo envoltório para todo o prédio existente que gera e articula, ao longo de todo o envoltório que termina em uma grande treliça inclinada para o oeste. É um espaço onde as atividades comuns e de estudo são realizadas livremente, onde o espaço flui, permitindo atividades diversas.

Atualmente, o conceito de salas de aula mudou, e mais ainda no que se refere ao ensino do design, com maior participação e interação de alunos, professores e consultores.

O grande espaço é resolvido por meio de consoles inclinados atravessados por quebra-sóis que permitem a passagem da luz e bloqueiam a passagem do sol. Redefine a escala do prédio existente e o envolve, gerando o terceiro piso, aberto, livre, flexível. Um espaço contínuo com multiplicidade de usos, desde oficinas de desenho até espaços de exposição.

O tratamento formal é uma resposta à linguagem que vem sendo gerada durante 40 anos nos prédios do Campus.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Em breve

Implantação do projeto: Alemanha
Desenvolvimento do projeto: Alemanha

Edifício de Escritórios ATREEUM – Um oásis de trabalho no distrito de Ostend, em Frankfurt
O edifício de escritórios Atreeum, na Hanauer Landstrasse, em Frankfurt, está localizado em uma área comercial histórica com um adensamento em quarteirão perimetral típico de edifícios de tijolos aparentes. O objetivo é que o novo edifício de escritórios surja de seu entorno, integrando-se contextualmente e, ao mesmo tempo, criando um ambiente de trabalho sustentável e futuro-proof por meio de uma nova estrutura que integra a natureza ao espaço de vida e trabalho.

As diferentes alturas existentes dos edifícios do entorno são incorporadas por meio de alturas escalonadas diferenciadas. Isso confere à estrutura escultural um desenvolvimento de altura em degraus que cria pontos urbanos altos nos cantos e, simultaneamente, permite uma iluminação otimizada dos pátios. Estes pátios são conectados ao espaço urbano por grandes passagens de dois pavimentos.

A pele externa do Atreeum consiste em uma fachada de clinker com uma estrutura de aberturas minimalista que envolve e protege o edifício. No interior, o volume dissolve-se em camadas horizontais. A fachada é envidraçada e inúmeras varandas e terraços são orientados para os espaços verdes internos, permitindo o uso dessas áreas paisagísticas ajardinadas.

Neste sentido, estes pátios verdes internos, varandas e terraços formam o coração significativo do edifício. Os terraços oferecem áreas especiais de recreação com pavilhões e espaços de trabalho rodeados por vegetação.

A natureza como material de construção transforma mesmo um projeto de construção cotidiano (neste caso, um edifício de escritórios) em um local primariamente industrial e comercial em um oásis verde onde as pessoas podem trabalhar. O Atreeum mescla um cenário urbano denso com uma interpretação inovadora de tipologias tradicionais.

A emocionante tensão entre o envelope protetor compacto e o mundo verde interior, que traz à mente associações com as casas de átrio da Roma Antiga e os riads marroquinos, liga crucialmente os dois polos da civilização e do meio ambiente.

Os pátios verdes, varandas e terraços criam um microclima ambiente otimizado no interior do edifício e oferecem um grande potencial para a retenção e armazenamento de água. Ao mesmo tempo, esta estrutura espacial proporciona inúmeras oportunidades para encontros sociais e novos mundos de trabalho.
Desta forma, este edifício pode fazer uma contribuição para a arquitetura sustentável. O resultado é um oásis de trabalho verde em um contexto urbano.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Programa Mananciais é uma política pública de urbanização integrada voltada às áreas de mananciais de São Paulo, com foco nas bacias hidrográficas da Guarapiranga e Billings. Sua origem remonta à década de 1990, quando foi criado o Programa Guarapiranga, um marco pioneiro de intervenção socioambiental na cidade. Ao longo de três décadas, a iniciativa evoluiu para abarcar novos territórios e metodologias, consolidando-se como referência na conciliação entre urbanização e preservação ambiental.

Idealizado por Elisabete França, arquiteta e urbanista reconhecida por sua atuação em políticas habitacionais e de requalificação urbana, o Programa ganhou, em 2021, uma nova estrutura institucional com a criação da Secretaria Executiva do Programa Mananciais. Elisabete foi a primeira secretária executiva (2021–2024), liderando a retomada da Fase 3 e estruturando a atuação integrada entre diferentes áreas da Prefeitura. A partir de 2024, a gestão passou a ser conduzida por Maria Teresa Fedeli, que mantém a estratégia de atuação intersetorial e reforça a dimensão social e comunitária do Programa.

A Secretaria Executiva conta com uma equipe multidisciplinar, majoritariamente composta por mulheres jovens, que atuam diretamente no planejamento, na coordenação e no acompanhamento das obras. Essa composição imprime ao Programa uma perspectiva inovadora, sensível às questões de gênero, inclusão social e equidade territorial.

A estratégia da Fase 3 combina obras de saneamento, drenagem, contenção, pavimentação e habitação, com ações sociais, culturais e ambientais que fortalecem a resiliência urbana e a justiça climática. Um dos diferenciais é a adoção de Soluções Baseadas na Natureza como jardins de chuva, biovaletas, lagoas de retenção e parques fluviais, que integram drenagem urbana e preservação ambiental ao desenho da cidade.

O Programa também promove a implantação de equipamentos públicos – Unidades Básicas de Saúde, Centros de Educação Infantil, Espaços TEIA, bibliotecas, áreas esportivas e culturais –, articulando parcerias intersetoriais com diferentes secretarias. Essas estruturas funcionam como âncoras sociais, aproximando serviços essenciais da população e fortalecendo vínculos comunitários.

A participação social é eixo estruturante: oficinas, escutas, plantios coletivos e atividades culturais aproximam moradores do processo de transformação urbana, estimulando o pertencimento e a corresponsabilidade pelo território. Experiências emblemáticas, como a urbanização do Jardim da União, demonstram como o conjunto das intervenções pode promover dignidade, integração e novas oportunidades para comunidades historicamente vulnerabilizadas.

