13ª

Ministério do turismo, secretaria especial da cultura e belgo bekaert arames apresentam

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
(pesquisa realizada pelo cocurador Pedro Alves)

Centro Histórico de São Paulo, São Paulo - SP, 01010-001

Não existe forma de se contar a história de alguém sem se contar a história de seus ancestrais. Mas sendo um homem negro em São Paulo, percebo que a história de muitas famílias é apagada; ou pelo menos, a narrativa oficial tanta apagar, e o faz também quando falamos da história da sociedade, buscando apenas uma ancestralidade para o território. Reconhecendo isso, não posso deixar de pesquisar sobre o que veio antes, o que estava no centro de São Paulo antes dos grandes prédios que ocupam aquele espaço, investigar as memórias que são soterradas a cada camada de concreto que se passa nessa cidade, que sempre está em reforma, em constante mudança, o que dificulta o pertencimento e a fixação de memórias e laços , principalmente para os corpos que são retirados, seja pela desculpa de modernização, pela gentrificação ou especulação imobiliária, que normalmente caminham juntas até os dias de hoje.

Para falar do centro antigo de São Paulo, do lugar conhecido hoje como Praça Antônio Prado, temos que voltar mais no tempo para entender por que a região chamada anteriormente de Largo do Rosário passou a carregar o nome atual. Antes, ali funcionava a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, pertencente à Irmandade de mesmo nome, muito presente em todo território nacional e também fora do Brasil. O grupo foi organizado por homens negros e mulheres negras, que foram retirados de suas terras e tiveram suas crenças negadas por séculos, sendo obrigados a incorporar a fé de seus algozes. Porém, sempre que precisamos resistir, é uma chance de agir e com certeza, essa igreja não seria uma cópia idêntica das igrejas dos brancos.

A igreja era um espaço conquistado e construído com muita luta pelas pessoas que faziam parte da comunidade. Foi construída em mutirão pelos irmãos e irmãs do Rosário dos Homens Pretos e inaugurada em 1737. Lá se localizava o primeiro cemitério da cidade que não foi registrado nos livros de história, mas também havia festas e muita cultura afro-brasileira, que incomodavam muito os moradores brancos. A elite e classe média que vinham se estabelecendo no mesmo período utilizavam os festejos como pretexto para fazer denúncias e, assim, o governo na sua habitual perseguição e controle dos corpos e tradições das pessoas negras, que vivem e criam vida nas cidades, criava códigos de postura e normas de condutas que coibiam tais manifestações que davam e demonstravam a força dessa comunidade em uma área tão central do território paulistano. Se olharmos de uma forma mais estrutural, iremos perceber que essas festas, as vendas de comida e a organização de pessoas negras em uma irmandade, ainda que uma irmandade católica, dava força para as pessoas que a integravam e faziam mutirões de construção. A comunidade juntava dinheiro para compra de alforrias para que cada vez mais negros e negras se tornassem livres. Com as denúncias, códigos de postura e perseguições policiais, não só atrapalhavam as comemorações, mas a organização política na luta pela abolição real dos corpos, mentes e espíritos negros. Com o passar do tempo, a cidade foi se modernizando, e a repressão colaborou para que o projeto de embranquecimento fosse tão eficiente em São Paulo. Com o incentivo da vinda de imigrantes europeus, principalmente italianos, muitas mudanças ocorreram-na cidade, e as tradições afro-brasileiras e formas coletivas de buscar uma melhora de vida em alguns locais perderam força. Em 1903, o prefeito Antônio Prado (lembra do nome atual da praça? Isso mesmo, este prefeito) retirou a irmandade de seu território oferecendo uma pequena indenização e um terreno ruim de construir no atual Largo do Paissandu. Ao retirar a comunidade de lá, passou o terreno para seu irmão, Martinico Prado, responsável pelas obras de “modernização” daquela região. Com isso, expulsaram a comunidade e retiraram o chafariz que lá havia, dificultando a vida dos que permaneceram no local, fazendo com que cada vez mais a vida no centro da cidade ficasse mais cara e complicada para corpos negros e originários que viviam e trabalhavam no lugar e que pouco a pouco foram sendo retirados.

Informações:

Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP, 01010-001

Antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, atual Praça Antônio Prado, onde se localiza a Bolsa de Valores de São Paulo. Área que passou por um processo de “modernização” realizada por Martinico Prado, irmão de Antônio Prado.

Trajeto a partir do CCSP: 

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