Localizada no extremo sul da cidade de São Paulo, na região de Parelheiros, esta é a maior e mais populosa aldeia Guarani-Mbya da cidade. Os Guarani-Mbya ocuparam toda a faixa de Mata Atlântica do país e também da América Latina. Após séculos de extermínio, restam poucos.
Para mim, são os únicos que, de fato, são tão simbióticos com o “tal” do meio ambiente (que é tudo que nos cerca incluindo nós mesmos) que não conseguem se separar. Temos muito a aprender. Se ainda der tempo…
Para aprofundar um pouco a leitura: link e um breve texto de uma pesquisa sobre arquitetura sustentável.
Crônica sobre uma visita à Aldeia Tenondé-Porã
A fumaça da fogueira cegava na Opã, a casa dos rituais. Os homens e os adolescentes reunidos de um lado; as mulheres, as crianças e as adolescentes do outro, ao redor do fogo. Os homens falaram primeiro. Todas as vozes em guarani. Márcio, o vice-cacique nos explicou em português que eles debatiam um projeto da CDHU para construção de casas populares na aldeia. Aceitam ou não? As casas devem respeitar a arquitetura guarani? Os homens falam primeiro, os adolescentes também falam, depois as mulheres. Todas as vozes em guarani. Cerro os olhos para suportar a irritação da fumaça, não quero deixar a Opã, quero ficar ali até o fim. Após dois dias acampando na aldeia, era o primeiro movimento evidente de aproximação, o primeiro sentimento de pertencimento. Até que as retinas urram e a fumaça vence. Tenho que deixar a Opã. Pedro, meu camarada de imersão, também sai. Nos olhamos com alívio e decepção.
Essa névoa de madeira queimava os olhos e embaralha a memória. Passamos quantos dias em Tenondé Porã, a Aldeia Morro da Saudade? Era Márcio o nome do vice-cacique? Lembro como chegamos. Vamos conhecer o extremo sul da cidade? Vamos. Pedro pegou seu carro e lá fomos nós e nossos vinte anos até Parelheiros. A bolha de classe média asfixiava e o coração ansiava pela diferença, a desigualdade corroía a consciência, tínhamos fome de referências outras, realidades tão próximas quanto distantes. Nesse trajeto até o fim da cidade, uma placa anunciou a aldeia guarani. Entramos. Paramos ao encontrar um homem – não lembro o que fazia. Conversamos e descobrimos ser o cacique – não lembro seu nome. Perguntamos se poderíamos visitar a aldeia outras vezes, quem sabe até acampar uns dias. Ele autorizou. Algumas semanas depois, lá estávamos.
Marco Miguel, Jornalista
Escrito em março de 2022, para a 13ª BIA, mas referente ao momento em que acampamos na Aldeia Tenondé-Porã, por volta de 1999. Texto solicitado por Pedro Smith.
Um livro muito interessante produzido pela Aldeia Tenondé-Porã:
Uma curiosidade advinda de algumas pesquisas: uma possibilidade para origem do termo “mutirão”
Seria exatamente “mutirão” a palavra traduzida advinda do termo potirõ, que se refere a um evento celebrado conjunto no qual mulheres, homens, idosos e crianças participam da construção, e não apenas uma atividade específica construtiva qualquer.
PRUDENTE, Letícia Thurmann. Arquitetura Mbyá-Guarani na Mata Atlântica do Rio Grande do Sul. (Dissertação de mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007.
Ocupação territorial clássica Guarani-Mbya
ocupação e arquitetura
Breves reflexões
Mata, roça e construções
TEKOAS: “aldeias” constituídas em cabeceiras ou ao longo de rios. “Na nossa cultura, é o rio que não deixa passar o mal” (Ladeira, 2008). Fundação das aldeias amparada no mito.
TEKOA: “unidade” (uma tekoa para se constituir, precisa de PAJÉ e CACIQUE).
Teko (ser, estar, sistema, lei, cultura, costumes) + a (lugar)
Logo: Tekoa é o lugar físico e ambiental onde existem as condições de ser Guarani, fundamentado na espiritualidade e agricultura de subsistência.
OPY (Casa de Rezas): onde fica a AMBA (morada dos espíritos). Conduzida pelo(a/e) Pajé – Centro Social e Espiritual da Tekoa (abertura para o sol nascente – Leste).
LADEIRA, Maria Inês. Espaço Geográfico Guarani-Mbya: significado, constituição e uso. Edusp: São Paulo, 2008.
“Cidades são aldeias mortas”
EMICIDA, Canção “Passarinhos”
Haevete!
Pedro Smith