Mais do que obras, a Fase 3 representa um pacto urbano e ambiental que reconhece a interdependência entre cidade e natureza. Ao promover intervenções integradas e sustentáveis, o Programa reforça que a urbanização de qualidade é também uma estratégia de proteção dos mananciais, de redução das desigualdades e de fortalecimento da resiliência climática.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Este projeto foi desenvolvido para as Amélias da Amazônia. Essa comunidade trabalha com a extração de andiroba e especiarias amazônicas, e está localizada na Floresta Nacional do Tapajós – FLONA, no estado do Pará, e recebeu esse nome com o intuito de ressignificar “as mulheres Amélias”, que no século passado era nome dado as mulheres que se dedicavam exclusivamente a cuidar do lar. Desta forma, as Amélias da Amazônia representam o empreendedorismo e protagonismo das mulheres amazônidas. Desenvolvido em parceria pelos arquitetos Tales e Taís kamel, do escritório Kamel Arquitetura e o arquiteto Matheus Vieira. Ele está localizado na Floresta Nacional do Tapajós, no coração da Amazônia e une arquitetura contemporânea, sustentabilidade e inovação, criando um laboratório em harmonia com a floresta. A ideia partiu de um projeto de arquitetura contemporânea amazônica, onde utilizamos como material norteador a madeira, de fácil acesso na região e onde poderíamos trabalhar com mão de obra e métodos construtivos tradicionais da floresta traduzindo uma arquitetura vernacular com construção de baixo carbono, adaptada ao clima local, quente e úmido da Amazônia. Por meio do uso de elementos de sombreamento, ricos em detalhes característicos da arquitetura local, o projeto ressalta a importância do conhecimento dos povos tradicionais. O projeto fortalece as comunidades locais, promovendo desenvolvimento uma bioeconomia sustentável, enaltecendo a riqueza da arquitetura amazônica contemporânea, em harmonia e respeito a natureza. A floresta resiste, a floresta pulsa, a floresta vive.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

É marco do primeiro ano do século XXI a colaboração entre o escritório Metro Arquitetos e Paulo Mendes da Rocha no projeto de uma residência unifamiliar de 900m², utilizada como base para essa proposta. A emergência climática a ser enfrentada coletivamente pela população nesse próximo século é um dado econômico, e a intervenção realizada na Casa. AP, situada no Jd. Europa, em São Paulo, vislumbra alternativas para a habitação coletiva e a justiça social, sob a inversão de uma lógica secular.

A vontade do século é a inversão. Construir menos, habitar melhor o que já está construído. O trabalhador poder estar próximo do trabalho. O caminho de carro virar o caminho a pé. Cerca de 900m² de ocupação de um lote para uma só família, ser para usufruto de várias.
O espaço do trabalho virar espaço de lazer. Mobilizar recursos energéticos, construtivos e de projeto, que onerem menos o planeta. Coletivizar os bens e os espaços.

Um século pode transformar construções sociais acerca das dinâmicas de habitação e uso doméstico. Frente às mudanças na percepção da moral, da divisão do trabalho e da relação público, privado e íntimo que cem anos são capazes de abranger, temas como a superposição dos espaços, sua coletivização e formas de manutenção são pautas nas plantas arquitetônicas.

Em 900m², no Jardim Europa, em um lote de trinta metros por trinta metros, habita uma única família, de quatro pessoas, em uma planta de quadrado perfeito. Também quadrada, é a planta da unidade habitacional de interesse social projetada para o CECAP Guarulhos, pelos arquitetos João Batista Villanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, em 1972, que é mais de nove vezes menor em metragem quadrada que a CASA A.P., para o mesmo número de moradores. Em um lote de um bairro nobre, a forma de construir habitação da elite é realizada em alta metragem quadrada com ocupação de baixa densidade populacional.
Um projeto é um desejo.
A vontade da inversão de como é agora.

Nesse sentido, a proposta de projeto, que trata-se de um ensaio que vislumbra alternativas de futuro em um planeta e em um país marcados pela desigualdade de renda e, consequentemente, discrepâncias no acesso ao direito à cidade, à justiça social e climática.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Formado em 2008, o Grupo ][ Fresta é formado por quatro arquitetos e uma socióloga [Anita Freire, Carolina Sacconi, Luan Carone ,Otávio Sasseron e Tais Freire], atuando em projetos arquitetônicos e socioculturais. O produto final é a arquitetura e, para esta materializar- se, há sempre um trabalho interdisciplinar de investigação e envolvimento por meio de processos participativos com a comunidade local para qual o projeto será destinado. Assim como nos projetos desenvolvidos para as comunidades de Heliópolis (SP), do Rio Pequeno (SP), dos povos Guarani e Tupi da TI Tenondé Porã (SP), da TI Tupiniquim Guarani (ES), das comunidades pesqueiras da RESEX Canavieiras (BA), de Novo Airão (AM) ou de Marujá, Ilha do Cardoso (SP), o Grupo Fresta busca um novo olhar sobre o existente, busca canalizar a potencialidade de seu contexto para então concretizar na arquitetura aquela matéria-prima inicial: a identidade de seu lugar e de seus habitantes, e assim revelar e formalizar sua cultura em edificações.

Os projetos na Terra Indígena Tupiniquim Guarani, no município de Aracruz, ao norte do estado do Espírito Santo, foram elaborados a partir de um trabalho de consultoria técnica e projetos de arquitetura, elaborado no âmbito de um Plano Básico Ambiental.
A partir de processos participativos realizados em sete aldeias indígenas, três da etnia Tupiniquim e quatro da etnia Guarani Mbya, compactuou-se como seriam os programas para o desenvolvimento dos projetos de arquitetura. Buscou-se, nesse momento, uma melhor compreensão da arquitetura e da cultura de cada comunidade, buscando compreender em campo, as formas de habitar, os usos, as necessidades e o contexto social e ambiental como um todo.

Desta forma, a partir da realização das oficinas participativas, foram elaborados quatro projetos para o povo Guarani: alojamentos na aldeia Piraqueaçu, uma cozinha comunitária na aldeia Olho D’Água, um centro comunitário na aldeia Três Palmeiras, uma farmácia natural na aldeia Boa Esperança, e quatro projetos para o povo Tupiniquim: uma cozinha industrial na aldeia Areal, uma cozinha industrial na aldeia Irajá e, por fim, uma casa de mulheres e um galpão agrícola na aldeia Pau Brasil. Importante ressaltar que nestes projetos, os materiais, os usos, as necessidades e eventualmente as formas e distribuições espaciais foram discutidas e decididas pelos próprios indígenas.

O objetivo buscado com os projetos foi propor construções que atendessem aos usos propostos e respeitassem a cultura de cada comunidade. O uso de técnicas e materiais tradicionais, assim como o baixo custo das construções e da manutenção dos edifícios foram também preocupação constante do desenvolvimento dos projetos. Todas as construções adotaram sistemas construtivos sustentáveis de baixo impacto ambiental e tiveram como premissa a utilização de sistemas ecológicos de tratamento de esgoto (círculo de bananeira para águas cinzas e bacias de evapotranspiração para águas negras).

