
Igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos da Penha: Av. Penha de França, 4. Foto Vinicius O.F.P., abril 2019. Recorte do mapa do Google Maps.
A Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha, construída em junho de 1802, pertence a um grupo religioso chamado Irmandade dos Homens Pretos. Essas igrejas são lugares construídos e gerenciados por mulheres e homens pretos e palco de diversas maneiras de resistir desde o período colonial.
A irmandade católica está presente em várias cidades brasileiras, africanas e europeias, sendo um fruto da diáspora africana. Apesar de suas diferenças territoriais e culturais, funcionam como espaço de resistência e encontro dos corpos e territórios negros.
Desde 2002, a Comissão do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França realiza festas para comemorar a existência do patrimônio e conscientizar a população da cidade de São Paulo sobre seu histórico de resistência e celebração.
Como disse Beatriz Nascimento, as resistências foram diversas e em todas elas existe um pouco do kilombo.
https://www.youtube.com/watch?v=RKwb93Et5o4
Placa localizada dentro da Igreja:
Capela de Nossa Senhora do Rosário da antiga Irmandade dos Homens Pretos da freguesia da Penha de França, testemunha histórica da solidariedade, do sofrimento e da esperança na redenção. O pedido para a sua ereção é de junho de 1802.
Texto Kilombo de Beatriz Nascimento:
Marca-se, como no quilombo ancestral e por ritos iniciáticos, o fortalecimento do indivíduo como um território que se desloca no espaço geográfico, incorporando um paradigma vivo e atuante no território americano fundado pelos seus antepassados escravos e quilombolas.
Agindo nos seus locais, seja no terreiro místico, nas comunidades familiares, nas favelas, nos espaços recreativos (manifestando a música de origem africana, afro-americana ou afro-brasileira), os povos africanos da América provocam mudanças nas relações raciais e sociais.
Ocupando o espaço com seu corpo físico (território existencial), eles apoderam-se da cidade, reproduzindo o modo dos antigos quilombolas, tornando-se, como aqueles, visíveis ao regime. Fazendo deste espaço descontínuo no tempo, em que as “frinchas” provocam linhas de fuga e são elementos de dinamização que geram um meio social específico.
Assim se dava com os quilombos e seus similares ao longo da história da América. Assim se dá hoje com os grupos negros ou afro-americanos.
(Publicado em revista da Burkina Faso, Nommo., 1990)