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

As paisagens das aldeias mẽbêngôkre estão em transformação, como registraram antropólogos ao longo do último século. Em 2015, os arquitetos do Estúdio Guanabara foram convidados a lidar com essa dinâmica diante da demanda por novas casas não indígenas em 21 aldeias Mẽbêngôkre. O desenvolvimento dessas novas kikré – casas, na língua deste povo – estendeu-se até 2018. Nesse processo, foi realizado um extenso levantamento de diversas aldeias, que revelou não apenas os diferentes arranjos das povoações, mas também a diversidade de suas construções: paredes de pau-a-pique, madeira ou alvenaria, e coberturas de palha, zinco ou cerâmica.

Nos anos seguintes ao Projeto Kikré, outras iniciativas foram desenvolvidas: a Casa do Pajé, uma nova edificação para uma prática ancestral, o xamanismo; e a Casa de Turismo, uma forma ancestral reinterpretada para uma nova prática. Essas experiências vêm levantando questões sobre a preservação das tradições construtivas, o impacto ambiental e a adoção de técnicas externas à cultura mẽbêngôkre. Também suscitam reflexões sobre metodologias de projeto de arquitetura em contextos indígenas e, sobretudo, à autonomia de escolha desse povo em relação à construção de seus próprios espaços. Ao deslocar as ideias de tradição e identidade cultural como algo fixado no passado, os Mẽbêngôkre revelam a dimensão dinâmica de sua cultura, atualizando, inventando e reinventando seus espaços de vida.

Esta apresentação integra uma pesquisa de doutorado em andamento no PROURB-FAU/UFRJ, realizada por Luísa Bogossian.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Distrito de Inovação Itaqui é um empreendimento que alia inovação, educação e empreendedorismo à preservação ambiental. Diferente de um distrito urbano tradicional, o projeto se ancora na natureza exuberante da região: rios, matas e fauna são protagonistas, mais que cenário. Cerca de 90% da área total será preservada, criando um espaço em que a paisagem natural não apenas molda o ambiente, mas também fundamenta a ética do ensino, da pesquisa e dos negócios.

Implantado nas franjas do terreno, o conjunto arquitetônico foi pensado para minimizar impactos e permitir a regeneração da mata nativa. Essa estratégia garante ao mesmo tempo integração com o entorno urbano e acesso funcional às cidades vizinhas, sem comprometer a área de preservação. A circulação entre os blocos se dá por vias externas, reduzindo a pressão sobre os ecossistemas internos.

O programa do distrito se organiza em três grandes eixos: Núcleo Acadêmico e Negócios, voltado à formação acadêmica, pesquisa e moradia estudantil; Núcleo de Hospitalidade, com espaços de formação, hospedagem e convívio; e Núcleo Liderança e Negócios, dedicado ao empreendedorismo, inovação tecnológica e incubação de novas empresas. Além desses núcleos, o projeto contempla áreas comuns de apoio, como biblioteca, laboratórios, restaurantes e espaços de convivência.

As edificações foram concebidas respeitando a topografia e adotando soluções sustentáveis. Os volumes são implantados de forma horizontal, aproveitando clareiras existentes e evitando construções verticalizadas complexas. Terraços, beirais e áreas abertas garantem conforto térmico, integração com a paisagem e espaços de socialização. As moradias, distribuídas de forma estratégica, se relacionam diretamente com a mata, criando uma experiência imersiva para estudantes, pesquisadores e empreendedores.

A mobilidade entre blocos privilegia modos sustentáveis e de baixo impacto: ciclovias, passarelas sombreadas, patinetes elétricos e , além de percursos adaptados à declividade. Essa infraestrutura garante acessibilidade, segurança e eficiência no deslocamento cotidiano.

Mais do que um espaço físico, o Itaqui se propõe a ser um modelo de futuro. O masterplan reflete um compromisso ético com a inclusão social e a responsabilidade ambiental, promovendo um ambiente onde inovação, educação e sustentabilidade caminham juntas. O distrito nasce como um polo capaz de gerar conhecimento, lideranças e soluções para desafios contemporâneos, plantando a semente de um mundo mais integrado entre natureza, sociedade e tecnologia.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

O Nova Eldorado nasce em um território singular, situado em área de banhado entre as bacias hidrográficas do Baixo Jacuí e do Lago Guaíba, no ponto de transição entre os biomas Pampa e Mata Atlântica. O terreno, de relevo plano e histórico de rizicultura, exige soluções inteligentes para drenagem e manejo das águas pluviais. Nesse contexto, a gestão hídrica se torna elemento estruturador, orientando diretrizes de desenvolvimento e ocupação.

Mais que um empreendimento urbano, trata-se de um bairro planejado com foco em sustentabilidade, qualidade de vida e integração entre cidade e natureza. Por meio de soluções baseadas na natureza, infraestrutura, comunidades e ciclos naturais são conectados de forma a valorizar o ecossistema local e potencializar sua resiliência.

O projeto urbanístico, desenvolvido pela Area Urbanismo, e as soluções urbanas de drenagem, elaboradas pela Geasa Engenharia, traduzem essa visão em um plano integrado, no qual o projeto de paisagismo e desenho urbano, assinado pela PLANTAR, desempenha papel central: organiza espaços públicos, costura áreas verdes e corredores ecológicos, transforma a água em protagonista e cria ambientes que incentivam mobilidade ativa, uso coletivo e convivência.

O grande parque central, implantado às margens dos lagos de amortecimento no coração do bairro, alia função ambiental à valorização da paisagem natural, tornando-se eixo estruturador de fluxos, atividades e encontros. Com programas que animam o cotidiano — feiras, eventos comunitários, espaços esportivos e áreas de convivência —, o parque se consolida como ponto de encontro e pulsação urbana do Nova Eldorado, promovendo bem-estar, interação social e contato com a natureza.

As villas, dispostas perpendicularmente ao parque, estabelecem transições suaves na paisagem, abrigam usos específicos e reforçam a presença da urbanidade. Suas paletas cromáticas, inspiradas na floração local, e o mobiliário urbano contribuem para criar marcos afetivos, fortalecendo o vínculo entre moradores e território.

Empreendimento da ABC & Embralot, o Nova Eldorado conta com a concepção de paisagismo e desenho urbano da PLANTAR, estúdio especializado em projetar e qualificar territórios, atuando na intersecção entre paisagem, cidade, arquitetura e design. Fundada em 2016 pelos arquitetos Luciana Pitombo e Felipe Stracci, a PLANTAR alia percepção sensível, visão multidisciplinar e rigor técnico para articular agentes, sistemas e saberes, propondo soluções que fortalecem relações, qualificam espaços e transformam realidades.

Com expertise em múltiplas escalas — do mobiliário e jardins a bairros, parques e áreas urbanas complexas — o estúdio oferece entrega full service para áreas externas, incluindo estudos de viabilidade, planos de negócios e gestão operacional, com domínio de ponta a ponta, da consultoria e estruturação à implantação e operação.

Seu propósito é criar lugares que conectem pessoas à natureza, aos outros e a si mesmas, gerando valor social, ambiental, econômico e cultural. Em todo o território nacional, a PLANTAR já estruturou mais de 60 projetos de concessões e PPPs para parques e ativos de uso público, além de empreendimentos privados em diversas tipologias e segmentos, sempre com foco em sustentabilidade, inovação e conexão entre natureza e urbanidade.

Implantação do projeto: China
Desenvolvimento do projeto: China

A urbanização acelerada é, sem dúvida, uma espada de dois gumes. Embora traga dividendos econômicos e demográficos, o ritmo excessivo de desenvolvimento espacial e crescimento populacional tem levado a graves carências de terra. O aumento da população sobrecarregou a infraestrutura pública e os sistemas de apoio, criando desequilíbrios significativos. Questões como escassez de energia e água, juntamente com uma capacidade ambiental sobrecarregada, impactam diretamente a qualidade de vida pública e o futuro sustentável da cidade.

Esta exposição apresenta 5 projetos de design representativos e orientados por pesquisa da NODE Architecture & Urbanism ao longo dos últimos anos em Shenzhen. O objetivo é fornecer uma visão abrangente da prática criativa “não típica” da NODE na renovação urbana e na publicização da infraestrutura, enfatizando a exploração ontológica da arquitetura. Além disso, a exposição inclui um projeto de pesquisa do Greater Bay Area Innovation Design Lab intitulado “Água e Urbanização: O Caso de Shenzhen”, que aborda questões relacionadas a terra, infraestrutura hídrica e a interconexão de espaços públicos. Este projeto oferece tanto uma reflexão sistemática sobre ambientes hídricos em escalas regional e urbana quanto perspectivas de design para futuras soluções de crises relacionadas.

Doreen Heng LIU, Fundadora e principal da NODE Architecture & Urbanism (NODE), Arquitetura Chartered pelo Royal Institute of British Architects (RIBA); Doutora em Design pela Universidade de Harvard; Membro da Sociedade de Arquitetura da China. LIU e seu estúdio NODE estão sediados em Shenzhen e Hong Kong, realizando práticas diversificadas de arquitetura e design urbano na PRD e em uma região mais ampla há anos. Desde setembro de 2020, foi nomeada Professora Catedrática na Escola de Arquitetura e Planejamento Urbano da Universidade de Shenzhen e Diretora do Greater Bay Area Innovation Design Lab.

A NODE Architecture & Urbanism foi estabelecida em 2004. Como um dos escritórios independentes de arquitetura mais influentes do sul da China, tem recebido ampla atenção no país e no exterior. Com foco no espaço urbano e na vida pública, insistindo na pesquisa e prática ontológica, perseguindo a inovação com base em um pragmatismo rigoroso, explorando a lógica própria dos conceitos arquitetônicos em relação à abertura e compatibilidade. Por meio da interação e estímulo interdisciplinares, o estúdio mantém sua natureza prospectiva e experimental na prática de design arquitetônico.

A Shenzhen University The Greater Bay Area Innovation Design Lab foi oficialmente estabelecida em 2021. Fundada por Doreen Heng Liu, o laboratório é um pioneiro em pesquisa e design na atual GBA e na urbanização global. Por meio de métodos de pesquisa orientados ao design e abordagem interdisciplinar, combinando ensino, exposição, publicação, conferências acadêmicas, prática de design experimental e pesquisa & desenvolvimento, o GBA Lab dedica-se à integração transversal e à exploração de soluções inovadoras centradas no ser humano para problemas espaciais urbanos e rurais contemporâneos.

Equipe do Projeto: NODE Architecture & Urbanism
1 Eclusa do Rio Yong-chong: Doreen Heng Liu, Jiebin Huang, Youzhi Wang
2 Paisagem KU: Memórias no Terreno: Doreen Heng Liu, Yijuan Wu, Liu Yang, Zanning Huang, Zhang Shihan, Xu Jingyue, Ruan Yiling, Ni Xiaoyi, Peng Ziqi (Estagiário)
3 Base de Cultura da Água de Lótus de Shenzhen: Doreen Heng Liu, Jiebin Huang, Zanning Huang, Liu Yang, Xu Jingyue, Lin Xiaohong, Huang Junhao, Yang Jiahui, Xu Zhibo, Lu Qingsong, Zhou Yupeng
Estagiários: Lu Weimin, Zeng Shuya, Wang Manzhi, Tang Yueyu, Li Xin, Tian Haoyuan
4 Ponte Pedestre da Escola Secundária de Pingshan: Doreen Heng Liu, Jiebin Huang, Yijuan Wu, Zhang Shihan
5 Terraço de Pingshan: Doreen Heng Liu, Jiebin Huang, Zhang Shihan, Lian Chen, Lu Qingsong, Chang Xueshi (Estagiário)

Equipe de Pesquisa: GBA Lab – The Greater Bay Area Innovation Design Lab, Shenzhen University
Diretora: Doreen Heng Liu
Si Liu, Yu Yan, Haoyang Wu
Equipe de Pesquisa e Cenários: Fanrui Cheng, Weixin Chen, Junhao Zhang, Juncheng Zou, Yongkang Peng

Implantação do projeto: México
Desenvolvimento do projeto: México

O projeto consiste em um grande telhado em dente de serra que abriga uma quadra, ginásio e serviços coletivos, tornando-se a peça central do complexo esportivo. Do lado de fora, uma série de campos de futebol e quadras de basquete, além de uma pista de atletismo, skatepark e parquinhos, criam uma infraestrutura de qualidade que permite aos residentes expandir suas oportunidades e, assim, reduzir o deslocamento. O edifício consiste em duas partes: uma cobertura metálica leve que permite a entrada de luz e ar natural, e um piso térreo com escadas de concreto, passarelas e paredes de tijolos que abrigam serviços coletivos. Projetado sob as considerações de um clima extremo em uma área desértica, cria espaços abertos que, além de permitir iluminação e ventilação naturais em todas as áreas, proporcionam um local seguro para os usuários realizarem diversas atividades físicas. O uso de materiais simples enfatiza a baixa manutenção e alta durabilidade, gerando ao mesmo tempo várias texturas e dando um senso de identidade. O edifício permanece aberto em todos os momentos e incentiva várias formas de conectar instalações esportivas, zonas de lazer circundantes e serviços comunitários. Como parte do Programa de Melhoria Urbana do Governo Federal (SEDATU), juntamente com os outros seis projetos que Fernanda construiu nas cidades fronteiriças de Sonora, este projeto fortalece o senso de pertencimento entre os habitantes. As paredes de tijolos aparentes e os materiais expostos estabelecem um diálogo entre a arquitetura e a paisagem, deixando à comunidade local um terreno fértil para um projeto em andamento, aberto à contínua transformação e à participação coletiva.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

A Pedra de Xangô, formação rochosa com 27 m de diâmetro e 15 m de altura localizada na periferia de Salvador, Bahia/Brasil, possui um forte caráter mítico e histórico. Segundo relatos orais, negros escravizados, ao fugirem, passavam por sua fenda e desapareciam. Símbolo de resistência reconhecido como “Altar de Xangô”, a pedra é um monumento sagrado para religiões de matriz africana e foi tombada pelo município em 2017, após mobilização social. Inserida numa área de proteção ambiental, constitui-se num elemento central da APA Assis Valente e originou a criação do Parque da Pedra de Xangô, com 4,46 ha, primeiro do Brasil a receber o nome de um Orixá.

Elaborado em 2018 pela FFA Arquitetura e Urbanismo para Fundação Mário Leal Ferreira (Prefeitura Municipal de Salvador), através de um processo participativo envolvendo órgãos públicos, comunidades e terreiros do entorno, o projeto reafirma o simbolismo cultural e religioso do local, integrando natureza e espaço construído. Entre as ameaças identificadas estavam o impacto da Av. Assis Valente e a pressão de ocupação sobre a mata. Como resposta, propôs-se um desvio viário, criando uma zona de amortecimento e uma bacia de retenção associada às lendas locais, além de uma via de monitoramento ambiental para proteção da vegetação.

O partido urbanístico foi estruturado em três camadas: vivência (caminhos e espaços de convergência da cultura afro-brasileira), memória (suporte à memória afro, integrando pedra, água e vegetação) e intimidade (trilhas estreitas na mata, para experiências mais recolhidas). O programa incluiu um edifício de apoio com auditório, espaço para memorial das nações do candomblé e espaços administrativos e de manutenção, sendo articulado por uma parede de taipa de pilão que resgata técnicas tradicionais.

A implantação respeitou a topografia, ocupando área previamente desmatada, e fomentou uma simbiose entre o edificado e ambiente natural. O edifício apresenta cobertura verde ajardinada, ventilação cruzada, aproveitamento de água da chuva e energia solar. Os materiais utilizados — terra estabilizada, tijolo ecológico, madeira, pedra natural e aço corten — asseguram baixo impacto ambiental e alto desempenho termoacústico. O paisagismo destacou espécies sagradas, reforçando a integração com a natureza e o caráter religioso do parque.

Para a realização do projeto, em especial pela adoção de técnicas de bioconstrução numa obra pública, foi fundamental o apoio das equipes dirigente e técnica da Fundação Mário Leal Ferreira e uma consultoria especializada acadêmica. A intensa participação das comunidades de matriz africana garantiu a expressão do simbolismo da pedra, da terra crua e da vegetação enquanto moldura primordial. Inaugurado em maio de 2022, o Parque da Pedra de Xangô configura-se, assim, como um espaço emblemático de resistência cultural e integração ambiental, contribuindo para o enfrentamento das mudanças climáticas e para o fortalecimento da identidade afro-brasileira em Salvador.

Implantação do projeto: EUA
Desenvolvimento do projeto: EUA

“Wasted No More” é uma residência desértica autossustentável em Pioneertown, Califórnia, que prioriza a recuperação de resíduos da construção através do uso de Blocos “Resíduo” — comumente conhecidos como bin blocks ou blocos de concreto de contenção. Estes blocos de 1,8 x 0,6 x 0,6 m são formados a partir do excesso da construção convencional, utilizando concreto que sobra nos caminhões após a concretagem para outras edificações. Esta abordagem oferece um protótipo economicamente viável e ecologicamente consciente que encontra valor duradouro nos remanescentes negligenciados da construção. A massa térmica dos blocos massivos amortece os extremos de temperatura do deserto, enquanto a orientação e a forma escalonada da edificação mitigam naturalmente o ganho de calor solar, convidando a iluminação natural e a ventilação cruzada. Alimentada por energia solar e extraindo água de um poço existente, “Wasted No More” minimiza sua pegada ambiental na paisagem do deserto alto da Califórnia.

O projeto é fruto da parceria entre os premiados escritórios de arquitetura e pesquisa Mutuo e There There, ambos sediados em Los Angeles. A colaboração nasceu da paixão compartilhada por projetos feitos a partir de resíduos. Numa visita a uma usina de reciclagem, os estúdios descobriram os Blocos “Resíduo”, que se tornaram a base para uma arquitetura de reaproveitamento, buscando dar novo significado a materiais e métodos negligenciados.

Mutuo, premiado escritório de design e pesquisa em Los Angeles, foi fundado em 2014 pelos imigrantes Fernanda Oppermann e Jose Herrasti. Desde o início, ambos exploram o extraordinário no uso de materiais e métodos ordinários e buscam criar impacto significativo através da arquitetura. Para ampliar o alcance do Mutuo, suas pesquisas desenvolvem sistemas de construção “affordable-by-design” (acessível por design) que visam simplificar o processo de construção com soluções mais rápidas e econômicas para habitação. Seu design é enraizado em ouvir as histórias das pessoas, buscando colaborações com comunidades que, como eles, navegam por identidades de “aqui” e “lá” todos os dias.

There There é um premiado escritório de arquitetura fundado em Los Angeles em 2022, que desafia ideias convencionais através de design e pesquisa. Adotando uma abordagem radical de “tabula-NON-rasa”, o estúdio desenterra camadas de informação físicas e intangíveis, presentes e passadas, que dão significado aos lugares. Seu trabalho experimental inclui projetos na Califórnia, México e Europa, além de propostas de desenho urbano reconhecidas. Todos os seus projetos têm o objetivo de criar experiências significativas e materializar imaginários alternativos.

Implantação do projeto: Argentina
Desenvolvimento do projeto: Argentina

vbrügg é a firma do arquiteto Valentín Brügger, nascido em Córdoba e graduado na FAUD-UNC. É um espaço pessoal de produção, experimentação, aprendizagem e comunicação arquitetônica e artística, onde trabalha de forma individual ou coletiva.

A Casa Lelis está localizada em Los Reartes, uma comunidade nas montanhas de Córdoba, Argentina, onde a arquitetura tradicional é caracterizada por paredes de pedra e telhados leves feitos de gravetos e chapas metálicas. Nesse contexto, o projeto respeita a tecnologia local e sintetiza sua materialidade em elementos de concreto e brancos. Em um terreno de 10 x 30, a casa de 8 x 12 é organizada em faixas longitudinais que definem as áreas do térreo: serviço, sala de estar e galeria, sobre as quais os quartos no andar superior são sobrepostos perpendicularmente.

Ao sul, encontra-se o módulo de serviço construído em concreto ciclópico e de escala contida. Ele possui pedras na fachada que continuam em direção ao interior nas áreas quentes, em frente à cozinha, no centro da lareira e na parte de trás da churrasqueira. Este volume sólido tem duas perfurações irregulares e facetadas, como se fossem grandes pedras extraídas. Uma na parte posterior, que cria uma pequena varanda em direção ao jardim e a outra é um espelho que reflete uma porção da paisagem montanhosa na composição da fachada e permite observar o movimento da cidade a partir da cozinha.

Na escada, o concreto transborda em direção à sala de estar com seus primeiros degraus, que emergem do chão e se elevam como uma leve estrutura de chapa metálica branca dobrada a qual flutua entre as paredes de concreto. Ao norte, estão os outros dois módulos destinados a espaços sociais, de tecnologia tectônica e industrial, e de unidade material através do acabamento branco.

A estrutura é composta por uma armação metálica disposta a cada quatro metros, proporcionando sustentação ao telhado. Este, por sua vez, é construído com gravetos redondos, revestido internamente com tábuas de madeira e externamente com chapas metálicas onduladas. Essa leveza permite que o espaço interior flua, integrando a sala de estar com a galeria. O andar superior tem vista tanto para o pátio quanto para a sala de jantar.

Por fim, a casa é envolta por um sistema de fechamentos móveis que cria e qualifica um espaço intermediário. As diversas configurações de abertura regulam a entrada de luz, definindo a atmosfera interna. Assim, o envoltório se torna mutável, sensível ao ambiente e ao uso. Como se trata de uma casa para finais de semana, ela permanece fechada na maior parte do tempo, ressaltando sua síntese formal.
Detalhes como a maçaneta da entrada composta por quatro pedras de Micosa Branca, um degrau de pedra do campo suspenso na varanda, as mudanças intencionais de escala e uma linha envidraçada ao longo da casa, que separa o branco da base de concreto, visam reforçar a evidente dualidade entre solidez e leveza da obra.

Com uma abertura cuidadosamente direcionada para a paisagem montanhosa, a casa se integra harmoniosamente ao ambiente. Além disso, a sobreposição de diferentes técnicas construtivas reforça o diálogo entre o essencial, o duradouro e o etéreo.

Implantação do projeto: Itália
Desenvolvimento do projeto: Itália, França

A sede do ISTAT é um projeto fundamentado em escolhas éticas, estratégicas, econômicas e funcionais, com foco na eficiência do espaço e dos recursos. Ao otimizar o projeto, reduz os custos de construção em aproximadamente 6,5 milhões de euros em comparação com o orçamento do concurso, assegurando, no entanto, alto desempenho, longa durabilidade e uma imagem institucional representativa. O edifício é um volume em forma de L de 38.000 m² projetado para acomodar 2.000 usuários, inserido em um parque público de 8.100 m² que inclui um espelho d’água e percursos esportivos. O travertino local, aplicado como brise-soleil nas fachadas sul, leste e oeste e como revestimento ventilado ao norte, dialoga com a luz natural e evoca a memória coletiva de Roma. A planta otimizada do edifício minimiza a área útil e os custos, permitindo o reinvestimento das economias em medidas avançadas de eficiência energética e ambiental, incluindo envoltórias ventiladas, vidros fotocrômicos e fotovoltaicos, átrios bioclimáticos, sistemas de captação de água da chuva e coberturas verdes. Os interiores são flexíveis, cheios de luz natural e promovem o bem-estar organizacional, oferecendo vistas desimpedidas para a vegetação e numerosas áreas comuns. Átrios e varandas ajardinadas criam espaços convidativos de break-out, melhorando o conforto térmico e a qualidade do ar interior. Além da excelência funcional, o projeto contribui para a cidade com uma generosa paisagem: um bosque público de pinheiros-marítimos implantado em um terreno suavemente ondulado, fresco e abrigado, proporcionando um valor ambiental e social duradouro para o contexto urbano.

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

KAAN Architecten: Construindo para as Pessoas, a Natureza e as Futuras Gerações
Nosso campo evolui constantemente. A arquitetura assume, cada vez mais, um significado social mais profundo e contribui ativamente para o bem-estar das pessoas e da natureza. Não nos concentramos apenas no projeto de edifícios, mas reconhecemos que cada intervenção impacta diretamente o ecossistema e o clima do nosso planeta. Dessa forma, estamos construindo um futuro no qual a arquitetura faz diferença real tanto para a sociedade quanto para o mundo ao nosso redor.

Um bom edifício exige mais do que habilidade de projeto; requer consciência de sustentabilidade, valor social e impacto ambiental. Nenhum arquiteto pode alcançar isso sozinho — é necessária colaboração, abertura à comunidade e contribuições de especialistas diversos. Avanços em tecnologia de materiais, adaptação climática, sistemas prediais, métodos de construção e história cultural desempenham um papel vital. Igualmente importante é como um edifício é recebido por seus moradores e usuários, pois espaços valorizados e apreciados são preservados e transmitidos, estendendo sua vida útil intrínseca e tornando-os, em última análise, os mais sustentáveis.

Em nossos projetos, buscamos reunir todos esses fatores e fazer escolhas bem fundamentadas. Por outro lado, procuramos valor em edifícios obsoletos, que muitas vezes servem de base para sua transformação em direção ao futuro. Para nós, um bom projeto sempre começa com uma narrativa forte, na qual todos os envolvidos acreditam e na qual cada participante pode oferecer uma contribuição valiosa.
Na 14ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, KAAN Architecten apresenta três projetos que exploram a relação entre arquitetura, paisagem e memória: o Eco-Museu e Parque Orla Piratininga, em Niterói; a Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA), em Itu; e a Biblioteca Lagoa do Sino da UFSCar, em Buri (SP). Diferentes em escala, programa e contexto, os projetos revelam uma mesma postura: compreender a arquitetura como processo contínuo, atento às transformações do território, às heranças culturais e às possibilidades de convivência social.

O Eco-Museu atua como catalisador de regeneração ambiental e inclusão social, funcionando como fórum comunitário, espaço educativo e marco para a valorização da biodiversidade. Essa estrutura é parte do Parque Orla Piratininga, desenvolvido sob liderança da Phytorestore, maior projeto de fitorremediação da América Latina, recuperando 720 mil m² da lagoa por meio de jardins filtrantes e novas áreas públicas.

A intervenção na Fábrica de Arte Marcos Amaro resgata a memória de um patrimônio industrial do início do século XX, tombado pelo CONDEPHAAT, e o transforma em polo cultural dinâmico. O masterplan incorpora o tempo: ruínas e camadas históricas convivem com novas estruturas, preservando autenticidade e nutrindo processos criativos.

Já a Biblioteca Lagoa do Sino da UFSCar, desenvolvida em parceria com a Triptyque, afirma-se como core do campus. Integrando praça, auditório e escritórios, o edifício combina técnicas construtivas tradicionais, como a taipa de pilão, com soluções contemporâneas em madeira. O resultado é um espaço sustentável, permeável e socialmente ativo, que valoriza o conhecimento local e cria identidade comunitária.
Reunidos, os três projetos evidenciam a diversidade e a coerência da prática da KAAN Architecten: da restauração patrimonial à inovação sustentável, da escala territorial à escala cotidiana. Todos reafirmam a convicção de que a arquitetura deve promover encontros, fortalecer vínculos entre pessoas e paisagens e projetar futuros possíveis a partir da escuta atenta do presente. Dessa forma, juntos, estamos construindo uma arquitetura que não é apenas funcional e estética, mas também socialmente valorizada e resistente ao tempo

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Em breve

Implantação do projeto: EUA
Desenvolvimento do projeto: EUA

O presente projeto investigou a relação entre sistemas alimentícios, arquiteturais e urbanísticos no âmbito da produção agrícola sustentável e autossuficiente existente no Havaí. Apesar de ser o único estado dos EUA com uma temporada agrícola de 12 meses, a ilha atualmente possui apenas 10 dias de reserva alimentar caso suas conexões aéreas e/ou marítimas com o continente sejam comprometidas. Nesse mesmo contexto remoto, há cerca de 1000 anos atrás foi criado o “O Ahupua’a”, que é um sistema tradicional de gestão de recursos naturais. Nesse sistema, elementos ecológicos se organizam e retroalimentam em uma faixa vertical que se extende do oceano à montanha. Dentro da secção geológica, através da co-existência de habitação e cultivo da terra, o sistema transforma a bacia hidrográfica em uma plataforma tecnológica intensiva de produção de alimentos. Antes da invasão européia (1778), vários destes sistemas era totalmente funcionais e sustentavam uma população estimada em 800.000 habitantes. Atualmente apenas alguns fragmentos como campos de lagoas (Lo’i), viveiros de peixes (loko) e terraços de terra seca (Kuaiwi) ainda podem ser encontrados dispersos pelas ilhas.

Para sincronizar demandas por urbanização e produção alimentícia com estratégias vernaculares e gerenciamento de condições ambientais da bacia hidrográfica e oceânica, o plano diretor proposto visa otimizar o sistema produtivo existente, mediando o desenvolvimento da sua urbanização, assumindo o papel de sistema de apoio. Ao introduzir a produção de alimentos à escala do bairro através da manipulação do relevo existente, a arquitetura e a paisagem tornam-se um sistema integrado.

A nova morfologia urbana possibilita a purificação e retenção hídrica para irrigação de hortas urbanas. O sistema proposto redesenha também o trajeto fluvial respondendo a parâmetros como topográfica, formação rochosa, e vegetação existente. Ao criar córregos e lagoas de contenção/tratamento para a irrigação das plantações integradas ao sistema habitacional, são estabelecidas zonas de amortecimento ecológico, promovendo assim um adensamento sustentável da periferia urbana adjacente a áreas de proteção ambiental.

Os desafios enfrentados por Oahu com a crescente pressão por urbanização de áreas de valor ambiental não são exclusivos: países do sul global como o Brasil poderiam se beneficiar de um sistema de organização territorial como Ahu’pua. Muitas ilhas e baías no território brasileiro também apresentam condições muito semelhantes a Oahu: clima tropical, terreno montanhoso, com riachos de água doce, e precipitação fluvial suficiente para sustentar plantios sem irrigação mecânica. Alguns exemplos notáveis são as ilhas de Florianópolis, Fernando de Noronha, a região de ilha Grande. Esta última em particular vem sofrendo grandes pressões por urbanização do território, em especial devido à indústria do turismo.

Implantação do projeto: Brasil, Bolívia
Desenvolvimento do projeto: Brasil, Bolívia

Forest Gens é um projeto de cartografia crítica que revela a extensão das transformações antropogênicas na Amazônia. Utilizando técnicas avançadas de mapeamento no contexto amazônico, o projeto torna visíveis as múltiplas camadas que compõem a região. Desde a pegada das sociedades atuais até manipulações territoriais que datam de séculos atrás, o mapeamento apresenta a Amazônia como uma paisagem complexa e moldada pelo ser humano, e não como uma floresta homogênea e intocada.

O trabalho retrata o território amazônico em múltiplas escalas, destacando como a interação entre a geografia e as intervenções humanas — passadas e presentes — permite desenvolver hipóteses sobre a ocupação da região. O foco em dados recentes obtidos por imagens de sensoriamento remoto na região de Cotoca, na Bolívia, revela vestígios arqueológicos de antigas formas de urbanismo tropical de baixa densidade. Da mesma forma, um sistema de sítios interconectados de terras pretas de índio — resíduos orgânicos da ocupação humana usados para estimar o tamanho e a duração dos assentamentos antigos — sugere uma manipulação prolongada do ambiente amazônico por sociedades humanas.

Em conjunto, essas visualizações contribuem para ampliar a consciência sobre os rastros que nossas formas de nos relacionar com essa paisagem deixaram ao longo da história, alterando profundamente os limites entre natureza e sociedade nesse ambiente. Espera-se que o trabalho contribua para o crescente debate sobre como nossas sociedades podem reinventar a relação entre urbanização e preservação da natureza, e imaginar futuros radicalmente novos — e menos antropocêntricos — para a Amazônia.

Autoria
Concepção: POLES | Political Ecology of Space
Colaboração: AO | Architects Office
Equipe:
Gabriel Kozlowski (Direção)
Miguel Darcy
Carol Passos
Thiago Engers
Chiara Scotoni
Pesquisa Arqueológica na Bolívia (Direção):
Heiko Prümers
Carla Jaimes Betancourt

Implantação do projeto: Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

Habitar a Paisagem – Um sistema modular para construção de baixo impacto em ambientes remotos

Contexto e Conceito
A Cabana Zero é o protótipo de uma série de 11 abrigos concebidos para um retiro espiritual inspirado nas tradições indígenas da Amazônia peruana. A proposta busca simplicidade, baixo impacto e uma conexão direta entre espaço construído e natureza. Localizada na região serrana do Rio de Janeiro, articula um espaço interno compacto e um banheiro seco, ambos revestidos em madeira natural, destinados ao recolhimento individual. Em contraste, a varanda em madeira escurecida enquadra a paisagem e intensifica a imersão na mata.

Projeto e Construção
A estrutura apoia-se em seis pilares de madeira de 10×10 cm, remetendo à esbeltez dos troncos vizinhos. Vigas longitudinais e transversais, espaçadas a cada 1,20 m, definem o módulo cúbico de 2,40 m do espaço interno. Parte significativa da madeira foi reaproveitada de uma construção pré-existente no terreno, reduzindo impacto ambiental e conectando o projeto à história local. O fechamento possui isolamento em fibra de PET, e uma cobertura secundária cria uma camada de ar que reduz a carga térmica. Elevada do solo, a estrutura utiliza conexões metálicas aparafusadas e sapatas de concreto, facilitando a montagem, a desmontagem e a mínima interferência no terreno.

Autonomia e Ecologia
A cabana opera off-grid: não possui eletricidade; os resíduos são tratados por banheiros compostáveis e as águas cinzas por círculos de bananeiras, enriquecendo o solo. A ausência de espelhos e vidros reforça a proposta contemplativa e a desconexão buscada durante o retiro.

Sistema e Impacto
Como primeiro exemplar de um sistema replicável, o projeto foi concebido para áreas de difícil acesso, permitindo transporte e montagem por equipes reduzidas, sem maquinário pesado. Essa abordagem possibilitou a execução de outras 11 unidades em áreas de acesso mais difícil no mesmo terreno, validando a adaptabilidade do sistema a diferentes condições logísticas e geográficas.

Implantação do projeto: Itália, Brasil
Desenvolvimento do projeto: Brasil

No âmbito da 14ª Bienal de Arquitetura, cujo tema central é “Extremos”, o Studio Arthur Casas, em colaboração com o Instituto Arthur Casas de Arquitetura e Inovação (IACAI), apresenta uma linha do tempo que sistematiza projetos arquitetônicos e urbanísticos concebidos para abordar os desafios impostos pelas mudanças climáticas em diferentes escalas.

Os projetos selecionados para a mostra abrangem uma diversidade de contextos geográficos e climáticos, desde intervenções em ambientes urbanos densos, como o Edifício Ícaro, em Curitiba, até iniciativas na Amazônia Legal, como o Centro de Intercâmbio Moitará, localizado no Parque Indígena do Xingu, e o MuCA em Belterra (PA). Essas obras exemplificam uma abordagem arquitetônica que prioriza a integração com as especificidades bioclimáticas e culturais de cada localidade, promovendo soluções que articulam inovação tecnológica e responsabilidade ambiental.

A partir da pesquisa de sua própria prática o Studio Arthur Casas e o IACAI selecionaram os seguintes projetos:

-Pavilhão do Brasil (Milão, Itália, 2014-2015; Nápoles, Itália, 2025-2027);
-MuCA – Vila Administrativa (Belterra, Pará, 2018-2028);
-Edifício Ícaro (Curitiba, Paraná, 2014-2019)
-Centro de Intercâmbio Moitará (Parque do Xingu, 2024-2026)

A linha do tempo delineada na exposição evidencia a consolidação do pensamento sustentável na prática do Studio Arthur Casas ao longo das últimas duas décadas. Esse percurso culminou na criação do IACAI, uma instituição sem fins lucrativos dedicada à pesquisa em tecnologias e inovações orientadas para a sustentabilidade e industrialização no campo da construção civil. O instituto busca identificar e abordar lacunas no desenvolvimento de práticas construtivas, examinando os impactos potenciais de tais avanços no enfrentamento das questões ambientais que afetam o Brasil.

Por meio da Bienal, o Studio Arthur Casas e o IACAI reafirmam seu compromisso com uma arquitetura que transcende a funcionalidade estética, posicionando-se como agente de transformação socioambiental. A mostra na Bienal oferece uma oportunidade para debater e inspirar novas abordagens que integrem inovação, sustentabilidade e responsabilidade climática, contribuindo para o avanço do discurso teórico e prático no campo da arquitetura.

Participe da programação de debates, oficinas e atividades associadas!

HOJE (18.10)

10h – mesa Agir para a adaptação climática a partir do Poder Público

10h – oficina Maratona de design para comunicar cidades justas, resilientes e de baixo carbono

14h – mesa Alcançando a descarbonização e a resiliência no ambiente construído

15h – Lançamento Livro Parque Orla Piratininga Alfredo Sirkis – Natureza, inovação e justiça socioambiental

16h – Lançamento da Publicação do II Seminário Emergência Climática e Cidade

18h30 – Sessão de Encerramento + Premiação do Concurso Internacional de Escolas da 14ª BIAsp 

AMANHÃ (19.10)

16h – Deixe a água fluir…Uma homenagem para o arquiteto Kongjiang Yu e para os cinegrafistas Luiz Ferraz e Rubens Crispim 

17h – atividade Panorama Urgente! Visita ao projeto Panorama Lab no Jardim Panorama 

PARTICIPE! É TUDO GRATUITO!

A Bienal está aberta até 19 de outubro!

NOTA DE PESAR

Em profundo pesar, o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IABsp) lamenta o falecimento do arquiteto e paisagista Kongjian Yu, uma referência global em urbanismo ecológico, e dos membros de sua equipe que o acompanhavam, tragicamente vitimados durante a gravação de um documentário. O instituto destaca a honra de tê-lo tido como participante na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, onde sua visão transformadora fortaleceu o diálogo entre desafios globais e realidades locais. O IABsp ressalta que a contribuição de Yu, que transcende fronteiras, permanecerá como inspiração para gerações e expressa suas condolências à China, aos familiares de todos os falecidos, amigos e a todos os impactados por seu gênio e dedicação. Leia a nota completa aqui.